Libetas quae sera tamem!
Das coisas e das
mudanças, há três tipos. Aquelas que não podem mudar; as que podem, mas não
devem mudar; as que devem mudar e não mudam.
No primeiro
caso, está o guarda-chuva. Imaginem um guarda-chuva com a concavidade para
cima! Ia ser um destroço total. A água se acumularia, o peso aumentaria a tal
ponto que o indivíduo não iria suportar. E se suportasse a água iria
transbordar. Desastre total. Definitivamente o guarda-chuva não pode mudar.
No segundo caso
temos os nomes de ruas, de cidades, de países. Não devem mudar porque se fixam
na cultura e na memória das pessoas. Quando mudam causam transtorno. Um exemplo
mais significativo aqui em Fortaleza foi a mudança do nome da Avenida Estados
Unidos para Senador Virgílio Távora. Imagine o transtorno que foi para a
população que conhecia a avenida com o primeiro nome! Com o tempo se acostuma. Mas
não deveria ter mudado. Nome de países, então! Confundem a cabeça dos
estudantes, pois dá a impressão de que há mais Estados do que existe na
realidade. Lembremos a cidade de São Petersburgo, na Rússia, que passou
para Petrogrado, depois mudou para
Leningrado e voltou a ser São Petersburgo. Que confusão. E quando as ruas
homenageiam personalidades e depois mudam para homenagear outra. Aí a confusão
é maior, pois dá a ideia de que o homenageado perdeu a personalidade.
Por último
temos as que devem mudar e não mudam. A embalagem do Redoxon, aquele
efervescente da Bayer recomendado para gripe ou para seu combate. Aquela
embalagenzinha cilíndrica, com a mesma espessura do comprimido, que fica,
coitado, comprimido, rezando para ser liberto. Coitado também do usuário, que
precisamos ficar batendo o cilindro na mão até aparecer o papel prateado, onde
está escondido o remédio, e o pior é que às vezes caem todos no chão. Isso deve
mudar, mas não muda.
Outra coisa que
deveria mudar, mas não muda é a sala de aula, a aula e a própria educação.
Ninguém aguenta tanto tempo essa mesmice. Professor, alunos enfileirados,
quadro, cuspe e pincel. Alguém pode dizer: “ah, mas antes era giz!”. Sim mais o
cuspe é o mesmo, e o pincel faz o mesmo papel do giz, com exceção do pó. É
preciso, urge que a Educação se modifique. Não apenas com parelhos eletrônicos
ou informáticos, mas em toda sua essência. Professores devem se transformar
realmente em orientadores, mas profundos conhecedores daquilo que orientam;
estudantes, em pesquisadores, ouvintes de palestras, buscadores de
conhecimentos. Os conhecimentos por sua vez devem mudar e serem utilidades em
vez de meros enxertos de livro e cadernos. Estes últimos precisam se
transformar em chips, pois não é mais admissível em pleno século XXI, perdão
21, cortarem-se árvores, florestas inteiras para transformá-las em material
didático. Por fim as salas de aula também precisam mudar e serem transformadas em
verdadeiras salas de estudo.
Infelizmente
essas mudanças que devem ocorrer não serão feitas enquanto o homem, principal
agente da mudança, não se transformar. Enquanto continuarem visando ao lucro, a
interesses particulares e políticos, não haverá coragem para se dizer “basta de
enganação, a quem estamos ensinando e o que estamos fingindo que ensinamos,
sabemos por acaso que isso não funciona, vamos parar com essa farsa chamada
Escola!”. É preciso essa coragem para que realmente haja transformação social, desalienação,
libertação. É preciso coragem para se fazer do ato de aprender aquilo que Paulo
Freire veio nos ensinar: AUTONOMIA!
(Francisco
Alves, maio de 2014)
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