terça-feira, 27 de março de 2018

CACHORRO QUE TEM / NUNCA LARGA O OSSO




Por favor, amada gente,
não me venha convencer
com palavras ou sem elas
que gente que tem poder,
não me venha com balelas,
(desculpe até se sou grosso)
Mas cachorro que o tem
Nunca quer largar o osso.

Pode ser um poderzinho
Nua pequena repartição,
Pode ser algo bem grande,
Pode ser um poderzão,
Por ele qualquer de nós
Chega no fundo do poço,
Porque cachorro que tem
Nunca quer largar o osso

É assim desde os primórdios,
Quando o homem aqui surgiu
Lépido desceu das  árvores,
Nômade, assim prosseguiu,
Habitando  em cavernas,
Montou bando e sem esforço,
Mostrou que cão que tem
Nunca quer largar o osso.

Depois vieram os hunos,
Vieram gregos e romanos;
No século dezesseis,
Quem mandava era os baianos,
Gregório é quem nos diz,
Todos do poder no dorso,
Provando que cão que tem
Nunca quer largar o osso

Aqui no nosso estado,
Era o poder dos coronéis,
Mandavam e remandavam
Na rua, bar e bordéis,
Deixando o povo oprimido,
roeram tudo até o caroço,
Porque cachorro que tem
Nunca quer largar o osso!

Veio Tasso e sua récua,
Mostrando benevolência,
Tomaram conta do estado,
Sem mostrar condescendência,
Está no poder até hoje,
Causando grande destroço
Mostrando que cão que tem
Nunca quer largar o osso

Já vi muitos proclamarem,
Dizendo em alto e bom som:
“ISSO PRA MIM NUNCA MAIS”
Dizem aumentando o tom,
Mas quando sozinho estão,
Vão com ele até o pescoço,
Provando que cão que tem
Nunca quer largar o osso.

Mesmo ua direçãozinha,
Numa pequena escola,
Ou mesmo numa cozinha,
Onde pouca grana rola,
O vício por mando é monstro,
E mentem sem grande esforço,
Porque cachorro que tem
Nunca quer largar o osso.

É uma comichão intensa,
Que chega as feições mudam,
Quando veem o tal assento,
Estranho líquido exudam,
Vergonha desaparece,
Grande apelo faz o dorso,
Provando que cão que tem
Nunca quer largar o osso.

Se avizinham de inimigos,
Beija quem o apedreja,
É assaz grande pelo trono
Essa estúpida peleja,
Esquecem-se até da vida
Esquecem até se são moços,
Provando que cão que  tem
Nunca quer largar o osso.

Despeço-me por aqui,
Pois já tô tomando gosto,
Me apossando do fazer,
De querer tomar o posto
De diretor da poesia
Tornando o viver insosso,
É a sina do cão que tem
E não quer largar o osso.

(Professor Alves Andrade, refletindo sobre o poder)

segunda-feira, 19 de março de 2018

DIA DE SÃO JOSÉ
















Vejo a frente uma casinha
Humilde e bem sobranceira.
É uma casa nordestina
Muito bela e sertaneira.

Pouco verde há por ali
O sol eriçou o mato,
O chão, a velha cancela.
Ficou tudo muito chato.

Mas a vida dentro rola,
É a força que nunca seca
Embalando eternos sonhos
De quem luta e pouco peca!

A panela no fogo à lenha,
Cose a vida em pensamento,
Dourando a comida rala,
No óleo santo do lamento!

Lá fora, o vento tange
Folhas velhas, ressecadas
Pisadas por pés calosos,
Por São José abençoadas.

O homem que puxa o burro
Ensina para a criança
Que Deus nos dá o calor
Pra merecer a bonança!

Se hoje o sol é ardente,
Amanhã será ameno;
Se o viver ainda é pouco,
Logo logo estará pleno!

