terça-feira, 14 de agosto de 2012

O VERDADEIRO ANALFABETO POLÍTICO




O verdadeiro analfabeto político
É entendido, segue os ditames de Bretch,
Abre o peito para dizer:
 ─ Eu voto, o voto é minha arma,
Sem ele as prostitutas se multiplicam,
A Saúde está morta,
A Educação não existe,
Meu povo não tem redenção.
Ou é ignaro para balbuciar:
─ Voto no candidato da mãe que vai me dar uma dentadura,
Um copo de cerveja e um prato de feijoada.

Desconhecem eles, míseros eleitores,
Que o verdadeiro analfabeto é o que vota,
É o que coloca a raposa no galinheiro.

A política é a resina que molda a volúpia por poder.
A política, unifica todo ser, mais que a morte.
Torna a todos escravos da ganância,
E lhes instala no peito o vírus da corrupção,
Que embota as mentes, antes honestas(?)
Individualiza interesses coletivos,
E como uma pandemia se espalha
Escolas, fábricas, sindicatos, bairros, cidades, países, galáxias.
Não há política nem politicalha, como queria Rui.
O que há é a ciência do descaso, da mentira, da usura.

E o povo?
Torna-se vítima desses interesses.
E aí sim surgem mais miseráveis
Que se multiplicam feito tapurus na carne podre,
Prostitutas desfilam suas almas enviesadas nas vielas da solidão,
Professores mal pagos destroem horizontes infantis,
Morre-se, é irônico, nas filas dos hospitais.
E quando vem a chuva arrasta consigo destinos
E se é tempo de seca, sinas são tragadas pela terra.

E os petistas, tucanos, pefelistas, bispos, verdes, comunistas
Estalam o açoite nos palacetes da devassidão
Entre risos, lagostas e uísques.
Enquanto a turba pede esmolas, educação, saúde.
A quem de seus votos se fartara,
Tudo graças ao verdadeiro analfabeto, político. 
                                           (Professor Alves)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

OS INFILTRADOS




Jogão! Flamengo e Ceará, digo Ceará e Flamengo. Eu meu filho torcemos pelo glorioso Ferrim. Que tá ruim que dói. Logo vamos muito pouco ao estádio. E torcemos também pelo Mengão. “Vamos assistir ao jogo, né pai?” Disse Victor Hugo. Assim que soube que os ingressos estavam à venda, corri para o ponto mais próximo. Cheguei atrasado. Só havia ingresso na torcida do Vozão. Fazer o quê. Os outros chegaram rápido. Apenas mil ingressos para os milhares de torcedores do Mais querido do país. Comprei os ingressos e avisei ao meu filho. Vamos fingir que torcemos Ceará. Meu filho foi logo lembrando que a torcida do Ceará é cruel, mais ainda que a torcida do Iraque quando sua seleção joga contra o Irã. Tudo bem, filho, o importante é estarmos lá para vermos nossos ídolos.
Chegamos ao estádio quase na hora do jogo. Depois de muito empurra-empurra, entramos. Logo de cara, vimos e ouvimos o Ronaldinho sendo esculhambado pela torcida do vozão: “Gaúúúcho, biiicha”. Era cruel, e logo nós que o amávamos tanto. Um cidadão distinto, vestido a caráter, que mais parecia o vovô mascate, me cutucou. “Né bicha ele?” E eu ensaiei: “gaúcho bicha”. Muito fraquinho. O outro me olhou desconfiado. Meu filho então entoou: “Leeeo Moura, bichiiiinha”. E me olhou como dizendo “é assim que se finge”. Segue o jogo e meus olhos seguem os jogadores do Fla. De repente bola na área do Ceará, Tiago Neves cabeceia na trave. Soltei o palavrão acompanhado de um gesto de cabeça. Um Parrudão me olhou, e eu disse: “Pode não, vozão, dá moleza” e sorri amarelo. Meu filho me cutucou, como quem diz: “não brinca, pai”. De súbito passam por mim uns quatro “pitbulls”. Um deles diz: “ali, ó!” e aponta para um senhor de de blusa vermelha. Correm até lá e vejo o senhor se explicando, depois de levar uns safanões dos brutamontes. Eram caçadores de flamenguistas. Aí eu tive mais certeza do risco que estávamos correndo. Mas o vovô é ruim demais. Mengão na área, Tiago Neves cruza, Deivid faz 1x0. Alegria contida tem gosto de fel, sal e doce misturados.
Depois do intervalo depois de ouvir um monte de torcedor discutindo sobre o acontecido, enquanto comem caiduro, voltamos para o segundo tempo. Agora a vítima era o juiz: “bicha vagabunda, não toma o jogo do meu vozão”, dizia um. Outro me cutucava e apontava para o árbitro e eu tinha de xingá-lo também. E a gritaria era grande. Lá do outro lado estavam mil flamenguistas felizes, e eu morrendo de inveja. Meu filho mais ainda. A tortura continuava. O Flamengo atacava o ceará se defendia, e eu não podia vibrar com meu time.
De repente os “pitbulls” voltaram. Desta vez empurravam e davam tapas num homem. E gritaram para alguns que estava atrás de mim: “esse estava ali infiltrado, fingindo torcer pelo vozâo”. Nesse momento, ciente do risco, comecei a gritar a plenos pulmões: “Ôôô, Vai pra cima deles, vovôôô!”
(Professor Alves)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A OSTRA E O VENTO


