Esse
é, com certeza, o poema mais belo dessa obra de Caeiro. Representa bem
seu gosto pelas coisas simples, encontradas sempre na natureza. Assim
como sua aversão à Igreja católica, mas seu grande apreço a Deus. Não
deus da igreja, mas o Deus humilde e verdadeiro. Seguem alguns comentários.
Este poema pode ser considerado por alguns como um sacrilégio, uma afronta à crença em Deus e sua enorme criação. Mas, como já comentamos em análises dem outros poemas de Caeiro, o que temos é uma crítica ao Deus criado pela igreja católica, como sendo um Deus "estúpido", justiceiro implacável. Assim sendo, o Menino Jesus, hora menino, ora crucificado (homem), aborrecido dess injúria para com Deus e ciente da sua necessidade na terra, desce e cá vem acompanhar o poeta, sendo unicamente sua inspiração, a poesia, a essência do poeta.
Assim, ele "desceu pelo primeiro raio que apanhou". Aqui podemos entender que há intertextualidade com O Pequeno Príncipe, de Exupery: "Creio que ele aproveitou, para evadir-se, pássaros selvagens que emigravam." Assim como o principezinho, Jesus pôs-se em fuga e trouxe para a terra a poesia magistral descrita por Exupery e por Pessoa. Podem dizer que viajo, mas toda leitura é uma viagem, não apenas pelo texto lido, mas uma reflexão eterna daquilo que já se leu. Graças que tenho lido muito, e posso fazer essas "viagens".
Na sequência, o poeta nos revela por esse menino não pode deixar de ser o Menino Jesus. É uma criança normal, o menino Jesus, porque todas as crianças são menino Jesus. Daí a quase necessidade de ele não envelhecer. Exupery também não queria envelhecer, por isso se reinventa no Pequeno Príncipe, toda a poesia e todo anseio de sua existência, que é não querer ser homem grande reside nessa criação. Não se deve querer ser grande. e o principezinho (que é a poesia que habita o âmago de Exupery) insta a todo instante que ser grande não tem valor, pis o ser grande abandona tudo o que realmente tem valor que são as coisas simples, como o seu amor pela flor e a busca incessante de se fazer amigos e com eles se preocupar. Por isso, a dedicatória à criança que já foi um dia seu amigo Léon Werth. Vemos aí quase a voz de Caeiro, e seu apelo para que O Menino Jesus esteja sempre com ele, que possa com ele brincar e um dia, na sua velhice, cuide dele. Possa afagar-lhe os cabelos e o pôr para dormir.
Por ser criança e divina, é também humana a alma de poeta, pois Cristo é poesia, é sensibilidade. Para resumir: simplicidade. Logo só as pessoas simples têm a jesus, porque veem a perfeição nas coisas simples, na natureza, como nas pedras do caminho, nas poças d'água e nas flores, da primavera. A vida de poeta é essas divina criança que habita o seu ser:
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Vejamos como é divina a alma de poeta. É ela que nos acorda a noite e brinca com nossos sonhos, transformando-os em poesia, transformando-os em realidade boa, nos mostrando aquilo que não vemos quando som os nós.E aqui me lembro de Chico Buarque que nos ensina que "os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão".
é isso, podemos encerrar nossa reflexão de hoje com essas quatro referência: o guardador de rebanhos, Exupery, O Príncipe e o Menino Jesus, e o poeta!
(6/5/17)