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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

TODO DIA É DIA DOS NAMORADOS





ORAÇÃO DOS NAMORADOS

ELE:
Oh! Deus, permiti, pois, que esta que está
Ao meu lado permaneça sempre aqui,
Que seu sorriso me dê o que me dá:
Segurança e denodo pra seguir.

E quando em breve estivermos unidos,
Assim pelas leis dos homens casados,
Então pelas leis divinas ungidos,
Nossos corpos, fortemente, atados,

Eu terei tempo de mudar o mundo,
Pois saberei de sua eterna amizade
E contarei com seu amor oriundo
De uma relação feita de verdade.

E assim, num futuro não tão distante,
Contaremos às novas gerações
O quanto foi bom vivermos amantes
E termos unidos os dois corações.


ELA:
Oh! Deus, fazei que este moço que está
Ao meu lado, de minha alma amado,
Continue, como agora, a me amar,
Sereno, amigo e sempre denodado.

E um dia quando estivermos casados,
Eu, amparada no seu lindo braço,
Seus firmes passos pelos meus guiados,
Nós dois unidos sem nenhum embaraço,

Eu terei força pra enfrentar a vida,
Pois saberei de sua grande amizade
E poderei, por seu riso impelida,
Vencer na vida sem temeridade.

E quando a velhice chegar, sem dor,
Diremos a todos, de boa vontade,
Como foi lindo e vero o nosso amor
E quão grande nossa felicidade.

OS DOIS:
Amém!



DECRETO PROIBITIVO

Está decretado a partir deste dia
A proibição a qualquer tipo de doença
Enquanto se estiver amando,
Para o bem do amor e da alegria..

Indisposição, nem pensar, jamais,
Pois deixa os beijos e os abraços lassos,
Tosse só se for acesso de desejo,
Para que se dê, no outro, muitos amassos.

Conjuntivite, aí é de morrer!
Como se vai o ser amado mirar?!
Dengue! Pior. Essa é que não,
Queremos dengo e gestos de amar.

Pneumonia é ruim demais.
Imagine não poder suspirar.
Enxaqueca, ai, eu não quero dormir!
A não ser são, para com ela sonhar.

Sai asma, bronquite, rouquidão,
Sífilis, tuberculose, gastrite,
Mal-do-século, malária,
Hipertensão, coqueluche, faringite.

Vêm com tudo disposição e bem-estar.
Quando se ama se precisa de saúde,
Fortuna, sorte e felicidade,
Amor o dia inteiro, constante, amiúde...


SONETO DO BEIJO
(Porque beijar é bom demais)

Por que fechamos os olhos ao beijar?
Grande mistério para os que não amam
Mas está claro aos que se apaixonam:
Quem ama só o ente amado quer mirar.

Quando os lábios começam a se tocar,
As pálpebras lentamente se apagam,
Os corações rapidamente acalmam,
É a magia do amor a se manifestar.

Os sinos tocam, do alto caem lírios,
O resto são flores, sonhos, delírios
O balé das mãos que se tocam no ar...

Logo a respiração fica ofegante,
Inicia-se a revolução pujante,
Inicia-se por fim o ato de amar!!!



DESTINO

Homem e mulher, a que se destinam
Para o entrelaçamento amoroso,
Para o riso farto depois do gozo,
A união cheirando à fresca resina.

Antes no varandim, as mãos unidas,
A lua fitando mesmo sem vê-la,
Ou no barzinho, ouvindo estrela,
Só este pensamento une duas vidas.

Na favela, caatinga ou mansão,
Sem pejo, enigma nem mistério,
Homem e mulher, lúbricos, se olham.

O amor, o sexo movem uma nação.
Que digo! Galáxias inteiras se amam!
E nisso não há nenhum despautério.


SONETO ANTICIÚME

“O ciúme é a véspera do fracasso
E o fracasso provoca o desamor.”
(Alceu Valença)

Quem bem ao seu amado quiser
Das garras do ciúme fugirá.
É um sentimento demoníaco!
E só em torpes corações é que está.

