domingo, 2 de outubro de 2016

SUICÍDIOS E ASSASSINATOS DE SONHOS


Todos os anos morrem no estado do Ceará cerca de 600 pessoas vítimas de suicídio, segundo dados do Jornal O Estado, de 5 de setembro deste ano. E na maioria dos casos as pessoas que tiram a própria vida são jovens. Esses números elevam nosso estado ao terceiro lugar no ranking do país. Em contrapartida, o número de assassinatos de jovens e adolescentes eleva o estado do Ceará ao primeiro lugar do país. Mas o que me trouxe às teclas foi a preocupação com outro tipo de suicídio e de assassinato: a destruição do que deveria ter sido e não é; e do que deveria ser e não foi.
                Explico. Imaginemos que o nosso estado possui uma quantidade muito grande de sonhos destruídos pela infeliz falta de coragem e/ou falta de empenho dos pais para que pudessem ser concretizados.  Os shoppings estão repletos de jovens trabalhando em lojas, lanchonetes; as ruas estão cheias de jovens carregando carrinhos de reciclagens; os sinais abarrotados de jovens vendedores de água, laranja ou coisa que o valha. Todos mortos! Um funeral de sonhos imensurável! Quantos médicos, engenheiros, juízes, jornalistas, inventores que deveriam ser e não foram. Mortos todos ainda na juventude, pela falta de empenho individual, ou pela falta de empenho dos pais. Quantos pais colocam seus filhos em grandes escolas, com mensalidades exorbitantes, certos de que a escola irá transformá-los em grandes homens e grandes mulheres. Como estão enganados. Quem transforma os filhos em engenheiros, advogados, jornalistas, escritores, inventores não são as escolas, mas os pais, com sua doação, dia após dia, incomodando e incomodados.
Aí quando chegamos à escola pública, os suicídios e assassinatos se multiplicam, pela lerda ilusão de que a escola é responsável pelos filhos. Não, a escola é responsável por desenvolver projetos pedagógicos. Quem transforma os sonhos dos filhos em realidade é a família. Quando perguntamos aos garotinhos e às garotinhas o que vão ser quando crescerem, ouvimos palavras bonitas projetadas em sonhos profissionais, todos imbuídos no desejo de crescerem e verem seus castelos grandes e fortes, sonhos realizados, mudando a família, a comunidade, a sociedade. Aí eles crescem e não dão em nada. Praticaram o suicídio do que deveriam ser, e para auxiliá-los contaram, na maioria esmagadora dos casos com o concurso dos pais e/ou dos responsáveis, homicidas de destinos!
Certa vez vi uma criança deixar uma repórter da Tevê Verdes Mares muda. A mesma fazia uma matéria sobre uma escolinha de futebol numa comunidade. O garotinho, bom de bola, foi interrogado pela repórter sobre o que queria ser quando crescesse. A repórter esperava que o garotinho dissesse que queria ser jogador de futebol, mas o mesmo respondeu-lhe peremptório: “médico”. A moça ficou sem saber o que dizer e encerou a matéria. Será que esse garoto, dentre tantos que querem ser jogador, que sonhava ser médico realizou seu sonho e se transformou em um grande doutor? Essa resposta não tenho. Mas tenho a certeza de que, como ele, muitos outros sonham com o jaleco branco e o estetoscópio, ou com a régua do engenheiro, ou com os papeis da jurisprudência, ou com o microfone da repórter.
E onde vão para todos esses profissionais? No cemitério, na vala comum dos sonhos destruídos suicidados ou assassinados. Na lápide de cada um está escrito: “aqui jaz doutor fulano de tal, morto aos 13 anos e substituído por um funcionário no balcão da exploração trabalhista, ou pela calçada da comunidade onde foi criado, latente em memórias úmidas descansando em um copo de cachaça”.
O grande estudioso do destino dos jovens brasileiros, Darcy Ribeiro, disse certa vez que a crise da educação brasileira não é uma crise, mas um projeto. Tudo muito bem urdido pelas elites e pelos governos, de esquerda ou de direita. Tudo muito bem planejado para manter a elite no poder e os pobres cada vez mais pobres, submissos aos salários irrisórios que são pagos, para que se paguem contas e nunca se abandone o destino que lhes foi traçado nas maternidades das periferias. É o eterno retorno contínuo. Filho de pedreiro pedreiro deverá ser; filho de arquiteto, sê-lo-á sempre. É que me lembrei de um episódio interessante. Enquanto aqui no Ceará, na construção do Castelão, em 1971, um filho trabalhava com o pai, este pedreiro, aquele, servente, e quarenta anos depois a mesma história se repetia; o pai pedreiro, e a filha, também. Em Belo horizonte, na reconstrução do Mineirão para a copa de 2014, um arquiteto trabalhava com o pai, que em 1971, na construção do mesmo estádio, era um dos engenheiros. Coincidência? Duvido. Nada é por acaso, tudo é planejado.
Sabemos que Darcy Ribeiro está correto quanto ao projeto urdido pelas elites de gerar  a crise na Educação. Sabemos também que os recursos destinados à Educação neste país são frágeis e podem ser retirados a qualquer instante, como o fez a ex-presidenta Dilma, ao reduzir em 8 bilhões o orçamento da Educação para 2016, inviabilizando qualquer projeto realmente social, como o Mais Educação. Mas também é verdade que os pais precisamos doar nosso tempo aos nossos filhos, incomodando-os e sendo incomodados por isso, para que seus sonhos não afundem, não sejam sepultados sob sete palmos memória abaixo, e que não se tornem, num futuro bem próximo, uma lembrança distante  e uma angústia a mais.

(Francisco Alves de Andrade, 09/16)

segunda-feira, 30 de maio de 2016

GALOPE A BEIRA-MAR, UM EXERCÍCIO




Sou brasileiro não nego a ninguém
Nascido aqui mesmo no meu ceará
Cresci vendo o pai bem cedo acordá
Fui pra escola pra tentar ser alguém
Estudei português e história também
Aprendi tudo isso e a arte do amor
Aprendi logo cedo o que é sentir dor
Mesmo assim não chorei me pus a cantar
Cantei rima triste e alegre cantei
Cantando galope na beira do mar.

Era tenro de idade  e já me apaixonei
Idade em que homem inda está a brincar
Com pião, bila, bola capoeira a jogar
Neste tempo pra lá  tudo isso deixei
Lesado de amor logo logo eu fiquei
Só pensava em soneto, madrigais e na lua
De cabeça pra cima, andei leso na rua
A leseira era muita, era de amargar
Hoje lembro que um dia assim eu vaguei
Cantando galope na beira do mar.

O tempo passou, porém eu não passei
Pois sou libriano de ascendente também
‘inda vivo rindo pensando no além
Das asas de Eros presa fácil fiquei
Prisioneiro de Vênus logo me tornei
Meu caminho é o livro que me ponho a ler
Vinícius, Pessoa, Guilherme e Garret (ê)
Aprendi poesia e vivo a cantar
A tristeza e alegria na face da rosa
Cantando galope na beira do mar!

(Francisco Alves de Andrade)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O VAQUEIRO NA PELEJA, NAS MEMÓRIAS DA CULTURA SERTANEJA


Peço licença aos senhores
Pras coisas que vou narrar,
Peço desculpas também
Se, este, talento não tem.
Mas creio na providência
Que vou fazer algum verso
Mesmo de pouca ciência.

Para integrar o certame
Pedi a Luiz Gonzaga
O nosso rei do baião
Que me desse inspiração
Para o que quero dizer
Seguindo métrica e rima
Assim pretendo fazer.

***
Vou então aproveitando
Para aqui homenagear
Mestre Raimundo Jacó,
Que foi o vaqueiro maior,
Que até hoje existiu,
Pelo sertão brasileiro,
Outro igual nunca se viu.

Sem porquê havia inveja
No sertão em que vivia,
Foi por tipo enciumado
Cruelmente assassinado!
Mas justiça não se fez
E o povo lembra o herói
Todo ano no mesmo mês.

É  em todo mês de julho,
Na cidade de  Serrita,
O povo lembra essa morte,
Reza muito e pede sorte
Pr’os vaqueiros de agora,
Proteção de toda parte
Nessa missa a gente chora!

Senti toda essa emoção
Quando vi a grande missa
No sertão de Pernambuco,
Terra de Joaquim Nabuco,
E do vaqueiro citado
Sertanejo original
Homem mui equilibrado.

Tinha gente a dar com  pau
Da Bahia e Ceará,
Rio Grande,  e Piauí,
De Mossoró a Aracati
Toda gente aconchegada
Sob o sol da caatinga
Contrita, emocionada.

