domingo, 9 de janeiro de 2011

ADEUS


I

Assim te vejo
De novo posso aos teus pés
Dizer-te o quanto te vejo
E por que te vejo.

Porque és assim
Encantadora como as coisas
Em que acredito
Porque és para mim um mito
Algo desprovido de tez
Como se só houvesse
Teu riso, carmim.

Porque és bela
Como a luz que
Me vem pela janela
Jogar luz na estrada intranquila
E trazer alento a uma alma abrasada
Torta e enviesada
De temores longínquos.

Porque és labirinto
Como um filme de Mia Farrow
Profunda como uma dissertação
Distante como a solidão
Estouvada ao dizer: ¨minto!¨
Ou ao explodir louca
Como um vulcão.

II

Parece que nunca te vi
E talvez eu nunca te tenha visto
Quiçá, me és um livro que li
Há muito em um passeio
E por motivo desconhecido
Parei da leitura no meio.

Há uns dias tive um sonho
E nele em dobro me vieste
Eras como as águas de um rio
Caudaloso que a galope
E desespero foge do estio
Em busca do vento leste.

E naquele espaço onírico
Doido e sem termo eu corria
E te afastavas lentamente
Rindo, exercendo a tirania
E eu tremendo em ânsias
Acenava, os dedos molemente.

Na parede do quarto
Havia uma tosca janela
Lívida a refletir sobre mim
Uma cinza aquarela
Em que se via em arco
Um rosto da alvura de marfim.

Era uma deusa que eivada
De graça e beleza surgia
De uma fonte encantada
Para com profunda alegria
Dizer-me com voz embargada
Te adoro, te adoro, te adoro.

Sobressaltado e persuadido
Surpreso e ainda aturdido
Supus haver entendido
Ser um ser amado e correspondido
Se não tivesse me iludido
Seria teu sem te ter perdido.

26/04/2002

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