quarta-feira, 5 de abril de 2023

A NOIVA

 

(por Alves Andrade)


Reinava naquela mansão perfeita harmonia. Ao Piano, Jacques Klein, aracatiense em visita a Fortaleza, era homenageado e homenageava o seleto público, com a sonata 62 em mi bemol, de Joseph Haydn. Os convidados no preto e as convidadas em seus longos de cores variadas ouviam atentos ao aclamado pianista. Pelo salão, alguns casais mais afeitos à dança passeavam como se fossem cisnes inspirados em manso lago, como diria Varela. Garçons iam e vinham com as bandejas de bebidas e quitutes em cada mão, a passos largos.

Na biblioteca, um grupo particular conversava sobre negócios, política, jornalismo, economia e até Literatura. Esse grupo se reunia sempre às quintas-feiras à noite. Era uma espécie de clube do bolinha, formado por homens distintos. Eram ricos empresários, jornalistas, escritores, advogados, médicos etc. Curiosas, algumas esposas, passavam discretamente para tentar ouvir algum sussurro que lhes denunciasse os misteriosos diálogos ali mantidos. Entretanto, aqueles homens, além do trivial, não tinham muito segredo a esconder, apenas alguns. E esses eram lá entre eles.

Quando a lua ia alta em sua viagem noturna, o burburinho externo adentrou à biblioteca. Era o mordomo que, trajando calças e paletó vinhos, assim como camisa e gravata pretas, abria a porta para anunciar a um dos convidados, Senhor Lúcio, que ali se encontrava alguém a sua procura. Os colegas da quinta feira, menearam levemente a cabeça enquanto um sorriso breve, porém delator, desejava-lhe boa sorte. Era uma moça bem alinhada em seu salto alto, blazer e saia brancos que aguardava o distinto Senhor Lúcio.

Senhor Lúcio era jornalista e colunista de um dos grandes jornais da capital. Seu pai era italiano e sua mãe uma nobre inglesa. Os dois vieram para o Brasil, precisamente para fortaleza, ainda na década de vinte. O motivo do exílio da Europa era sempre dado com palavras pouco elucidativas, o assunto era sempre deixado de lado e logo substituído por outro “mais importante”. Pouco tempo depois, nasceu-lhes o filho único, o menino Lúcio. Educado com esmero, o garoto queria ser médico. Um de seus principais robes era dissecar animais. Diziam as más línguas inclusive que ele os matava para realizar esses procedimentos. Entretanto seus pais negavam essa atitude e diziam que os adquiriam cadáveres para “o Lucinho brincar”.

Não foi médico, mas jornalistas. Trabalhava duro na redação do jornal. Nos tempos livres, era visto no necrotério do Instituto Médico Legal, à época situado na Universidade do Ceará. Nada a se estranhar, uma vez que esses ambientes despertam extrema curiosidade entre muitas pessoas. Além do mais, Lúcio publicou grande matéria, depois transformada em livro, sobre Alexandre Lacassagne, médico e criminalista francês, cujos métodos e teorias divergiam da de seu mestre, o italiano Cesare Lombroso. Enquanto Lombroso atestava que a criminalidade é nata, Lacassagne apontava o meio como elemento capital na produção do criminoso. Ele dizia que a "Justiça escolhe, a prisão corrompe e a sociedade tem os criminosos que merece". Ainda hoje, o livro de Lúcio é amplamente enaltecido por seus pares jornalistas. Vieram depois outros livros e o tema cadavérico multiplicava-se, sempre com grande sucesso. Seus amigos médicos, alguns deles legistas, diziam que seu denodo para com os mortos era admirável. Mas de se admirar era que nunca em sua coluna diária abordou o tema da morte. Tratava de tudo. Futebol, política, Literatura e até festas sociais. Mas nunca cadáveres povoaram seus parágrafos, nem mesmo quando um nome digno de nota partia dessa para uma melhor.

Lúcio despediu-se dos amigos e dos anfitriões. Apertou calorosamente a mão do famoso pianista e dirigiu-se ao portão, onde a moça de blazer e saia brancos o aguardava, pacientemente, tragando um Astoria. Lúcio apertou-lhe a mão suavemente, quase um carinho. Ela o recompensou com um sorriso de quase volúpia. Ele esfregou as mãos e indagou-lhe quase ansioso:

– Tudo pronto?

