quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIVERSÃO LIVRE



      Li na Galileu deste mês, julho de 2011, uma matéria super interessante (SEM TROCADILHO), cujo título é “Liberdade sem Fio”. Trata-se de uma matéria que busca chamar a atenção das autoridades mundiais de comunicação sobre a necessidade de se “socializar” o acesso à internet, disponibilizando-a para quem pode, para quem não está podendo e para quem não pode mesmo dispor de uma banda larga. A ONU já definiu como “direito fundamental do ser humano” o direito à grande rede, tal qual é a Educação e é a Saúde. Pelo que entendi, da leitura que fiz, há um grande contingente no mundo inteiro preocupado em tornar isso realidade. Aqui no estado do Ceará, até onde eu sei, as escolas públicas, que deveriam abrir seus laboratórios às pessoas que sequer têm um computador em casa, deixam seus equipamentos às baratas até que a maresia lhes dê cabo.
     Mas o que me trouxe às teclas foi um fato que presenciei. Um grupos de crianças brincando de futebol no asfalto. Sempre que vinha um carro, um garoto de plantão gritava, avisando para que os outros interrompessem a partida. Ao lado, porém, de onde acontecia isso, havia um condomínio, com uma grande quadra ociosa. Ao lado da quadra o condomínio dispõe de um campo de futebol gramado. Veio-me então a lembrança do texto que vi na Galileu. Refleti por que não se proliferar a “diversão sem fio”! Por que não socializar a existência, a felicidade? Por que não liberar a quadra desses condomínios que não estão sendo ocupadas por seus condôminos para crianças que fazem do asfalto seu gramado particular?

        É comum vermos campos “socytes” espalhados pela cidade de Fortaleza, numa profusão fenomenal. Onde há um terreno, dias depois nasce um campo “socyte”, em que são cobrados cem reais a hora para se “brincar de bola”. Assim como há pessoas interessadas em que se liberem as senhas e transformem as cidades num espaço cibernético livre, por que não fazer o mesmo com esses campos “socytes” e com os espaços dos condomínios fechados? Creio em que se esses garotos do asfalto não podem pagar para brincar nos gramados, como algumas pessoas não podem pagar para acessar à internet, não poderão jamais. Se liberássemos esses gramados em momentos ociosos a esses garotos, estaríamos, não só protegendo-os dos carros, mas dando-lhes lição de solidadriedade, que com certeza seria, por eles mesmos, ensinada, mais tarde, a outros.
(Por Professor Alves)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SALVADOR BONFIM - CARISMA DE UM PROVINCIANO


Sou o princípio da virtude,
Pecado capital venho a ser
Mas sem letra do alfabeto
Também podem me escrever.
    (Salvador Bonfim)

      Os versos acima bem que poderiam ser uma autodefinição, um enigma por trás de uma grande profecia, um versículo bíblico ou coisa que o valha. Mas não é. Trata-se de uma simples charada criada por Salvado Bonfim, cujo passatempo principal é fazer poesia. Um cidadão independenciano que até pouco tempo não se via poeta, apesar de sabê-lo. Humilde, como a natureza o fez, e o sol causticante dos Inhamuns moldou, não via (ou via, “O poeta é um fingidor...”) muita graça no que fazia. Até que alguém pôs os olhos em seus escritos e, como os gigantes emergem das profundezas abissais das imaginações, o poeta surgiu do anomimato, imponente, sábio, porém humílimo. 

     Por trás do balcão simples, de seu estabelecimento simples, situado no mercado de Independência, entre vidros de mel de abelha, sementes de girassol, réstias de alho e outras mercadorias que jazem nas prateleiras, encontramos o senhor Salvador, oitenta e quatro anos, de voz mansa, audição já um pouco prejudicada pela idade e pela lida, com seus inseparáveis cadernos, os quais, quando impelido, retira-os quase imperceptível de sob o balcão de madeira. Lá estão, em letra caprichadíssima, os poemas que emergem de todos os recantos da memória, recente ou remota. São poemas simples, mas que revelam a grandeza do punho que os talham. São lembranças da infância, da adolescência idílica e bucólica, como o primeiro encontro com aquela que viria ser sua única e grande paixão, e que até hoje está ao seu lado, Dona Ernestina, a quem  imortalizou no já famoso poema Laço de Chita, ou  uma sátira bem cuidada e desmaldada, como Mulher Ciumenta.

