Trata-se de textos escritos a partir de experiências com pessoas, jovens e/ou adultas, para levar à reflexão sobre alguns aspectos da vida, como política, literatura, História, Felicidade. DEIXE UM COMENTÁRIO
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Aprendendo a Viver com Clau
No ritmo das cores
No bailar das floresNo florescer dos amores
No colorir dos sentimentos
A vida se transforma
Toma forma
Se transporta
Embriaga
Nos concede
O direito à liberdade
Alegrias
Felicidades
Nos ensina a viver
Sonhos ter
Viver a emoção
Agir com a razão
Pra vida sorrir
Amar
Com todas as forças
De todas as formas
Que o coração
Nos permitir
Claudete Silveira
maio/2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Momentos de Magia
MOMENTOS DE MAGIA
A porta se abriu
Você entrou
Olhei-te nos olhos
Você me olhou Um sorriso se fez
Um sonho Você aqui outra vez
Um abraço apertado
Sussurros de saudades
Beijos apaixonados
Trocamos ali
Caminhamos abraçadinhos
Carícias mil surgiam
Pelo caminho
Em meu quarto Você se calou
Meu corpo contornou
Vagarosamente me despiu
Pra si me atraiu
Centímetro a centímetro me beijou
Seu corpo ao meu entregou
E por horas lindas Fizemos amor.
(Clau, poetisa gaúcha) maio/2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
DISCURSO DE CRISTOVAM BUARQUE
INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA
http://madenobrasil.com.br/blog/wp-content/uploads/2008/10/amazonia.jpg |
Durante debate ocorrido no mês de Novembro/2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."
(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90.
http://www.portalbrasil.net/reportagem_amazonia.htm
domingo, 16 de maio de 2010
AMIZADE SEM MELOSIDADE
Amigo de Verdade
Você, que está cansado de todos aqueles textos melosos, com poemas chatos sobre amizade que,
na maioria das vezes, soam legais, mas nunca realmente chegam perto da realidade?
Seus problemas acabaram!
Aqui está um poema sobre amigos que realmente expressa a amizade verdadeira
- é a própria verdade!
Amigo,
Quando você estiver triste,
... Eu vou te deixar bebaço e te ajudar a planejar uma vingança
contra o fdp que te deixou assim.
Quando você me olhar com desespero,
... Eu vou enfiar o dedo na sua goela e te fazer pôr pra fora o
que estiver te engasgando.
Quando você sorrir,
... Eu vou saber que você finalmente deu uns "pega".
Quando você sentir medo,
... Eu vou te chamar de boiola e tirar uma da sua cara sempre que tiver chance.
Quando você estiver preocupado,
... Eu vou contar histórias horríveis sobre o quão pior você poderia estar
e te mandar parar de choramingar.
Quando você estiver confuso,
... Eu vou explicar pra você com palavras bem simples,
porque eu sei o quanto você é burro.
Quando você estiver doente,
... Fique bem longe de mim até se curar. Eu é que não quero pegar
o que quer que você tenha.
Quando você cair,
...Eu vou apontar pra você e me cagar de rir do seu desengonço.
Você me pergunta: "Por que?"
Porque você é meu amigo!
Tenha um ótimo dia!!!
sábado, 15 de maio de 2010
DESAMIZADE
Já vão longe os dias de caminhada
Em direção à praia ou ao boteco,
Ele sem talão, contando piada,
Riam os dois amigos, eu sem jaleco.
De calção e chinela japonesa,
Segunda ou domingo não importava,
Bom era vê-lo alegre, sem tristeza,
E assim a vida em gotas jorrava.
Tínhamos poucos anos é verdade,
Preocupação quase inexistia,
Éramos francos tínhamos bondade
N’alma, sendo assim, ninguém mentia.
Era normal entrarmos em conflito
Por mulher ou time de futebol,
Eram esses casos todos finitos
E olhando após ríamos o arrebol.
Lembro como se fosse hoje, um dia
Meu amigo disse: ─ eis a solução!”
Ensimesmado perguntei o que havia,
Exaltado disse: ─ é a revolução!
