quarta-feira, 11 de setembro de 2013

BEBIDAS E DÚVIDAS

                 Todos temos motivos pra beber, cerveja, wodka, rum, conhaque e outros tipos de bebidas alcoólicas.
                Mas que motivos mais nos levam a ir ao primeiro gole? Geralmente os momentos alegres, comemorativos, conquistas, tristezas e até mesmo para passar o tempo, ocupar o vazio pessoal.
                 E eu? qual  ou quais são os meus motivos? Ou já não preciso mais de motivos? O ato já faz parte da minha rotina. O que imagino quando pego o copo para tomar umas cervejas? Tenho apenas o impulso e não crio questionamentos se estou certo ou errado; se vai me fazer bem ou vai trazer consequências  que sequer imagino; se ficarei alegre, se irei me tornar uma pessoa mais amável, carinhosa e responsável?  Me acende uma pequena luz de alerta?  E eu, o que faço?  deixo pra lá o aviso, prossigo no me lazer? Beber mais um copo, esquecendo de tudo quanto é importante, trabalho, amigo, casa família...? Ah, família! Eles entendem, afinal estou em casa todos os dias! Sou eu quem trabalha, ganha o sustento. Eu mereço o meu lazer.
                Às vezes tenho dúvidas de com o chego em casa? Lembro de como cheguei? Com  quem falei e como falei? Fui gentil, amável ou tratei-os de forma ríspida? Afinal, como cheguei? O meu comportamento é o mesmo de quando saí? continuo calmo, amoroso, aquele companheiro que todos desejam? A família ficou alegre com a minha chegada e da forma como cheguei?
                É, parece que tenho muitas dúvidas, perguntas a responder honestamente a respeito dos benefícios de umas “cervejinhas”! Um dia quem sabe eu descubro a respeito destes questionamentos... Um dia... mas que esse dia chegue antes que o “fundo do poço” chegue até a mim. Um dia...quando a luz da consciência brilhar mais forte.

(Seu João, irmão que conduz a leitura do Evangelho às quartas e quintas-feiras, Gepe Piedade)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

ATÉ ISSO PASSARÁ

            

Hoje a piscina estava vazia. Não que estivesse sem água. Pelo contrário, a água transbordava ao sopro do vento matinal. Não que não houvesse pessoas. Muito pelo contrário, estava repleta de cabeças, troncos e membros. Havia, entretanto, um silêncio, que a tornava vazia, com um  zumzumzum  baixinho, silente. Vez por outra,  ouvia-se um riso, porém tênue, como se houvesse um acordo para que se mantivesse apenas o som do silêncio.
            Não, não fiquem consternados. Ninguém morreu, ninguém com enfermidade grave. Mas é sempre assim quando seu Joaquim não aparece por aqui. Ninguém sabe por quê, de repente ele não compareceu. Possivelmente algum compromisso fortuito, desses que chegam sem aviso e nos tiram dos compromissos rotineiros. Daí o motivo daquela quase entorpecimento na aula de hidroginástica. Do meu canto vislumbrei alguns olhares indecisos, arapongas na direção do portão. O professor quebrou o silêncio, quase sem querer, indagando pelo cliente faltoso. As amigas ficaram órfãs por hoje. Não estavam tristes, apenas não estavam à vontade, como que sentindo que a manhã estaria incompleta, com a ausência do amigo.
            Mas sabemos que daqui a dois dias, logo cedo, Seu Joaquim adentrará o portão, já sorridente, indagador, cumprimentador. E logo a água da piscina sorrirá ao embalo do vento mais solto. O professor Metusalem, com seus trocadilhos à vovó, indagará sobre os netos, sobre a obra, sobre a garrafada alemã, pseudo motivo de toda aquela virilidade. Com respostas rápidas e sem papas, Seu Joaquim irá respondendo e acrescentando tantas outras pilhérias, levando muitos à descontração. Outros clientes, um pouco ingratos, torcerão a face a esse mundo de brincadeiras, tecendo comentários, mas, no fundo, rindo  de todo aquele bom humor. E as amigas perdoarão a ausência passada e voltarão a sorrir, com a plenitude daquela manhã.
            Entretanto haverá uma manhã em que a piscina estará vazia. Não por falta d’água, não porque não tenha gente. Mas porque tudo nessa vida é efêmero, tudo é passageiro, inclusive o trocador e o motorista. E toda essa alegria também um dia passará e ficará apenas na lembrança daqueles que convivem com seu Joaquim.
(Agosto de 2013)

            

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SEJAMOS FELIZES

“SE FICARMOS OLHANDO PARA O QUE AS OUTRAS PESSOAS PENSAM OU DIZEM, JAMAIS FAREMOS ALGO QUE SATISFAÇA O NOSSO CORAÇÃO.”


          Na verdade, não há nada que façamos ou que digamos que satisfaça a todos. É necessário, urge que aprendamos a viver de acordo com algumas leis:

1ª  Somos o que somos, e se o que somos não atrapalhar a vida dos outros, não prejudicar ninguém, então estamos certos como somos. Porque nossa identidade, assim como a nossa liberdade, termina onde começa a identidade e a liberdade do outro.