Diante do aceno positivo, os dois dirigiram-se ao Aero-Willys. Ele, gentilmente, abriu a porta para que ela entrasse, fechou-a, dirigiu-se ao banco do motorista e o carro deslizou serenamente em direção à Beira Mar. Próximo ao Náutico Atlético Cearense, ele estacionou, entregou a ela um cheque, o qual ela, depois de analisá-lo, guardou na bolsinha branca, que trazia a tira-colo. Ela lhe entregou um molho de chaves, que ele guardou quase trêmulo no bolso do paletó. Lúcio esperou que ela tomasse um táxi para só depois Deixar o Aero-Willys. Deu uma breve olhada para a casa branca de muro baixo e telhado verde. Tirou a chave de onde tinha guardado, mirou-a, jogo-a para cima e a devolveu ao bolso. Havia pouca gente na rua, a brisa batia leve fazendo seus finos cabelos dançarem. Com as duas mão nos bolsos da calça, ele passeou, de cabeça baixa, refletindo no que estava por acontecer. Em um quiosque, ali próximo, tomou uma Brhama, calmamente, sem pressa, enquanto tragava um Minister, atrás do outro. Parecia um adolescente aguardando seu primeiro encontro.

Já eram duas da manhã, quando se dirigiu à casa, cujas chaves tilintavam no bolso do paletó. Girou uma delas na fechadura e entrou. Era uma casa simples avaranda com um pequeno jardim na frente e atrás. Sala, um quarto simples, uma suíte, cozinha, tudo muito limpo. Não era a primeira vez que ia ali. Conhecia bem os cuidados da Fátima, o zelo com que preparava o ambiente. Os lírios, as rosas, as peônias e os jasmins eram suas flores preferidas para enfeitar e perfumar a noite dos noivos. Naquele dia ela escolhera os jasmins amarelos que iam bem com o branco do vestido.

Lúcio abriu a porta do quarto de núpcias. A noiva estava sentada e o aguardava, vestida de branco, véu e grinalda. Sobre a fronte uma coroa de miosótis em botão adornava sua pele pálida. O noivo enlaçou-a pela cintura, beijando-a com certa sofreguidão. Deitou-a, cuidadosamente, fitando-a nos olhos, admirando os cílios fartos. Despiu-a, sem pressa, enquanto sussurrava para que não se assustasse. Por alguns minutos fitou sua nudez por inteiro, enquanto também se ia despindo. Enlaçou-a novamente. Já com a respiração ofegante, o coração acelerado, penetrou-a com sua virilidade, sussurrando palavras ensandecidas. Depois, apagou a luz e, lasso, dormiu abraçado à sua esposa.

No dia seguinte, acordou por volta de nove horas. Olhou sua mulher ainda despida, cobriu-a com o lençol. Foi ao banheiro, tomou banho, cantarolando uma marcha nupcial. Em seguida se vestiu, abriu a porta, respirou o ar puro que vinha do mar, desceu os degraus da casa e foi ao quiosque no qual estivera na madrugada. Pediu uma cerveja, acendeu um Minister, enquanto aguardava que Fátima chegasse. Não demorou muito para que ela surgisse. A moça se aproximou e o cumprimentou com o riso de costume. Ele lhe entregou as chaves e, de longe, viu quando ela e dois homens entraram na casa para retirar o cadáver que lá estava.

quarta-feira, 22 de março de 2023

UMA FÁBULA

 


(Por Alves Andrade)


Havia, há muito tempo, no reino dos animais esopoístas, uma velha corça, cuja idade, tinha levado seus pelos lanosos e deixado apenas os cardos, curtos e hirsutos. Isso possivelmente era o motivo do recolhimento, tão impróprio desses animais. Mas que talento tinha ela para mandar! Adorava criar atividades para os outros animais realizarem.

Certa vez, ordenou que todos os animais treinassem para uma corrida que ocorreria em comemoração ao dia dos bichos, que fora a nomeação do rei das selvas, matas e rios. Como treinaram os infelizes!! Dia e noite sob o olhar lacrimoso da velha fêmea do veado, lá estavam os bichos, sem reclamar, treinando desenfreadamente. Até a tartaruga esqueceu de sua própria fábula e corria feito uma lebre. Porém, no dia consagrado a coroação do Rei Leão, a corça tinha desaparecido, não apareceu para dar consecução ao espetáculo de voar e correr. De modo que os animais se atrapalharam, os que deveriam voar, corriam, os que deveriam correr nadavam.

O papagaio, palrador, não deixou por menos e fez ver aos animais que tinham sido ludibriados pela velha corça, que os fizera de bobos e que trabalharam inutilmente. Quando soube das falações do pena verde, a corça ficou louca, e, por pouco, não teve um surto e morreu.

Mas o que não mata desperta. E assim, depois de perseguir o pobre papagaio para fazê-lo nu em pelos, a corça voltou a passear pelas matas, savanas, não mais com a elegância desses cervídeos, mas com seu andar meio coxo. Tornou a dar as ordens, feitio dos animais que se põem em soberba para submeter os outros. E lá foram camundongos, cotias, veados, lebres, tartarugas na consecução de um grande projeto: uma festa em homenagem à onça pintada, comemorando o dia em que esse felino livrara-se de terríveis caçadores. Tudo sob os olhares duvidosos do loro, que de vez em quando dizia:

– Curupaco, isso não vai dar certo. Depois tão tudo arrependido.