O homem e sua família,
Na humildade do lar,
Rezarão mais uma vez
Pra São José água mandar!
(Professor Alves)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

COMO DIZEM OS DITADOS




(cultura milenar)

Volto às teclas debruçado,
Só pra minha diversão
Também  dos meus convidados
Porque resolvi versejar
Sobre os diversos ditados,
Que aprendi com nosso povo
E de provérbios chamados.

Começo então comentando
Tem gente que tendo emprego,
Porém não se contentando,
Vai atrás de outro alheio,
Depois acaba sobrando:
Mas vale um pássaro na mão
Que dois pássaros voando

Debaixo desse sol quente,
Que Deus nos doou de graça,
Existe um monte de gente
Que demonstra ingratidão,
Reclamando de presente,
De cavalo dado, esquece,
Não se deve olhar o dente.

Pra se ter consecução
Daquilo que está fazendo
Tem que ter muita atenção
É preciso paciência
É mister resignação
E lembrar que toda pressa
É imiga da perfeição.

Se não fosse as precisões
Não haveria inventores,
Pois por trás das intenções,
Estão sempre as atitudes
Nascendo assim as criações
Pois toda necessidade
É a mãe das invenções.

Este já é bem conhecidão.
Meninos, moços e velhos
Logo logo lembrarão,
Pois todo mundo já sabe
Que agir só não pode não,
Já que andorinha sozinha
Não sabe fazer verão.

Joana de minha tia,
Viúva dum homem rude,
Jurava a toda freguesia,
Depois de muito sofrer,
Que jamais se casaria.
Gato escaldado, coitado,
Tem medo até de água fria.

Gente há de fofoca vasta,
Conta tim tim por tim tim,
Esses pertencem à casta
Daquelas pessoas néscias,
Que muita saliva gasta.
Mas pra bom entendedor,
Só meia palavra basta.

Coitado do meu padrinho,
Canceriano da peste,
Vive a cobrar do vizinho
Uma rezinga passada,
Quando eu era menininho,
Não sabe que águas passadas,
Nunca moveram moinhos.

A paixão dele era segura,
Mesmo sendo um cara feio,
E ela sendo ua belezura.
Num é que casou com ela!
Água mole em pedra dura,
Ele sabe muito bem,
Tanto bate até que fura.

Há seres não bem ungidos,
Que mesmo fazendo o mal,
Não acham ter delinquido.
E quando lhes vem o troco,
Percebem que estão perdidos.
Porque quem com ferro fere
Com ferro será ferido.

Escritor sem igualdade,
Machado nos ensinou,
Com grande sinceridade,
Que até os míseros calos,
Possui grande qualidade,
Pois servem esses estorvos
Pra aumentar a felicidade.

Este eu aprendi na praça,
Mas  muitos não gostam não,
Porém eu lhe dou de graça,
Faça tudo que eu disser,
Pra não cair em desgraça
(Pois  deste dito sou fã),
Mas o que eu faço não faça.

Mamãe me dizia assaz,
Para que eu me protegesse
Desse perigo fugaz,
E do perigo amiúde:
Boas romarias faz
Quem fica sempre com os seus,
E está em sua casa em paz.

É de Deus o proceder,
É a base do evangelho,
Sempre sempre ouvi dizer,
Toda igreja assim professa,
É  a lei do bom viver:
Nunca faça para o outro,
O que não quer para você.

Li na minha puberdade,
A  este belo provérbio,
Pleno de muita verdade:
Um homem em fúria tem a força
De mil bois e insanidade,
Mas só conseguirá prodígios
Se tiver serenidade!

Quase que vejo a cena,
Pessoa assim escrevendo,
com sabedoria plena,
E eu aprendendo cedinho:
Que tudo vale a pena,
Trabalho, esforço na vida,
Se a alma não é pequena.

Aqui para com os ditados,
Pedindo sérias desculpas,
Se não são do seu agrado,
Mas é o que posso fazer,
Melhor que ficar calado,
Pois escrevo só por prazer
Não o faço pra ser amado!      (Professor Alves, se preparando para o carnaval)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...