terça-feira, 17 de junho de 2008

VIVER PARA SER FELIZ

UMA ALUNA ME PERGUNTOU:

─ Professor, o que uma pessoa faz quando não quer mais viver?
Fitei-a. O semblante meio crispado e os lábios levissimamente trementes me davam à medida da resposta que ela não queria ouvir. Falei-lhe então:
─ Próximo daqui há uma mercearia que vende cordas. Dois metros talvez sejam suficientes para você armar um laço e colocar o pescoço...
A garota, corroborando com a minha expectativa, sussurrou para a colega ao lado:
─ Olha o que ele diz...
Continuei, fingindo não ouvir o comentário:
─ Caso você queira uma outra alternativa, o famoso raticida conhecido como chumbinho também é uma boa saída...
Enquanto falava, observava o rosto da menina e seu olhar de espanto. Continuei impassível , como se realmente estivesse falando de coração. Queria causar impacto, mobilizar sua alma para as palavras que diria em seguida, queria criar certo pavor daquelas idéias terríveis que a atormentavam, para reforçar nela o gosto pela vida, o amor à sua juventude...
─ Tudo nessa vida é uma questão de escolha. Viver é uma escolha, ser feliz também é outra escolha. Fernando Pessoa nos indaga:

“Se queres te matar, por que não queres te matar?”

O direito à vida assim como direito à morte deve ser uma questão de escolha. Olhe para você, veja sua tez, seus olhos lindos e pergunte a si se vale a pena calá-los pra sempre. Não existe motivo algum no mundo que justifique um jovem, uma jovem, um homem ou uma mulher colocar fim à sua trajetória sobre a terra. Mesmo que uma pessoa saiba que está no fim da existência, com uma doença incurável, com alguns dias de vida, mesmo assim ele deverá respirar com alegria até os últimos segundos que lhe restam. Porque nascer já é a mais gratificante vitória que uma pessoa já alcançou.
Não faz muito tempo eu conheci um rapaz que tinha AIDS. Chamava-se Wellington e era hemofílico. Uma semana antes de seu passamento eu o ouvi cantar a música de Gonzaguinha que é uma apologia à vida:

“Viver, e não ter a vergonha de ser feliz Cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendizeu sei que a vida devia ser bem melhor e serámas isso não impede que eu repitaé bonita, é bonita e é bonita.”

Na semana em que se hospitalizou, soube que sua grande preocupação foi cuidar daqueles que se encontravam no mesmo estado que o seu. Fiquei sabendo também que ele expirou lúcido, sorrindo, que de seus olhos não caíram uma única lágrima, que estava feliz, não por morrer, mas por ter vivido. Eu passei, a partir desse acontecimento, a encarar de forma mais positiva a existência, por isso passei a aproveitar melhor cada minuto de minha vida.
Lembrei para a jovem uns versos de Gregório de Matos, os quais haviam sido motivos de umas aulas anteriores:

“Goza, goza da flor da mocidade
Que o tempo troca a toda ligeireza
E imprime a toda flor sua pisada!

Ó, não aguardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza
Em terra, em pó, em cinza, em sombra, em nada!”

─ Portanto – disse-lhe – esqueça essa história de morrer. Por pior que seja o que lhe está acontecendo, e não interessa a mim sabê-lo, em breve será motivo de riso, pois o tempo tudo cura, tudo digere.




VÁ E SEJA FELIZ!

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