***
Naquele instante lembrei
Do meu velho e amigo avô,
Há muito tempo  morrido,
Mas não por nós esquecido,
Que foi vaqueiro e do bom
Amado e querendo a todos,
Falando sempre em bom tom.

Acordava bem disposto
Com os galos a cantar,
Já desperto  ajoelhava,
Muito contrito rezava
Agradecendo,  com amor,
O dia que recebia
Das mãos de Nosso Senhor.

Já o dia estava em festa
Com cantiga de mulher,
Cheiro de café gritando
Animais se barulhando,
E o cachorro Vamo-ver,
Correndo atrás dos gatos
E as arv’re sem se mover!
  
Ficava eu espiando
Meu avô se arrumar,
Guarda peito, gibão
Perneiras, luvas pras mão,
Com couro calçava os pés,
Punha então chapéu de couro,
Pra se livrar de revés.

Formava junto com ele,
Filho, irmãos, primos, colegas,
Um grupo muito valente,
Sempre  aboiando contente,
Da caatinga no seio
Levando e trazendo o gado,
‘Pesar de agruras no meio.

Havia dias de festa,
De muito forró do bom,
Havia à farta comida,
Pra todo canto bebida,
Namoro sincero havia,
Pedido de casamento
E choro de quem nascia.

Mas nem tudo eram flores
Nas trilhas do meu avô,
Tinha muito sofrimento
Reza muita e lamento,
Quando era a seca que vinha
A morte levava tudo
Homem, gado e criancinha.

Era tristeza demais
Naquele mato sem flor,
Naquela terra sem vida,
Naqueles braços sem lida,
Naquele chão esturricado,
Naquelas veias abertas,
Naquele campo queimado.

Era quando então se via,
Nos olhos da vaqueirama
Lágrima seca a correr,
A pele negra a  tremer
E o músculo retesado
Mirando o horizonte limpo,
E o sertão todo abrasado.

Até que Deus se condoía
Daquele imenso sofrer,
Mandava chuva bendita,
Era assim a grande visita
Da vida que então chegava
E os olhos de toda gente
Logo então se alumiava.

O gado sorria a mugir
Risadas se ouviam sempre
Agradecia-se assim ao céu
A chuva que sabia a mel
O verde que florescia
A vida que de repente
Do inferno renascia.

***
Mas hoje, daquele tempo,
Só trago muita lembrança,
Longe do amigo vaqueiro
Do autêntico, verdadeiro.
Morando hoje na cidade
Pra ver pega de boi brabo
Só na tela da saudade.

Tem alguns broxotezinhos
Na capital onde moro
Com roupinhas apertadas
Limpinhas e perfumadas
Todos cheirando à lavanda
Contando muita lorota
Mas fugindo se há demanda.

Mesmo em sertão de verdade
Já trocaram o seu cavalo
Por um bicho de barulho
Que tropeça em pedregulho
O tal bicho tem motor
Não serve pra chão incerto
Faz zoada e faz  terror.

Não existe mais amor
Nessa amada profissão!
O que tem de verdadeiro
Nesta vida de vaqueiro
É o vaqueiro na peleja
Para manter a memória
Da cultura sertaneja.
 (Professor Alves)


quarta-feira, 18 de maio de 2016

CORDEL DA ASCENSÃO



(O poeta homenageia seu time de coração
Pedindo a Deus que volte à primeira divisão)

FUNDAÇÃO E ASCENSÃO

Já contei muitas histórias
De pessoa e de animal
Já falei de meus amores
De traição e coisa e tal
E hoje resolvi contar
A  história grandiosa
Do nosso time coral.

“Salve, salve EFE, A, CÊ”
O belo hino diz assim
Referindo-se às três letras
Do grandioso FERRIM
Fundado em trinta e três
Que possui estas três cores
O preto, o branco e o carmim.

Neste ano ele celebra
Seus oitenta e dois de idade
Carrega consigo as rugas
Da torcida irmandade,
Pra Seu Valdemar Caracas,
Zé Limeira inesquecível,
Preces com sinceridade.

Sua história é de luta,
De vitória e de tristeza,
De alegria e de tormento,
De acanho e de grandeza,
Mas nada no mundo tira,
Nunca  em momento algum
Sua fulgurante beleza.

Fundado por funcionários
Da empresa ferroviária,
Ficou logo conhecido
Time da classe operária
Logo logo ele já era
Da primeira divisão
Presença extraordinária.
  
Primeiramente ele esteve
Na segunda divisão
Dessa estrada o Ferrim
Foi logo campeão
Para então ele ascender
Com muito brilho e virtude
À primeira estação.

