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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SEJAMOS FELIZES

“SE FICARMOS OLHANDO PARA O QUE AS OUTRAS PESSOAS PENSAM OU DIZEM, JAMAIS FAREMOS ALGO QUE SATISFAÇA O NOSSO CORAÇÃO.”


          Na verdade, não há nada que façamos ou que digamos que satisfaça a todos. É necessário, urge que aprendamos a viver de acordo com algumas leis:

1ª  Somos o que somos, e se o que somos não atrapalhar a vida dos outros, não prejudicar ninguém, então estamos certos como somos. Porque nossa identidade, assim como a nossa liberdade, termina onde começa a identidade e a liberdade do outro.

2ª Devemos aprender a SER, para termos consciência de que aquilo que fazemos ou dizemos é bom para nós e para o meio no qual estamos inseridos. É impossível, portanto, sermos felizes isoladamente. Queiramos ou não nós precisamos do outro para nos sentirmos inteiros. Caso contrário seremos apenas um lado de uma moeda.

3ª As pessoas não nos aceitam como somos apenas porque somos, ou porque queremos, mas porque convencemos a elas de que o que somos é bom tanto para nós como para elas, para o coletivo. A aceitação de poucos requer a aquiescência de muitos.

4ª Não há nada mais cruel e desumano do que você se impor a alguém pela força, na marra. É preciso que nos imponhamos pela gentileza dos nossos atos e das nossas palavras, que necessariamente devem ser úteis, pois atos e palavras vãs vão-se com o primeiro vento.

5ª Aceitar as pessoas como elas são é um bom caminho para a nossa própria aceitação. Admirá-las e mesmo tolerá-las representa para o mundo o que somos, como vivemos e indica a procedência de nossas idéias e atitudes.

          Portanto, para sermos felizes, é necessário que sejamos nós mesmos, para que as pessoas nos respeitem e nos admirem e, principalmente, aprendam conosco, porque não há realização maior do que o ato de ensinar. Cristo morreu por toda a humanidade, mas os seus ensinamentos jamais morrerão, Por isso sua obra maior foram os ensinamentos, por isso ele se imortalizou. Sejamos o que somos, acreditemos em nossas próprias opiniões, em nossas potencialidades em nossos sonhos. Lembremos as palavras de Renato Russo: “Se queres alguém em quem confiar, confia em ti mesmo”.




SEJAMOS FELIZES

segunda-feira, 4 de março de 2013

A BARBEARIA E A CAIXINHA DE SURPRESA



              
        Ontem fui à barbearia. Costume que tenho desde vidas pregressas. Inclusive, salvo engano, já fui barbeiro numa das estadas por aqui. Pois bem, estava lá nesse espaço mais que democrático, onde as pessoas podem torcer livremente e manter uma saudável discussão futebolística. Estava juntamente com meu filho, que é para ele também criar gosto.
               O assunto não podia ser outro. Ceará e Fortaleza na final da copa Nordeste. Intrometi-me algumas vezes para lembrar que os dois tinham que passar pelos seus adversários desse domingo, Asa e Campinense, respectivamente. Mas o otimismo travava a racionalidade de alguns, torcedores dos dois principais times da capital cearense. Fiz-lhes lembrar do episódio ocorrido ano passado, quando o Fortaleza sucumbiu diante do Oeste de São Paulo, em pleno PV. “Mas isso já está superado” dizia uns. “O mesmo raio não cai sobre a mesma cabeça duas vezes”, retrucava outros. E assim saí da barbearia de cabeça feita, literalmente, e derrotado no debate.  
               Pena que à noite a barbearia estava fechada. O certo é que o raio não caiu sobre a cabeça do Fortaleza pela segunda vez, mas na cabeça do Ceará. Não quero o mal dos dois times. Até queria que os dois fizessem a final dessa copa, para adiar a participação das onzenas principais na segunda fase do campeonato cearense.  Mas quis o deus do futebol que se repetisse pela zilionésima vez o ditado que diz “o futebol é uma caixinha de surpresas”. E que caixinha, hem! No Rio os torcedores do Flamengo também pagaram o pato. A caixinha também se abriu para nós rubro-negros. 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

EU TE AMO


              
         “Eu te amo.” É a frase mais dita e ouvida no mundo inteiro. Mas o interessante é como se diz: “Eu te amo...” baixinho, quase sussurrando, deprecando, quase implorando ao ser amado que devolva esse amor. Ou então “EU TEAMO!” arrogante, mandando, exigindo que a pessoa amada também o ame e propague ao mundo esse amor. Já ouvi, acho que numa música, um “Eu te amo, porra.” Esse não é arrogante, é intimidador, ameaçador. “Não vai me amar...? tente pra ver o que lhe acontece...” Coitado do ente ‘amado’. Já ouvi num desses cartõezinhos que são veiculados na rede um "Sorria, eu te amo". Dá pra perceber a importância do ser amado! Nenhuma. Importante aí é quem ama, pois é o motivo da alegria  de quem é amado, quando deveria ser exatamente o contrário. E assim vai.
              Durante o Romantismo, refiro-me ao período do século XIX em que predominou esse estilo de época, dizer “Eu te amo”, era um bom negócio. A sociedade estava precisando de ‘bons casamentos’ para produzir ‘boas famílias’. Mas “eu te amo” também era dito a beira de penhascos, em bosques ermos. E nos dois casos se a resposta fosse “mas eu não te amo”, o precipício seria a morada derradeira do amante não correspondido. Ou se dizia “eu te amo” entre quatro paredes, a sós, sem ninguém para ouvir. Só o amante e sua solidão. E assim já sabemos como fica o verbo amar.
              Já no período em que a máscara dos amantes caíra, refiro ao período do Realismo, dizer “eu te amo” era um caso de adultério, pois só as amantes casadas ouviam de seus amantes e não dos maridos “eu te amo”, flácido, apenas com interesses que não eram financeiros.
              Mas foi talvez no período das novelas televisivas iniciadas já na década de sessenta que dizer “eu te amo” tornou-se moda. E todos repetem inspirados nas novelas das seis, sete... “eu te amo”, mas sempre com tons suplicantes, arrogantes, ameaçadores. E o amor assim se torna moeda de troca ou de compra ou de mando. Não vamos mexer em jornalismo, mas quantas pessoas morreram só nos últimos anos ou mataram porque quem era amado não correspondia a esse estranho amor!

