quinta-feira, 27 de julho de 2017

FESTEJOS DE INDEPENDÊNCIA, 2017




                Mais uma vez, estivemos na cidade de Independência durante os festejos da padroeira, Nossa Senhora Santana. Mais uma vez queria agradecer a receptividade daqueles que nasceram na simpática Porronca para com este, que só teve o prazer de adotar essa calorosa cidade, no sentido de afetuosa, como sua terra natal.
                Mais uma vez estivemos percorrendo as ruas da cidade e visitando os amigos aí feitos, assim como percorrendo os bares aí existentes. Mais uma vez visitamos o parque de diversões, que só se arma durante esses festejos, com seus brinquedos que nunca suprem os anseios infantis; nem saturam os olhos enamorados, ou os olhos de quem busca um companheiro. Não estou mais nessa idade. Minha ida ao parque tem o intuito de futurar algum nas muitas mesas de dado, brincadeira que já realizo há alguns anos.
                Mais uma vez fizemos da Seresta nosso refúgio noturno. Como sempre fugimos das festas dos clubes, momento em que as mulheres vão exibir seus “looks”, enquanto os homens as carteiras, pagando a dose de uísque a vinte ou trinta reais. Mas infelizmente, neste ano, tivemos uma surpresa desagradável. Os cantores, responsáveis por alegrar as noites durante a realização das serestas, não eram os mesmos, e quando o eram, suas escolhas musicais foram muito infelizes. Tratava-se de músicas de duplo sentido deplorável, ou mesmo sem esse recurso, letras que  vão direto ao ponto, para chegar a lugar nenhum. Triste ouvir no adro de uma igreja, com a aquiescência do pároco, durante os festejos religiosos, uma música cuja letra afirma que o amante (eu-lírico, ou melhor eu-ridículo) vai transformar a amante (casada) em laranja e chupá-la todinha. Sei que alguém (se é que alguém vai ler esse texto) vai dizer, “mas poeta, é assim mesmo, as coisas mudam”. Eu rio previamente e respondo que não. A educação, que transforma pessoas ignorantes em ouvidos sensíveis, não muda. O problema é a falta dessa educação engrandecedora. Por isso cito, pela milésima vez só esse ano, que a falta da boa Literatura e da boa música, consequentemente, mutila nossa humanidade. E mais, me envergonhei ao comparecer à Seresta,  em 2017, ambiente único em que nos anos anteriores me sentia bem à noite. Lembro-me das canções que até pouco tempo ouvíamos. Eram composições telúricas ou romanticamente sadias, longe desses gemidos libidinosos, que hoje alguns teimam em chamar música.
                Mas queria fazer uma ressalva. Na última noite, tivemos a grata surpresa de termos no palco Sílvio Holanda. Que presente! Pudemos ouvir, depois de sete noites, um profissional realmente comprometido com seu público, para realizar o que ele mesmo denominou “seresta autêntica”. Antes, dedicou seu xou (“Sílvio Holanda é xou”) a dois amigos desencarnados recentemente. Pagou os dissabores dos dias anteriores, mas não desfez a má impressão que ficou das noites que antecederam. Vou pensar, com certeza, duas vezes antes de ir a Independência  em 2018.

domingo, 25 de junho de 2017

INFÂNCIA





Hoje me encontrei em sono
Com o armário dos meus sonhos de infância!
Quem nunca os teve não foi criança.

O meu era azul, da cor do céu
E lá ficavam,
Entre pratos de ágata, copos de alumínio,
Meus brinquedos que nunca tive
A Caloi que meu pai nunca esqueceu
O ferrorama, e seu primo o autorama,
Do Fittipaldi, com suas curvas incríveis
O incrível Falcon, herói de verdade,
E o inesquecível Atari, pai de todos os games,
Forte Apache, o boneco Topo Gigio,
Além das bolas de couro, da seleção!

Em outros compartimentos
Junto das panelas amassadas,
Caçarolas enferrujadas,
Tampas já sem cabo,
Os brinquedos inesquecíveis que tive:
Meu pião, cheio de quiladas,
Minhas bilas cascabulhas,
Meu carrinho de lata de sardinha,
Com a rodinha de chinela havaiana.

Aqueles ficaram no sonho,
Estes eram minha realidade de brincar
E de sonhar...
E como eu os amava...