Quantas vidas p’rele foram ceifadas...
E dizem com lágrimas a rolar:
─ Foi por amor, meu Cristo, que eu matei.
Punidos, os pecados vão purgar.

Uns dizem sem as palavras medir:
─ O ciúme é que é o tempero do Amor.
Que burrice! Se ele só traz a dor!

Por isso, amantes que estes versos lêem,
Desfaçam-se rápido desse inferno,
E vivam um grande amor, sincero, eterno.



SONETO DA RELAÇÃO
(Baseado na crônica de Rubens Alves)

A questão é mera e não requer cola:
Seu enlace é tênis ou frescobol?
Não pode ser do tipo futebol,
Porque envolve dois seres e uma bola.

Se tênis, meus pêsames, é mortal!
Se frescobol, parabéns, é brinquedo.
Se tênis, nele reina ódio e segredo!
Se frescobol, parceria total.

Pois se joga tênis pra derrotar.
Seu erro é a alegria do companheiro,
Já que a ação preferida é cortar.

Frescobol é jogo de cooperar.
Aqui, dialoga-se o tempo inteiro,
Logo, felicidade é acertar.


DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

A existência inteira é um diálogo!
Neste, entre seres, por demais franco,
Há um jovem afogueado a discutir
Com um velho já de cabelo branco.

O jovem, elétrico, agita os braços.
Assim, não pára um minuto sentado.
O velho, a cismar, com um sorriso brando,
Fita o chão, antes, por ele riscado.

O jovem, rebelde, é uma fogueira,
De chama, sensação e atitude.
O ancião, observando, logo pensa:
“Assim já fui, na minha juventude”

O jovem diz, entre riso nervoso:
─ Para mim, tudo tem que ser agora!
O velho ouve para depois falar:
─ O abraço o beijo, tudo tem sua hora.

Para o jovem, o gozo dessa vida
Precisa rápido se realizar.
O ancião, fitando a teia do tempo,
Diz: ─ Até isso, filho, pode esperar.

Os dois, cansados dessa brigaria,
Abraçam-se, e para casa se vão,
Porque a casa deles dois é a mesma,
É um prédio chamado coração

Amor é o nome do sábio, paciente,
quieto e tranqüilo ancião.
O outro, que atiça os sentimentos,
Atende por este nome: Paixão.


AMOR E POESIA

Fazer versos é como fazer amor.

Em atos ambos, a pressa tem que ser desprezada,
O cuidado, inexoravelmente, enaltecido.

O ser amado como o papel cuidadosamente
Sonhado
Festejado
Mirado.

Ela te dá o prazer do gozo dia após dia
Ele a alegria de não te repetires.

Cada palavra é um beijo,
Cada verso uma carícia,
E paulatinamente o poema se vai construindo,
E calmamente os corpos se constringindo.
Até o momento máximo da poesia realizada (o poema),
Até o sublime êxtase do líquido jorrado (e recebido).

Examina teu poema...
Contempla tua amada...
E,
Sem te preocupares com a resposta de Pessoa,
Pergunta-te se vale a pena amar qualquer uma,
Indaga-te se o poema não tem hora.

Fazer verso é como fazer amor.



TEXTÍCULOS


DIAS DOS NAMORADOS

Quando o sol do dia doze brilhar,
Ah! Meu amor, para você, beijos mil
À tarde, abraços loucos vão te apertar,
À noite, cala-te boca, é segredo, Psiu!.


FADO

Vi teu nome
No pára-brisa do tempo
E descobri
Que o nosso destino
Veio com o vento
Nas asas da criação.


QUARTO CRESCENTE

Vi-te um dia
Não sei por quê
Veio-me a alegria
Travestida de você!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

NÃO COMETA ESSE ERRO


A SINA DO ESCARAVELHO

Assim, como humanos seres há,
Que grande poder a si se arrosta,
Existe inseto que também se dá,
Falo do nojento rola-bosta.

Rola-bosta é apenas apelido,
Seu nome verdadeiro é escaravelho,
Como Narciso, o inútil é atrevido,
Coa caca, só descansa ante um espelho.

