12/02/2011 |
A pena de morte é proibida no Brasil, exceto em tempos de guerra, conforme a Constituição Federal, que no artigo 5, inciso XLVII, aboliu a pena de morte, "salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX". A última execução determinada pela Justiça Civil brasileira, segundo pesquisa no Wikipédia, foi a do escravo Francisco, em Pilar, Alagoas, em 28 de abril de 1876. Em crime de grande comoção nacional é comum o tema voltar à tona. Recentemente em 2007, o caso do menino João Hélio fez os meios de comunicação reacenderem a discussão sobre a reintrodução da pena de morte. O governo brasileiro, no entanto, vem demonstrando pouco ou nenhum interesse em reintroduzir a prática que já não é utilizada há mais de 135 anos, apesar de que o apoio popular ao uso da pena capital aumentou drasticamente no país graças à maciça divulgação do citado crime. No entanto, pela legislação aprovada pela bandidagem, a pena capital há muito tempo está em pleno vigor, e com altos índices de execução. Pela lei implementada pelos marginais, ao contrário do que ocorre quando eles são presos, não há amplo direito de defesa tampouco é estabelecido um Tribunal do Júri. O julgamento é rápido e a execução é sumária não levando mais do que 1 minuto, em média. Para que isso ocorra, não é necessário entender e nem argumentar os infindáveis artigos previstos no Código Penal, basta o cidadão esboçar uma ingênua reação e a sentença está decretada, fato ocorrido recentemente com Jesus Bezerra Bonfim que, desarmado, fez menção de tirar a “sua” carteira do bolso para entregar aos latrocidas. Foi o suficiente para o juiz do caso entender que ele estaria burlando o código da bandidagem e oferecendo perigo para a comunidade do crime e por isso não poderia mais viver. Foi alvejado impiedosamente com 3 tiros à queima-roupa, sem chances de defesa, o que não deverá acontecer com esses bandidos caso eles sejam presos, pois terão um julgamento “justo”, prolongado, podendo demorar vários dias e a instrução do processo, anos. Sendo que ainda poderão voltar às ruas. Ao contrário do Jesus Bonfim. O que dizer do caso Monteiro que abalou nossa comunidade. Monteiro, depois do dia estafante como tantos outros, estava sentando no aconchego do alpendre de sua residência. Quando chegam dois assaltantes e anunciaram que queriam os seus pertences. Aflito, Monteiro tenta adentrar na sua residência. Mais uma vez o Tribunal do Crime entra rapidamente em ação. Os desalmados interpretam como atitude não condizente com o Código e em menos de minuto julgam e condenam. A pena foi de morte através de um tiro certeiro e mortal no tórax. Desço do salto para dizer uma expressão utilizada de bate - pronto nesses momentos: “É de lascar!!” Portanto, se faz necessário que leis rigorosas e atitudes enérgicas das autoridades legalmente constituídas possam coibir o avanço dessa espécie de Tribunal, sob pena da aplicação de mais um código em nosso ordenamento jurídico, no caso, o Código Hamurabi que tem como princípio basilar "olho por olho, dente por dente". Infelizmente. (Artagnan Torres, do site: http://www.independenciano.com.br/noticia.php?id=1021) |
Trata-se de textos escritos a partir de experiências com pessoas, jovens e/ou adultas, para levar à reflexão sobre alguns aspectos da vida, como política, literatura, História, Felicidade. DEIXE UM COMENTÁRIO
domingo, 13 de fevereiro de 2011
PENA DE MORTE INSTITUÍDA NO BRASIL, SOMENTE PARA OS CIDADÃOS
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
ANGÚSTIA E DESESPERO
No pequeno espaço de três dias fui sacudido por duas notícias no mínimo terríveis: dois latrocínios, assalto seguido de homicídio.
No primeiro, próximo de onde moro, houve um assalto a uma van de passageiros. Dois indivíduos, armados, anunciaram o assalto e passaram a recolher os pertences das vítimas. Quando já iam descer, dois jovens, 22 e 27 respectivamente, de comum acordo ou não, resolveram segurar os bandidos, que atiraram quatro vezes, deixando, dois mortos, duas mães desesperadas, amigos angustiados, namoradas em desalento e a população inteira aflita.