Porém no dia da festa estava tudo pronto, bonito, enfeitado e a corça velha comandou tudo com presteza impressionante. Foi tanto o sucesso que a onça pintada nomeou-a para sua amiga imediata.

Pena que se esqueceram de agradecer ao papagaio palrador por sua genial contribuição, pois a moral de tudo isso é...

TODA CRÍTICA É CONSTRUTIVA!

Essa fábula não é de Esopo, mas bem poderia sê-lo.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

 

O QUE SIGNIFICA O TERMO RIDÍCULO?

(por Alves Andrade)



O latim nos legou parte de nosso vocabulário. Se fôssemos mencioná-la aqui, passaríamos um bom tempo nesse serviço. Esse não é, pois, nosso propósito. Apenas alguns acontecimentos últimos me lembraram uma palavrinha, diminutiva que não pode deixar de ser analisada: RIDÍCULO.

O narrador de eventos esportivos Everaldo Marques, do sistema Globo, aclama os atletas que se destacam com o bordão “VOCÊ É RIDÍCULO”. Foi assim com Hoefler e Rayssa Leal no “skate street”, nas Olimpíadas de Tóquio, e com muitos outros. Neste caso RIDÍCULO deixa sua acepção original de lado e assume a roupa de elogio. Então, você é ridículo quer dizer “você é espetacular, sensacional, maravilhoso, maravilhosa”.

Esse diminutivo, tão em voga hoje, vem do verbo latino ridere, que nos legou por redução ou apócope o verbo rir. Ridículo é, portanto, o mesmo que risível, que serve para causar riso. Usado em nossa língua, entretanto, para designar aquilo que é digno de troça, de escárnio, de zombaria. Ridícula é aquela pessoa que se esforça para aparecer, nem que seja com uma piada sem graça; ridículo é aquele indivíduo o qual finge ter o que não tem; a moça que não tem noção de que o excesso de pitura a deixa mais sem beleza é ridícula; ridículo é o velho da cabeça branca que levas as novinhas para passearem em sua lancha, mas que não aprece nas fotos; enfim, ridículo é tudo que não deveria ser e é por profunda insistência de continuar sendo.

Com a derrota do presidente e candidato Bolsonaro, nesta última eleição, cenas ridículas foram vistas pelo país afora. Podemos citar, entre elas, um bom número de pessoas, fantasiadas de papagaio, ajoelhadas, chorando e rezando para um pneu; um velhote dando um chute em uma caminhonete para em seguida sair caxingando e se vendo de dores; um homem levando nos olhos uma esguicho de “spray” de pimenta; um outro sendo enxotado a pontas de uma guarnição militar; um jovem empresário nordestino pregado, adesivado, em um caminhão, sendo motivo, não de riso, mas de troça, por três quilômetros, até pedir para descer; um outro velho, de baixo de seus sessenta e dois anos, marchando e dando gritos jocosos, que mais pareciam o guinchar de um porco, com todo respeito aos suínos; um grande números de órfão esperando ansiosos pelo discurso de seu pai, cuja fala não durou mais que dois minutos e dois segundo. Tudo motivo de troça, escárnio, ou pena. Mas como disse o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza O Brasil não é um país sério. A atribuição dessa frase a Charles de Gaulle, ex-presidente da França, já mostra a falta de seriedade de nosso país, infelizmente. O jornalista José Simão costuma dizer que o Brasil é o país da piada pronta, e Antônio Carlos Jobim disse que o Brasil não é para amadores. Por isso estão os humoristas ganhando seu pão de cada dia sem fazer grandes esforços.

No entanto, o mais ridículo de todas as coisas ridículas que vimos Brasil a fora não é a dor de um chute de desespero; não é a irritação da pimenta nos olhos; não é a humilhação de um pé na bunda, tampouco o ronco de porco, é o falso moralismo que alimentou a candidatura do presidente candidato. Quantas pessoas pelo Brasil usaram o falso nome de Jesus Cristo em vão para disseminar o ódio, e isso é ridículo. Quantos indivíduos em seus carrões viraram a cabeça ao passar pelos viadutos repletos de famílias que estão vivendo sem dignidade nenhuma, e algumas até riram, e isso é ridículo. Quantos brasileiros são a favor do fim das leis trabalhistas, que tornarão o dia a dia dos trabalhadores mais penosos, por saberem que vão ter que bajular mais ainda os patrões, se quiserem manter seus empregos, ou mesmo cederem à sua libidinosidade, e isso é ridículo. Quantos empresários oprimiram seus funcionários para votarem no candidato da ultra direita, e isso é ridículo. Quantos funcionários coagiram outros funcionários a fazerem o mesmo, e isso é ridículo.

Porém, acredito que o Brasil dos índios, dos negros, dos grupos LGBTs, dos espíritas, dos católicos, dos protestantes, das religiões de matrizes africanas, dos ateus, enfim, o Brasil de todos será um dia reconhecido como um país sério, que não permitirá mais o crime ambiental, a chacina contra os menos favorecidos, que incentivará a deposição das armas, do orgulho, da vaidade e investirá em Educação para todos. Aí o mundo vai dizer com a mesma força dos pulmões do Everaldo Marques Brasil VOCÊ É RIDÍCULO!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

 

LITERATURA DE CORDEL





O CORTIÇO





POR ALVES ANDRADE







BASEADO NO ROMANCE DE ALUÍZIO AZEVEDO










FORTALEZA, 2020












O Cortiço, cordel baseado no

romance de Aluísio Azevedo,

Por Alves Andrade


O CORTIÇO (JOÃO ROMÃO)

João Romão foi, Por uns anos,

Empregado de um vendeiro

Que, morrendo, lhe deixou

A venda e algum dinheiro,

Somou-os ao que já tinha

Como lhe era costumeiro.


Achando pouco o que tinha,

Com uma negra ajornalada

Cama e quitanda juntou,

E a renda dela ajuntada,

Ficou dizendo pra ela

“Es agora libertada”.


Os dois assim amancebados

Vendiam o que podiam,

Do peixe até a cachaça,

O resto era o que comiam,

Só após muito cansaço,

Era que eles dormir iam.


Ele na sua ganância,

Umas terras situadas

Comprou ao lado da venda,

E a cabeça acelerada

Só pensava numa coisa:

A renda multiplicada.


Construiu umas casinhas

Formando grande quadrado

Logo logo ali já era

Cortiço bem afamado,

E o comércio de Romão

Já era o mais procurado.


Depois cuidou de comprar

Perto dali ua pedreira,

Enricava todo dia,

Vivia de suadeira,

Mas estava satisfeito

Com o dinheiro na carteira.



A vida assim lhe sorria,

Dinheiro ali circulava,

Quem labutava na pedra,

O salário que pagava

Tornava sempre ao seu bolso,

Se o pedreiro ali morava.


As mulheres lavadeiras

Que lhe alugavam a casa

Não pagavam pelas tinas,

Que usavam no sol em brasa,

Cantando e sempre voando,

Pois só o cantar te dá asa.


Mas momento então chegou

De pensar no que fazia,

Acumulando riqueza,

A vida era então vazia,

Olhou no alto o vizinho

Pra quem a vida sorria.


Resolveu assim o vendeiro

Ao vizinho se achegar,

Pois tinha ele uma filhinha

Que podia desposar,

Como queria muito ele

Então de vida mudar.


Encontrou em seu Botelho,

Lá da casa um agregado,

Que lhe facilitaria

Penetrar lá no sobrado

E então de Zumirinha

Ser assim seu namorado.


Comprou roupa se enfeitou

Pra seu destino mudar,

Comprou sapato e perfume

Para bem se apresentar,

Mas se lembrou que da negra

Precisava se livrar.


Isso não lhe foi difícil,

Pois a dela liberdade

Fora inventada por ele,

Que lhe escondeu a verdade,

Continuava então escrava,

Sofreria a crueldade.


O vendeiro então tratou

De aos senhores avisar

Que em casa tinha a escrava,

Que fossem lá resgatar

E assim ficaria livre

Pra Zulmira desposar.


A pobre negra entendeu,

Havia sido enganada,

Percebeu que por Romão

Fora vilipendiada,

Abriu-se, pois, com uma faca,

Tava agora libertada.


João Romão fez sua história

À custa de alheia ferida,

Bebendo o suor alheio

Foi vencedor nesta vida,

Pisando em tudo e em todos,

Mas tendo a alma perdida.


O SOBRADO (MIRANDA)


Criou-se de pedra e cal,

Do cortiço avizinhado

Arquitetado no chifre

Desse Miranda, coitado,

Passado pela esposa

De caráter amesquinhado.


Na loja que era sua,

A esposa surpreendeu

Gemendo com um caixeiro,

Dessa forma o mal se deu,

Mas deixá-la não podia

Por causa do dote seu.


Odiou a mulher sempre,

Por ela foi odiado,

O chifre que carregava,

Era por todos notado,

Resolveu mudar de ares

Construiu, pois, o sobrado.





O que mesmo atormentava

Era a sua vizinhança,

O Cortiço era uma afronta

Do sobrado à pujança,

Contra Romão só pensava

Costurar fria vingança.


Na verdade ele invejava

A liberdade do vendeiro,

Que não sentia vergonha

Pois ganhava seu dinheiro

Sem roer chifre nenhum,

Era livre por inteiro.


Ele, Miranda, coitado,

Usava ainda a mulher,

Seu gênio não permitia

Pernoitar em cabaré,

Vivia dia após dia

Do jeito que a vida quer.


