sábado, 29 de janeiro de 2011

LUCÍOLA


(Soneto incidental)

Essa moça que vemos no ataúde
Atendia pelo nome de Lúcia
Virou-se na vida com garra e astúcia
'Té que uma paixão lhe levou a saúde.

Em vida, do alcouce foi rainha
E nenhuma disputou-lhe a coroa;
Molhada da cidade na garoa,
Despedaçou orgulho como fuinha.

Que demônio levou esse anjo à vida,
Pois habita em seus olhos pudicícia
E o sorriso lhe é meigo, divinal?

Foram aflições em que se viu metida
Dos tigres indecentes a malícia,
Mas o amor a livrou de todo o mal.

(Professor Alves, Setembro de 2003)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

REFLEXÃO SOBRE O QUE DIZ, O QUE PENSA, OU NÃO PENSA NEM DIZ, OU NÃO SABE O QUE DIZ NEM PENSA ESSA EXTRANHA HUMANIDADE.


Às vezes eu penso que burro sou,
que deste mundo não entendo nada,
pois pen(s)ando sobre a terra vou
enquanto toda a gente dá risada.

Não entendo o que por aí se diz,
por que se propaga tanta besteira,
bb, Xuxa, soletrando, aprendiz,
vivemos no mundo a ouvir asneira.

Mas de tudo, o que mais me incomoda,
é a ilusão em que nosso povo vive,
mentir está e sempre esteve na moda.
Preocupação como essa nunca tive.

Neste país todo embusteiro mente,
mente o prefeito e o governador
e descaradamente o presidente,
deputado, síndico e vereador.

Mas é tanta mentira que se conta
Por este imenso Brasil afora
que a população, coitada, anda tonta
ontem, hoje, pela manhã, agora.

O tal presidente é pura mentira,
dizia que já foi trabalhador
eleito, o calhorda ainda delira
dizendo a um certo governo se opor.

Pensa que ainda está no palanque                                       
mentindo e enganando continua,
mas assiste a tudo isso, estanque,
a população rota, seminua.

O hipócrita fala em educação
com projetos sempre mirabolantes,
mas como tudo é só embromação
a situação vai ficar como antes.

Como dissera certo americano,
Educação aqui é só projeto,
e nós vamos viver sempre de plano.
Também com um líder analfabeto!

Aqui no Ceará, a coisa tá feia,
de educação é bom nem falar,
a população estudo não anseia,
o governo não cogita mudar.

Havia direitos anos atrás,
tidos pela classe de professores,
disse: vocês isso não terão mais,
um governo feito por opressores.

À época, Ciro era governador,
a mãe do troço fora professora,
ou queria vingar alguma dor,
ou detestava sua genitora,

Veio agora seu irmão pra mandar.
Durante o período de eleição,
Diziam: vamos no rapaz votar!
professores, oh classe frustração.

Eu dizia, quase babando, indignado:
Você esqueceram o que o Ciro fez?
"Vamos é todos ficar estribado –
diziam – pois esse é bom sobralês".

No seu primeiro dia de mandar
desculpem-me, mas eu achei foi bom –
mandou aos funcionários não pagar,
ordenou com voz grossa, em bom som.

Depois cortou verba da educação
fechou escola, humilhou professor,
sem pudor, vergonha; sem compaixão,
mudou o governo lá pro interior.

Mas o povo é besta e merece apanhar,
pois não é que um colega que encontrei,
O coitado deu logo de falar,
defendendo o cujo, como lhes direi:

O governo sabe o que tá fazendo,
deixa, por Deus, o homem trabalhar,
só desemprega quem tá merecendo
pois de algum lugar precisa tirar.

Vão ver como a vida vai melhorar,
a polícia vai vigiar quarteirão,
o nosso salário vai muito aumentar
e o povo enfim vai ter educação.

Ledo engano, muito triste ilusão,
nosso povo vai ter menos saúde,
quem precisa, menos educação,
sem segurança, se é morto amiúde.

O amigo leitor, se é que algum há,
com seu semblante todo franzido
a mim cismado assim perguntará,
com o olhar baixo, humilde, entristecido:

"E se tivéssemos em outros votado,
teríamos nós melhor escolhido?
Se ao poder, outros fossem levados,
essa escolha melhor teria sido?"

"Teríamos nós melhor presidente,
um governador macho, despachudo,
que fosse governante competente,
ou outro prefeito, honesto, sisudo?"

Responder-lhe-ei à frase popular:
ora pois, creia em Deus que é grande o santo,
eles só querem nos sacanear,
a político algum não importa o pranto.

Precisamos é deixar de ser bobos,
dizer não a todos esses ladrões
virar as costas a essa corja de lobos
e nunca mais votar nem por milhões.

Mas o meu dissabor não para aqui,
transcende muito os portões da Fortaleza,
passa além das terras de Guarani,
não pára nas terras da realeza.