O segundo caso chocou mais porque ocorreu a uma pessoas conhecida da família. Jesus Bonfim, natural de Independência, homem pacato como o pai, residente no Montese, próximo ao Extra, vinha com o filho de uma padaria ou de um supermercado, não importa, quando foi abordado por três bandidos que anunciaram o assalto. Segundo consta, os energúmenos já haviam assaltado algumas mulheres no ponto de ônibus. Ao colocar a mão no bolso traseiro da calça para retirar a carteira, Jesus foi fuzilado pelos facínoras, na frente do filho de seis anos.
O que me incomoda não é a morte, mas o medo de viver sem saber até quando vou ter o direito de continuar respirando sobre esse chão. Em que momento vou ser abordado por bandidos, que se multiplicam nesta fortaleza de insegurança onde moramos, para entrar num estranho jogo de roleta russa. O que fazer? Falar com os elementos, para informar-lhes que vou tirar minha carteira do bolso? Levantar as mãos para cima e esperar que eles esvaziem os bolsos, arranquem o relógio do braço e levem o celular? Entregar, sem olhar para eles, a pochete com os pertences e pedir desculpas por não ter o suficiente para satisfazê-los? Entrar em desespero, começar a chorar, enquanto me desfaço dos pertences, entregando-lhos? Nenhuma das formas como nós agirmos, nos dará a certeza de salvar a nossa vida, pois estaremos a mercê do humor desses indivíduos, que agem a qualquer hora do dia e da noite sem serem molestados pela polícia.
É angustiante sair de casa e não saber se estaremos vivos quando formos vistos novamente por nossos familiares. Já cheguei ao desespero de dizer para meu filho que esteja preparado, caso uma desgraça como a citada acima venha a me acontecer. Disse a ele que onde estiver, amá-lo-ei como se estivesse ao seu lado e para ele crescer e ser um cidadão de bem, solidário, amigo, responsável. Ele, na sua tenra idade, não me entendeu direito, mas para me ver tranquilo disse que “tudo bem, nada vai acontecer, pai!”. E eu fico imaginando o desespero daquela criança de seis anos ao ver o pai morto daquela forma, que trauma!
Tenho certeza que como eu há uma legião de desesperados, cuja vontade é aquartelar-se em casa, sem nenhuma vontade de sair para o espaço sem lei que são as ruas dessa cidade cruel. Enquanto isso, soltos por aí estão os assaltantes, desfilando, frequentando restaurantes, padarias, supermercados, passeando livremente armados, só esperando o momento de agir e, se for preciso, ceifar mais uma vida inocente.
(Professor Alves, 11/02/2011)
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
HISTÓRIAS D REENCARNAÇÃO
“A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do espírito(...). a vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades.”
(Alan Kardec)
As aulas na faculdade se iniciaram no começo de fevereiro, portanto nesse mês não tive tempo para nada. Era mais ou menos pelo dia vinte quando Ernani me telefonou para dizer que o tal psiquiatra americano já estava em Fortaleza e que marcara o início das sessões de regressão para o sábado. Nos dois dias que antecederam a essa data eu me desdobrei para não deixar nenhuma atividade acadêmica para esse final de semana. Dessa forma sábado chegou, e nos reunimos na casa de Ernani para a já famigerada sessão. O médico explicou os procedimentos a serem executados e os problemas que poderiam ocorrer. Disse que mesmo nunca tendo presenciado ou tido notícias de efeitos negativos nos pacientes, era possível que eles ocorressem. Por isso o marido de Aliel teve de assinar um termo de compromisso, que foi guardado metodicamente pelo homem que se chamava Bob, apelido de Robert. Ele ainda perguntou a Aliel sobre seus traumas, suas fobias. Ela fez referência ao medo de tomar comprimido, “pois eles sempre ficam atravessados na garganta.” E colocou as duas mãos no pescoço e pôs a língua pra fora, fingindo estar sendo enforcada. Todos riram de sua atitude. Disse por fim um pouco séria sobre o principal motivo de estarmos ali, que era sua obsessão em achar que muitas pessoas as quais nunca vira parecerem-lhe familiares.
