Me pego refletindo sobre sonhos e
objetivos. Isso se deu durante a assistência a um vídeo de uma competição de
patinação no gelo. O que me levou a pensar sobre o sonho não foi a graça da
moça ao deslizar pela pista, com seu vestido branco e seu sorriso impune; não
foi a beleza da música que a acompanhava, cuja sonoridade emudecia a plateia e
fazia prender a respiração; não foram os movimentos precisos, ritmados e
encantadores.
O que me levou a refletir sobre o
sonho e o objetivo é a pobreza deste. Como são pequenos os objetivos! Passar
num vestibular, tornar-se médico ou professor, fazer um bom casamento. Os
objetivos não levam a nada, pelo contrário, são levados por planejamentos tão pequenos
quanto eles. Planejar uma profissão, um casamento, uma viagem é tão banal
quanto ir ao supermercado, ou concluir um curso de mestrado.
Mas o que me entristece e me
chateia é que, hodiernamente, muitas pessoas sequer tem um objetivo. Então como
ter, parir e alimentar um sonho!!! Pessoas que não têm um objetivo de vida não vivem,
apenas existem. São como as baratas, que sobreviveram a todas as catástrofes
que assolaram este infeliz planeta, mas cuja evolução não andou um centímetro. A verdade triste é que nossos jovens
atualmente não sabem sequer o que é isso, objetivo de vida. A preguiça mental em
que os envolveram as redes sociais e, consequentemente, a falta de leitura
determinou o surgimento de uma geração nada. Não fazem nada, não querem nada,
não sabem nada e não leem nada. Não tem sequer um objetivo. O máximo que fazem
é almejar, e isso é muito menos do que objetivar. Almejam tão pouco, uma
notazinha acima de zero na escola, umas pancadas no violão e umas vozezinhas
desafinadas. Seu apogeu é o sexo, banal, um orgasmozinho de nada, muitas vezes,
quase moda, com outro indivíduo do mesmo
sexo, o que aumenta, creio, o vazio da imcompletude.
Sonhar é algo sublime, da esfera
espiritual. É inerente aos seres superiores, que atingiram uma completude de
alma e carne, atingiram o limite entre o ser mortal e o divinal, com um passo
na eternidade. Quando vejo Cristiano Ronaldo jogando, não vejo em seu semblante
a busca de um objetivo, vejo-o voando, volitando sobre os mortais, superando-se
e ensinando a superação. Lindo, quase robô, sem emoções, só sonho. Perfeito,
soberano, deste mundo, mas não da mediocridade deste mundo, superior, da essência
superior. É o mesmo sentimento que sentia quando via Airton Sena desafiar os
limites da velocidade, para superar os centímetros que permitiam a
ultrapassagem. Ali, era sonho que transbordava em sua realização. Quando via
Hortência respirando e eliminando, de seu corpo, tudo que era físico, para
atingir a perfeição no arremessar a bola em direção a sexta. Foi este o
sentimento que tive quando vi a patinadora voar, alçada pela melodia e externar
toda a alegria que habitava seu belo ser num sorriso encantador.
Que Deus continue abençoando
todas as pessoas deste pobre orbe. As que têm objetivos e as que ainda não se
tornaram viventes. E que continue iluminando essa plêiade de sonhadores, para
que possam edificar a poesia que ainda existe, para inspira os músicos que têm
a mão na mão de Deus, que tem nos pés a luz divina e no riso a graça divina.
(Professor Alves; junho, de 2018)