          De repente dá uma vontade doida de ler. Entretanto vem a preguiça. A saída é pegar um áudiobook, ou livro para ouvir, e curtir uma boa leitura, digo, uma boa audição. O livro A Ostra e o Vento está sendo minha leitura atual. Audição atual. No carro, na caminhada, ou durante uma partida de xadrez. É muita poesia, é muito vento e muita, é claro, Marcela. Linda, Marcela se desdobra entre a ilha e perspectivas do continente, sob a ótica de Daniel. Vale a pena curtir. Quer ler, tá com preguiça. ouça A Ostra e o Vento faça uma linda viagem. 



segunda-feira, 16 de julho de 2012

QUE BOM SERIA



(Para mim, no meu aniversário de quarenta e um anos)

A vida devia ser assim,
A gente nascer e ser, por tempo,
Bem, mas bem pequeninim
E ir crescendo pouco a pouco
Sem pressa ou medo de ficar louco.

Depois a gente crescia mais
E após aproveitar a infância
A gente ficava rapaz
E por um tempo e tanto
No namoro encontrava acalanto.

Nesse período a gente sonhava
Olhava o sol, a lua, as estrelas
E de repente até chorava
Pra de novo encontrar a paz
E ser feliz, bem feliz demais.

Claro que nessa primeira vez
Sem estar bem passado no alho
Pagávamos mico todo mês
Rilhávamos de raiva os dentes
E seguíamos o caminho novamente.

Mas sem nunca precisar se esforçar,
Sem nenhum esforço mesmo,
Sem ser preciso mesmo estudar,
Arranjava um trabalho a gente
E casava-se àquela que tem na mente.

E vinham os filhos. Que  alegria
Vê-los correr, saltar, cair:
Eles, nós e a grande euforia.
De repente o sarampo, catapora
Mas logo tudo ia embora.

Até chegar aos quarenta
Que envelhecer muito
Ninguém mesmo agüenta
Aí a gente de novo voltava,
De ré a vida descomeçava.

E assim ficávamos jovem de novo
Ano após ano, sem pressa
Vendo os cabelos pretos como corvo.
Aos trinta que felicidade
Foi aqui que ganhei à vontade.

E a cada ano que passava
Toda a oportunidade
De novo por nós passava
E não perdíamos nenhuma,
Colhê-las-íamos tranqüilos uma a uma.

Os nossos netos nascendo,
Os filhos mais velhos que nós,
E nós mais rejuvenescendo
Mas com toda experiência
Adquirida em nossa existência.

Das moças, aquele sorriso
Era num átimo percebido,
Namorar era um paraíso,
Sem deslizes nem bobeiras
parecendo adulto, sem asneiras.

Sendo de novo menino,
Brincar de arraia, no meio do sol
Quente, quente e a pino
No pião ninguém batia.
Pra casa? Só no final do dia.
  
E assim íamos remoçando
Até tomarmos mingau,
Pra perto da mãe de novo chegando
E tornar para o ventre finalmente
De lá pro céu, alegre, contente.
  