Depois dessa conversa que se deu de forma bem descontraída, o homem ligou o gravador e, em seguida, levou Aliel ao estado de hipnose. Aos poucos ela foi relatando o que via. Como se assistisse a um filme de trás pra frente. Chegou a idade de cinco anos e nos relatou alguns maus tratos infligidos pela mãe, que numa tentativa de mostrar às pessoas que a filha era normal, dava-lhe beliscões por baixo das mesas ou bicava suas pernas com a ponta da sandália. Nesses momentos Aliel parecia estar consciente e não hipnotizada, demonstrou bastante tristeza ao se referir aos fatos. Depois ela encolheu-se toda e ficou em posição fetal e pôs o dedo médio na boca. Aos poucos foi-se estirando novamente e em seus lábios apareceu um breve sorriso, que desapareceu dando lugar a uma expressão séria. E começou a falar:
“Eu ando por uma rua estreita, iluminada à luz de lampiões. Eu sou um homem, estou vestindo um terno azul, trago um chapéu na cabeça e tenho uma enorme barba. Entro por uma porta estreita e vejo meus camaradas, que me esperam. Estão todos taciturnos, preocupados. Todos me chamam de “o Escolhido” e também atendem por pseudônimos análogos. Há o Redentor, o Pensador e outros. O lugar onde me encontro é um espécie de bar e alguns gritam alto em espanhol “ ¿En este bar no hay nadie para servirnos?” E riem sem muita explicação. Do interior aparece uma mulher atarracada com algumas garrafas de vinho que distribui pelas mesas. Ao passar por nós ela diz algo como “Éste es vino de la medianoche”. É um código secreto. Agora eu me lembro, somos todos seguidores de Simon Bolívar e temos um plano de nos unirmos ao seu exército em Caracas. Entretanto há um mal estar, entre o grupo. Temos que esperar a meia-noite. Temos que aguardar com naturalidade para não despertar suspeitas nos outros frequentadores do ambiente. Um dos camaradas retira do paletó um jogo de cartas e jogamos, outros bebem, mas pouco, mesmo assim a tensão não passa. Agora a porta se abre com violência e homens fardados e armados com carabinas entram no salão. Todos vamos presos. Fomos traídos pela taberneira que vai mostrando ao chefe dos fardados quem faz parte do grupo e quem não faz. Ficamos então sabendo que Simon já está refugiado em um país vizinho. Os soldados se aproximam de nós e com suas adagas cortam-nos a garganta. É grande o transtorno dos outros colegas vendo nossos corpos estrebucharem pelo chão coberto de sangue...”
Nesse instante Aliel tornou-se ofegante, com grande dificuldade de respirar. Ela por algumas vezes levou a mão em direção ao pescoço, mas seu ofego foi diminuindo, seu rosto se iluminando. Ela nos contou que fora levada por uma luz e que permaneceu nela um tempo que julgava infinito. Depois começou a espernear como fazem os bebês e nos narrou mais uma de suas vidas. Nesta ela era uma religiosa em missão de caridade numa comunidade pobre no sul da áfrica. Lá sua grande inimiga era a fome que consigo trazia toda sorte de moléstias físicas e morais, narrou-nos seu sofrimento ao ver o semblante da miséria estampada nos olhos e corpos daquelas criaturas desgraçadas. Contou-nos também de sua morte aos oitenta anos rodeada pelas pessoas que tanto ajudara, uma morte, como ela mesma descreveu, feliz.
Nesse instante Aliel tornou-se ofegante, com grande dificuldade de respirar. Ela por algumas vezes levou a mão em direção ao pescoço, mas seu ofego foi diminuindo, seu rosto se iluminando. Ela nos contou que fora levada por uma luz e que permaneceu nela um tempo que julgava infinito. Depois começou a espernear como fazem os bebês e nos narrou mais uma de suas vidas. Nesta ela era uma religiosa em missão de caridade numa comunidade pobre no sul da áfrica. Lá sua grande inimiga era a fome que consigo trazia toda sorte de moléstias físicas e morais, narrou-nos seu sofrimento ao ver o semblante da miséria estampada nos olhos e corpos daquelas criaturas desgraçadas. Contou-nos também de sua morte aos oitenta anos rodeada pelas pessoas que tanto ajudara, uma morte, como ela mesma descreveu, feliz.
