sábado, 20 de maio de 2017

ANÁLISE DO POEMA DA “MINHA ALDEIA”




VII - Da Minha Aldeia
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
(Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanho)

Andrade Francisco Alves de Andrade Mantendo a mesma tônica do poema V "HÁ METAFÍSICA BASTANTE EM NÃO PENSAR EM NADA" , o poeta privilegia a visão, quando diz que "eu sou do tamamaho do que vejo".
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Jarina Barbosa Este foi exatamente o verso que mais me chamou atenção porque particularmente, acredito muito nisso

Jarina Barbosa O problema, a dor, a alegria, enfim, tudo é do tamanho do que vemos

Andrade Francisco Alves de Andrade E ele ainda reforça "na cidade a vida é mais pequena".

Jarina Barbosa E eu acho muito legal, porque isso é uma coisa que você decide: o tamanho das coisas que nos cercam

Andrade Francisco Alves de Andrade Verdade. Somos nós que damos a dimensão que as coisa tem.

Jarina Barbosa É pequena porque, no caso "na cidade as grandes casas fecham a vista à chave"

Andrade Francisco Alves de Andrade Logo, os olhos não têm grande alcance.

Jarina Barbosa Questão da liberdade que nós não temos na cidade


Andrade Francisco Alves de Andrade E esse verso "E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."

Jarina Barbosa É uma visão bem simples, não é?

Andrade Francisco Alves de Andrade Reforça a ideia de que não ver é mutilar-se.


Jarina Barbosa Mas em total conformidade com o poema porque as coisas simples podem nos dar felicidade

Jarina Barbosa Sim, nos tiram os nossos olhos

Jarina Barbosa Cegueira, sem visão, apequenar-se

Andrade Francisco Alves de Andrade É um movimento de fora para dentro. Uma vez que o horizonte nos permite ver a beleza da natureza e amplia nossa visão, nosso ser se engrandece.

Andrade Francisco Alves de Andrade E ele inicia aqui um tema que (acho) será tratado mais à frente. Esse tema é o da valorização do que temos. Ele dirá "O Tejo não é maior que o rio que corre mela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia"

Andrade Francisco Alves de Andrade Aqui, ele já antecipa esse tema telúrico, bucólico e engrandecedor daquilo que lhe pertence ao afirmar que "Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer"

Jarina Barbosa É muito rico a temática abordada, transcende a questão do amor à natuteza, vida simples

Jarina Barbosa É uma mensagem pra nossa vida, do que temos

Jarina Barbosa Coisa que quase sempre desvalorizamos

Jarina Barbosa Olhar o que temos, geralmente damos mais importância ao que não temos


Jarina Barbosa Somos viciados a valorizar o que não temos

Andrade Francisco Alves de Andrade Daí tanta gente querendo conhecer os EUA e nunca foram a Juazeiro ou a Ubajara.

Jarina Barbosa Sim, sim. Em todos os sentidos.

Andrade Francisco Alves de Andrade Esse é o grande papel da Literatura. A partir de uma abordagem simples, elevar nossos pensamentos, nossas ansiedades e nos mostrar quão bela é a vida de quando podemos refletir.

Jarina Barbosa E segundo a metafísica, as coisas só vêm para quem tem

Jarina Barbosa Se você sempre acha que não tem nada, o que virá é nada

Andrade Francisco Alves de Andrade É por isso que Antônio Cândido afirmou: "Negar a fruição da Literatura, é mutilar a humanidade".

Jarina Barbosa Como no poema, se você valoriza o que tem, o simples, as coisas vão acontecendo

Jarina Barbosa É, a literatura é a manifestação da vida

Andrade Francisco Alves de Andrade E o movimento de fora para dentro engrandecerá o ser.

Jarina Barbosa Isso é ricamente trabalhado nesse poema

Andrade Francisco Alves de Andrade Com relação ao aspecto formal, vemos uma característica da escrita de Alberto Caeiro, que é a falta de conhecimento gramatical.

Andrade Francisco Alves de Andrade Ele diz "na cidade a vida é mais pequena".

