Trata-se de textos escritos a partir de experiências com pessoas, jovens e/ou adultas, para levar à reflexão sobre alguns aspectos da vida, como política, literatura, História, Felicidade. DEIXE UM COMENTÁRIO
sábado, 15 de maio de 2010
DESAMIZADE
Já vão longe os dias de caminhada
Em direção à praia ou ao boteco,
Ele sem talão, contando piada,
Riam os dois amigos, eu sem jaleco.
De calção e chinela japonesa,
Segunda ou domingo não importava,
Bom era vê-lo alegre, sem tristeza,
E assim a vida em gotas jorrava.
Tínhamos poucos anos é verdade,
Preocupação quase inexistia,
Éramos francos tínhamos bondade
N’alma, sendo assim, ninguém mentia.
Era normal entrarmos em conflito
Por mulher ou time de futebol,
Eram esses casos todos finitos
E olhando após ríamos o arrebol.
Lembro como se fosse hoje, um dia
Meu amigo disse: ─ eis a solução!”
Ensimesmado perguntei o que havia,
Exaltado disse: ─ é a revolução!
Vimos-nos depois na luta engajados:
Panfletagem, palanque, sindicatos,
Piquetes, greves, discurso inflamado,
Santinhos, reuniões, públicos atos.
Abandonamos o que era modesto:
Estádio, namoro e telenovela;
Crescemos barba e até mudamos gesto,
Lemos Marx, Engels e Nélson Mandela.
Enfim essa transformação foi completa,
A militância era o que prazer dava,
De ideologia a vida era repleta
Como condor que o mundo libertava.
Esses dias passaram de repente,
Eu casei, disso ele não escapou,
Sumimos tal qual estrela cadente,
Como relâmpago o tempo escoou.
Dia desses com ele me encontrei.
Mudado dirigia um belo carro.
Abri os braços, um grande abraço dei.
─ Enriquei – disse acendendo um cigarro.
Não entendi e encetei papo animado.
Ele fitando-me disse assim ─ Veja,
Esse carro, Quim, é da Itália importado.
Ingênuo chamei: ─ Vamos à cerveja!
Perguntou-me: ─ Que fazes tu da vida?
Respondi-lhe feliz: ─ Sou professor.
Rindo, afirmou: ─ É dura a tua lida.
Disse eu: ─ Luto contra o mundo opressor.
Nesse momento uma mulher surgiu
Tão bela, igual nunca tinha visto.
─ Pedro, o que esse homem lhe pediu?
apontando-me o dedo disse isto.
Ele saiu sem a mão acenar.
Eu, constrangido, tonto, ali fiquei
Enquanto em minha mente sem cessar
Ribombava: Quim, enriquei, enriquei.
Co olhos marejados, disse: ─ Que praga,
Filho da puta – falei cá comigo –
Ele hoje com grana me menoscaba
e jurei fosse meu melhor amigo.
(Professor Alves)
16/05/03
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
VII - Da Minha Aldeia Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como o...
-
NAÇÃO DOS BIRITEIROS, 01/08/2012 Pode ser que muitos dos meus compatriotas ainda desconheçam que não é somente no futebol, na violên...
-
Atividade do grupo Caminhos da Leitura, realizado em sábado, dia 22 de abril de 2017 Esta Tarde a Trovoada Caiu Esta tarde a trovoada ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário