É incrível a força e a
leveza do pensamento! Naquele momento eu refletia sobre o meu sucesso e fui aos
poucos catapultado a essa reflexão sobre os homens e não sei por que eu chorei.
Apesar de ser homem, de apreciar o domínio sobre coisas e até mesmo sobre
outros homens, vem-me à boca um amargo por saber que numa sociedade de consumo,
numa sociedade de tigres e lobos, o prazer de alguns requer o sacrifício de
muitos. Eu subitamente me inquieto e as contradições afloram em meu cérebro e
minha alegria é triste e meu brilho é fosco. Eu não sou um ser evoluído, e
talvez nunca virei a sê-lo. Nunca serei como Ernesto Guevara, que trocou o
conforto de sua família, o colo de sua esposa e o sorriso de suas filhas para
se transformar no peregrino da revolução; como Gandhi, que libertou seu povo
sem que para isso fosse necessário disparar um tiro; como Francisco, que
abandonou uma vida de luxo e de luxúria para se dedicar aos pobres e aos
animais; tampouco feito Jesus, que com o seu amor imensurável se doou num ideal
de solidariedade a ponto de derramar seu sangue pela humanidade. Também não me
arvoro em sê-lo. Tenho primeiramente que continuar minha tarefa aqui, e o tempo
se encarregará do resto.
Em tudo isso eu pensava, quando uma mão leve como uma pluma tocou meu ombro. Não virei o rosto para mirá-lo, era como se eu já o esperasse. Um vulto de pele clara, quase transparente, sentou-se ao meu lado e me disse:
─ Chora, pois o choro é o óleo que vem untar nossos olhos para vermos com mais clareza as nossas necessidades e as dos outros e percebermos que a doação é a nossa grande missão, pois, como nós lavamos uma roupa e nos preparamos para uma festa, as lágrimas lavam nossa alma para a festa de novidades que renovarão nossos dias. Os que não choram, permanecem cegos diante do sofrimento seu e alheio, não irão a nenhum baile, no máximo dirigir-se-ão a uma bacanal, onde carregarão mais ainda suas roupas de nódoas, que lhe pesarão sobre os ombros o os vergarão para a terra, numa apoteose decadentista. Por isso chora, não tenhas pejo de fazê-lo, sozinho ou diante de outrem. Não se preocupe com a evolução. Ela é lenta, mas é gratificante e, vidas menos vidas, ela virá.
Dizendo isso, esse espírito de luz sumiu e me deixou só com minhas dúvidas que aos poucos se dissiparam e foram substituídas por uma certeza: viver é um sacrifício que devemos aceitar, não como um fardo, mas como uma tarefa a ser cumprida, e é a sua realização que nos torna feliz. A felicidade é isso é o prazer das coisas cumpridas.
Em tudo isso eu pensava, quando uma mão leve como uma pluma tocou meu ombro. Não virei o rosto para mirá-lo, era como se eu já o esperasse. Um vulto de pele clara, quase transparente, sentou-se ao meu lado e me disse:
─ Chora, pois o choro é o óleo que vem untar nossos olhos para vermos com mais clareza as nossas necessidades e as dos outros e percebermos que a doação é a nossa grande missão, pois, como nós lavamos uma roupa e nos preparamos para uma festa, as lágrimas lavam nossa alma para a festa de novidades que renovarão nossos dias. Os que não choram, permanecem cegos diante do sofrimento seu e alheio, não irão a nenhum baile, no máximo dirigir-se-ão a uma bacanal, onde carregarão mais ainda suas roupas de nódoas, que lhe pesarão sobre os ombros o os vergarão para a terra, numa apoteose decadentista. Por isso chora, não tenhas pejo de fazê-lo, sozinho ou diante de outrem. Não se preocupe com a evolução. Ela é lenta, mas é gratificante e, vidas menos vidas, ela virá.
Dizendo isso, esse espírito de luz sumiu e me deixou só com minhas dúvidas que aos poucos se dissiparam e foram substituídas por uma certeza: viver é um sacrifício que devemos aceitar, não como um fardo, mas como uma tarefa a ser cumprida, e é a sua realização que nos torna feliz. A felicidade é isso é o prazer das coisas cumpridas.