Nos dias que se seguiram, as sessões se repetiram. Esse trabalho durou exatamente dez meses e aliel regrediu a mais de cinquenta encarnações. Umas sem grande importância, outras contribuíram de forma decisiva para que ela e nós entendêssemos todos os males que a afligiam, todas suas angústias e temores foram desvendados nessas regressões. Entretanto para mim a mais significativa foi quando ela regrediu há aproximadamente mil anos e se viu como Ranjicniami. Nesse período eu estudava fora de horário e até de madrugada para não perder essas sessões, que depois eram cuidadosamente analisadas por nós e pelo psiquiatra, e das fitas eram tiradas, com o consentimento do casal, cópias, para, segundo ele, quando tivesse coragem, publicar um livro com essas experiências e assim enfrentar a comunidade cientifica.
Foi possivelmente, não lembro bem, na décima quinta sessão que Aliel lembrou pela primeira sua vida como Ranjicniami. Falou do nascimento, da infância, das ameaças do pai, das angústias, do medo que todos na ilha tinham das ondas gigantes. Na segunda vez ela relatou o nosso encontro e novamente lembrou seu nascimento e as ameaças do pai. Foi com grande aflição que, em uma outra sessão, relatou nossa morte causada pelas ondas gigantes que nos arremessaram contra as pedras. Às vezes ela passava inúmeras sessões sem lembrar dessa encarnação, seu ser se voltava para momentos sem grande importância como brincadeiras de infância ou simples discussões familiares. Depois ela voltava a lembrar-se de quando era Miciane e eu Daniel. E já nas últimas reuniões ela só regredia a duas vidas: como Ranjicniami e como Miciane. Essas duas existências de aliel eram os elos que nos ligavam, formavam aquilo que antes era o mistério de nossas vidas. Nós nos amávamos de duas formas diferentes, mas que se completavam. Eu a amava e a protegia enquanto ela era Miciane, e a amava, queria-lhe como um louco enquanto Ranjicniami. Entretanto não pude concluir aquilo que poderíamos chamar de nossa missão. Há mil anos fomos arrebatados pelas águas do oceano e tivemos nosso destino interrompido. Como seu irmão, coincidentemente com o mesmo nome que tenho agora, Daniel, não pude protegê-la das maldades perpetradas pela nossa tia, pois morri precocemente em um acidente de trem. Agora era diferente. Nesta vida tínhamos toda a oportunidade de nos realizarmos, de concluirmos aquilo que talvez seja o motivo de nossa estada aqui na terra: amarmos um ao outro em toda sua plenitude. Somos almas gêmeas que precisamos nos completar, somos as metades da laranja separadas pelo fio da faca do destino e que precisamos nos unir para que nossas almas tenham finalmente paz.
No mês de novembro, encerraram-se as reuniões. O americano deu seu trabalho por concluído. As vidas de Aliel haviam sido dissecadas, se havia uma ou outra que não vieram à tona eram sem grande importância. O próprio médico fez referência ao fato de o mistério de nossas existências estar na análise dessas duas vidas. Ernani sabia disso, mas sabia também que seu destino não o havia colocado diante de aliel por acaso, inclusive ele aparecia mais em suas outras vidas do que eu, era sempre seu pai, amigo, avô, confidente. Ele sabia da importância de seu papel na consecução do destino da esposa. Ele a amava e não abriria mão de seu amor. Ela compreendia agora todo o carinho que nutria pelo marido, com quem se dava muito bem. E isso é amor. Além do mais, conhecia seus compromissos como pessoa socialmente comprometida, não podia abdicar de seu matrimônio. Além de tudo isso, havia entre todos nós o Destino como mediador, diante do que foi visto durante todo esse tempo, nós sabíamos que infringir as suas leis era quebrar uma corrente que fora elada há milhões de anos e que, portanto, não havia nada que pudesse ser feito. Tudo devia continuar como estava: Aliel casada e amando seu marido; eu amando-a e respeitando sua condição; Ernani amando a mulher e sendo amada por ela, sendo meu amigo e crendo na minha fidelidade. Só uma coisa mudara, aliás duas: a cura definitiva de todos os males que acometiam Aliel e a nossa compreensão de tudo o que nos cercava. E só uma coisa não sabíamos: em que teias o futuro, que enreda destinos silenciosamente, nos iria jogar.