Seu paradeiro é o primeiro mundo,
onde reina o cinismo e a hipocrisia,
que alarga o imenso fosso profundo
que me deixa em imensa melancolia.

São asiáticos, gringos, europeus
os quais se tornam cada vez mais ricos
para humilhar os outros irmãos seus,
porém é de burros que os qualifico.

Senão vejamos se tenho razão,
pois é muito grande este universo,
tem vida em tudo quanto é rincão,
de todo jeito e modo mais diverso.

Temos inseto manso e brigador,
mamíferos de muita sapiência,
tem leão, onça e tigre predador,
assim nos ensina o olho e a ciência.

Existe também no imenso oceano
peixe de todo tamanho e tipo,
dos tais que não vivem sequer um ano
e dos que não enxergam nem um tico.

Há vivendo entre nós até gente,
porém parece que não querem ver,
pessoas sem ente nem aderente,
tudo padecem na vida sem ter.

Existem sistemas agonizando,
espécies múltiplas em extinção,
florestas inteiras se acabando
pelo processo da desmatação.

Entretanto os donos do planeta
gastam milhões e bilhões em dinheiro
para fazerem aéreas carretas
para vasculharem o cosmo inteiro.

Já mandaram um robô até marte,
gastaram uma verba impressionante,
mas ele sumiu em alguma parte
foi embora o módulo itinerante.

Agora, juro que não entendi,
dizem que acharam um planeta novo
longe, muitíssimo longe daqui
onde jamais imaginaria o povo.

Só pra se ter disso uma ideia,
para até lá poder chegar alguém,
mesmo com a tecnologia europeia,
com a asiática e americana também

Indo-se à velocidade da luz,
Que é velocidade descomunal,
a viagem há pouco não se reduz,
chega-se vinte anos depois, afinal.

Dizem a nós os burros esquipáticos
que vão lá pra riba procurar vida,
é ou não é pra ficarmos estáticos
e surpresos ante tamanha lida!

E aqui nesta imensa espaçonave,
a vida certa corre imenso perigo
morre-se aos poucos de doença grave,
e não é de Deus que vem o castigo.

Por que não aplicar esse dinheiro
pra sanear os males que há por aqui,         
acabar com a fome do mundo inteiro
fazendo a Terra no final sorrir?

Por essas e outras cismando vou,
gastando minha já pobre mente
e certo de que muito burro sou
por não entender o que diz essa gente..

(Professor Alves, maio de 2007)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA

      A genialidade da cinematografia resgata o cinema em preto-e-branco e o coloca ao lado do cinema colorido. Assim é possível contar duas histórias: a história americana e a “outra” história.
    A história americana diz respeito ao que Derek Viniyard e seu irmão conheciam a partir da vida burguesa que lhe era proporcionada pelo pai. Quando este foi morto por um negro, enquanto apagava um incêndio num bairro pobre, todo preconceito apregoado por ele aflora em Derek Vinyard, que, cooptado por Cameron, se torna skinhead e passa a perseguir qualquer coisa que não representasse a supremacia da raça branca, apregoada por Hitler e sua filosofia nazista. Essa história culmina com o brutal assassinato cometido por Derek Vinyard, levando-o à prisão.
     A outra história diz respeito às mudanças ocorridas em Derek durante seu encarceramento. Aos poucos ele percebe que seus parceiros neonazistas não fazem parte de sua guerra dentro da prisão. Após ser violentado por eles, com ajuda do Dr. Bob Sweeney, diretor da escola em que estudou e onde estuda seu irmão, Daniel, ele compreende que todo seu ódio não valera a pena, que aquilo em que acreditava e pelo que lutara até então não fazia o menor sentido. Lá na prisão ele percebe que as minorias, em que estão inclusos negros e hispânicos, não são a ameaça para a hegemonia americana, como sempre pensara. Seu contato de perto com um negro, fê-lo crer em que a perseguição que infligira aos negros, hispânicos, coreanos, judeus fora na verdade uma grande perda de tempo, que afundara sua família numa terrível tempestade social.
    Ao ser libertado, ele luta para tentar livrar sua família da tortura em que a metera. Mas o ódio que alimentara durante tempos e do qual o irmão tornou-se herdeiro foi cruel a Derek. Seu irmão foi assassinado no banheiro da escola, por um desafeto produzido pelo ódio racial.
(Por Professor alves)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Filhos de políticos na Escola Publica

           Há alguns dias, recebi de meu amigo Roberval um e_mail muito simpático a respeito de um projeto de lei de autoria do nobilíssimo senador Cristóvão Buarque. Este projeto de lei auspicia a obrigatoriedade por parte dos políticos brasileiros de matricularem seus filhos na Escola Pública. Eis abaixo a resposta que lhe dei:             
         
