O
poeta faz suas reflexões sobre
as comemorações dos quatrocentos
anos do seu
estado natal.
Seara, Siará Grande, Ceará!
Nome, forma e métrica pouco
importam,
porque doravante o que
importará
é rimar tudo que o denigre e
exorta.
Nesses quatrocentos anos de
existência,
desde que Martim Soares esteve
aqui
e amou Iracema com grã
decência
E tiveram um filho de nome
Moacir
esta terra de opulência e
imensidão
tem crescido e se desenvolvido
sendo portanto o mais sublime
torrão,
assim diz quem aqui já tem
vivido.
É claro que essa história não
é só de alegria,
temos secas em ciclos e muita
miséria,
era morte o que naquele ano se
via
naquela famigerada seca
deletéria.
(Neste momento me foge a
inspiração,
ao lembrar o flagelo que
Rodolfo narrou
em seu livro que me despertou
paixão,
o qual de Fome ele o
denominou.)
Mas deixemos disso, que sejam
sutis
esses versos que nesse papel caírem
sobre este Ceará de céus de
anis
e praias que entontecem aos
que as virem.
Falemos desse povo gentil e
hospitaleiro,
que não tem pejo de ser
cabra-da-peste
que muito respeita os demais
brasileiros
mas ama sua terra de leste a
oeste.
É certo que os do poder são
interesseiros.
Seu Tasso combateu uma
oligarquia
e implantou outra, e isso é
verdadeiro,
hoje mandam os capitalistas,
todavia.
A Educação por isso não anda
bem,
a Saúde bem outrossim não está
mas a fortuna deles cresce e
ninguém
sabe aonde o Iguatemi parará.
Mas voltemos a falar de beleza
que não faltam no meu Ceará,
terra que não sabe o que é
tristeza,
se alguém duvida, é só vir para
cá.
Falando em cultura, somos
imbatíveis,
exportamos de todas as áreas
talentos,
que na arte de inventar são
infalíveis
e estão na tevê em todos os
momentos.
Citemos o grande Fágner,
Raimundo
Ednardo, Belchior e Raquel de
Queirós
e os humoristas que daqui
ganham o mundo
todos eles dando imensa
alegria a nós.
Numa estrofe vamos homenagear
o nosso maior poeta e
passarinho,
Patativa que com Deus deve
estar,
fazendo versos e alegrando
anjinhos.
Mas nós não podemos nos
esquecer
dos dragões que maculam nosso
estado:
políticos corruptos, ai, é de
doer,
analfabetismo e fome de todo
lado.
Em cada sinal é muita tristeza,
criança e velho pedindo
esmola,
e isso não é só em Fortaleza,
de norte a sul a indigência
assola.
A grana do povo isso não
combate.
com ele se faz metrô e
Castanhão,
ou se gasta tudo comprando
iate
e a gente, essa, fica sempre
na mão.
Há deles que roubam merenda
escolar,
esses têm coragem de na mãe dar
fim,
se Deus pra essa terra não
olhar
os larápios hão de dar
descaminho.
Mesmo assim somos orgulhosos
de termos nascido neste
torrão,
apesar de eles, os ambiciosos,
minarem um pouco nossa paixão.
Pois o grande herói é o nosso
Povo,
que luta e ri sempre com força
e raça
se cai, levanta e segue a lida
de novo,
sem nunca perder a sedução e a
graça.
Aqui termino esse trabalho
lírico
e ao Ceará quero parabenizar,
mesmo em tom um pouco
satírico,
é a verve do artista que às
vezes dá.
(Professor Alves,
agosto de 2003)