Vi-o enquanto olhava meu jardim,
Fiquei incrivificado com a criatura
Que desfilava bem perto de mim,
Cara fechada, preso em sua feiúra.

Ostentava tanta empáfia o infeliz,
Que chamou deveras minha atenção,
Resolvi logo ser dele aprendiz,
Para não repetir sua lição.

Duma lorica pesada era preso,
Erguia sua tromba como um falo,
Olhava os colegas com desprezo,
Como em sua cabeça houvesse um halo.

Os insetos menores tinham medo,
Pois não sabiam que, apesar de tudo,
Ele guardava um enorme segredo
Debaixo de seu focinho trombudo.

Por muitos dias perscrutei atento,
Aquele pesado fardo levar,
Aquele ser de penúria e lamento,
De viés aos outros seres olhar.

Eu juro que fiquei com muito dó,
Dele, vestido como um cavaleiro,
Porém levando a vida muito só,
Sem nunca ter momento alvissareiro.

Em surdina, dos insetos ouvi
Que ele tinha sido mais coitado,
Entanto era mais humilde ali,
E a ninguém ele tinha humilhado.

Um dia, deram para ele cuidar,
Porém, uma bosta bem grande e suja,
Que carrega então de lá para cá,
Vigiando como mamãe coruja.

Adora aos pequeninos indagar:
Sabem para que seve esta caca?
Respondem ingênuos: para brincar!
Dando um sorriso frio o babaca,

Mas não sabendo também responder
O que acabara de perguntar,
Sai trombudo a cumprir seu dever,
Sua grande bosta vai empurrar.

Entanto todo mundo tem alguém
Para consigo se preocupar.
Com ele aconteceu também,
Uma amiga havia pra consolar.

Disse-lhe ela: não seja tão sisudo,
Procure uma parceira para o ajudar,
Não seja assim, colega, tão cascudo
Há uma companheira para te amar.

Diante de grande demonstração,
O pobre resolveu pra ela se abrir
Não posso, amiga, dar meu coração,
Às fêmeas de lá tampouco daqui.

Só a você vou dizer a verdade,
Vou segredar o que sempre serei,
Que não se sabe na comunidade,
A verdade, colega, é que sou gay.

Estupefato ao ouvir-lo fiquei,
Diante de tamanha confissão,
Não sabia de nenhum inseto gay,
Sabia até de veado leão.

Mas sua amiga, do rola-bostas,
Era dessas amigas de verdade,
Disse-lhe passando a mão nas costas:
Todos precisam da felicidade.

Para tudo nesta vida tem jeito,
Não se importe meu amigo querido,
Ser boiola não é nenhum defeito,
Por que não arranja você um marido?

Arranje, amigo, um companheiro, então,
Que o ame de fato e ame-o também,
Formando de dois um só coração,
E que os anjos enfim digam amém.

Ele então seguindo esse conselho,
Logo passou com outro a desfilar,
Quando o via ficava vermelho,
E saíam os dois a namorar.

Mas não mudou nada o pobre coitado,
O motivo disso logo direi:
Não se pode amar inseto veado
Por um inseto que também é gay.

Juro sobre a bíblia e ante Deus,
Isso tudo aconteceu no meu jardim,
Passou-se assim perante os olhos meus
Descortinou-se bem perto de mim.
(Professor Alves, 03/08)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A FLOR E A DOR




A FLOR E A DOR
OU A ETERNA LUTA DO BEM CONTRA O MAL
(para Dra. Karol, uma flor vestida de anjo)

A dor surgiu sub-repticiamente,
De leve, cansada, espaçosa,
Logo foi tomando espaço na mente,
Em breve, era toda vitoriosa,
Impedindo os atos comumente.

Até que de triunfo deu seu grito,
Quedou-me com violência no chão.
O doutor mandou-me seguir o rito,
Ressonância era o exame padrão.
Saiu então o diagnóstico maldito.

“Exuberante protrusão discal
Póstero-mediana” – disse o médico
Descrevendo qual era o meu mal –
“Contraindo” – continuou sádico –
“A margem ventral do saco dural”.