      Pois bem, esse cidadão octogenário descobriu uma forma simples porém perene de reinventar a existência, a poesia. Lembra-me o filme Diário de um adolescente, em que um jovem viciado não sucumbe às drogas devido ao seu envolvimento com a grande musa de Castro Alves, a poesia. Assim é Salvador Bonfim, que mesmo no momento mais triste (creio), a perda de um filho, soube buscar na poesia alento para si e (creio) para toda sua família enlutada. Se Graciliano Ramos publicou seu primeiro livro, Caetés, aos quarenta e um anos e Cora Coralina fez o mesmo aos setenta e seis anos, Salvador Bezerra Bonfim inaugura aos oitenta e quatro anos sua trajetória publico-literária, ao publicar Carisma de um Provinciano. E não se iludam. Essa trajetória está apenas começando, porque o que vai naqueles caderninhos secretos ainda não foi publicado.  
(Por Professor Alves)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

SANA CEARÁ

PARA ENTENDER O PROVÉRBIO: "NESTE MUNDO EXISTE GENTE PRA TUDO E AINDA SOBRA UM PRA MASCAR FUMO."
SANA(TÓRIO)

(IN) SANA (IDADE)




(IN)SANA


sexta-feira, 15 de julho de 2011

À MULHER TAURINA



(Soneto para Jose)

A primeira vez que te vi,
Vulcano foi quem falou primeiro
Estavas brava isso percebi,
Fiquei de longe qual um pegureiro.

Quando entre outras te reconheci,
Vênus tinha um ar alvissareiro,
Eras serena e a Zeus recorri,
Sorriste e isso notei verdadeiro.

Depois passei com eles a viver:
Um bate com força a razão
O outro tem amor e beleza

E os dois juntos te fazem conter
A graça, a ordem, a riqueza.
És, pois, digna de toda emoção.
(Professor Alves, 06/2003)

terça-feira, 5 de julho de 2011

A MORTE


"Ó Morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato, o homem,
Vista-se com a tua melhor roupa
Quando vieres me buscar." (Raul Seixas)


        Quando criança, vivia sob o mistério maior, eu até tinha apego a Ele, pois me dava a incerteza do futuro, enchia-me de uma magia que jamais encontraria em nenhuma outra instituição abstrata. Era portador do maior de todos os enigmas, era tudo, era o nada, era o meio, objetivo maior da Vida, era a Morte.
        Até que morri. Foi muito rápido e eu não sei mais. Não foi uma morte glamorosa, como sempre sonhei. A Morte é cruel! Sempre a imaginei soberana, de corte fiel; soberana, de porte altaneiro; soberana, de olhar sobranceiro. 
      Não, Ela não era nada assim. Também não vestia acetinado, como queria Raul. Aliás, não vestia nada! Estava desnuda e me olhou com tamanho dó que me entristeceu. Sempre imaginei que Ela viria e me abraçaria, me beijaria nos lábios, e eu morreria. Ou pelo menos como aconteceu com Randy Pauch, que Ela viesse travestida num diagnóstico, para que eu pudesse me preparar, dizer adeus à família, aos amigos, às amantes... Não assim! Como! Mulher idiota, imbecil, sem cor, sem sombra, sem luz, sem cheiro, sem nada!
      Era mera contra face, obscura, enganchada na goela, de súbito. Enquanto todos conversavam e riam, Eu apenas me assustava. Seria ridículo se eu gesticulasse no meio de todos. Não, seria pobre, paupérrimo. Seria nojento. Seria humilhante. Quantos segundos? Não sei, não sei mais. Talvez vinte, dez. Senti de repenter o estorvo a me impedir a passagem do ar, angustiante. Tentava o movimento para dentro, nada. Para fora. Ela ria de mim. "Fique aqui e sucumba. Ou gesticule para que alguém entenda e venha socorrê-lo. Talvez ainda dê tempo." Disse Ela, sinistra, envolta naquele pequeno pedaço de carne. Corri para o banheiro, pus água na mão, tentei bebê-la, Empurrar a morte, goela abaixo, mas Ela estava decidida. Senti o ar faltando, os olhos esbugalhados. Não dava mais para gesticular. Tentei, em vão, me agarrar à pia, que veio, desabou comigo. Ouvi passos na sala a porta abrir-se e alguém dizer "meu Deus, o que foi isso!"
      O mundo escureceu. Não vi a luz mágica que leva os espíritos para lugares cheios de flores, caminhos iluminados; não via a porta celestial ou infernal abrindo-se para me receber. Só a negritude infinda, nefanda; o frio a me escaldar o ser, a cortar o que jazia de um homem, que talvez nunca tenha sido.
(Professor Alves)

sábado, 2 de julho de 2011