terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A FOME, DE RODOLFO TEÓFILO


 (BREVE RESUMO)

A fome é uma das mais contundentes obras de ficção produzidas no século XIX. Narra as mazelas geradas pela famigerada seca de 1877 a 1879, que vitimou aproximadamente quinhentas mil pessoas. Realista por convicção e cientista por profissão, Rodolfo Teófilo não poupou nas tintas e descreveu a história de uma família de retirantes comandada por Manuel de Freitas, rico fazendeiro que vê morrer seu gado e secar seu chão. Não tendo mais nada para fazer, vem para Fortaleza em busca da propalada ajuda do governo.
No caminho presencia todos os males que a seca pode causar: pessoas sendo devoradas por aves de rapina, retirantes atacando comboios de mantimentos, e até uma cena de autofagia presencia. Nela, um homem esfomeado sendo impedido de se alimentar da carne fresca de Carolina, filha de Freitas, come as próprias carnes do braço até cair desfalecido para não mais levantar.
Chegando a Fortaleza, as mazelas começam a desfilar na frente de Freitas de outra maneira. O indivíduo responsável pelos abarracamentos usa de todas as  artimanhas para seduzir garotas, para se aproveitar do sofrimento dos retirantes e realizar seus ímpetos libidinosos. Capitão Freitas precisa de muita fé em Deus e muita coragem para não deixar sua família sucumbir. Felizmente consegue manter sua família a salvo de abutres do sertão e da cidade.
Freitas é apenas uma personagem criada por Rodolfo Teófilo para narrar as imagens reais de uma seca que foi o maior flagelo do século XIX. Todas as cenas chocantes narradas, sejam as do sertão durante a viagem, sejam as da capital, descortinaram-se de fato aos olhos do escritor cearense, nascido na Bahia.
(Por Professor Alves) 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NATAL DO...






Não me recordo bem o ano, talvez 92-94, quando percebi pela primeira vez a expressão natal do.... Era o natal do videocassete. Era boom do comércio de imagens, todos queriam combinar a tecnologia da televisão com a tecnologia das caixinhas que invadiam as estantes e quase ocuparam o lugar dos livros. Mas os livros são   insubstituíveis.
Depois veio o natal do “cd players”. Os velhos discos de cera, que tiveram seu apogeu entre 1912 a 1964, estavam vingados. Os vinis, algozes daqueles, eram jogados ao canto e substituídos de vez pelos cds.
Mas o comércio e a indústria queriam mais. Precisavam de novos natais. E logo foram premiados e tiveram suas marcas festejadas no natal do DVD. Genial. Os ruídos, outrora imperceptíveis, agora assustavam. “Nossa! como não ouvíamos esses ruídos, que imagens limpas...” As pessoas ávidas pelos novos natais, já aguardavam o próximo. E eles vieram: O natal do celular, o natal da tv de plasma, o natal do notebook. Este possivelmente é o natal do táblete. Ou muitos natais juntos.
E eu aqui me pergunto: e o natal do Senhor? E o natal de Jesus? Quando virá? Já imagino as pessoas desembrulhando presentes, abraçando os pais, o irmão, o namorado, a namorada, o marido, a marida, agradecendo o “smartfhone”, o tablete, o “I-phone”, a tv de 42 polegadas nas quais assistirão ao Salve Jorge, à Copa da Confederações, mas que já não servirá para assistir à Copa de 2014, pois é para isso que haverá o natal da tv 3D, que será 2013.
Ao canto, esquecido, um lindo presépio, comprado numa loja especializada, pois fazer um não tem graça. Nele, um menininho sorridente, numa manjedoura, espera ingenuamente os abraços, que não virão, os parabéns, que não serão cantados, os agradecimentos pelo sacrifício do pai... Talvez no seu meigo sorriso ele queira dizer: “Vejam, estou aqui. Esqueceram, a festa é minha!”. Mas todos estão muito ocupados com seus novos brinquedos para perceberem a presença dele, para notarem seus apelos. Agora são os quitutes de cá, de lá, as bebidas e as brincadeiras com um time a ou time b, o destino das personagens da novela ou a festa do Reveillon. Quando as luzes se apagarem e todos se recolherem aos seus sonhos, de consumo, lá do presepinho comprado, ele ainda dirá com a vozinha cheia de perdão: “Perdoa-lhes, Pai, eles não sabem o que fazem”.
(Professor Alves, 06/12/2012)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Quatro Compromissos