2ª Devemos aprender a SER, para termos consciência de que aquilo que fazemos ou dizemos é bom para nós e para o meio no qual estamos inseridos. É impossível, portanto, sermos felizes isoladamente. Queiramos ou não nós precisamos do outro para nos sentirmos inteiros. Caso contrário seremos apenas um lado de uma moeda.

3ª As pessoas não nos aceitam como somos apenas porque somos, ou porque queremos, mas porque convencemos a elas de que o que somos é bom tanto para nós como para elas, para o coletivo. A aceitação de poucos requer a aquiescência de muitos.

4ª Não há nada mais cruel e desumano do que você se impor a alguém pela força, na marra. É preciso que nos imponhamos pela gentileza dos nossos atos e das nossas palavras, que necessariamente devem ser úteis, pois atos e palavras vãs vão-se com o primeiro vento.

5ª Aceitar as pessoas como elas são é um bom caminho para a nossa própria aceitação. Admirá-las e mesmo tolerá-las representa para o mundo o que somos, como vivemos e indica a procedência de nossas idéias e atitudes.

          Portanto, para sermos felizes, é necessário que sejamos nós mesmos, para que as pessoas nos respeitem e nos admirem e, principalmente, aprendam conosco, porque não há realização maior do que o ato de ensinar. Cristo morreu por toda a humanidade, mas os seus ensinamentos jamais morrerão, Por isso sua obra maior foram os ensinamentos, por isso ele se imortalizou. Sejamos o que somos, acreditemos em nossas próprias opiniões, em nossas potencialidades em nossos sonhos. Lembremos as palavras de Renato Russo: “Se queres alguém em quem confiar, confia em ti mesmo”.




SEJAMOS FELIZES

terça-feira, 16 de julho de 2013

O HOMEM QUE SEMEAVA AMIGOS E OUTRAS CRÔNICAS


Publicação do livro "O Homem que Semeava Amigos e Outras Crônicas", de minha autoria, Professor Alves.
Quem quiser adquirir a obra, pode fazê-lo através do depósito/transferência para Francisco Alves de Andrade, Bradesco, Ag 0741 ; CC 17893, Valor R$ 22,00. Em seguida enviar endereço para minha caixa de mensagem e boa leitura.

APRESENTAÇÃO
              
               Quando se é o caçula de uma grande família, não se tem muito o que fazer a não ser observar os adultos em seus inquietantes conflitos. Foi assim que aprendi a olhar o mundo, sentir, ouvir e falar pouco. Desta forma foram nascendo, crescendo e morrendo na mente textos. Alguns eu os escrevia, para depois descartá-los. Com o advento da “internet” e consequentemente dos “blogs”, pude compilá-los e divulgá-los. Surgiu assim o desejo de publicar este livro de crônicas.
               O leitor irá notar que se trata de textos diversos, narrativos ou dissertativos; memoriais ou contemporâneos; uns emotivos outros nem tanto. Mas todos vieram do íntimo deste ser que sou eu. Nada foi escrito por acaso. Tudo é catarse, exposição daquilo que muitas vezes não se diz com palavras. Sei que algumas frases parecerão ininteligíveis. É que a linguagem do inconsciente às vezes se obnubila para não revelar sentimentos inclaros. Confesso que alguns deles me trazem lágrimas todas às vezes que os leio, e não são poucas essas vezes.
               Foram escritos numa linguagem simples, direta. Com frases curtas, aprendidas com o Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis, mestre de todos os que se impelem nesta dura lida de escrever. Alguns textos são breves outros muito breves. É que não sei inventar. Quando o prato está pronto está pronto, não adiantar pôr mais tempero. É que o soneto só pode ter quatorze versos, e não adianta tentar emendá-lo. Assim ficou um livrinho com poucas páginas. Dos males o menor, pois livro grosso afasta  leitores incipientes.

               Desejo a todos uma boa leitura, mas peço complacência com este amigo que inventou de ser escritor e poeta.  

segunda-feira, 1 de julho de 2013

VAMOS MUDAR DE ASSUNTO












vamos mudar de assunto

VAMOS MUDAR DE ASUNTO
PARA NÃO CONTER A EUFORIA
PRA NÃO LEMBRARMOS O OUTRO
PARA NÃO ESQUECERMOS DE NÓS

VAMOS FALAR DE FLORES
PARA NÃO DIZEREM
PARA NÃO CLAMAREM
PARA NÃO  SUFOCAREM

VAMOS FALAR DE AMORES
PARA NÃO MORRERMOS SEM
PARA NÃO SENTIRMOS DORES
PARA  NÃO VIVERMOS COM

VAMOS FALAR DA INFÂNCIA
PARA NÃO CRESCERMOS LOGO
PARA NÃO VIVERMOS MUITO
PARA NÃO SERMOS PEQUENOS

VAMOS FALAR DE CRISTO
PARA NÃO SERMOS LÓGICOS
PARA NÃO VIVERMOS SALVOS
PARA NÃO SENTIRMOS MEDO

VAMOS FALAR DE VERÃO
VAMOS FALAR DA CHUVA
VAMOS FALAR DE TI
VAMOS ESQUECER DE NÓS

VAMOS MUDAR DE ASSUNTO!


