quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O CACHORRO E O MOTOQUEIRO





Desde a infância, uma história me chama a atenção pela distopia, pelo alerta que representa para a humanidade. Trata-se de O Planeta dos Macacos, livro de Pierre Boulle, transportado para o cinema e televisão do mundo todo. Nessa história, que todos conhecem, por isso não vou contá-la aqui, um astronauta acaba entre os macacos de um planeta dominado por raças simianas. Ao final, o leitor ou aqueles que assistiram aos filmes ou às séries compreenderão que na verdade trata-se do planeta terra, dominado pelos macacos.  
O que me fez lembrar agora dessa história foi uma cena no mínimo curiosa. Foi o seguinte. Por volta das seis da noite de segunda-feira, quando me dirigia ao trabalho, parando em um semáforo amarelo, chamou-me a atenção um cachorro (sempre fiz a distinção entre cão e cachorro. Cães são aqueles animais mimados que vivem fazendo estripulias no facebook. Cachorro são aqueles desamparados, que vivem na rua). Pois bem, o cachorro estava parado na faixa de pedestres, com a finalidade de cruzar a Avenida Paulino Rocha, aguardando o sinal ficar verde para ele. Antes, porém, pude observar que alguns humanos se arriscavam, tentando passar fora da faixa e com o sinal ainda vermelho. O cão, entretanto, impávido, esperava sua vez. Quando o sinal ficou verde, o mesmo pisou a faixa de pedestres e se dirigiu ao outro lado da avenida, tendo ainda que transpor o canteiro, certo de que estava com sua vida fora de risco.
Mas isso ainda não é o curioso da cena, pois o fato de cachorros agirem assim não é inédito, á ninguém, tampouco para mim. Há alguns anos, no dia 24 de dezembro, por volta das nove da noite, voltando da casa da sogra, onde fui buscá-la para passar o natal conosco, presenciei uma fila formada por aproximadamente dez cachorros aguardando, na faixa de pedestres, para atravessar a avenida Luciano Carneiro, no cruzamento com a Borges de Melo. Os animais não só o fizeram com o sinal verde, como aguardaram da mesma forma para cruzarem à referida Borges de melo, sem pressa, sem queixumes, apenas esperaram sua vez de agir. Iam, possivelmente, atrás do seus restos de um peru de Natal.
Voltemos, pois, à cena inicial. O curioso do ocorrido é que quando o cachorrinho, cruzando à Avenida Paulino Rocha, já deixava o canteiro, veio um motoqueiro, que avançou o sinal,  e quase o atropelou. O acidente só não aconteceu, porque o animal inteligentemente, conhecendo a burrice humana, já previa o que poderia acontecer e se safou. Deu uma olhada no homem que quase se tornara seu algoz e rosnou para o mesmo. Mas não foi um rosnado em forma de palavrão, foi muito mais um rosnadinho de desdém e de perdão.
Depois dessa cena, lembrei-me da História de O Planeta dos Macacos e me pus a refletir sobre o que acontecerá com a humanidade se continuar tão desumana e inconsequente.
(Francisco Alves de Andrade, janeiro de 2017)

sábado, 24 de dezembro de 2016

DESIDERATO AO ANO VINDOURO

    Hoje são 27 de dezembro, 361º dia do ano. Restam-nos 4 dias para o encerramento deste que será lembrado por muitos acontecimentos importantes ou não, desde roubos de fios de semáforos, aumento de violência contra grupos LGBTQAI+, surto psicodélico de golpistas trajados de cristãos e nacionalistas, após a vitória da DEMOCRACIA sobre a estupidez instigada por um falso presidente, eleito após a encenação de uma falsa facada, uma autêntica fakada; até a conquista de forma inédita do campeonato mundial de futebol pela Argentina, e consequentemente a consagração de Leonel Messi. Não necessariamente nessa ordem.





Hoje acordei com uma enorme vontade de desejar feliz natal a todos os amigos, inimigos, parentes, aderentes! Pensei num monte de frases bacanas, daquelas que engrandecem o âmago e massageiam o ego, daquelas que elevam a autoestima e nos fazem acreditar que tudo é possível.
Desejar um feliz natal, com muita paz, segurança, sem ódios, sem rancores; um natal em que todos possamos sorrir com sinceridade, abraçar sem falsidade, beijar sem permissividade.
Desejar um ano feliz, sem problemas, sem constrangimentos, sem dúvidas; um ano de bons sucessos, sem barreiras que impeçam a luz divina de adentrar todos os caminhos; um ano novo sem migalhas, sem aflições, sem dívidas e sem dores.
Enfim, um natal e um ano novo diferentes, repletos de alegrias e felicidades...
Mas não posso! As pessoas estão empedernidas, transformaram em pedra o barro de que foram feitas. Barro esse que só amolece diante de uma grande tragédia, ou quando se aproxima a morte de mais um ano. Logo depois se tornam o animal de que estão vestidos. A ganância pelo poder, ainda que pobre, mesquinho, lhes domina o ano e lhes emporcalha o ânus; as fezes da hipocrisia lhes embotam as faces, e rubores de medo obnubilam os desesperos; o perdão desaparece de seus olhos e só a intriga lhes rega o sangue.  Por isso saem durante o próximo ano atropelando-se e atropelando; desistindo do que se propuseram e xingando os dias que não passam, porque só passando as esperanças perdidas se nutrem, para pedir um ano melhor.
Por isso é ao ano que chega,  tataraneto de outros que se foram cabisbaixos, xingados e humilhados, cujas mortes desde cedo, pelos homens que não chegaram, foram sugeridas e carregaram consigo o enorme peso da inépcia humana...  É a esse bebê, que nascerá daqui a alguns dias, a quem desidero que a luz divina realmente caia sobre todas as pessoas e que elas possam se esforçar para conseguir seus intentos; que o sol, o qual brilhará no primeiro dia dessa criança, brilhe nos ombros e clareie a face da humanidade para que o ódio se desvaneça, que os egos cedam ao império da bom senso. Quero desejar ao ano vindouro que as pessoas, sendo mais de Deus e menos do mal, sejam corretas nas suas atitudes, pois só assim  quererão que o tempo passe devagarinho, ficando, para que as rosas tenham seu tempo, que as frutas amadureçam, que a chuva caia, sem ser amaldiçoada, que o sol encandeça, sem ser molestado por palavras vãs. Quero desejar ao ano nascente toda felicidade do mundo, que possa nascer, crescer e findar, sorridente, sem as úlceras dolorosas que a maldição das pessoas provocou aos seus antecessores.
(Professor Alves Andrade)

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

VIVOS E MORTOS





Hoje é o dia dos mortos
Dos mortos rezarem pelos vivos
Vivos de cá
Mortos de lá
Mortos de cá
Vivos de lá
Hoje é o dia dos mortos
Que encherão as ruas
Engarrafarão as vias
Vivos já mortos
Sem rumo, sem direção
Apegados aos seus alfarrábios
Apegados às suas crenças
Mesmo que não creiam
São as cinzas do tempo
O mofo da tradição
Vão eles compungidos
The Walking deads
Caras de ressaca
Uma flor na mão
Um salmo na boca
Um perjúrio na mente

E os verdadeiros vivos
Por pena (ou gratidão?)
Saem de suas atuais moradas
Para visitar no cemitério
Os realmente mortos!
(Professor Alves, 2/11/16)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...