Jarina Barbosa O Alberto Caeiro, se ptestarmos atenção, trabalha muito essa questão da metafísica, do simples, esse movimento de dentro pra fora


Andrade Francisco Alves de Andrade E é ele mesmo que explica há metafísisca em não pensar.

Jarina Barbosa Kkkkkk, bom

Andrade Francisco Alves de Andrade Não precisamos passar o dia refletindo uma solução para a humanidade. A solução se encontra em nós, nas coisas simples que nos redeiam.

Andrade Francisco Alves de Andrade No nosso respeito pela natureza.

Jarina Barbosa Isso é muito bonito. Tudo está em nós

Jarina Barbosa As coisas estão aí acontecendo mas quem dá o tom somos nós


Andrade Francisco Alves de Andrade E com relação ao aspecto literário, temos a manutenção do bucolismo, da tendência árcade.

Jarina Barbosa Sempre a tendência arcade

Jarina Barbosa A integração com a natureza

Andrade Francisco Alves de Andrade E o panteísmo. Relação entre Deus e os elementos que estão na natureza. mesmo sem citar, percebemos a bondade de Deus quando ele se põe a mirar o horizonte e tornar-se grande.

Andrade Francisco Alves de Andrade Essa questão de Horizonte, me lembrou a música de Roberto Carlos Além do Horizonte.

Jarina Barbosa É, não me atentei pra isso

Jarina Barbosa Kkkkk, ok

Jarina Barbosa Amei o poema

Jarina Barbosa Tenho que ir agora

Jarina Barbosa Foi ótimo, Alves

Andrade Francisco Alves de Andrade Certo. Valeu, pela companhia. Até a próxima.

Jarina Barbosa Até sábado

Andrade Francisco Alves de Andrade See you in the next saturday.
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sábado, 6 de maio de 2017

HÁ METAFÍSICA BASTANTE EM NÃO PENSAR EM NADA




(V poema do livro O Guardador de Rebanhos, de Fernando Pessoa pelo heterônimo Alberto Caeiro)

Vamos iniciar nossa reflexão de hoje pelo trecho “mas ela não tem cortinas”. Aqui ele completa a sequência de versos

“Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).”

E por que sua janela não tem cortinas? A resposta é simples. Caeiro é o poeta da natureza. Vive para admirar a natureza e só nela refletir. Se pusesse cortinas em suas janelas, como iria observar a natureza, como iria admirar os pores do sol, as árvores a chuva. Aí reside toda sua metafísica, ou antimetafísica, como querem alguns estudiosos, como Antônio Afonso Borregana e Bárbara Ferraz, ambos professores de português em Portugal.
Assim ele nega a existência daquilo que seus olhos, sentido primordial para Caeiro, não podem alcançar. Logo ele não acredita em Deus porque:

“Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!”

Agora se Deus for as árvores, a chuva e tudo o mais que seus olhos e seus outros sentidos possam alcançar, então a crença em Deus passará a fazer parte de sua pessoa. Porque sua simplicidade de guardador de rebanhos, mesmo nunca os tendo guardado (ver poema I) não permite que acredite no mistério. Não há mistério. O único mistério real é não haver mistério algum. Se alguém fechar os olhos deixará de ver o sol, e o sol vale mais do mil pensamentos. Então para que pensar? Aí reside toda a objetividade da poesia de Caeiro, reside toda sua simplicidade. Tudo na vida é simples. Quando pensamos no porquê ou no “sentido íntimos das coisas” estamos destruindo sua real beleza por que o grande mérito da existência das coisas é “elas não terem sentido íntimo nenhum”. O poeta após refletir sobre a existência/inexistência de Deus ele nos remete a uma visão panteísta do mundo. Logo, se Deus existe  ou Deus é tudo que está na natureza, eis então a desnecessidade das religiões, porque assim a vida do poeta

“é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos”

Aí está onde reside toda a poesia e toda a vida do poeta: ver, ouvir sentir através do tato ou do olfato toda a natureza, que representa a simplicidade a objetividade. Toda a metafísica do poeta resume-se em uma profissão de fé, que é a crença na existência de Deus porque ele se mostra a ele durante todos os momentos:

“E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora”.
(Professor Francisco Alves)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...