            Boa tarde, amigo,
        Acho que não seria uma boa ideia. É corrente o pensamento de que um dia a escola pública funcionou neste país. Entretanto há aí um grande equívoco. A escola "pública" que um dia funcionou de fato não era pública, era privada bancada pelo poder público. Naquela escola estudaram, aqui no Ceará, Cid Carvalho, Lúcio Alcântara, Cid ferreira Gomes, A mãe do citado antes, Belchior(se não me engano), governadores, prefeitos, empresários...
         Creio em que se os políticos fossem obrigados a matricular seus filhos em escolas públicas (não sei como se faria isso), ou eles transformariam a escola pública, escola democrática, em uma escola "pública", restrita ou dariam um jeito de matricularem seus filhos na escola pública e arrajariam outro jeito de os manterem na PRIVADA. Cuidariam com certeza para que seus filhos não estivessem juntos da gentalha, criando até escolas próprias para seus filhos. Não podemos ajeitar o país e suas falhas instituições com medidas autoritárias. E essa não seria uma medida autoritária? Além do mais sabemos que o IFCE (onde vossa senhoria estudou), o Colégio Militar, O Colégio Pedro II são exemplos de Escolas públicas cuja qualidade é incontestável. E, se por uma questão de não sei o quê, essa lei fosse aprovada, seria lá que os filhos dos ditos cujos iriam parar. 
       Não vislumbro em nenhum momento o filho ou a filha do Sr. Fernando Hugo, deputado estadual que troca votos por feijoada e cerveja, adentrando os portões da EEFM Professor Paulo Ayrton Araújo. Ou será que estou enganado? 

sábado, 15 de janeiro de 2011

ANTROPOFAGIA


Nascemos para comer as outras pessoas,
Comermos enquanto somos devorados.
Tudo que fazemos, aprendemos
demos graças a quem comemos,
Cada um é aquele que come!
O nosso amor, o nosso ódio;
A nossa alegria, a nossa angústia;
Os nossos augustos e demônios
São o que comemos de outrem.

Antropofagia: é isso que realizamos na vida.
Somos como cobras que se pegam pela calda,
Devoramo-nos até a exaustão completa,
A morte de cada um é aquilo e aquele que se come.

Os discentes comem os docentes,
Estes devora-os conscientemente
E ambos são canibalizados pela sociedade.
A criança ao velho, este àquele;
Os filhos à mãe...

O resultado dessa fagia
É o conhecimento ou a ausência disto:
Nascemos para comer as outras pessoas.
...
(Professor Alves, o antropófago)

SINA


Um homem e uma mulher a que se destinam?
Para o entrelaçamento amoroso
Para o riso farto depois do gozo
Para a união que cheira à fresca resina.

Antes no varandim, as mãos unidas,
A lua fitando mesmo sem vê-la,
Ou no barzinho, ouvindo estrela,
Só este pensamento une duas vidas:

Na favela, caatinga ou mansão
Sem pejo, enigma nem mistério
Homem e mulher, lúbricos, se olham.

O amor, o sexo movem uma nação
Que digo, galáxias inteiras se amam!
E nisso não há nenhum despautério.
             (Professor Alves; 2005)

domingo, 9 de janeiro de 2011

ADEUS


I

Assim te vejo
De novo posso aos teus pés
Dizer-te o quanto te vejo
E por que te vejo.

Porque és assim
Encantadora como as coisas
Em que acredito
Porque és para mim um mito
Algo desprovido de tez
Como se só houvesse
Teu riso, carmim.

Porque és bela
Como a luz que
Me vem pela janela
Jogar luz na estrada intranquila
E trazer alento a uma alma abrasada
Torta e enviesada
De temores longínquos.

Porque és labirinto
Como um filme de Mia Farrow
Profunda como uma dissertação
Distante como a solidão
Estouvada ao dizer: ¨minto!¨
Ou ao explodir louca
Como um vulcão.

II

Parece que nunca te vi
E talvez eu nunca te tenha visto
Quiçá, me és um livro que li
Há muito em um passeio
E por motivo desconhecido
Parei da leitura no meio.

Há uns dias tive um sonho
E nele em dobro me vieste
Eras como as águas de um rio
Caudaloso que a galope
E desespero foge do estio
Em busca do vento leste.

E naquele espaço onírico
Doido e sem termo eu corria
E te afastavas lentamente
Rindo, exercendo a tirania
E eu tremendo em ânsias
Acenava, os dedos molemente.

Na parede do quarto
Havia uma tosca janela
Lívida a refletir sobre mim
Uma cinza aquarela
Em que se via em arco
Um rosto da alvura de marfim.

Era uma deusa que eivada
De graça e beleza surgia
De uma fonte encantada
Para com profunda alegria
Dizer-me com voz embargada
Te adoro, te adoro, te adoro.

Sobressaltado e persuadido
Surpreso e ainda aturdido
Supus haver entendido
Ser um ser amado e correspondido
Se não tivesse me iludido
Seria teu sem te ter perdido.

26/04/2002