Sentia-me como se fosse fuzilado,
Estava perplexo diante daquilo,
Ele ria por ter-me humilhado,
Recompus-me e perguntei tranqüilo:
– Há vida pra mim depois desse laudo?

Não é nada para desesperar,
Vamos fazer forte medicação,
Fisioterapia muita se fará,
Após dez meses de dedicação,
Bom de novo você estará.

Triste, macambúzio e desolado,
Voltei então dessa forma para casa,
Sem contar com a dor física do lado.
No tratamento, logo mandei brasa,
Pior, juro, nunca havia estado.

Em poucos dias estava arrasado.
Os comprimidos e as injeções
Deixaram-me o corpo debilitado,
Fui afastado, pois, das diversões
E do trabalho fui logo sacado.

A angústia e a má solidão
Tornaram-se assim minhas companheiras,
Fui presa fácil da televisão,
Nem em sonhos ia a brincadeiras,
Mas pensava: “dias melhores virão”.

Meu consolo era o computador,
Do orkut, os amigos e amigas,
Xadrez, música, e, como leitor,
Jornais e até revistas antigas,
Eram os lenitivos para a dor.

Bons dias vieram antes que eu pensava!
“Há malas as quais vem para o trem”
Há pouco um amigo, brincando, falava,
– Há males os quais vêm para o bem –
Esse provérbio ele parodiava.

E foi no momento em que adentrei
A sala de fisioterapia:
Um ente celeste encarnado encontrei!
A tal dor de repente não sentia,
De pronto, logo, logo melhorei.

Era um anjo meigo e lindo, Meu Deus!
Desses os quais pouco vêm à terra –
Que encanto para os olhos meus –
Quando vêm, numa redoma se encerram.
Inacessível a um coração ateu!

Era um ser feito de luz e harmonia,
Era um manto de pura perfeição,
O jaleco branco e o que dele fluía!
Tomou a minha dor em sua mão,
Senti-me conduzido à sacristia.

Mas passado o primeiro momento,
A dor voltou, plena, aguda, fria.
Era para mim deveras tormento
Quando vinha então a analgesia,
Só seus olhos me traziam lenimento.

Ela era assim como uma flor,
Cujos espinhos do conhecimento
Combatiam naquele vale de dor,
Impondo-nos severo tratamento,
Severamente, entanto com amor.

Era bastante um discreto sorriso,
Mostrando duas ebúrneas fileiras,
Para o mal se abater ante esse viso,
Pois sabia que não era brincadeira,
Recuava, mostrando ter bom siso.


Era a luta dos seres antitéticos:
Quando a dor sorria cinicamente,
Utilizando seus meios ecléticos;
A flor agia pacientemente,
Utilizando expedientes éticos!

Até que do bem começou a vitória.
A dor tentou, ainda em desespero,
Ostentar uma enganosa glória,
Mas a bela flor tinha o dom do esmero
E mudou por completo a história.

As noites, torturadas pela dor,
Ganharam agora uma nova feição,
São embaladas pela voz da flor,
Que, palpitante tal qual coração,
Abre os lábios, pétalas de olor.

O mal, vendo-se por fim derrotado,
Saiu deixando o campo da batalha.
Era o disco, que antes protrusado,
Pedia desculpas por sua falha;
Vitória do bem, em anjo encarnado.

Quando voltei então ao ortopedista,
Ele ficou assim sobressaltado,
Vendo-me andar como um nacionalista,
Senti-o um pouco decepcionado,
Pois, passou de leve a mão na vista.

O que vejo, amigo, um sério colosso!
Que fizeste, pois o que miro é raro,
Andas forte como se fosse um moço,
Encontraste algum santo, meu caro!?
Respondi-lhe – Uma, de carne e osso”

(Porofessor Alves)

terça-feira, 29 de julho de 2008

NÃO PRECISAMOS VOTAR




O VERDADEIRO ANALFABETO POLÍTICO

O verdadeiro analfabeto político
É entendido, segue os ditames de Bretch,
Abre o peito para dizer:
─ Eu voto, o voto é minha arma,
Sem ele as prostitutas se multiplicam,
A Saúde está morta,
A Educação não existe,
Meu povo não tem redenção.
Ou é ignaro para balbuciar:
─ Voto no candidato da mãe que vai me dar uma dentadura,
Um copo de cerveja e um prato de feijoada.