No ano de quarenta e cinco,
Foi então a primeira vez,
Que o Ferrim foi campeão.
Grande feito ele fez,
Desbancou tradicionais
Maguary, Stella e Ceará
São desde então seu freguês.

SÓ ACONTECE COM O FERRIM

Nove  títulos se seguiram
Vinte vice campeonatos
Uma história grandiosa
E muitos momentos latos
Na sequência vou narrar
Coisas que  ocorrem co’o Ferrim
Muito interessantes fatos.

É sabido de todo mundo
Que coisa boa ou ruim
Acontece a todo mundo
A vida é mesmo assim
Mas tem coisa minha gente
De chorar e de sorrir
Que só acontece ao Ferrim.

No ano de sessenta e oito,
No almanaque eu aprendi
O Ferrim foi vencedor
Foi no rádio eu não ouvi
Pela primeira vez gritar
O locutor triunfante
Disse “aí é Ferrim meu fi”.

Ele é o time das gafadas
Todo mundo quer seu fim
Árbitros, frios, desonestos
Querem o mal dele sim
Isso é coisa do diabo
Coisa pra se indignar
Pois só acontece ao Ferrim.

Time de grande torcida
Mas que fica em casa sim
Não comparece ao estádio
Eita cabroeira ruim
Isso não acontece com outro
Isso é coisa muito feia
E só acontece ao Ferrim.

Em novecentos e oitenta
Depois de vencer o vozim
Era final de certame
O jogo foi um a zerim
Houve um terremoto
Aqui mesmo em Fortaleza!
E só acontece ao Ferrim.

No ano de dois mil e seis
Chegou ele bem pertim
De ascender à série B,
Mas triste foi nosso fim
Os times que a ele venceram
Foi tudo pra série A!
Só acontece com o Ferrim.

Agora em dois mil e treze,
Depois de grande festim
Pelo bom primeiro turno,
Era vitória sem fim,
Caímos então na tabela,
Quase fomos rebaixados!
Só acontece com o Ferrim.

E são muitas as histórias
Daria medo  em Caim
Mas não vamos contar tudo
O espaço aqui é curtim,
De uma coisa tenha certeza
Mas é coisa de espantar
E só acontece com o Ferrim.

A BRUXA ESTAVA SOLTA

Tem essa pequena história
Que agora  vou narrar
Poderia ser feliz
Mas é conto de assombrar
Porque é história de bruxa
Que envenenou bonbons
Queria o ferrão acabar.

Foi no ano dois mil e treze,
Quando o time do Ferrão
Fazia boa campanha,
Era melhor que seleção,
Tinha GIan Carlo artilheiro
Não apenas do cearense
Mas da imensa nação.

Quando apareceu na Vila
Uma bruxa se sorrindo
Dizendo “sou Fortaleza”
Mas sou fã desse menino
Deu-lhe uma caixa de bombom,
Não me enganou aquela velha
Tinha ela olho vulturino.

Como a bruxa da história,
Envenenou o artilheiro.
O time desceu a tabela,
Modo nada sorrateiro,
Quase era rebaixado.
Isso viria depois
Como narra o cancioneiro.

QUEDA E ASCENÇÃO

Foi em dois mil e catorze,
Numa campanha terrível,
‘Pesar de ter começado
Com uma goleada incrível,
Crato levou  sete a dois,
Parecia que o Ferrim
Era um time imbatível!
  
Porém a partir dali,
Peia pra dez levou sozim.
Sem apelo desta vez
Meu glorioso Ferrim
Tornou à inferior divisão,
Para alegria de todos,
Imprensa, Leão e Vozim.

No ano de dois mil e quinze,
Não foi boa a nossa sorte.
Começamos já perdendo
E a sequência foi de morte
Só não fomos pra terceira
Que dois times desistiram,
Resolveram pedir corte.

Em dois mil e dezesseis,
Uma goleada de dez
Disse  “aí é Ferrão meu fi!”
Fomo assim mei de través
Perde aqui goleia acolá
Disputando esse certame
Vamo assim mei de viés!

Encerro aqui esse cordel,
Pedindo ao Nosso Senhor
Mas sorte pro nosso time
Por quem temos muito amor,
Que se confirme esse regresso
Pra a primeira divisão
Sendo sempre vencedor.

