Todo ser humano precisa de carinho, de atenção. Se Cristo dizia para que
amássemos uns aos outros, era porque sabia dessa necessidade humana. Sempre que
conhecemos alguém, e se temos um pouco de sensibilidade, notamos sua
fragilidade, sua ansiedade por ser amado. Esse amor a que Cristo aludia é um
sentimento simples, como a atenção dispensada a alguém, uma palavra de
conforto, um aperto de mão, um “tudo bem!”, um elogio, uma validação.
Há alguns dias, enquanto acompanhava
meu filho ao treino da escolinha de futebol, fiquei observando um cidadão
conversando com outro, um amigo particular, a respeito de seu cãozinho, na
verdade uma cadela, que desaparecera. Ele
falava da tristeza do filho e da filha, e em seu semblante eu percebi que lhe
fazia bem ser ouvido, pois além de servir de lenitivo para a sua angústia de
não poder resolver esse problema
familiar, dava-lhe o amparo de
que precisava para seguir sua rotina habitual e forças para continuar essa
busca.
Acompanhei sempre esses diálogos à
distância. Até que um dia o amigo não veio. Percebi que o homem procurava por
ele, imaginando que estava demorando, mas que logo chegaria. De súbito, percebi
que o amigo daquele homem não viria e que nele ficaria o vácuo daquela
ausência. Resolvi substituí-lo. Aproximei-me do homem e abordei-o sobre se
havia encontrado o animal de estimação da família. Informei-lhe que havia
escutado seu diálogo há alguns dias a respeito do sumiço do animal.
Perguntei-lhe sobre os filhos... O semblante do homem desconhecido se iluminou,
seus olhos brilhavam de tal forma que me senti feliz. Ele estava enormemente
agradecido pelo fato de eu me importar com seu sofrimento. Em poucas palavras,
me pôs a par do que estava acontecendo, e no final, antes de ir embora, me
agradeceu com um efusivo aperto de mão.
Assim todos os dias que nos
encontrávamos, ele me chamavas para perto de si e do amigo, que voltou aos
encontros rotineiros, e nos punha a par
de como estavam as buscas. Até que um dia a angústia acabou. Ele chegou,
cumprimentou o amigo, chamou-me para perto de si, abraçou primeiro o amigo,
depois a mim e, enxugando uma lágrima teimosa, contou que havia encontrado a
cadelinha e que a família estava novamente completa.
Depois desse dia, o homem sempre me
tratou como amigo, me cumprimenta, pergunta como está minha família, conta
sobre suas coisas. Se me encontra no supermercado, vai até mim, mantém um
rápido diálogo e me convida para ir a sua casa para um churrasco. Infelizmente
adio esse momento por motivos vários, mas um dia o farei, pois creio em que ele
faz esse convite, não apenas por cortesia, mas porque me considera de fato seu
amigo.
(Professor Alves,
há alguns anos.)
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