Desconhecem eles, míseros eleitores,
Que o verdadeiro analfabeto é o que vota,
É o que coloca a raposa no galinheiro.

A política é a resina que molda a volúpia por poder.
A política, unifica todo ser, mais que a morte.
Torna a todos escravos da ganância,
E lhes instala no peito o vírus da corrupção,
Que embota as mentes, antes honestas(?)
Individualiza interesses coletivos,
E como uma pandemia se espalha
Escolas, fábricas, sindicatos, bairros, cidades, países, galáxias.
Não há política nem politicalha, como queria Rui.
O que há é a ciência do descaso, da mentira, da usura.

E o povo?
Torna-se vítima desses interesses.
E aí sim surgem mais miseráveis
Que se multiplicam feito tapurus na carne podre,
Prostitutas desfilam suas almas enviesadas nas vielas da solidão,
Professores mal pagos destroem horizontes infantis,
Morre-se, é irônico, nas filas dos hospitais.
E quando vem a chuva arrasta consigo destinos
E se é tempo de seca, sinas são tragadas pela terra.

E os petistas, tucanos, pefelistas, bispos, verdes, comunistas
Estalam o açoite nos palacetes da devassidão
Entre risos, lagostas e uísques.
Enquanto a turba pede esmolas, educação, saúde.
A quem de seus votos se fartara,
Tudo graças ao verdadeiro analfabeto, político.
(Professor Alves)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

SONETO DA BELEZA

SONETO DA BELEZA
(Para Vanessa, uma beleza ainda arisca )


A beleza não está no que defronta,
Mas na alma plena que se manifesta.
Não está na roupa com que se apronta,
Mas no sorriso que se abre em festa.

É um esplendor que o dedo não aponta,
É um detalhe que um muxoxo empresta.
Todos dizem: linda! Demais da conta!
Se faceira, o mundo todo a requesta.

Porém se o belo não se faz notar,
Não se mostra em linhas sinuosas,
Se fica assim a formosura latente,

Não se vai desta forma realçar,
Não serão as graças então formosas,
A alma fria não estará contente.
(Professor Alves, junho de 2008)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

APOLOGIA À CANÇÃO DO MUNDO


(para Vanessa no seu aniversário de doze anos)

Desconfia do silêncio
Sorri, bate palmas, faze barulho
O silêncio é tão insuportável que deu origem ao som
Como à luz a escuridão
O silêncio está sempre carregado de mistério, de sombra
(Mas sempre não é todo dia)

Não te iludas
Quando a cidade dorme, não dorme
É nesse silêncio profundo que amantes se dão
Revira-se pelas camas, e redes, e chãos, em busca de se achar
Não te iludas com o silêncio
Foi silenciosamente com três beijos que Judas cumpriu sua sina
Foi no silêncio de Ouro Preto que se confidenciou e se coseu uma nova bandeira
(ainda que tarde)
Foi nesse mesmo silêncio que um tal Joaquim a traiu
Foi também em silêncio, que os vermes roeram as frias carnes de Machado, Augusto...
E foi no silêncio da asfixia química que o holocausto se consumou

Não te iludas.

Cultua um só tipo de silêncio: o benéfico
O silêncio do ler:
É nos mínimos intervalos entre as palavras que se descobre o mundo
Que se vislumbra a fantasia, e a realidade...
O silêncio do escrever:
É no correr da caneta ou das teclas que damos asas ao silêncio da imaginação
Que se recria o pensamento.

Mesmo quando amares, não o faças em silêncio.

Desconfia do silêncio
Sorri, bate palmas, faze barulho
Deixa o silêncio aos mortos e as gargalhadas aos bobos.
Alves (julho de 2005)

AMOR E POESIA

AMOR E POESIA



Fazer versos é como fazer amor.

Em atos ambos, a pressa tem que ser desprezada,
O cuidado, inexoravelmente, enaltecido.

O ser amado como o papel cuidadosamente
Sonhado
Festejado
Mirado.