              O certo é que ninguém doa amor, ninguém ama para amar e ser feliz. Ninguém diz “eu te amo, obrigado”. Obrigado pelo quê!? Pela pessoa amada existir. Ninguém fala: “Eu te amo, obrigado por você existir, por eu ter a quem amar. Minha vida era tão sensabor, inodora, incolor até que você apareceu e eu encontrei um motivo para viver, um motivo para respirar. Minha vida hoje é um arco íris cujas cores alegram e enfeitam o que antes não tinha sentido.  Que alegria ter você no mundo. Não, não precisa me amar, viu. Seria ótimo se você me amasse, mas não dá, eu sei. Valeu mesmo, muito obrigado.”
(Professor Alves, 04/12)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

LIBERDADE

        

      Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se tem até morrido com alegria e felicidade.
      Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.
       Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.
       Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)
        Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
       Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…). Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…
        Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida. E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…
     São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.
      Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…
(Cecília Meireles)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

VIDA, crônica de rachel de queiroz

DO PRIMEIRO dia ao último, sempre essa ilusão, esse engano: você pensa que está vivendo - qual! - e todo tempo você está morrendo. Ninguém vive - todo mundo apenas morre. Acontece que o processo de morrer é lento, e a esse acabar-se devagarinho é que os homens chamam de viver. Nasce um menino, por exemplo. Veio roxo e mudo, é um pequeno defunto maltratado. O médico faz as manipulações clássicas, cabeça para baixo, palmada, ar no pulmão - o menino dá um grito agudo e dilacerante e o pai sorri deslumbrado: "Meu filho está vivendo, começou a viver!" viver nada, seu idiota, seu filho começou foi a morrer. sim desde aquele primeiro instante. Porque vida é um processo negativo, enquanto a morte é o processo positivo. Viver é andar para trás, é ceder terreno, é assim como um perde-ganha. A gente faz a conta da idade: quantos anos já viveu? Para que essa conta, senão por um único motivo: para fazer o cálculo provável do quanto ainda nos resta, antes de morrer. A cada ano, a cada dia, a cada hora e minuto, você tem menos vida dentro de si: menos coração, menos veia, menos músculo, menos reserva na fonte de energia. viver, para resumir, é usar-se. Lanterna de bolso com a pilha que não se substitui. Acabou-se a pilha, acabou-se tudo, joga fora o casco inútil, que luz não sai mais dali.
E ASSIM, portanto, não adianta ambição. Você trabalhando por um lado, a morte trabalhando pelo outro, são como duas cobras que se mordem pela cauda. você se agitando, cuidando que está construindo, enquanto ela, silenciosa, rói sem parar a  estrutura interna, deixando apenas a ilusão da superestrutura: mas é oca, já não tem nada dentro. você compra, vende, aprende alemão, constrói casa nova e faz ginástica. Tudo isso a serviço de quem se supões vivo - pelo menos por um prazo: como se o relógio parasse para você gozar um momento a paisagem e o ar bom! Porém na verdade você desde o começo é um meio morto, que aos pouco vai se entregando - todo dia um pedacinho, até à entrega definitiva.
E DEPOIS não adianta orgulho. você ergue a voz - mas sabe por acaso com  o que conta para apoiar a sua arrogância? Talvez na sua caixa do peito só reste um fole vazio. Seu passo é firme, agora, mas pode estar cambaleante dentro de dez minutos. Sabe, talvez você há anos esteja se mantendo de pé apenas por auto-sugestão.
E ESCUTE MAIS: nem o pudor adianta. Esse ciúme de si mesmo que muitos pensam que é virtude, essa valorização da carne-viva, esse mistério, que nem aos olhos amantes se devenda total, essa fração de corpo secreta e triste que todos escondemos até de nossa própria vista - talvez hoje, talvez daqui a pouco, seja tirada ao seu controle, entregue às mãos dos outros, exposta, manipulada, discutida, retratada. E aí de que serviram tantos anos de recato? para chegar a tal exibição?
E ENTÃO para que todo esse esforço? Para que glorificar o que é apenas um simples processo de desgaste e enfeitá-lo com paixões, conquistas e esperanças? Se viver é a própria negação da vida, ou  a sua destruição - para que sofrer e lutar, enfrentando esse duro caminho que não leva a lugar nenhum? É como nadar de terra para o mar alto. Adiante não há mais nada, só água funda, comedeira. Então que loucura é essa de oferecer o peito à vaga, furar a rebentação, cortar a água com os braços? Por mais que se esforce o nadador, mais hora menos hora, terá que parar, exausto, mergulhando de vez na onda amarga. Digam, digam: - para que deixar a praia, se há a certeza de que nada espera o nadador, nada, senão a asfixia final?

           (Rachel de Queiroz, in 100 Crônicas Escolhidas, josé Olimpo Editora, 3a edição, Rio 1973) 

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...