Filosofia Tolteca – Os Quatro Compromissos – Para Uma vida Melhor



Os quatro compromissos são:

1 – SEJA IMPECAVEL COM SUA PALAVRA

Este é o mais importante e também o mais difícil de cumprir. A palavra tem poder. Ela é sua capacidade de expressar e comunicar tudo o que você pensa e sente. Assim ela pode te libertar ou te escravizar, pois tem o poder de criar. Ser impecável é não contrariar sua natureza, assumindo responsabilidade por seus pensamentos e sentimentos e atos, sem julgamentos ou culpas. Usar a palavra na direção da verdade dissolve todo o medo e transforma em alegria e amor, ajudando a criar uma realidade diferente.

2 – NÃO LEVE NADA PARA O LADO PESSOAL

Seja o que aconteça com você, não leve para o lado pessoal. Se alguém fizer um comentário maldoso como: “Você é um estúpido”, sem conhecê-lo, quem o fez não esta falando de você e sim de si mesmo. Se você levar para o lado pessoal, você vai afirmar para si mesmo que é estúpido e até possa pensar assim: “Como ele sabe? Será clarividente ou todos percebem que sou estúpido?”. Se você levar tudo que for dito para o lado pessoal é como se você confirmasse que o que esta sendo dito é verdade e então esta crença passa a fazer parte da sua auto-imagem, e ai pronto, o veneno já esta instalado, o outro jogou e você acolheu. Por isso temos que aprender a filtrar e perceber que o que o outro diz sobre você é a visão que ele tem de si mesmo.

3 – NÃO TIRE CONCLUSÕES

Temos a tendência a tirar conclusões sobre tudo e levamos para o lado pessoal. Acreditamos sempre que a nossa forma de pensar e agir é a correta e assim tiramos nossa conclusões precipitadamente culpando e reagindo, enviando veneno emocional com nossas palavras. Sem perceber fazemos comentários e “fofocamos” sobre nossas conclusões e então transferimos uns com os outros estes venenos por nossa ótica pessoal sobre alguém ou alguma situação. E com certeza o dia que você parar de tirar conclusões sua comunicação será clara e livre dos “achismos” que são os venenos emocionais e todos os seus relacionamentos irão se transformar.

4 – DE SEMPRE O MELHOR DE SI

Neste compromisso colocamos em prática todo outros compromissos. É o que nos coloca em estado de alerta para que “Façamos o melhor”, pois tudo depende de nós. Na maioria das vezes só agimos quando esperamos por uma recompensa, ou então quando se chega no limite de algo e esse é o motivo pelo qual não fazemos o melhor. Devemos prender dizer “não” quando tiver de dizer “não”, e “sim” quando tiver de dizer “sim”. Temos condições de transformar nossos dias em dias melhores, e assumir uma postura mais otimista diante da vida, transcendendo a experiência humana que possui muitos obstáculos e sofrimento, em momentos divinos. Essa é a grande recompensa de dar o nosso melhor, entrar em contato com aquilo que há de mais belo em nosso interior, o melhor de nossas faces, o que há de mais verdadeiro.
Abraço fraterno,
Aline Pastori