Ela te dá o prazer do gozo dia após dia
Ele a alegria de não te repetires.

Cada palavra é um beijo,
Cada verso uma carícia,
E paulatinamente o poema se vai construindo,
E calmamente os corpos se constringindo.
Até o momento máximo da poesia realizada (o poema),
Até o sublime êxtase do líquido jorrado (e recebido).

Examina teu poema...
Contempla tua amada...
E,
Sem te preocupares com a resposta de Pessoa,
Pergunta-te se vale a pena amar qualquer uma,
Indaga-te se o poema não tem hora.

Fazer verso é como fazer amor.
Alves ( 11/03 /2003)

terça-feira, 17 de junho de 2008

DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

A existência inteira é um diálogo,
Nesse, entre pares, por demais franco!
Um jovem animado a discutir
Com um velho já de cabelo branco.

O jovem, elétrico, agita os braços,
Assim, não pára um minuto sentado.
O velho, a cismar, com um sorriso brando,
Fita o chão, antes, por ele riscado.

O jovem, rebelde, é uma fogueira,
De chama, sensação e atitude.
O ancião, observando, logo pensa:
“Assim já fui na minha juventude”

O jovem diz, entre riso nervoso:
─ Para mim, tudo tem que ser agora!
O velho ouve para depois falar:
─ O abraço o beijo, tudo tem sua hora.

Para o jovem, o gozo dessa vida
Precisa rápido se realizar.
O ancião, fitando a teia do tempo,
Diz: ─ Até isso, filho, pode esperar.

─ Por que tu és tão tranqüilo, sereno,
Se daqui a pouco tempo irás morrer,
Se em terra não te resta muito tempo?
Por que logo não te pões a correr?

Sorrindo, insoberbo, diz-lhe o velho:
─ Eu sou, ó criança, a eternidade.
Em breve deixarás então de ser jovem,
E, quiçá, chegues à minha idade.

­─ Se isso acontecer, continua o velho,
Transformar-te-á em sabedoria,
Aquilo que te atormenta agora
Será paz, não será mais correria.

─ O fogo que te queima as entranhas
E te leva a delírios passageiros,
Em breve, se transpuseres esse estágio,
Será água, terra e ar alvissareiros.

─ Tua paciência para te realizares –
Diz nosso jovem – deixa-me nervoso,
Preciso do fogo alimentador,
Sussurros, beijos abraço ardoroso.

─ Pensas que também não me aprazem?
– Indagou o homem sem idade –
Em minhas veias corre muita energia,
Pronta para enfim ser realidade.

─ É que sou como um arqueiro experiente,
Que espera o tempo certo para atirar,
Minha seta vai direto ao alvo,
Nunca atiro sem antes muito mirar.

─ És, jovem, como os arqueiros insanos,
Tens em mãos o melhor arco do mundo,
Mas, não tendo paciência nem tino,
Torna o projétil mero vagabundo.

─ Sou a águia do tempo, meu jovem,
Vôo alto, para o ser admirar,
Habito a amplidão do ego humano,
Também sou puma pronto para amar.

─ És angustiado como as galinhas,
Freneticamente ciscando o chão,
Esporeando pra tudo quanto é lado,
Gozo verdadeiro não encontras não.

─ Sou o aqui e o agora, ó moribundo,
Não sei o que será no amanhã!
És carne fraca já quase sem vida,
Ser fora do tempo, fruta temporã.

─ Sou água de março, tempo fértil,
Auspicioso, irrigando o sertão.
És outono, penúria, és o fim,
Folha podre decaída no chão.

─ Te enganas, minha pobre criatura,
Sou Gabriel, anjo da anunciação,
Em mim reside toda sabedoria
Sei, do mundo, a chave da criação.

Os dois, cansados dessa brigaria,
Abraçam-se, e para casa se vão,
Porque a casa deles dois é a mesma,
É um prédio chamado coração

Amor é o nome do sábio, paciente,
quieto e tranqüilo ancião.
O outro, que atiça os sentimentos,
Atende por este nome: Paixão.
(professor Alves, 05/08)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...