Mas um dia veio a madureza
E com ela novos sonhos
Que guardo ainda nesse armário azul,
Todos juntinhos, sem distinção
O armário de que lhes falo
É o imenso comboio de cordas
Que se chama coração!
(Professor Alves, meio melancólico)

terça-feira, 30 de maio de 2017

COMENTÁRIOS SOBRE O POEMA NUM MEIO-DIA DE FIM DE PRIMAVERA





           Esse é, com certeza, o poema mais belo dessa obra de Caeiro. Representa bem seu gosto pelas coisas simples, encontradas sempre na natureza. Assim como sua aversão à Igreja católica, mas seu grande apreço a Deus. Não deus da igreja, mas o Deus humilde e verdadeiro. Seguem alguns comentários.
          Este poema pode ser considerado por alguns como um sacrilégio, uma afronta à crença em Deus e sua enorme criação. Mas, como já comentamos em análises dem outros poemas de Caeiro, o que temos é uma crítica ao Deus criado pela igreja católica, como sendo um Deus "estúpido", justiceiro implacável. Assim sendo, o Menino Jesus, hora menino, ora crucificado (homem), aborrecido dess injúria para com Deus e ciente da sua necessidade na terra, desce e cá vem acompanhar o poeta, sendo unicamente sua inspiração, a poesia, a essência do poeta.


         Assim, ele  "desceu pelo primeiro raio que apanhou". Aqui podemos entender que há intertextualidade com O Pequeno Príncipe, de Exupery: "Creio que ele aproveitou, para evadir-se, pássaros selvagens que emigravam." Assim como o principezinho, Jesus pôs-se em fuga e trouxe para a terra a poesia magistral descrita por Exupery e por Pessoa. Podem dizer que viajo, mas toda leitura é uma viagem, não apenas pelo texto lido, mas uma reflexão eterna daquilo que já se leu. Graças que tenho lido muito, e posso fazer essas "viagens".
           Na sequência, o poeta nos revela por esse menino não pode deixar de ser o Menino Jesus. É uma criança normal, o menino Jesus, porque todas as crianças são menino Jesus. Daí a quase necessidade de ele não envelhecer. Exupery também não queria envelhecer, por isso se reinventa no Pequeno Príncipe, toda a poesia e todo anseio de sua existência, que é não querer ser homem grande reside nessa criação. Não se deve querer ser grande. e o principezinho (que é a poesia que habita o âmago de Exupery) insta a todo instante que ser grande não tem valor, pis o ser grande abandona tudo o que realmente tem valor que são as coisas simples, como o seu amor pela flor e a busca incessante de se fazer amigos e com eles se preocupar. Por isso, a dedicatória à criança que já foi um dia seu amigo Léon Werth. Vemos aí quase a voz de Caeiro, e seu apelo para que O Menino Jesus esteja sempre com ele, que possa com ele brincar e um dia, na sua velhice, cuide dele. Possa afagar-lhe os cabelos e o pôr para dormir.
           Por ser criança e divina, é também humana a alma de poeta, pois Cristo é poesia, é sensibilidade. Para resumir: simplicidade. Logo só as pessoas simples têm a jesus, porque veem a perfeição nas coisas simples, na natureza, como nas pedras do caminho, nas poças d'água e nas flores, da primavera. A vida de poeta é essas divina criança que habita o seu ser:

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Vejamos como é divina a alma de poeta. É ela que nos acorda a noite e brinca com nossos sonhos, transformando-os em poesia, transformando-os em realidade boa, nos mostrando aquilo que não vemos quando som os nós.E aqui me lembro de Chico Buarque que nos ensina que "os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão". 
            é isso, podemos encerrar nossa reflexão de hoje com essas quatro referência: o guardador de rebanhos, Exupery, O Príncipe e o Menino Jesus, e o poeta!
(6/5/17)
 

sábado, 20 de maio de 2017

ANÁLISE DO POEMA DA “MINHA ALDEIA”




VII - Da Minha Aldeia
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
(Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanho)

Andrade Francisco Alves de Andrade Mantendo a mesma tônica do poema V "HÁ METAFÍSICA BASTANTE EM NÃO PENSAR EM NADA" , o poeta privilegia a visão, quando diz que "eu sou do tamamaho do que vejo".
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Jarina Barbosa Este foi exatamente o verso que mais me chamou atenção porque particularmente, acredito muito nisso

Jarina Barbosa O problema, a dor, a alegria, enfim, tudo é do tamanho do que vemos

Andrade Francisco Alves de Andrade E ele ainda reforça "na cidade a vida é mais pequena".

Jarina Barbosa E eu acho muito legal, porque isso é uma coisa que você decide: o tamanho das coisas que nos cercam

Andrade Francisco Alves de Andrade Verdade. Somos nós que damos a dimensão que as coisa tem.

Jarina Barbosa É pequena porque, no caso "na cidade as grandes casas fecham a vista à chave"

Andrade Francisco Alves de Andrade Logo, os olhos não têm grande alcance.