(Professor Alves, um dia após a vitória da seleção)

terça-feira, 7 de maio de 2013

ESGARÇAMENTO DA POLÍTICA, FREI BETO





Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Esgarçar: afastarem-se, soltarem-se os fios de um tecido(Caldas Aulete).
Quem é direita e esquerda hoje no Brasil? Eis um dilema shakespeariano. A direita, representada pelo DEM, se acerca do PMDB e, na palavra do senador Agripino Maia, propõe "oposição branda” ao governo Dilma Rousseff, que se considera de esquerda.
O PPS do deputado Roberto Freire, versão ao avesso do Partido Comunista, apoia as forças mais retrógradas da República. O PDS de Kassab e o PMDB de Sarney ficam em cima do muro, atentos para o lado em que sopram os ventos do poder.
Como considerar de esquerda quem elege Renan Calheiros presidente do Senado, e Henrique Alves, da Câmara dos Deputados. Você, caro(a) leitor(a), qualifica como de esquerda quem se apoia em Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e Sarney?
Desde muito jovem aprendi que a esquerda se rege por princípios e, a direita, por interesses. E hoje, quem coloca os princípios acima dos interesses? Como você, que é de esquerda, se sente quando se depara com comunistas apoiando o texto do Código Florestal que tanto agrada a senadora Kátia Abreu?
A esquerda entrou em crise desde que Kruschov, líder supremo da União Soviética, denunciou os crimes de Stalin, em 1956. Naquela noite de fevereiro, vários dirigentes comunistas, profundamente decepcionados, puseram fim à própria vida.
Depois que Gorbachev entregou o socialismo na bandeja à Casa Branca, e a China adotou o capitalismo de Estado, a confusão só piorou.
Muitos ex-esquerdistas proclamam que superaram o maniqueísmo esquerda x direita, inadequado a esse mundo globalizado. Mera retórica para justificar o aburguesamentos de quem, em nome da esquerda, alcançou um estilo de vida à imagem e semelhança dos poderosos da direita: muita mordomia e horror, como confessou o general Figueiredo, ao "cheiro de povo” (exceto na hora de angariar votos).
Ser de esquerda, hoje, é defender os direitos dos mais pobres, condenar a prevalência do capital sobre os direitos humanos, advogar uma sociedade onde haja, estruturalmente, partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano.O fato de alguém se dizer marxista não faz dele uma pessoa de esquerda, assim como o fato de ter fé e frequentar a igreja não faz de nenhum fiel um discípulo de Jesus. A teoria se conhece pela práxis, diz o marxismo. A árvore, pelos frutos, diz o Evangelho.
Se a prática é o critério da verdade, é muito fácil não confundir um militante de esquerda com um oportunista demagogo: basta conferir como se dá a relação dele com os movimentos populares, o apoio ao MST, a solidariedade à Revolução Cubana e à Revolução Bolivariana, a defesa de bandeiras progressistas, como a preservação ambiental, a união civil de homossexuais, o combate ao sionismo e a toda forma de discriminação.
Quem é de esquerda não vende a alma ao mercado.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

CIDADANIA





















Que palavra é essa
sem efeito
que efeito é esse sem causa
que causa é essa
que não se entende.

Existe um homem pobre
existe um filho sumido
existe um filho vivo
existe só descaso.

Que nome é esse
sem sentido
sentido sem razão
razão sem História
História com eco.

Eco de tristeza
eco de medo
eco de fome
eco sem nome.

(Professor Alves)