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

LEVEZA DO PENSAMENTO

     
        É incrível a força e a leveza do pensamento! Naquele momento eu refletia sobre o meu sucesso e fui aos poucos catapultado a essa reflexão sobre os homens e não sei por que eu chorei. Apesar de ser homem, de apreciar o domínio sobre coisas e até mesmo sobre outros homens, vem-me à boca um amargo por saber que numa sociedade de consumo, numa sociedade de tigres e lobos, o prazer de alguns requer o sacrifício de muitos. Eu subitamente me inquieto e as contradições afloram em meu cérebro e minha alegria é triste e meu brilho é fosco. Eu não sou um ser evoluído, e talvez nunca virei a sê-lo. Nunca serei como Ernesto Guevara, que trocou o conforto de sua família, o colo de sua esposa e o sorriso de suas filhas para se transformar no peregrino da revolução; como Gandhi, que libertou seu povo sem que para isso fosse necessário disparar um tiro; como Francisco, que abandonou uma vida de luxo e de luxúria para se dedicar aos pobres e aos animais; tampouco feito Jesus, que com o seu amor imensurável se doou num ideal de solidariedade a ponto de derramar seu sangue pela humanidade. Também não me arvoro em sê-lo. Tenho primeiramente que continuar minha tarefa aqui, e o tempo se encarregará do resto.
         Em tudo isso eu pensava, quando uma mão leve como uma pluma tocou meu ombro. Não virei o rosto para mirá-lo, era como se eu já o esperasse. Um vulto de pele clara, quase transparente, sentou-se ao meu lado e me disse:
         ─ Chora, pois o choro é o óleo que vem untar nossos olhos para vermos com mais clareza as nossas necessidades e as dos outros e percebermos que a doação é a nossa grande missão, pois, como nós lavamos uma roupa e nos preparamos para uma festa, as lágrimas lavam nossa alma para a festa de novidades que renovarão nossos dias. Os que não choram, permanecem cegos diante do sofrimento seu e alheio, não irão a nenhum baile, no máximo dirigir-se-ão a uma bacanal, onde carregarão mais ainda suas roupas de nódoas, que lhe pesarão sobre os ombros o os vergarão para a terra, numa apoteose decadentista. Por isso chora, não tenhas pejo de fazê-lo, sozinho ou diante de outrem. Não se preocupe com a evolução. Ela é lenta, mas é gratificante e, vidas menos vidas, ela virá.
Dizendo isso, esse espírito de luz sumiu e me deixou só com minhas dúvidas que aos poucos se dissiparam e foram substituídas por uma certeza: viver é um sacrifício que devemos aceitar, não como um fardo, mas como uma tarefa a ser cumprida, e é a sua realização que nos torna feliz. A felicidade é isso é o prazer das coisas cumpridas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A LIBERTAÇÃO DE SI MESMO E A LIBERTAÇÃO DE OUTREM



(Para mim, no dia do meu aniversário)


          
         Hoje, 09 de outubro. Enquanto o café esfria, burilo no teclado para ver se saem uns versos, um parágrafo, quem dera apenas uma frase, uma frase de efeito que ficasse guardada nem que fosse somente na minha memória. É que hoje faço 47 anos. Já passei e muito da curva de Dante. Para minha sorte não acordei no inferno, mas estou deveras longe do purgatório e a possibilidade do paraíso me é impossível ver com os óculos, quem dirá a olhos nus.  
         Quando se é criança, nutem-se ilusões que se mantêm acesas na adolescência e que aos poucos se vão apagando até que não passam de uma luz tênue no final de um caminho o qual não sabemos definir. É mais ou menos nesse meio do túnel que me encontro. A luz me é tão parca que miro, retiro e torno a colocar os óculos do pensamento para ver seu vulto. É quando sabemos, percebemos que tudo é passageiro, efêmero. Até o trocador e o motorista do trocadilho. Pelo menos as carnes, as matérias, matérias brutas. É quando começamos a ver nos cabelos brancos, na protuberância abdominal, no cansaço involuntário dos pulmões e das batidas cardíacas que a partir desse ponto não  nos resta muito fôlego, como diria Rachel de Queiroz, estamos no meio do oceano e só o que resta é água funda comedeira, água amarga ao qual dia menos dia teremos que sucumbir...
         Lembrei-me agora de uma frase de Gandhi, quando indagado pela esposa a respeito dos resultados da campanha de libertação indiana do julgo inglês, que estava a todo vapor, ele apenas se limitou a dizer: “que libertação, se eu não consegui nem me libertar, como vou libertar milhões." Ela surpresa, exclamou: Mas como! "ainda não me libertei da escravidão de mim mesmo!” Fica então essa frase, já que não consegui produzir nada de mim, fica essa frase para reflexão. É preciso, antes de pensar em libertar o mundo, os semelhantes, libertarmos a nós mesmos para que tenhamos então força e sabedoria para lançarmos a voz ao espaço, aos mil alto-falantes palavras que realmente tenham sentido.
P.S. Só para lembrar, Gandhi se libertou de sua escravidão e só depois pôde libertar a Índia do julgo britânico.
(Professor Alves)