Um abraço aos torcedores
Que são amantes do ferrão,
Todos muito abnegados,
Que amam mesmo o tubarão,
Que usam as cores corais,
Que vão ao estádio torcer
Obrigado, de coração!
(FRANCISCO ALVES ANDRADE)


domingo, 21 de fevereiro de 2016

PARA VICTOR HUGO, NO SEU ANIVERSÁRIO DE 15 ANO


Que homem pode dizer que o nascimento do filho não é sua grande realização? Acredito que só aqueles que não conviveram com seus frutos, pois ver o filho nascer é a maior de todas as realizações. Ver aquele pequeno ser em seus braços, ensinar-lhe os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras coisinhas.
Que homem pode dizer que não há felicidade de ver seu filho completar quinze anos? Creio que nenhum, a não ser aquele que não foi ou não se esforçou para ser pai de verdade. Hoje meu filho, Victor Hugo faz 15 anos, e trata-se de um momento ímpar. É praticamente o momento em que o entregamos de vez à vida. Ciente de que tudo aquilo que eu e sua mãe lhe orientamos servirá de base para sua conduta na sociedade. É como vê-lo nascer de novo, agora grande, com a voz já grossa e as formas (quase) definidas.
Mas vou-lhe pedir desculpas, Victor, porque é como se nascesse de novo, pequeno. Meu bebê, nosso bebê, do qual precisamos ainda cuidar, como de uma planta que precisa ser regada com muito amor, para que suas folhas, seu caule e suas flores possam ainda se desenvolver.
Queria, portanto, dizer-lhe o quanto o amo, o quanto quero ver você feliz. Até já conversamos sobre isso. “A felicidade é como uma borboleta. Quando corremos atrás dela, ela foge de nós, mas se a esperamos no cumprimento do dever, logo ela vem pousar em nosso ombro”. Se tivesse ainda quatro anos, você perguntaria “e que deveres são esses, papai”. E eu lhe respondo: Fazermos aquilo que devemos fazer, amar as pessoas como elas são, fazer amigos sempre, pois como disse Chapplin “não existem estranhos, o que há são amigos que não nos foram apresentados”. Nunca discriminar nada nem ninguém, pois se tudo no mundo é criação de Deus, tudo precisa ser respeitado. Mas a principal fórmula da felicidade encontra-se no maior avatar que a humanidade já possuiu: Jesus Cristo. Ele é o modelo o qual devemos buscar, apesar de sabermos que essa envergadura moral jamais será por nós alcançada. Mas podemos repetir-lhes alguns gestos. A caridade para com os homens, a caridade para com os animais, a caridade para com nós mesmos.

É assim, filho, seu pai quando começa a escrever não tem mais paradeiro. Vou parar então por aqui, desejando tudo de bom mais alguma coisa que possa haver nessa vida para você. Que você compreenda a responsabilidade do que é ter QUINZE  e a responsabilidade de se tornar homem.
(Francisco Alves Andrade)

terça-feira, 28 de julho de 2015

TEMPO, TEMPO, TEMPO




“Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo propósito debaixo do céu.”
(Eclesiastes: Tempo para Tudo)