quinta-feira, 7 de março de 2013

DIA INTERNACIONAL DA LUTA DA MULHER


          Amanhã, oito de março, é comemorado o dia internacional da LUTA da mulher. Sempre friso a palavra luta por achá-la extremamente útil a esse contexto. Há um monte de dondoquinhas por aí gemendo que querem ganhar chocolate, flores, presentinhos. Esquecendo que mulheres viraram churrasco, foram violentamente queimadas por lutarem por seus direitos. Se as mulheres hoje podem escolher uma profissão, se podem escolher seus governantes e até escolher seus maridos é porque muitas lutaram por isso. E a luta continua. Numa sociedade machista, em que a mulher, iludida pela mídia, agrava dia após dia a sua condição de objeto sexual, é preciso que se tome consciência da libertação feminina. Mas que essa libertação não se dê apenas no campo da sexualidade, mas seja plena. Plena de amor ao próximo, de respeito por si mesma, de amor pelos filhos, por quem são tão responsáveis.
               Gostaria do fundo do meu coração desejar a todas as mulheres, sobretudos as adolescentes daqui e do mundo inteiro, que suas vidas sejam sem nenhum sofrimento, que sejam como as águas mansas de um lago manso, sem perturbações sem agruras, nem escarpas, nem espinhos. Mas que se um dia encontrarem-se diante de situações embaraçadoras, constrangedoras, advindas das contingências do dia a dia ou geradas por pessoas mal intencionada, que saibam erguer  o  coração para o céu, pois erguer as mãos é fácil, para, primeiro de tudo, agradecer a Deus por isso, porque agradecer só pelos bons momentos, pelas bonanças não tem graça nenhuma; depois  para perdoar a essas pessoas do fundo da alma, desejar-lhe toda felicidade do mundo, pois perdoar bobagens e desejar boa sorte só aos  nossos amigos também não tem graça mesmo, pois foi essa o grande ensinamento que o mestre nos deixou. E só então buscar na LUTA a felicidade, temporária, uma vez que é nessa felicidade temporária que encontramos forças para as novas batalhas que se nos avizinham.
               Gostaria ainda de lembrar que LUTA aqui não traz a ideia do conflito interpessoal, mas o conflito que travamos dentro de nós, para vencer os medos, as angústias, a falta de vontade que nos assola sempre que queremos ser pessoas melhores, sem maldade, sem ódio. Desejo então que nessa LUTA as mulheres possam se libertar de tudo, do machismo, da mídia que deturpa suas almas, dos medos, de seus próprios egoísmos.
(Professor Alves, 07/03/2013)

segunda-feira, 4 de março de 2013

A BARBEARIA E A CAIXINHA DE SURPRESA



              
        Ontem fui à barbearia. Costume que tenho desde vidas pregressas. Inclusive, salvo engano, já fui barbeiro numa das estadas por aqui. Pois bem, estava lá nesse espaço mais que democrático, onde as pessoas podem torcer livremente e manter uma saudável discussão futebolística. Estava juntamente com meu filho, que é para ele também criar gosto.
               O assunto não podia ser outro. Ceará e Fortaleza na final da copa Nordeste. Intrometi-me algumas vezes para lembrar que os dois tinham que passar pelos seus adversários desse domingo, Asa e Campinense, respectivamente. Mas o otimismo travava a racionalidade de alguns, torcedores dos dois principais times da capital cearense. Fiz-lhes lembrar do episódio ocorrido ano passado, quando o Fortaleza sucumbiu diante do Oeste de São Paulo, em pleno PV. “Mas isso já está superado” dizia uns. “O mesmo raio não cai sobre a mesma cabeça duas vezes”, retrucava outros. E assim saí da barbearia de cabeça feita, literalmente, e derrotado no debate.  
               Pena que à noite a barbearia estava fechada. O certo é que o raio não caiu sobre a cabeça do Fortaleza pela segunda vez, mas na cabeça do Ceará. Não quero o mal dos dois times. Até queria que os dois fizessem a final dessa copa, para adiar a participação das onzenas principais na segunda fase do campeonato cearense.  Mas quis o deus do futebol que se repetisse pela zilionésima vez o ditado que diz “o futebol é uma caixinha de surpresas”. E que caixinha, hem! No Rio os torcedores do Flamengo também pagaram o pato. A caixinha também se abriu para nós rubro-negros. 

