“Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo propósito debaixo do céu.”
(Eclesiastes: Tempo para Tudo)
(Eclesiastes: Tempo para Tudo)
A partir
de então o sonho continuou a se repetir setembro após setembro tal qual se
revelara da primeira vez quando eu tinha oito anos. Minha vida seguia seu curso
natural. No íntimo eu sabia que tudo viria com o tempo. O tempo é meu grande
aliado. Nada de bom me veio que não fosse de forma natural, com o tempo. Há
quem diga que quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Mas eu acredito mais
no provérbio que diz que a felicidade é como uma borboleta, se a perseguimos,
ela foge de nós; mas se a esperamos, no cumprimento do dever, ela virá pousar
em nosso ombro inexoravelmente. Assim não há problema pelo qual eu tenha
passado até hoje que o tempo não tenha resolvido. Está claro que não devemos
correr atrás de problemas para deixá-los às expensas do tempo. Mas diante de
um, por mais grave que pareça, não devemos arrancar os cabelos nem pensar em
suicídio. A paciência, a calma e a busca de uma solução adequada é a melhor
saída. Lembro-me de que certa vez minha mãe me dera o dinheiro para eu pagar o
colégio, e eu o gastei, primeiro um pouquinho, esperando repor essa quantia
depois. Mas, com nosso espírito consumista latejando, toquei fogo no restante.
Quando me dei conta do ocorrido, fiquei desesperado. “E agora, o que vou
fazer?” Perguntava-me atônito, tentando
imaginar como agiria minha genitora ao saber que o filho gastara o dinheiro da
mensalidade da escola. O que fiz para enganá-la, me envergonha até hoje.
Confiando em sua deficiência, destaquei a folha do talão e guardei-a num
compartimento escondidinho da minha carteira de cédulas. Ela, que era portadora
de miopia, não se esforçaria para ver no canhoto o carimbo da tesouraria da
escola. No entanto passei quase todo o dia aperreado para encontrar uma saída.
Foi quando de repente me veio a ideia da efemeridade das coisas. Nada dura para
sempre, nesta vida tudo é passageiro. O que eu leria posteriormente em
filósofos e poetas me era claro como as águas de um rio cristalino. Em Pe.
Antônio Vieira, posteriormente eu leria: “O tempo se atreve a colunas de
mármore...” Alguém outro também disse: “O futuro será uma eterna tormenta, até
que um dia o tempo o torne passado.” E daquele momento em diante, essa ideia
passou a me confortar sempre que algum problema tenta me tirar a paz. Até mesmo
uma dor de dente, eu a curo com o tempo. Claro está que o problema deverá
depois, a seu tempo, ser eliminado. No caso do dinheiro do pagamento da
mensalidade escolar, eu fiz uma caixinha e todos os dias colocava uma ou mais
moedas, que pedia a um tio e a meu pai sem dizer para quê. E grande foi minha
felicidade, quando no final do ano tinha recuperado quase todo o capital
extraviado. E a ideia de que as coisas são fugazes sedimentou-se em mim, pois
como disse o profeta: “Passarão céu e terra, só minhas palavras não passarão.”
(Professor Alves, do romance De Sonhos, de Vidas e de Encontros)
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