Sempre quando ele saía

Do quarto da odiada,

Sentia-se na sarjeta,

Pois tinha a alma humilhada,

Porém, mais a detestava,

Menos via uma escapada.


Até mesmo o Henriquinho

Que estava em sua casa,

Filho de um bom cliente,

Comia a mulher em brasa,

Acobertado por Botelho,

Velho pássaro sem asa.


Foi então que teve a ideia

De atenuar a humilhação,

Comprar título pomposo,

Escolheu o de barão,

Logo o chifre aturaria

E se vingava de Romão.


Essa trama do Miranda

Fez Romão enlouquecer,

Cuidou pois mudar de vida,

Melhor vida a si fazer,

Já vimos que isso levou

Bertoleza a se morrer.


O SOBRADO (ESTELA)


Estela era uma mulher

Maculada de luxúria,

Andava de lá pra cá

Levianamente espúria,

Inquieta pelo amor,

Perseguia-o com loucura.


O ar poento das ruas,

Trazendo de homem o cheiro,

Deformando-lhe a razão,

O corpo vibrando inteiro,

Não importando o amante,

Se rico, ou mero caixeiro.


Não era, pois, por maldade,

Que tinha o sexo ardente,

Mesmo o marido lhe dando,

Nada enchia sua mente,

Nem o vazio do corpo,

Libidinoso, demente.


Com dois anos de casada,

Traiu o marido sem pejo,

Dando-lhe enorme tristeza

E sem conter o desejo,

Rompendo a união, traiu

Aproveitando esse ensejo.


Nunca caçava o marido,

Nas noites de solidão,

Sonhava com todo homem,

Descambava ao rés do chão

Como as cadelas da rua

Buscava suja ilusão.


Pois foi numa noite dessas

Que viu Miranda adentrar

E, pensando não ser visto,

Foi dela se apoderar,

Saciou-se assim covarde,

Fez ela se saciar.





Sempre quando ele chegava,

Ela o sexo oferecia,

E, com os olhos bem fechados,

Que dormia ela fingia

Ele então gozava muito,

Ela o orgasmo atingia.


Porém numa certa noite,

Ela não se controlou,

Segurando-o com as pernas,

Uma gaitada ela estalou,

O ódio que os afastara

Foi o mesmo que os juntou.


Mas ficara então só nisso,

Nas noites de agonia,

Miranda a procurava,

Não se olhavam pelo dia,

Ele sempre moendo chifre,

Que pra ele ela tecia.


Quando a ele veio a ideia

De comprar o baronato,

Viu-se ela baronesa

Uma mulher de fino trato,

Ele então se amaciou

Para cumprir o contrato.


E assim a vida seguiu,

Miranda sendo barão,

Querendo a filha casar

Com o vizinho João Romão,

Suportando assim o desprezo

Comendo o insagrado pão.















O CORTIÇO (AS LAVADEIRAS)


Eram elas do cortiço

Da Estalagem São Romão,

A essência feminina,

De muito bom coração,

Conversavam dia e noite

Ventura e desilusão.


Logo cedo já estavam

Brigando com seus filhotes,

Arrumando bem a casa,

Neles dando cocorotes,

Se dirigiam pra as tinas

Levantando seus saiotes.


Sentava então a Machona,

De origem bem portuguesa,

Mui feroz e berradora,

Pêlos grossos de tigresa,

Tinha um filho e duas filhas

Uma virgem por destreza.


A das Dores sua filha

Tinha moradia rasa,

Um indivíduo do comércio

Por ela quebrou a asa,

Mas quando voltou pra terra

O sócio assumiu a casa.


Carne Mole era apelido

De Leandra, lavadeira,

Casada com um polícia

Que tinha pose altaneira,

Era sempre bem honesta,

Por preguiça brasileira.


Com o Bruno que era ferreiro,

Leocádia era Casada,

Leviana sem limite,

Nunca deu uma disfarçada

‘Té que um dia ele a flagrou

E lhe deu muita pancada.






Ao seu lado senta a Paula,

Muito feia e respeitada

Pelas rezas curandeiras

E por Bruxa alcunhada

Tinha os olhos rasos d’água

Tinha uma cara assustada.


Sentava-se a Marciana

E sua filha Florinda,

Com a casa sempre alimpada,

Se não era mulher fina,

Era com afã que lavava

Cuidando da sua tina.


Florinda, de quinze anos,

E homem já ela pedindo,

Olho de animal no cio,

Pele bronze ao sol luzindo,

Se negando a um e outro,

A virgindade se delindo.


Dona Isabel, uma velhota,

Todos muito a respeitavam,

Era mãe de uma filhinha

Com quem todos se casavam,

Mas mesmo com seus dezoito,

Regras não a visitavam.