domingo, 27 de janeiro de 2013

FALTA INJUSTIFICADA




               Chamava-se Anacleto e, como seu nome, era uma pessoa simples, conservadora. Dir-se-ia cumpridor dos direitos e deveres. No trabalho era infaltável, inchegável atrasado. Mas não criticava seus companheiros, quando o faziam. Tinha dó. Coitados, sempre que precisavam faltar ao trabalho ou chegavam atrasados, era devido a uma quase tragédia. Era a mãe ou um pai que passava dessa para uma melhor, um acidente com o filho pequeno, um desentendimento sério entre familiares. Quando isso ocorria, Anacleto não deixava de perscrutar discretamente o chefe retirar da gaveta um carimbo, que, depois de passar na almofada, pressionava contra o cartão de ponto: FALTA JUSTIFICADA. O mesmo carimbo servia para os atrasos, nesse caso, o funcionário não batia o ponto na saída.
               E foi num dia desses comuns, que Anacleto não compareceu ao trabalho pela manhã. Os colegas e o chefe já calculavam o tamanho da tragédia. Telefonaram pra sua residência, mas ninguém atendeu. Celular não tinha, pois esta história se passou na época em que esse instrumento ainda não havia sido difundido. Quando Anacleto chegou à tarde com um grande sorriso nos lábios e um ar de felicidade de fazer inveja, o patrão o olhou com certa desconfiança e o chamou-o ao birô, (Ah, nessa época ainda havia birôs. ) como sempre fazia. Inquerido por palavras e expressões faciais, certo de que seria perdoado e sua falta justificada, contou ao chefe o que ocorrera:
               — Pois é chefe. O Sr. Me desculpe pela falta de hoje de manhã, mas é que houve algo muito bom que me fez chegar tão atrasado. Quando vinha para cá, hoje pela manhã no horário de sempre, depois de tomar um cafezinho no bar de seu Ayrton, a pé mesmo já que o médico recomendou caminhada, mas como não tenho tempo, sempre venho caminhando. Pois bem, quando ia passando pela pracinha, deparei-me com Ana Amélia. O senhor precisava ter visto ela, como está linda, mais ainda que quando éramos jovens. Ela me abriu os lábios num sorriso bonito, com seus dentes branquíssimos, que mais pareciam ter saído de uma dessas propagandas enganosas de pasta de dente. Sentamo-nos no banquinho da praça e ficamos fitando um ao outro. Não dissemos nada, nossos olhos estavam observando nossas lembranças, os nossos lábios saboreando ainda o último beijo. Não discutimos o porquê de nossa separação, não nos ensaboamos  na água com que se lavam roupas sujas. O destino é simples, mas engenheiro. Não devemos discuti-lo. Só tempos depois, chefe, é que falamos, lembramos os nossos segredos, sorrimos nossa infância, balançamo-nos no trapézio feliz de nosso namoro. Ah, os versos, que dedicávamos um ao outro! Havia um que era assim, eu adorava dizer para ela e ela amava ouvi-los de mim:
                                            “Quando um dia eu for teu e fores minha,
                                            O nosso amor conceberá o mundo
                                            E de teu ventre nascerão deuses!”
Ah, chefe, o Sr. Não imagina como essa manhã foi maravilhosa, como foi bom rever Ana Amélia. O Senhor deve estar se perguntando por que não ficamos juntos, mas isso não interessa. O que interessa é que nos conhecemos na adolescência e nos encontramos hoje. Ela está casada, há muito tempo, eu também, mas isso também pouco importa...
               Guiados pelo tom das palavras de Anacleto, alguns funcionários  formavam um pequeno grupo de curiosos, sorvendo suas palavras como um bálsamos para seus sofrimentos e até sentiam um pouco de inveja. Chegaram mesmo a suspirar quando perceberam que um uma lágrima atrevida pousava de leve no sorriso do colega. Anacleto findou suas palavras da mesma forma como as tinha iniciado, com um sorriso de felicidade e um olhar perdido no passado.
               O chefe ouviu atentamente a justificativa de Anacleto. Abriu a gaveta retirou dela o carimbo e pressionou contra o cartão de ponto do romântico faltoso:
FALTA INJUSTIFICADA!
(Professor Alves, 01-2013)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

NO TEMPO DOS CORONÉIS




               Era a época em que os coronéis ditavam as ordens no nordeste brasileiro. Eram homens poderosos, que tinham direito sobre a vida e sobre a morte, mandavam prender, mandavam soltar e também mandavam bater. Rodeados de capangas, muitos advindos do cangaço, eram homens de posse e de política. Eram eles que elegiam e eram eleitos. Eleição servia apenas como um faz de contas. Democracia era palavrão, cheirava a comunismo e comunismo era coisa do demônio.
               Mas dentre esses cidadãos de poder, de mando, havia uns poucos de coração generoso, que se condoíam do sofrimento alheio e colocavam muitas vezes seus contos de réis a amenizar o sofrimento daqueles que pouco ou nenhum tinham. Coronel Epitácio Alves D’ângelo era um deles. Homem de terras a perder de vista, casa grande sem senzala, gado e muito dinheiro debaixo do colchão. Sua descendência remonta ao Alferes José de Fontes Pereira de Almeida Alves, fundador da cidade hoje denominada Morada Nova. A seu serviço, muita gente entre homens e mulheres, pretos e brancos. A religiosidade fê-lo construir uma capela, à qual vinha geralmente aos domingos um padre trazer-lhe a bênção, a ele e aos que ali frequentavam e aos que ali trabalhavam, pois filhos e mulheres não tinha, apesar da sua libido exagerada. Mas ninguém ousava duvidar de sua duvidosa masculinidade.
               Estava esse homem sempre cercado por pessoas a bajulá-lo, sempre em busca de um favor, de um auxílio de natureza diversa. Conta-se que por trás de sua cadeira de balanço, havia uma abertura na parede, encoberta por uma lâmina de madeira, em que guardava sempre uma boa quantidade de dinheiro para emprestar a quem tivesse necessidade. Humildemente o homem e aproximava do Coronel e pedia-lhe emprestado algum. Ele simplesmente apontava com o polegar a abertura na parede, e o indivíduo ia pegar  a quantia solicitada. Alguns dias, semanas, meses depois, o homem vinha, sem grande humildade, pagar-lhe o que devia. Coronel Epitácio apenas apontava a abertura e o homem, meio desapontado, lá ia pôr a quantia em dinheiro.
                              Mas entre pessoas honestas, há sempre aqueles que se acham espertos e confundem bondade com ingenuidade. Certo comerciante, de nome Otávio Cesário, desses que não perdem a oportunidade de abusar da bondade alheia, precisando urgentemente de um dinheirinho para repor o estoque de seu armazém, dirigiu-se à fazenda do Coronel Epitácio. E depois de muito bajular o benfeitor, confessou o real motivo de sua estada ali. O Coronel fez o gesto costumeiro, indicando a abertura na parede. O homem retirando a quantia necessária, retirou-se, com uma vênia ao poderoso homem.
               Algumas semanas depois, estava o Coronel fumando seu costumeiro charuto, quando se aproximou o comerciante Otávio para devolver-lhe o empréstimo. O Coronel fez-lhe o gesto costumeiro, o outro se dirigiu para lá, abriu a portinhola de madeira e fechou-a sem nada pôr lá. E saiu, se despedindo com um sorriso cínico, coroando sua esperteza. 