Vimos-nos depois na luta engajados:
Panfletagem, palanque, sindicatos,
Piquetes, greves, discurso inflamado,
Santinhos, reuniões, públicos atos.
Abandonamos o que era modesto:
Estádio, namoro e telenovela;
Crescemos barba e até mudamos gesto,
Lemos Marx, Engels e Nélson Mandela.
Enfim essa transformação foi completa,
A militância era o que prazer dava,
De ideologia a vida era repleta
Como condor que o mundo libertava.
Esses dias passaram de repente,
Eu casei, disso ele não escapou,
Sumimos tal qual estrela cadente,
Como relâmpago o tempo escoou.
Dia desses com ele me encontrei.
Mudado dirigia um belo carro.
Abri os braços, um grande abraço dei.
─ Enriquei – disse acendendo um cigarro.
Não entendi e encetei papo animado.
Ele fitando-me disse assim ─ Veja,
Esse carro, Quim, é da Itália importado.
Ingênuo chamei: ─ Vamos à cerveja!
Perguntou-me: ─ Que fazes tu da vida?
Respondi-lhe feliz: ─ Sou professor.
Rindo, afirmou: ─ É dura a tua lida.
Disse eu: ─ Luto contra o mundo opressor.
Nesse momento uma mulher surgiu
Tão bela, igual nunca tinha visto.
─ Pedro, o que esse homem lhe pediu?
apontando-me o dedo disse isto.
Ele saiu sem a mão acenar.
Eu, constrangido, tonto, ali fiquei
Enquanto em minha mente sem cessar
Ribombava: Quim, enriquei, enriquei.
Co olhos marejados, disse: ─ Que praga,
Filho da puta – falei cá comigo –
Ele hoje com grana me menoscaba
e jurei fosse meu melhor amigo.
(Professor Alves)
16/05/03
sexta-feira, 14 de maio de 2010
SONETO DO AMOR TRAÍDO
SONETO DO AMOR TRAÍDO
Quem ama não trai nunca.
Seu amor não 'tá só no que defronta
mas n'alma com que olha
- e o que vê sempre
É o seu próprio ser
multiplicado.
E não se trai a si.
Quando
(por curvas)
alguém larga um alguém por outro alguém,
isso já estava morto
e martelava
por hábito
por vício
por capricho
ou por receio de encarar o novo
que entanto acresce
enquanto o já provado
apenas nos repisa.
Se é traição
quem trai faz um favor:
derrete o nó.
E segue a natureza
porque aquilo
não era mais amor:
- era insistência.
(Pedro Lira, in Desafio)
sábado, 8 de maio de 2010
João Nogueira Jucá
JOÃO NOGUEIRA JUCÁ
MÁRTIR E HERÓI
(Por Professor Alves)
Neste mundo há gente de toda estirpe,
Sendo cada qual com seu cada qual,
Pois há gente que só pensa em si mesma,
Muitos outros para fazer o mal,
Gente insípida, incolor, inodora,
‘Inda sobram muitos que vivem a esmo.
Também gente de todo credo e cor,
De vária orientação sexual,
Gente capaz de toda ruindade,
De carne e osso, gente irreal,
Gente, parece, que nem alma tem
E gente capaz de muita bondade.
Mas é destes de que quero falar.
Poderia citar de todo o mundo,
De Madre tereza, Gand até Chê,
Capaz de desprendimento profundo;
Cristo, Lennon e Rodolfo Teófilo,
De Chico Xavier a quem me lê.
Mas o que me trouxe a essas teclas
Com quem luto, tentando tirar versos
É um fato havido aqui no Ceará,
Que deixou meus olhos submersos,
Um ato de surpreendente heroísmo,
Fica difícil até de contar.
Permitam-me, então, os deuses que eu tenha
Muito engenho e força para narrar,
E que tenha talento e lucidez
Para levar até o fim o meu cantar,
Para que do ocorrido nada esqueça,
Que use palavras de assaz nitidez.
Transcorria o dia quatro de agosto
Daquele nono ano dos cinquenta
Era Fortaleza ainda pacata,
(Atualmente está que ninguém aguenta)
Famílias viviam em harmonia,
E os mestres orgulhavam-se da bata.