(Professor Alves, 09/10/2006)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O SEGREDO DA FELICiDADE

            
        Há uma maravilhosa fábula sobre uma garotinha que está andando pelos prados, quando vê uma borboleta espetada em  um espinho. Muito cuidadosamente, ela a solta e a borboleta  voou para longe, para então retornar transformada numa linda fábula. "Por sua bondade", ela diz à garota, "vou conceder-lhe seu maior desejo."
           A garotinha pensou um pouco e disse: "Quero ser feliz." A fada inclinou-se até ela e sussurrou algo em seu ouvido e desapareceu subitamente.
         A garota crescia, e ninguém na terra era mais feliz do que ela. Sempre que alguém lhe perguntava qual era o segredo de sua felicidade, ela sorria e dizia: "Eu escutei uma fada boa."
          Quando ela ficou bem velha, os vizinhos temeram que seu segredo morresse com ela. "Diga-nos, por favor, qual é o segredo de sua Felicidade, o que disse a fada", instaram todos à agora amável velhinha. Ela simplesmente sorriu e disse:
         "A fada me disse que todas as pessoas, por mais seguras que pudessem parecer, precisavam de mim.
                
(Trecho do livro AMANDO UNS AOS OUTROS, editora Record) 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

QUATROCENTOS ANOS EM QUADRA





                
                       O poeta faz suas reflexões sobre     
                       as comemorações dos quatrocentos               
                       anos do seu estado natal.

Seara, Siará Grande, Ceará!
Nome, forma e métrica pouco importam,
porque doravante o que importará
é rimar tudo que o denigre e exorta.

Nesses quatrocentos anos de existência,
desde que Martim Soares esteve aqui
e amou Iracema com grã decência
E tiveram um filho de nome Moacir

esta terra de opulência e imensidão
tem crescido e se desenvolvido
sendo portanto o mais sublime torrão,
assim diz quem aqui já tem vivido.

É claro que essa história não é só de alegria,
temos secas em ciclos e muita miséria,
era morte o que naquele ano se via
naquela famigerada seca deletéria.

(Neste momento me foge a inspiração,
ao lembrar o flagelo que Rodolfo narrou
em seu livro que me despertou paixão,
o qual de Fome ele o denominou.)

Mas deixemos disso, que sejam sutis
esses versos que nesse papel caírem
sobre este Ceará de céus de anis
e praias que entontecem aos que as virem.
  
Falemos desse povo gentil e hospitaleiro,
que não tem pejo de ser cabra-da-peste
que muito respeita os demais brasileiros
mas ama sua terra de leste a oeste.

É certo que os do poder são interesseiros.
Seu Tasso combateu uma oligarquia
e implantou outra, e isso é verdadeiro,
hoje mandam os capitalistas, todavia.

A Educação por isso não anda bem,
a Saúde bem outrossim não está
mas a fortuna deles cresce e ninguém
sabe aonde o Iguatemi parará.

Mas voltemos a falar de beleza
que não faltam no meu Ceará,
terra que não sabe o que é tristeza,
se alguém duvida, é só vir para cá.

Falando em cultura, somos imbatíveis,
exportamos de todas as áreas talentos,
que na arte de inventar são infalíveis
e estão na tevê em todos os momentos.

Citemos o grande Fágner, Raimundo
Ednardo, Belchior e Raquel de Queirós
e os humoristas que daqui ganham o mundo
todos eles dando imensa alegria a nós.

Numa estrofe vamos homenagear
o nosso maior poeta e passarinho,
Patativa que com Deus deve estar,
fazendo versos e alegrando anjinhos.

Mas nós não podemos nos esquecer
dos dragões que maculam nosso estado:
políticos corruptos, ai, é de doer,
analfabetismo e fome de todo lado.

Em cada sinal é muita tristeza,
criança e velho pedindo esmola,
e isso não é só em Fortaleza,
de norte a sul a indigência assola.

A grana do povo isso não combate.
com ele se faz metrô e Castanhão,
ou se gasta tudo comprando iate
e a gente, essa, fica sempre na mão.

Há deles que roubam merenda escolar,
esses têm coragem de na mãe dar fim,
se Deus pra essa terra não olhar
os larápios hão de dar descaminho.

Mesmo assim somos orgulhosos
de termos nascido neste torrão,
apesar de eles, os ambiciosos,
minarem um pouco nossa paixão.

Pois o grande herói é o nosso Povo,
que luta e ri sempre com força e raça
se cai, levanta e segue a lida de novo,
sem nunca perder a sedução e a graça.

Aqui termino esse trabalho lírico
e ao Ceará quero parabenizar,
mesmo em tom um pouco satírico,
é a verve do artista que às vezes dá.
                  (Professor Alves,
                    agosto de 2003)