               Não se passou muito tempo desse ocorrido, Nosso amigo comerciante, Otávio Cesário, apareceu na fazenda do Coronel. Após alguns dedos de prosa, revelou-lhe o que queria: um pequeno empréstimo, um pouco maior que o anterior é claro. Epitácio D’ângelo, não interrompeu a conversa com um aliado político, mas o gesto de sempre foi repetido, ao que o comerciante, regozijante, dirigiu-se ao buraco. Seu rosto ficou lívido, quando não encontrou nada lá. Voltou meio contrafeito até à cadeira do Coronel e pedindo-lhe licença disse-lhe, tropeçando nas palavras:
               — O Coronel me desculpe... mas... lá na portinha... não tem nenhum dinheiro!
               O Coronel deu um sorriso breve, bateu com o leque no joelho levantou os olhos para o homem, que já suava de desapontamento, e lhe respondeu:
               — Se não tem nenhum dinheiro lá, é porque da última vez que o senhor veio abastecer, nada lá colocou.
               Dizendo isso, o coronel mandou chamar dois cabras brutos e ordenou-lhes:
               — Acompanhem O Sr. Otávio César até seu comércio e tragam de volta  o que ele levou e não devolveu, que há pessoas honestas precisando. Mas antes não se esqueçam de lhe dar uma bela sova, pro facínoras aprender a não fazer os outros de bobo. E assim se deu!

               Essa é uma das muitas histórias que meu pai, Luís Alves Domingos, me contava. Elas moldaram de forma pedagógica meu caráter. Não me tornei melhor do que devo ser, mas sempre que me encontro em situações que exigem uma conduta ética, me lembro delas e procuro seguir aquilo que elas buscam ensinar.
(Professor Alves)

domingo, 23 de dezembro de 2012

PRECISA-SE DE UM AMIGO



Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
(Vinícius de Moraes)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A FOME, DE RODOLFO TEÓFILO


 (BREVE RESUMO)

A fome é uma das mais contundentes obras de ficção produzidas no século XIX. Narra as mazelas geradas pela famigerada seca de 1877 a 1879, que vitimou aproximadamente quinhentas mil pessoas. Realista por convicção e cientista por profissão, Rodolfo Teófilo não poupou nas tintas e descreveu a história de uma família de retirantes comandada por Manuel de Freitas, rico fazendeiro que vê morrer seu gado e secar seu chão. Não tendo mais nada para fazer, vem para Fortaleza em busca da propalada ajuda do governo.
No caminho presencia todos os males que a seca pode causar: pessoas sendo devoradas por aves de rapina, retirantes atacando comboios de mantimentos, e até uma cena de autofagia presencia. Nela, um homem esfomeado sendo impedido de se alimentar da carne fresca de Carolina, filha de Freitas, come as próprias carnes do braço até cair desfalecido para não mais levantar.
Chegando a Fortaleza, as mazelas começam a desfilar na frente de Freitas de outra maneira. O indivíduo responsável pelos abarracamentos usa de todas as  artimanhas para seduzir garotas, para se aproveitar do sofrimento dos retirantes e realizar seus ímpetos libidinosos. Capitão Freitas precisa de muita fé em Deus e muita coragem para não deixar sua família sucumbir. Felizmente consegue manter sua família a salvo de abutres do sertão e da cidade.
Freitas é apenas uma personagem criada por Rodolfo Teófilo para narrar as imagens reais de uma seca que foi o maior flagelo do século XIX. Todas as cenas chocantes narradas, sejam as do sertão durante a viagem, sejam as da capital, descortinaram-se de fato aos olhos do escritor cearense, nascido na Bahia.
(Por Professor Alves) 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NATAL DO...