Um jovem transitava calmamente,
Seu nome, João Nogueira Jucá,
Dirigia-se então à academia,
Quando uma explosão se fez escutar,
Na Casa de Saúde César Cals
O fogo tudo estava a devorar.
Enquanto muita gente se assustava
O rapaz, de apenas dezessete anos,
Muniu-se de seu espírito heroico
Adentrou o recinto sem pensar em danos
Com imensurável espírito altruísta,
Enfrentou o fogo de modo estoico.
Salvava vidas que não conhecia,
Como que guiado por mãos divinas,
Bem antes da chegada dos bombeiros,
Tirava do perigo muitas sinas,
Salvando quem acabava de nascer,
Dava vida por muitos no braseiro.
Entanto em determinado momento,
Pelo seu denodo foi convocado,
Para retirar tubos inflamáveis.
Com seu ser plenamente devotado,
Resolveu logo aceitar a missão
De retirar troços indesejáveis.
Quando de pronto todos olharam,
Deu por fim outra enorme explosão.
O fluido vazou de um dos grandes tubos
Atingiu-o o que gerou grande lesão,
Mas o fogo, ao invés de pará-lo,
Era tal qual do destemor adubo.
Continuava o nosso insigne herói
Agindo para salvar pacientes,
Mesmo com todo o corpo consumido
Por enormes chamas incontinêntis,
Só depois de muita vida salvar,
foi, então, que o herói quedou-se abatido.
As pessoas estavam estáticas,
Diante de grandioso heroísmo:
O valete de todo coração,
Denodado e com imenso altruísmo,
Sem pensar, em nenhum, minuto em si,
Doava a própria vida pelo irmão.
E assim, durante toda uma semana,
Depois do fato ter-se consumado,
Ficou João no leito do hospital,
Pelas enfermeiras ali tratado,
Queimando, sereno, calmo, tranquilo,
Seu nome já notícia de jornal.
Quando seus pais a ele perguntavam
─ João, meu filho, isso muito lhe dói?
Ele, rindo, aos genitores, dizia:
─ O fogo por dentro ainda corrói,
Mas a alma está realizada,
De novo, fosse preciso, faria.
A seu pai aquilo nada estranhava,
Porque, em Messejana, certa vez,
Numa cacimba morrera um ancião.
João com grande tristeza na tez
Dissera dessa maneira a seu pai:
─ Eu daria a vida por esse irmão.
Portanto foi com grande desespero,
Assolada por enorme tristeza,
Que no dia onze daquele mês,
Quedou-se insana toda a Fortaleza,
À morte inglória daquele estudante,
Mas feliz, Perante grande altivez.
O jovem João Nogueira Jucá
Foi então transladado ao solo profundo,
Seu corpo deixado no cemitério,
Fechou os olhos enfim para o mundo,
(Turvaram-se muitos outros com lágrimas)
Abrindo-os por fim para o mistério.
(16/08/07)
domingo, 2 de maio de 2010
FELICIDADE CLANDESTINA
Ela era gorda. baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com sua letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me subme tia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía asReinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era meu modo estranho de andar pelas ruas do Recife. Dessa vez nem cai: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes eu aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas, houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A se nhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
sábado, 1 de maio de 2010
SONETO DE DEVOÇÃO
SONETO DE DEVOÇÃO
(Ode ao mais querido)
O amor imenso que brota no peito
Tem a cor da vida, é da carne a cor!
O medo é negro, tem a cor da dor.
Rubro e negro o matiz de um povo eleito!
Amor e medo paradoxo perfeito
Quando o que explode grená é uma flor!
Mas como pode sem nenhum pudor
Os opostos casarem desse jeito?
Porque existe no mundo uma devoção
Que une pessoas também diferentes,
Faz ricos e pobres um hino entoar!
Mais que um time, és uma religião
Somos Raça, Somos Amor, e Paixão,
Oh meu, ò seu, ó nosso: MENGÃO!
Oh meu, ò seu, ó nosso: MENGÃO!
Professor Alves, setembro de 2003
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