(Para mim, no dia do meu
aniversário)
Hoje, 09 de outubro. Enquanto o café
esfria, burilo no teclado para ver se saem uns versos, um parágrafo, quem dera
apenas uma frase, uma frase de efeito que ficasse guardada nem que fosse
somente na minha memória. É que hoje faço 47 anos. Já passei e muito da curva
de Dante. Para minha sorte não acordei no inferno, mas estou deveras longe do
purgatório e a possibilidade do paraíso me é impossível ver com os óculos, quem
dirá a olhos nus.
Quando se é criança, nutem-se ilusões
que se mantêm acesas na adolescência e que aos poucos se vão apagando até que
não passam de uma luz tênue no final de um caminho o qual não sabemos definir.
É mais ou menos nesse meio do túnel que me encontro. A luz me é tão parca que
miro, retiro e torno a colocar os óculos do pensamento para ver seu vulto. É
quando sabemos, percebemos que tudo é passageiro, efêmero. Até o trocador e o motorista
do trocadilho. Pelo menos as carnes, as matérias, matérias brutas. É quando
começamos a ver nos cabelos brancos, na protuberância abdominal, no cansaço
involuntário dos pulmões e das batidas cardíacas que a partir desse ponto
não nos resta muito fôlego, como diria
Rachel de Queiroz, estamos no meio do oceano e só o que resta é água funda
comedeira, água amarga ao qual dia menos dia teremos que sucumbir...
Lembrei-me agora de uma frase de
Gandhi, quando indagado pela esposa a respeito dos resultados da campanha de
libertação indiana do julgo inglês, que estava a todo vapor, ele apenas se
limitou a dizer: “que libertação, se eu não consegui nem me libertar, como vou libertar
milhões." Ela surpresa, exclamou: Mas como! "ainda não me libertei da
escravidão de mim mesmo!” Fica então essa frase, já que não consegui
produzir nada de mim, fica essa frase para reflexão. É preciso, antes de pensar
em libertar o mundo, os semelhantes, libertarmos a nós mesmos para que tenhamos
então força e sabedoria para lançarmos a voz ao espaço, aos mil alto-falantes palavras
que realmente tenham sentido.
P.S.
Só para lembrar, Gandhi se libertou de sua escravidão e só depois pôde libertar
a Índia do julgo britânico.
(Professor
Alves)