Jarina Barbosa Questão da liberdade que nós não temos na cidade


Andrade Francisco Alves de Andrade E esse verso "E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."

Jarina Barbosa É uma visão bem simples, não é?

Andrade Francisco Alves de Andrade Reforça a ideia de que não ver é mutilar-se.


Jarina Barbosa Mas em total conformidade com o poema porque as coisas simples podem nos dar felicidade

Jarina Barbosa Sim, nos tiram os nossos olhos

Jarina Barbosa Cegueira, sem visão, apequenar-se

Andrade Francisco Alves de Andrade É um movimento de fora para dentro. Uma vez que o horizonte nos permite ver a beleza da natureza e amplia nossa visão, nosso ser se engrandece.

Andrade Francisco Alves de Andrade E ele inicia aqui um tema que (acho) será tratado mais à frente. Esse tema é o da valorização do que temos. Ele dirá "O Tejo não é maior que o rio que corre mela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia"

Andrade Francisco Alves de Andrade Aqui, ele já antecipa esse tema telúrico, bucólico e engrandecedor daquilo que lhe pertence ao afirmar que "Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer"

Jarina Barbosa É muito rico a temática abordada, transcende a questão do amor à natuteza, vida simples

Jarina Barbosa É uma mensagem pra nossa vida, do que temos

Jarina Barbosa Coisa que quase sempre desvalorizamos

Jarina Barbosa Olhar o que temos, geralmente damos mais importância ao que não temos


Jarina Barbosa Somos viciados a valorizar o que não temos

Andrade Francisco Alves de Andrade Daí tanta gente querendo conhecer os EUA e nunca foram a Juazeiro ou a Ubajara.

Jarina Barbosa Sim, sim. Em todos os sentidos.

Andrade Francisco Alves de Andrade Esse é o grande papel da Literatura. A partir de uma abordagem simples, elevar nossos pensamentos, nossas ansiedades e nos mostrar quão bela é a vida de quando podemos refletir.

Jarina Barbosa E segundo a metafísica, as coisas só vêm para quem tem

Jarina Barbosa Se você sempre acha que não tem nada, o que virá é nada

Andrade Francisco Alves de Andrade É por isso que Antônio Cândido afirmou: "Negar a fruição da Literatura, é mutilar a humanidade".

Jarina Barbosa Como no poema, se você valoriza o que tem, o simples, as coisas vão acontecendo

Jarina Barbosa É, a literatura é a manifestação da vida

Andrade Francisco Alves de Andrade E o movimento de fora para dentro engrandecerá o ser.

Jarina Barbosa Isso é ricamente trabalhado nesse poema

Andrade Francisco Alves de Andrade Com relação ao aspecto formal, vemos uma característica da escrita de Alberto Caeiro, que é a falta de conhecimento gramatical.

Andrade Francisco Alves de Andrade Ele diz "na cidade a vida é mais pequena".

Jarina Barbosa O Alberto Caeiro, se ptestarmos atenção, trabalha muito essa questão da metafísica, do simples, esse movimento de dentro pra fora


Andrade Francisco Alves de Andrade E é ele mesmo que explica há metafísisca em não pensar.

Jarina Barbosa Kkkkkk, bom

Andrade Francisco Alves de Andrade Não precisamos passar o dia refletindo uma solução para a humanidade. A solução se encontra em nós, nas coisas simples que nos redeiam.

Andrade Francisco Alves de Andrade No nosso respeito pela natureza.

Jarina Barbosa Isso é muito bonito. Tudo está em nós

Jarina Barbosa As coisas estão aí acontecendo mas quem dá o tom somos nós


Andrade Francisco Alves de Andrade E com relação ao aspecto literário, temos a manutenção do bucolismo, da tendência árcade.

Jarina Barbosa Sempre a tendência arcade

Jarina Barbosa A integração com a natureza

Andrade Francisco Alves de Andrade E o panteísmo. Relação entre Deus e os elementos que estão na natureza. mesmo sem citar, percebemos a bondade de Deus quando ele se põe a mirar o horizonte e tornar-se grande.

Andrade Francisco Alves de Andrade Essa questão de Horizonte, me lembrou a música de Roberto Carlos Além do Horizonte.

Jarina Barbosa É, não me atentei pra isso

Jarina Barbosa Kkkkk, ok

Jarina Barbosa Amei o poema

Jarina Barbosa Tenho que ir agora

Jarina Barbosa Foi ótimo, Alves

Andrade Francisco Alves de Andrade Certo. Valeu, pela companhia. Até a próxima.

Jarina Barbosa Até sábado

Andrade Francisco Alves de Andrade See you in the next saturday.
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