Não me recordo bem o ano, talvez 92-94, quando percebi pela primeira vez a expressão natal do.... Era o natal do videocassete. Era boom do comércio de imagens, todos queriam combinar a tecnologia da televisão com a tecnologia das caixinhas que invadiam as estantes e quase ocuparam o lugar dos livros. Mas os livros são   insubstituíveis.
Depois veio o natal do “cd players”. Os velhos discos de cera, que tiveram seu apogeu entre 1912 a 1964, estavam vingados. Os vinis, algozes daqueles, eram jogados ao canto e substituídos de vez pelos cds.
Mas o comércio e a indústria queriam mais. Precisavam de novos natais. E logo foram premiados e tiveram suas marcas festejadas no natal do DVD. Genial. Os ruídos, outrora imperceptíveis, agora assustavam. “Nossa! como não ouvíamos esses ruídos, que imagens limpas...” As pessoas ávidas pelos novos natais, já aguardavam o próximo. E eles vieram: O natal do celular, o natal da tv de plasma, o natal do notebook. Este possivelmente é o natal do táblete. Ou muitos natais juntos.
E eu aqui me pergunto: e o natal do Senhor? E o natal de Jesus? Quando virá? Já imagino as pessoas desembrulhando presentes, abraçando os pais, o irmão, o namorado, a namorada, o marido, a marida, agradecendo o “smartfhone”, o tablete, o “I-phone”, a tv de 42 polegadas nas quais assistirão ao Salve Jorge, à Copa da Confederações, mas que já não servirá para assistir à Copa de 2014, pois é para isso que haverá o natal da tv 3D, que será 2013.
Ao canto, esquecido, um lindo presépio, comprado numa loja especializada, pois fazer um não tem graça. Nele, um menininho sorridente, numa manjedoura, espera ingenuamente os abraços, que não virão, os parabéns, que não serão cantados, os agradecimentos pelo sacrifício do pai... Talvez no seu meigo sorriso ele queira dizer: “Vejam, estou aqui. Esqueceram, a festa é minha!”. Mas todos estão muito ocupados com seus novos brinquedos para perceberem a presença dele, para notarem seus apelos. Agora são os quitutes de cá, de lá, as bebidas e as brincadeiras com um time a ou time b, o destino das personagens da novela ou a festa do Reveillon. Quando as luzes se apagarem e todos se recolherem aos seus sonhos, de consumo, lá do presepinho comprado, ele ainda dirá com a vozinha cheia de perdão: “Perdoa-lhes, Pai, eles não sabem o que fazem”.
(Professor Alves, 06/12/2012)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Quatro Compromissos


Filosofia Tolteca – Os Quatro Compromissos – Para Uma vida Melhor



Os quatro compromissos são:

1 – SEJA IMPECAVEL COM SUA PALAVRA

Este é o mais importante e também o mais difícil de cumprir. A palavra tem poder. Ela é sua capacidade de expressar e comunicar tudo o que você pensa e sente. Assim ela pode te libertar ou te escravizar, pois tem o poder de criar. Ser impecável é não contrariar sua natureza, assumindo responsabilidade por seus pensamentos e sentimentos e atos, sem julgamentos ou culpas. Usar a palavra na direção da verdade dissolve todo o medo e transforma em alegria e amor, ajudando a criar uma realidade diferente.

2 – NÃO LEVE NADA PARA O LADO PESSOAL

Seja o que aconteça com você, não leve para o lado pessoal. Se alguém fizer um comentário maldoso como: “Você é um estúpido”, sem conhecê-lo, quem o fez não esta falando de você e sim de si mesmo. Se você levar para o lado pessoal, você vai afirmar para si mesmo que é estúpido e até possa pensar assim: “Como ele sabe? Será clarividente ou todos percebem que sou estúpido?”. Se você levar tudo que for dito para o lado pessoal é como se você confirmasse que o que esta sendo dito é verdade e então esta crença passa a fazer parte da sua auto-imagem, e ai pronto, o veneno já esta instalado, o outro jogou e você acolheu. Por isso temos que aprender a filtrar e perceber que o que o outro diz sobre você é a visão que ele tem de si mesmo.

3 – NÃO TIRE CONCLUSÕES

Temos a tendência a tirar conclusões sobre tudo e levamos para o lado pessoal. Acreditamos sempre que a nossa forma de pensar e agir é a correta e assim tiramos nossa conclusões precipitadamente culpando e reagindo, enviando veneno emocional com nossas palavras. Sem perceber fazemos comentários e “fofocamos” sobre nossas conclusões e então transferimos uns com os outros estes venenos por nossa ótica pessoal sobre alguém ou alguma situação. E com certeza o dia que você parar de tirar conclusões sua comunicação será clara e livre dos “achismos” que são os venenos emocionais e todos os seus relacionamentos irão se transformar.

4 – DE SEMPRE O MELHOR DE SI

Neste compromisso colocamos em prática todo outros compromissos. É o que nos coloca em estado de alerta para que “Façamos o melhor”, pois tudo depende de nós. Na maioria das vezes só agimos quando esperamos por uma recompensa, ou então quando se chega no limite de algo e esse é o motivo pelo qual não fazemos o melhor. Devemos prender dizer “não” quando tiver de dizer “não”, e “sim” quando tiver de dizer “sim”. Temos condições de transformar nossos dias em dias melhores, e assumir uma postura mais otimista diante da vida, transcendendo a experiência humana que possui muitos obstáculos e sofrimento, em momentos divinos. Essa é a grande recompensa de dar o nosso melhor, entrar em contato com aquilo que há de mais belo em nosso interior, o melhor de nossas faces, o que há de mais verdadeiro.
Abraço fraterno,
Aline Pastori

