Só hoje, eu não vou falar em
política. Mesmo sabendo que somos seres políticos, que ela está em tudo, até
num simples beijo de namorados. Mas só hoje não falarei sobre política. Não
falarei em eleição, tampouco de candidatos que querem o fim da democracia, tão
incipiente em nosso país, tão jovem e tão vilipendiada. Hoje não falarei de
política nem de políticos.
Hoje eu quero falar de Francisco,
o nascido na cidade de Assis, que lutou contra as imposições de uma igreja opressora,
mas que não a abandonou. E que, no seio dessa madrasta, desenvolveu seu
apostolado, protegendo os que não tinham voz, os que não tinham vez. Defendendo
homens, mulheres, todos, e, mais que todos, defendeu os doentes, os desvalidos
e até mesmo os animais. E peço permissão para dizer que defendeu os que não
tinham opção sexual majoritária. Porque tenho certeza que o apóstolo de Assis
não tinha nenhum preconceito.
Hoje eu quero falar de Gandhi. O
grande homem indiano que libertou sua pátria da escravidão britânica sem
disparar um tiro, que desobedeceu aos princípios da guerra. Gandhi, cuja arma que impunha era o princípio
da não-violência e o amor, o mesmo amor com que Cristo virou a história da
humanidade. Gandhi, que perdoava aqueles que eram seus inimigos, mesmo ele não
sendo inimigo de ninguém. Gandhi, que foi assassinado por aqueles mesmo a quem
libertara, porque, sendo tolerante, tornou livre o Paquistão, subjugado por sua
própria nação.
Hoje eu quero falar de Madre
Tereza, a albanesa que viveu entre os esfarrapados, entre os desgraçados, entre
os humilhados, entre os doentes. Madre Tereza, que impunha o amor como arma
para derrotar o ódio, o preconceito, a discriminação. Madre Tereza, que, tenho
certeza, nunca perguntou a orientação sexual, a raça, ou mesmo a religião daqueles
a quem as mãos tocavam e a quem seus lábios beijavam para minimizar o
sofrimento.
Hoje eu quero falar de Chico Mendes,
seringueiro, cujo suor derramado enriqueceu seus algozes. Chico Mendes, cujo
sangue derramado, por aqueles que o odiavam, pelo amor dedicado ao trabalho e
aos companheiros, irrigou a terra em que tombou e fez crescer uma floresta de
consciência entre os povos que viram sua luta.
Hoje eu quero falar Luther King,
pastor americano que teve um sonho: o de ver todos os povos unidos,
independente daquilo que supostamente os torna diferentes. Luther King, cujo
sonho de igualdade entre os seres levou o ódio de seus perseguidores ao extremo
de assassiná-lo. Luther King, cujo discurso ainda ecoa pelas ruas dos Estados
Unidos e do mundo, levando a consciência do ideal de liberdade, igualdade e
fraternidade, ideal este destruído por aqueles mesmos que o tornaram universal.
Hoje eu quero falar de Chico
Xavier, homem cuja produção literária, psicografada pela pátria espiritual,
tornou-o símbolo de humildade e amor. Chico Xavier, que, mesmo cuspido,
agredido, perseguido, respondeu sempre com a arma mais poderosa que há: a
palavra mansa, que assusta aos odientos e os leva aos exageros da violência. Chico
Xavier, a quem o amor ao Cristo nunca lhe permitiu uma atitude de discriminação,
de preconceito.
Hoje eu quero falar de Mandela,
que mesmo preso nas grades da injustiça, não deixou que o ódio fosse seu
companheiro na luta contra o Apartheid. Mandela, cuja percepção da intolerância
de alguns, salvou-o do anonimato e o tornou primeiro presidente negro de uma
África dominada pelo preconceito e ódio brancos.
Hoje eu quero falar de Paulo de
Tarso, de Jan Hus, Joana D’Arc, Lutero não necessariamente nessa ordem. Só não
quero falar de política. Vou deixar que os ouvidos, os olhos, as bocas sãos e
as consciências grandiosas falem por mim. Que transformem esses discursos de
ódio, perseguição, insanidade, em palavras vivas, que podem fazer florescer a
divindade que cada um tem em seu íntimo.
(Professor Alves Andrade)
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