(Para mim, no meu aniversário de quarenta e um anos)
A vida devia ser assim,
A gente nascer e ser, por tempo,
Bem, mas bem pequeninim
E ir crescendo pouco a pouco
Sem pressa ou medo de ficar louco.
Depois a gente crescia mais
E após aproveitar a infância
A gente ficava rapaz
E por um tempo e tanto
No namoro encontrava acalanto.
Nesse período a gente sonhava
Olhava o sol, a lua, as estrelas
E de repente até chorava
Pra de novo encontrar a paz
E ser feliz, bem feliz demais.
Claro que nessa primeira vez
Sem estar bem passado no alho
Pagávamos mico todo mês
Rilhávamos de raiva os dentes
E seguíamos o caminho novamente.
Mas sem nunca precisar se esforçar,
Sem ser preciso mesmo estudar,
Arranjava um trabalho a gente
E casava-se àquela que tem na mente.
E vinham os filhos. Que alegria
Vê-los correr, saltar, cair:
Eles, nós e a grande euforia.
De repente o sarampo, catapora
Mas logo tudo ia embora.
Até chegar aos quarenta
Que envelhecer muito
Ninguém mesmo aguenta
Aí a gente de novo voltava,
De ré a vida descomeçava.
E assim ficávamos jovem de novo
Ano após ano, sem pressa
Vendo os cabelos pretos como corvo.
Aos trinta que felicidade
Foi aqui que ganhei à vontade.
E a cada ano que passava
De novo por nós passava
E não perdíamos nenhuma,
Colhê-las-íamos tranquilos uma a uma.
Os nossos netos nascendo,
Os filhos mais velhos que nós,
E nós mais rejuvenescendo
Mas com toda experiência
Adquirida em nossa existência.
Das moças, aquele sorriso
Era num átimo percebido,
Namorar era um paraíso,
Sem deslizes nem bobeiras
parecendo adulto, sem asneiras.
Sendo de novo menino,
Brincar de arraia, no meio do sol
Quente, quente e a pino
No pião ninguém batia.
Pra casa? Só no final do dia.
E assim íamos remoçando
Até tomarmos mingau,
Pra perto da mãe de novo chegando
E tornar para o ventre finalmente
De lá pro céu, alegre, contente.
(09/10/2006)