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

LEVEZA DO PENSAMENTO

     
        É incrível a força e a leveza do pensamento! Naquele momento eu refletia sobre o meu sucesso e fui aos poucos catapultado a essa reflexão sobre os homens e não sei por que eu chorei. Apesar de ser homem, de apreciar o domínio sobre coisas e até mesmo sobre outros homens, vem-me à boca um amargo por saber que numa sociedade de consumo, numa sociedade de tigres e lobos, o prazer de alguns requer o sacrifício de muitos. Eu subitamente me inquieto e as contradições afloram em meu cérebro e minha alegria é triste e meu brilho é fosco. Eu não sou um ser evoluído, e talvez nunca virei a sê-lo. Nunca serei como Ernesto Guevara, que trocou o conforto de sua família, o colo de sua esposa e o sorriso de suas filhas para se transformar no peregrino da revolução; como Gandhi, que libertou seu povo sem que para isso fosse necessário disparar um tiro; como Francisco, que abandonou uma vida de luxo e de luxúria para se dedicar aos pobres e aos animais; tampouco feito Jesus, que com o seu amor imensurável se doou num ideal de solidariedade a ponto de derramar seu sangue pela humanidade. Também não me arvoro em sê-lo. Tenho primeiramente que continuar minha tarefa aqui, e o tempo se encarregará do resto.
         Em tudo isso eu pensava, quando uma mão leve como uma pluma tocou meu ombro. Não virei o rosto para mirá-lo, era como se eu já o esperasse. Um vulto de pele clara, quase transparente, sentou-se ao meu lado e me disse:
         ─ Chora, pois o choro é o óleo que vem untar nossos olhos para vermos com mais clareza as nossas necessidades e as dos outros e percebermos que a doação é a nossa grande missão, pois, como nós lavamos uma roupa e nos preparamos para uma festa, as lágrimas lavam nossa alma para a festa de novidades que renovarão nossos dias. Os que não choram, permanecem cegos diante do sofrimento seu e alheio, não irão a nenhum baile, no máximo dirigir-se-ão a uma bacanal, onde carregarão mais ainda suas roupas de nódoas, que lhe pesarão sobre os ombros o os vergarão para a terra, numa apoteose decadentista. Por isso chora, não tenhas pejo de fazê-lo, sozinho ou diante de outrem. Não se preocupe com a evolução. Ela é lenta, mas é gratificante e, vidas menos vidas, ela virá.
Dizendo isso, esse espírito de luz sumiu e me deixou só com minhas dúvidas que aos poucos se dissiparam e foram substituídas por uma certeza: viver é um sacrifício que devemos aceitar, não como um fardo, mas como uma tarefa a ser cumprida, e é a sua realização que nos torna feliz. A felicidade é isso é o prazer das coisas cumpridas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A LIBERTAÇÃO DE SI MESMO E A LIBERTAÇÃO DE OUTREM



(Para mim, no dia do meu aniversário)


          
         Hoje, 09 de outubro. Enquanto o café esfria, burilo no teclado para ver se saem uns versos, um parágrafo, quem dera apenas uma frase, uma frase de efeito que ficasse guardada nem que fosse somente na minha memória. É que hoje faço 47 anos. Já passei e muito da curva de Dante. Para minha sorte não acordei no inferno, mas estou deveras longe do purgatório e a possibilidade do paraíso me é impossível ver com os óculos, quem dirá a olhos nus.  
         Quando se é criança, nutem-se ilusões que se mantêm acesas na adolescência e que aos poucos se vão apagando até que não passam de uma luz tênue no final de um caminho o qual não sabemos definir. É mais ou menos nesse meio do túnel que me encontro. A luz me é tão parca que miro, retiro e torno a colocar os óculos do pensamento para ver seu vulto. É quando sabemos, percebemos que tudo é passageiro, efêmero. Até o trocador e o motorista do trocadilho. Pelo menos as carnes, as matérias, matérias brutas. É quando começamos a ver nos cabelos brancos, na protuberância abdominal, no cansaço involuntário dos pulmões e das batidas cardíacas que a partir desse ponto não  nos resta muito fôlego, como diria Rachel de Queiroz, estamos no meio do oceano e só o que resta é água funda comedeira, água amarga ao qual dia menos dia teremos que sucumbir...
         Lembrei-me agora de uma frase de Gandhi, quando indagado pela esposa a respeito dos resultados da campanha de libertação indiana do julgo inglês, que estava a todo vapor, ele apenas se limitou a dizer: “que libertação, se eu não consegui nem me libertar, como vou libertar milhões." Ela surpresa, exclamou: Mas como! "ainda não me libertei da escravidão de mim mesmo!” Fica então essa frase, já que não consegui produzir nada de mim, fica essa frase para reflexão. É preciso, antes de pensar em libertar o mundo, os semelhantes, libertarmos a nós mesmos para que tenhamos então força e sabedoria para lançarmos a voz ao espaço, aos mil alto-falantes palavras que realmente tenham sentido.
P.S. Só para lembrar, Gandhi se libertou de sua escravidão e só depois pôde libertar a Índia do julgo britânico.
(Professor Alves)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...