sábado, 29 de setembro de 2012

MORTE DE SEU MÁRIO A MORTE DE HEBE


       
    Ontem morreu seu Mário. Um dos grandes amigos de meu pai. Foi pedreiro, assim como meu velho. Depois de mais de um mil prédios construídos, depois de mais de uma tonelada de feijão comido ao ar livre, depois de mais de mil calos  entre os dedos.
       Tudo isso sem contar com as inúmeras humilhações sofridas, sapos engolidos a duras penas. Depois de criar, literalmente, nove filhos e não ver um sequer na universidade. Depois de ter votado num monte de salafrários e sentir o gosto amargo da traição. Isso sem contar os inúmeros livros que não leu, por ser analfabeto, dos inúmeros poemas que estiveram em seus lábios e não jorraram para o papel, pelos discursos que não saíram lábios a fora  por falta de oportunidades. 
      Ontem morreu seu Mário, mas isso não vai sair na televisão, a internet não vai se ocupar disso, porque seu Mário era um simples pedreiro. 
      Mas da morte de Hebe Camargo  todos querem saber, porque ela não construiu casa, ela não criou filhos ela não...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

À MEIA-NOITE E O CÁLICE



À MEIA NOITE
Cheguei à meia-noite em ponto.
O caso deu-se como eu conto.
Cheio de lúgubre mistério…
Pois ela disse: “Ao cemitério
Vamos à meia-noite em ponto.”
E eu respondi-lhe: “Conto, conto
Contigo à meia-noite em ponto.”
Como eu sabia, ela outro amante
Tivera em tempo não distante.
Era já morto: eu uma esposa
Tinha também sob uma lousa.
E ela sabia desse amante.
Jaziam um do outro distante
O amante dela e a minha amante.
Bem não chegamos, os ciprestes
Agitaram as verdes vestes
Como arrojando-se de bruços…
Que ais de tristeza e que soluços
Gemeram tão verdes ciprestes.
Gemia o vento pelas vestes.
Verdes dos vírides ciprestes.
Paramos de repente à porta:
Eu era um morta, ela uma morta.
Tal foi a cena branca e nua
Que nós, clareados pela lua,
Olhamos bem ao pé da porta.
Eu era um morto, ela uma morta,
Sem movimento junto à porta.
Diante de nós, em frente, diante,
O amante dela e minha amante,
Espectros vis num mesmo quadro,
Vinham vagar, hirtos, pelo adro,
Diante de nós, em frente, diante…
O amante dela e a minha amante.
Riram, passando para diante.
(ALPHONSUS DE GUIMARÃES, O HOMEM) 
O CÁLICE
A chuva benéfica e abundante cai dos céus
Mitigando a sede da terra.
Assim também, o Amado faz chover sobre os homens
Os poderes e as bênçãos.
No entanto, choras e desesperas...
Por que não recolheste a tempo a tua parte?
– Nada vi – responderás...
É porque teus olhos estavam nevoados na atmosfera do sonho.
O Senhor passa todos os dias,
Distribuindo os dons celestiais,
Mas as ânforas do teu coração
vivem transbordando de substâncias estranhas.
Aqui, guardas o vinagre dos desenganos,
Acolá, o envenenado licor dos caprichos.
O Amado é incapaz de violentar a tua alma.
Seu carinho aguarda a confiança espontânea,
Seu coração freme de júbilo,
Na expectativa de entregar-te os tesouros eternos...
Mas, até agora,
Persegues a fantasia e alimentas curiosamente a ilusão.
Todavia, o Amado espera.
E dia virá,
Na estrada longa do destino,
Em que estenderás ao seu amor infinito
O cálice do coração lavado e vazio 

(ALPHONSUS DE GUIMARÃES, O ESPÍRITO)