sexta-feira, 28 de setembro de 2018

HOJE, NÃO QUERO SABER DE POLÍTICA



Só hoje, eu não vou falar em política. Mesmo sabendo que somos seres políticos, que ela está em tudo, até num simples beijo de namorados. Mas só hoje não falarei sobre política. Não falarei em eleição, tampouco de candidatos que querem o fim da democracia, tão incipiente em nosso país, tão jovem e tão vilipendiada. Hoje não falarei de política nem de políticos.

Hoje eu quero falar de Francisco, o nascido na cidade de Assis, que lutou contra as imposições de uma igreja opressora, mas que não a abandonou. E que, no seio dessa madrasta, desenvolveu seu apostolado, protegendo os que não tinham voz, os que não tinham vez. Defendendo homens, mulheres, todos, e, mais que todos, defendeu os doentes, os desvalidos e até mesmo os animais. E peço permissão para dizer que defendeu os que não tinham opção sexual majoritária. Porque tenho certeza que o apóstolo de Assis não tinha nenhum preconceito.

Hoje eu quero falar de Gandhi. O grande homem indiano que libertou sua pátria da escravidão britânica sem disparar um tiro, que desobedeceu aos princípios da guerra.  Gandhi, cuja arma que impunha era o princípio da não-violência e o amor, o mesmo amor com que Cristo virou a história da humanidade. Gandhi, que perdoava aqueles que eram seus inimigos, mesmo ele não sendo inimigo de ninguém. Gandhi, que foi assassinado por aqueles mesmo a quem libertara, porque, sendo tolerante, tornou livre o Paquistão, subjugado por sua própria nação.

Hoje eu quero falar de Madre Tereza, a albanesa que viveu entre os esfarrapados, entre os desgraçados, entre os humilhados, entre os doentes. Madre Tereza, que impunha o amor como arma para derrotar o ódio, o preconceito, a discriminação. Madre Tereza, que, tenho certeza, nunca perguntou a orientação sexual, a raça, ou mesmo a religião daqueles a quem as mãos tocavam e a quem seus lábios beijavam para minimizar o sofrimento. 

Hoje eu quero falar de Chico Mendes, seringueiro, cujo suor derramado enriqueceu seus algozes. Chico Mendes, cujo sangue derramado, por aqueles que o odiavam, pelo amor dedicado ao trabalho e aos companheiros, irrigou a terra em que tombou e fez crescer uma floresta de consciência entre os povos que viram sua luta.

Hoje eu quero falar Luther King, pastor americano que teve um sonho: o de ver todos os povos unidos, independente daquilo que supostamente os torna diferentes. Luther King, cujo sonho de igualdade entre os seres levou o ódio de seus perseguidores ao extremo de assassiná-lo. Luther King, cujo discurso ainda ecoa pelas ruas dos Estados Unidos e do mundo, levando a consciência do ideal de liberdade, igualdade e fraternidade, ideal este destruído por aqueles mesmos que o tornaram universal.
Hoje eu quero falar de Chico Xavier, homem cuja produção literária, psicografada pela pátria espiritual, tornou-o símbolo de humildade e amor. Chico Xavier, que, mesmo cuspido, agredido, perseguido, respondeu sempre com a arma mais poderosa que há: a palavra mansa, que assusta aos odientos e os leva aos exageros da violência. Chico Xavier, a quem o amor ao Cristo nunca lhe permitiu uma atitude de discriminação, de preconceito.

Hoje eu quero falar de Mandela, que mesmo preso nas grades da injustiça, não deixou que o ódio fosse seu companheiro na luta contra o Apartheid. Mandela, cuja percepção da intolerância de alguns, salvou-o do anonimato e o tornou primeiro presidente negro de uma África dominada pelo preconceito e ódio brancos.

Hoje eu quero falar de Paulo de Tarso, de Jan Hus, Joana D’Arc, Lutero não necessariamente nessa ordem. Só não quero falar de política. Vou deixar que os ouvidos, os olhos, as bocas sãos e as consciências grandiosas falem por mim. Que transformem esses discursos de ódio, perseguição, insanidade, em palavras vivas, que podem fazer florescer a divindade que cada um tem em seu íntimo.
(Professor Alves Andrade)

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