Mas ela já fora rica,

O destino tudo levou,

Marido e a vida boa,

Muito triste ela ficou,

Queria nova fortuna,

Mas a filha não casou.


Havia também o Albino,

Um sujeito afeminado,

Tendo sempre um ar bem lânguido

Era triste esse coitado,

Só carnaval o animava,

Punha-se logo assanhado.


Eram essas lavadeiras

Que se punham a lavar,

Assim que o sol clareava,

Começavam a labutar

E o zumzumzum começava,

Não paravam de falar.


Assim nunca se calavam,

Sempre a esfregar, e bater,

Torce camisa e ceroulas,

Os sonos do amanhecer,

E as bandeiras de lençóis

Enfeitando o entardecer!




O CORTIÇO (JERÔNIMO E RITA BAIANA)


Quando ali ele chegou

Com a família de uma vez,

Amante era do bom vinho,

Honesto e bem bom freguês,

Curtia a mulher e o fado

Era então bom português.


Conquistou a simpatia

Por ser bom trabalhador,

Seu João Romão o admirava,

Pois era madrugador,

Por colegas respeitado,

Mas não lhe tinham temor.


Porém num domingo desses,

Rita Baiana avistou,

O requebro da mulata

Logo logo o conquistou,

Foi um dia sem igual,

E a vida ali mudou.


Sentiu passar pelo corpo

Um calor bem diferente,

Gana grande de tomar

Logo um copo de aguardente,

Beber um café bem forte,

Transformou-se, certamente.


Da mulher pegou foi nojo,

Da filha não quis saber,

Trabalho em segundo plano,

Começou muito a beber,

Buscava sempre da Rita

O cheiro de enlouquecer.



Mas a negra tinha um homem

De nome firmo chamado,

Era um grande capadócio

Na casca do alho passado,

Gostava de briga e samba,

Era um cabra descolado.


Rita é negra mui danada,

Amante do bom pagode,

Com suas mãos na cintura,

O corpo todo sacode,

Com mulher daquele tipo

Nem mesmo o diabo pode.


Todo dia lhe era santo,

Trabalhar gostava não,

Se alguém pela mão puxasse,

Saía por esse mundão

Dançando e gozando a vida,

De farra num abria mão!


Foi quando um dia ela viu

Jeromo com um pau na mão,

Firmo dando cambalhota

Pondo as duas mãos no chão,

Jeromo dando paulada,

Firmo dando cabeção.


Foi então que ela entendeu

Que os dois brigavam por ela,

Sentiu-se mulher feliz,

Sentiu-se mulher bela,

Pois os dois já se matavam,

Lutando pelo amor dela.


Foi quando firmo sacou,

De repente uma navalha

Rasgando do outro o ventre,

Assombrou toda a canalha

Que disse “matou, matou!”

Findando aquela batalha.


Rita, vendo esse desfecho,

Temeu pelo português,

Que por ela mataria,

Ódio por Firmo se fez,

No seu rosto da mulata

Instalou-se a palidez.


Algum tempo no hospital

Deixou novo o cavouqueiro,

Retornando desse exílio

Buscou rita por primeiro,

Mas queria era acabar

Com a raça do brasileiro.


E foi triste aquela cena

Que na chuva aconteceu,

Firmo debaixo de paus

Como um rato ali morreu,

Foi na areia de uma praia

Que tudo isso aconteceu.


Depois daquele ocorrido

Os dois então se mudaram,

Morar bem longe dali,

Mulher e filha ficaram

Sem rumo na vida e assim

Tristes caminhos trilharam.


O CORTIÇO (POMBINHA E LEÔNIE)


Nhá Pombinha era uma flor

Que naquele charco viveu,

Mas num quase berço de ouro

Foi então que ela nasceu,

Filha de dona Isabel

Que, tadinha, empobreceu.


Mesmo com dezoito anos,

Não podia se casar,

Mesmo noiva de João costa,

Não podiam se juntar

Porque não era mulher

Sem o sangue a lhe jorrar.


Era a tristeza da mãe

Que via nessa união

A fuga daquele antro,

Sua grande redenção,

Mas isso era impossível

Sem vir a menstruação.





Amada por toda a gente,

Era um anjo de doçura,

Da igreja sabia as rezas,

De livros boa leitura,

Admirada era por todos

Devido a sua candura.


As cartas de toda gente

Era ela que escrevia,

Das tristezas desse povo

Ela o cálculo fazia,

A infelicidade sua

Ela também conhecia.


Leônie é uma cocote

A qual vive muito bem,

Bom carro pra passear

E boa casa ela tem,

Os homens ricos da rua

Explora como ninguém.


Dona Isabel certo dia

Leônie foi visitar

Juntamente com Pombinha,

Foi um bom dia passar,

Mas de fato não sabia

O que estava a planejar.


Queria era mariposa

Com pombinha só ficar,

Levando-a para o quarto,

A começou desnudar

E a lésbica conseguiu

A inocente macular.


