Mais
uma vez, estivemos na cidade de Independência durante os festejos da padroeira,
Nossa Senhora Santana. Mais uma vez queria agradecer a receptividade daqueles
que nasceram na simpática Porronca para com este, que só teve o prazer de adotar
essa calorosa cidade, no sentido de afetuosa, como sua terra natal.
Mais
uma vez estivemos percorrendo as ruas da cidade e visitando os amigos aí
feitos, assim como percorrendo os bares aí existentes. Mais uma vez visitamos o
parque de diversões, que só se arma durante esses festejos, com seus brinquedos
que nunca suprem os anseios infantis; nem saturam os olhos enamorados, ou os
olhos de quem busca um companheiro. Não estou mais nessa idade. Minha ida ao
parque tem o intuito de futurar algum nas muitas mesas de dado, brincadeira que
já realizo há alguns anos.
Mais
uma vez fizemos da Seresta nosso refúgio noturno. Como sempre fugimos das
festas dos clubes, momento em que as mulheres vão exibir seus “looks”, enquanto
os homens as carteiras, pagando a dose de uísque a vinte ou trinta reais. Mas
infelizmente, neste ano, tivemos uma surpresa desagradável. Os cantores, responsáveis
por alegrar as noites durante a realização das serestas, não eram os mesmos, e
quando o eram, suas escolhas musicais foram muito infelizes. Tratava-se de
músicas de duplo sentido deplorável, ou mesmo sem esse recurso, letras que vão direto ao ponto, para chegar a lugar
nenhum. Triste ouvir no adro de uma igreja, com a aquiescência do pároco, durante
os festejos religiosos, uma música cuja letra afirma que o amante (eu-lírico,
ou melhor eu-ridículo) vai transformar a amante (casada) em laranja e chupá-la
todinha. Sei que alguém (se é que alguém vai ler esse texto) vai dizer, “mas
poeta, é assim mesmo, as coisas mudam”. Eu rio previamente e respondo que não. A
educação, que transforma pessoas ignorantes em ouvidos sensíveis, não muda. O
problema é a falta dessa educação engrandecedora. Por isso cito, pela milésima
vez só esse ano, que a falta da boa Literatura e da boa música,
consequentemente, mutila nossa humanidade. E mais, me envergonhei ao comparecer
à Seresta, em 2017, ambiente único em
que nos anos anteriores me sentia bem à noite. Lembro-me das canções que até
pouco tempo ouvíamos. Eram composições telúricas ou romanticamente sadias,
longe desses gemidos libidinosos, que hoje alguns teimam em chamar música.
Mas
queria fazer uma ressalva. Na última noite, tivemos a grata surpresa de termos
no palco Sílvio Holanda. Que presente! Pudemos ouvir, depois de sete noites, um
profissional realmente comprometido com seu público, para realizar o que ele
mesmo denominou “seresta autêntica”. Antes, dedicou seu xou (“Sílvio Holanda é
xou”) a dois amigos desencarnados recentemente. Pagou os dissabores dos dias
anteriores, mas não desfez a má impressão que ficou das noites que antecederam.
Vou pensar, com certeza, duas vezes antes de ir a Independência em 2018.
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