            A partir de então o sonho continuou a se repetir setembro após setembro tal qual se revelara da primeira vez quando eu tinha oito anos. Minha vida seguia seu curso natural. No íntimo eu sabia que tudo viria com o tempo. O tempo é meu grande aliado. Nada de bom me veio que não fosse de forma natural, com o tempo. Há quem diga que quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Mas eu acredito mais no provérbio que diz que a felicidade é como uma borboleta, se a perseguimos, ela foge de nós; mas se a esperamos, no cumprimento do dever, ela virá pousar em nosso ombro inexoravelmente. Assim não há problema pelo qual eu tenha passado até hoje que o tempo não tenha resolvido. Está claro que não devemos correr atrás de problemas para deixá-los às expensas do tempo. Mas diante de um, por mais grave que pareça, não devemos arrancar os cabelos nem pensar em suicídio. A paciência, a calma e a busca de uma solução adequada é a melhor saída. Lembro-me de que certa vez minha mãe me dera o dinheiro para eu pagar o colégio, e eu o gastei, primeiro um pouquinho, esperando repor essa quantia depois. Mas, com nosso espírito consumista latejando, toquei fogo no restante. Quando me dei conta do ocorrido, fiquei desesperado. “E agora, o que vou fazer?”  Perguntava-me atônito, tentando imaginar como agiria minha genitora ao saber que o filho gastara o dinheiro da mensalidade da escola. O que fiz para enganá-la, me envergonha até hoje. Confiando em sua deficiência, destaquei a folha do talão e guardei-a num compartimento escondidinho da minha carteira de cédulas. Ela, que era portadora de miopia, não se esforçaria para ver no canhoto o carimbo da tesouraria da escola. No entanto passei quase todo o dia aperreado para encontrar uma saída. Foi quando de repente me veio a ideia da efemeridade das coisas. Nada dura para sempre, nesta vida tudo é passageiro. O que eu leria posteriormente em filósofos e poetas me era claro como as águas de um rio cristalino. Em Pe. Antônio Vieira, posteriormente eu leria: “O tempo se atreve a colunas de mármore...” Alguém outro também disse: “O futuro será uma eterna tormenta, até que um dia o tempo o torne passado.” E daquele momento em diante, essa ideia passou a me confortar sempre que algum problema tenta me tirar a paz. Até mesmo uma dor de dente, eu a curo com o tempo. Claro está que o problema deverá depois, a seu tempo, ser eliminado. No caso do dinheiro do pagamento da mensalidade escolar, eu fiz uma caixinha e todos os dias colocava uma ou mais moedas, que pedia a um tio e a meu pai sem dizer para quê. E grande foi minha felicidade, quando no final do ano tinha recuperado quase todo o capital extraviado. E a ideia de que as coisas são fugazes sedimentou-se em mim, pois como disse o profeta: “Passarão céu e terra, só minhas palavras não passarão.”
(Professor Alves, do romance De Sonhos, de Vidas e de Encontros)

domingo, 15 de março de 2015

MEU PROTESTO CONTRA QUEM É CONTRA PROTESTO



    Certo pensador, desses que voam de galho em galho, disse certa vez que “eu posso não concordar uma vírgula com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-lo”. Isso significa o quanto devemos respeitar o pensamento, as ideias assim como as posições de outrem. A partir desse raciocínio, gostaria imensamente de compreender por que alguns setores da sociedade, sobremaneira comunistas de pijama ou jovens ainda alienados que, como ratos, percorrem os corredores infectados das universidades, de não acharem legítimo o protesto da classe média brasileira contra o arrocho que lhe vem impetrando o governo populista brasileiro.
    Durante a semana vimos comentários tentando desqualificar o panelaço contra o governo do PT. Frases como “as panelas eram de marca Tramontina”, muitos mandaram suas empregadas baterem panelas”, ou coisa do gênero. E daí, que fossem panelas Tramontina! E daí que fossem da sacada de apartamentos bem estruturados, com pé direito duplo e tudo mais! E daí!! Minha mãe sempre dizia que “quem sabe onde o sapato aperta é quem calça”. E nesse momento o sapato que mais aperta e os pés que mais reclamam são sim o da classe média. Por que então tentar descaracterizar um movimento que é legítimo! Ou será que só os  movimentos dos trabalhadores, trabalhadores rurais sem terra, trabalhadores sem teto é que é são legítimos? E se há bandeiras de partidos “burgueses” como querem alguns, não há bandeiras de partidos aproveitadores pseudo trabalhistas ou populares encrustrados feito carrapato em cu de cachorro em todos os movimentos dos trabalhadores de toda a natureza?! Na greve dos professores aqui em Fortaleza havia mais pessoas envolvidas com movimentos, intencionados em tirar proveito das circunstâncias, do que mesmo professores conscientes, na luta por melhores salários e condições de trabalho. Quando chegou o momento de a greve acabar, foi um deus nos acuda porque os pseudo trabalhadores da educação iam perder seus palanques.   
    Portanto quando algum ingênuo tentar descaracterizar algum movimento, qualquer que seja, é bom lembrar que todos temos o direito de protestar. Nós trabalhadores da Educação, os moradores sem teto, os trabalhadores rurais sem terra. Até os banqueiros têm direito de protestar quando seus lucros não chegarem aos costumeiros “n” mil por cento. Creio em que se a Classe média está protestando, com panelas Tramontina, em sacadas de pé direito duplo ou em carros importados, deve ser porque o governo na hora de bancar os programas sociais não está financiando com o dinheiro dos banqueiros do Itaú, Bradesco, Santander ou de mega empresários. Mas está tirando tudo do bolso de quem trabalha, seja da classe média alta, Classe média média, ou da Classe média baixa.
(Professor Alves, indignado, em 15 de março de 2015)