Pombinha bem envergonhada

Para casa retornou,

Ficou muito ensimesmada,

Com tudo que se passou,

E num sonho avermelhado

O mênstruo se comsumou.


Que alegria pra Isabel,

O sonho a realizar,

Pois sendo a filha mulher

Já podia se casar

E assim as duas iriam

Em bom sítio habitar.


O cortiço era alegria,

Pois sabiam partilhar

Da satisfação alheia,

Não eram de invejar

Estavam todos felizes

Com pombinha a exaltar.


Houve então o casamento,

Tudo então se confirmou,

Isabel muito feliz

Com Pombinha se mudou,

Foram morar bem longe

No lar que o genro comprou.


Mas a verve da menina

Não era com homem viver,

Pombinha e a bela Leônie

Logo foram se entender

Juntaram o corpo e a manha

Foram homens surpreender.




O CORTIÇO (BERTOLEZA E PIEDADE)


Se havia nesse cortiço

Tanto horror e iniquidade

Grande horror também caiu

Sobre dona Piedade,

Também sobre Bertoleza,

Que agiu com ingenuidade.


De sua terra, Piedade

Com seu marido saiu,

Sofreu como condenada

Na capital do Brasil,

Viu perto a felicidade

Que de repente fugiu.


Mulher simples e honrada,

Casada com um cavouqueiro,

Tinha uma filha lindinha,

Comprava bem do açougueiro,

Mantinha a casa limpinha

E brilhando o mobilheiro.



Porém depois de o marido

A negra Rita conhecer,

A sorte foi pelos ares,

Ficou sem ter nem haver,

Pois o homem bom e amado

Mudou-se todo seu ser


Abandonada no mundo,

Perdeu todo seu pudor,

A qualquer desconhecido

Deu-se mesmo sem amor,

Presa fácil de Pombinha

A filha se transformou.


A outra mais desgraçada

Chamava-se Bertoleza,

Levou a vida de escrava,

Sofrendo grande dureza,

Pagava o jornal aos donos

Pra ser livre e não ser presa.


Amiga de um português

Que morreu estropiado

Depois de inumano esforço

caiu na rua o coitado.

Para não ficar sozinha,

Com Romão viu-se amigada.


Enquanto joão prosperava,

Ela, sem ter feriado,

Trabalhando dia e noite,

Comia o resto sobrado,

Ciente que estava livre,

Mas João a tinha enganado.


Deu-se então que um certo dia,

Começou a perceber

Que João Romão intentava

Outra vida conhecer,

E além do homem perdido

Via a vida enegrecer.


Ser escrava não seria

Foi assim que ela pensou

Quando viu o antigo amo

Que na cozinha adentrou,

Desceu então a peixeira

E o próprio ventre rasgou.


Viu-se, pois, do outro lado

Por ascendestes cercada,

Espíritos ancestrais,

Sentindo então abraçada,

Lembrou do Cristo Jesus,

Da boa nova ensinada.




O CORTIÇO (O CORTIÇO)


‘cordava o Cortiço abrindo

Não os olhos que não tinha,

Porém todas as janelas

Formando uma grande linha,

De onde bem cedo emanava

Cheiro fresco e ladainha.


Sussurros de todo canto,

De boca muito abrimento,

Conversas de outro dia

Retomavam de momento,

Meninos e papagaios

Retornavam seu lamento.


O céu com seu azulado

Grande abóbada formava,

No terreiro aquadradado,

O trabalho começava,

Eram então as lavadeiras

Que o trabalho inciavam.


Os telhados admiravam

O cinzelar na pedreira,

Homens em miniatura,

lapidando-a sem canseira,

No capinzal ele via

Meninos na brincadeira.


As paredes lá da venda

Viam frase repetida:

Quilo e mei de branco arroz,

Copo de boa bebida,

Um fumo bom pra mascar,

Um vinagre na medida.



Enquanto todos dormiam,

A cobra de pedra e cal

Pedia ao bom Deus por todos

Que nunca passassem mal,

Sabendo que no outro dia

Agiriam sempre igual.


Foi com grande tristeza,

Que o Cortiço conheceu

Chifre do Bruno ferreiro,

E bem muito o entristeceu

O sofrer de Marciana,

Desgosto que a filha deu.


Riu dos muxoxos da Rita,

De Romão as trapalhadas,

Dos suspirados do Albino,

De Leocádia as cabeçadas,

Da miséria de Libório,

E das paixões desgraçadas.


Mas aquele ser bruto

O fim próximo sabia,

Pois via outros se erguendo,

‘Té seu nome mudaria,

Ante espadadas e fogo,

Ele então sucumbiria.


Foi assim que grande incêndio

As paredes destruiu,

E no lugar do Cortiço,

Outra estalagem surgiu

Bem mais cara e mais robusta,

Que João Romão construiu!

(Alves Andrade)

FIM!













quinta-feira, 12 de maio de 2022

O CABELEIRA

 











(Por Alves Andrade,

baseado na obra de Franklin Távora)


No século dezenove,

No ano de setenta e seis,

Foi que veio então a lume

Mostrar do sertão a tez

O romance O Cabeleira,

O qual li mais de uma vez.


Sendo romancista histórico,

Franklin Távora escreveu,

Requintado em lucidez,

O que por ali se deu,

A história de Cabeleira

Mal feitor que ali viveu.


Era muito grande a fome

Que a seca pra li trazia;

Era muito grande a morte

Que a peste ali espargia;

Porém o maior flagelo

Cabeleira é que fazia.


Na região de Goiana,

De Santo Antão e Goitá,

Ninguém não tinha sossego

Nem mesmo dentro do lar,

Quadrilhas então à solta

Todo o povo a castigar.


Era o século dezoito,

Setecentos, coisa e tal,

O Brasil inda Colônia,

Pertencente a Portugal,

Pernambuco embrionário,

Capitania especial.


José Gomes foi menino,

Teve da mãe o carinho,

Mas o pai, criatura má,

Levou-o a mau caminho,

Ensinou-lhe assim que o certo

Era matar passarinho.


Tirar a vida dos outros

Depois de ser homem feito,

Foi ensinado na infância,

Pelo pai, um mau sujeito,

Enquanto por outro lado,

A mãe pregava o respeito.


Se cuidar dos animais

A mãe o orientava,

Joaquim, o pai malvado,

Malvadeza ensinava,

Tirar a vida dos bichos,

Era assim que o pai mandava.


A mãe com ele ajoelhada,

Lhe dava terço a rezar,

O pai então irritado

Lhe deu faca pra matar,

“Meu filho há de ser homem

Pra todo mundo assustar”.


E na hora de escolher,

Por medo ou por vaidade,

Seguiu o caminho do pai,

O caminho da maldade,

Deixando sua triste mãe

Pra não ter felicidade.


E pouco tempo depois,

José Gomes se tornou

O temível Cabeleira.

Muita gente ele matou

Além das propriedades

Que seu bando saqueou.


Era o horror das cercanias,

Matava só por prazer,

Não tinha respeito à vida,

Não quis, não queria ter,

Sua faca era invencível,

Fazia fogo sem ver.


O pai do bando era o chefe,

O filho, o mais temido;

Todo roubo que faziam

Pra Timóteo era vendido;

O capanga Teodósio,

Cão cerbero sem sentido.


A mata era seu castelo;

As serras, a fortaleza;

As estrelas, o farol;

As fogueiras, a clareza;

A loucura, a coragem;

A vida, uma tristeza.


Porém quando viu Luíza,

Amada de sua infância,

Cabeleira refletiu

Sobre sua ignorância,

Sobre o mal que tinha feito,

Sobre sua petulância.


Foi após uma ocorrência

Que Rosalina vitimou,

Preferindo então a morte,

Com fibra não hesitou,

Com as mulheres da família

No incêndio se queimou.


Cabeleira à Luíza

Amor eterno jurou,

No meio do matagal,

Com ela, ele noivou

Mas logo pela manhã

Para o céu ela voou.


Mas antes, porém, contudo,

Seu amado consertou,

Aos pés dela mui contrito,

Pôr-se bom ele afirmou,

Desfez-se de suas armas

No monturo as jogou.


Nossa! que momento belo

Essa Arte nos legou,

Com a pena banhada em tinta,

Franklin Távora consagrou

A redenção de um homem

Que só o amor alcançou.


Depois daquela partida,

Tristeza grande o tomou,

Saindo no mundo afora,

Só desespero encontrou.

Nunca mais matou ninguém,

Aquela alma ela salvou.


Dentro de um canavial,

A polícia o prendeu.

Indagou-lhe o capitão:

“Cabeleira é nome seu?”

“José Gomes, seu criado.”

Desta forma respondeu.


Levado para goiana,

Mesmo preso ali tocou

A viola enluarada,

Muita gente ali chorou.

A esposa do Capitão

Pelo bandido implorou.


Mas selaram seu destino

Para na forca morrer

Juntamente com seu pai,

Sem ninguém interceder,

A mãe, vendo-o pendurado,

Também veio a falecer.


Com esse livro o autor

Procura nos ensinar

Que o crime nunca compensa,

Mas também para cismar

O direito da justiça

De outro homem executar.


Mostra que as autoridades

Devem do broto cuidar,

Dar-lhe boa Educação

Pra bom caminho trilhar

E que a pena de morte

Devia se eliminar.


Séc’lo e meio se passou,

E essa má instituição

Ainda é vista por muitos

Como a grande solução

Para o fim de todo crime

IMENSA E MERA ILUSÃO!