Foi possivelmente, não lembro bem, na décima quinta sessão que Aliel lembrou pela primeira sua vida como Ranjicniami. Falou do nascimento, da infância, das ameaças do pai, das angústias, do medo que todos na ilha tinham das ondas gigantes. Na segunda vez ela relatou o nosso encontro e novamente lembrou seu nascimento e as ameaças do pai. Foi com grande aflição que, em uma outra sessão, relatou nossa morte causada pelas ondas gigantes que nos arremessaram contra as pedras. Às vezes ela passava inúmeras sessões sem lembrar dessa encarnação, seu ser se voltava para momentos sem grande importância como brincadeiras de infância ou simples discussões familiares. Depois ela voltava a lembrar-se de quando era Miciane e eu Daniel. E já nas últimas reuniões ela só regredia a duas vidas: como Ranjicniami e como Miciane. Essas duas existências de aliel eram os elos que nos ligavam, formavam aquilo que antes era o mistério de nossas vidas. Nós nos amávamos de duas formas diferentes, mas que se completavam. Eu a amava e a protegia enquanto ela era Miciane, e a amava, queria-lhe como um louco enquanto Ranjicniami. Entretanto não pude concluir aquilo que poderíamos chamar de nossa missão. Há mil anos fomos arrebatados pelas águas do oceano e tivemos nosso destino interrompido. Como seu irmão, coincidentemente com o mesmo nome que tenho agora, Daniel, não pude protegê-la das maldades perpetradas pela nossa tia, pois morri precocemente em um acidente de trem. Agora era diferente. Nesta vida tínhamos toda a oportunidade de nos realizarmos, de concluirmos aquilo que talvez seja o motivo de nossa estada aqui na terra: amarmos um ao outro em toda sua plenitude. Somos almas gêmeas que precisamos nos completar, somos as metades da laranja separadas pelo fio da faca do destino e que precisamos nos unir para que nossas almas tenham finalmente paz.
No mês de novembro, encerraram-se as reuniões. O americano deu seu trabalho por concluído. As vidas de Aliel haviam sido dissecadas, se havia uma ou outra que não vieram à tona eram sem grande importância. O próprio médico fez referência ao fato de o mistério de nossas existências estar na análise dessas duas vidas. Ernani sabia disso, mas sabia também que seu destino não o havia colocado diante de aliel por acaso, inclusive ele aparecia mais em suas outras vidas do que eu, era sempre seu pai, amigo, avô, confidente. Ele sabia da importância de seu papel na consecução do destino da esposa. Ele a amava e não abriria mão de seu amor. Ela compreendia agora todo o carinho que nutria pelo marido, com quem se dava muito bem. E isso é amor. Além do mais, conhecia seus compromissos como pessoa socialmente comprometida, não podia abdicar de seu matrimônio. Além de tudo isso, havia entre todos nós o Destino como mediador, diante do que foi visto durante todo esse tempo, nós sabíamos que infringir as suas leis era quebrar uma corrente que fora elada há milhões de anos e que, portanto, não havia nada que pudesse ser feito. Tudo devia continuar como estava: Aliel casada e amando seu marido; eu amando-a e respeitando sua condição; Ernani amando a mulher e sendo amada por ela, sendo meu amigo e crendo na minha fidelidade. Só uma coisa mudara, aliás duas: a cura definitiva de todos os males que acometiam Aliel e a nossa compreensão de tudo o que nos cercava. E só uma coisa não sabíamos: em que teias o futuro, que enreda destinos silenciosamente, nos iria jogar.
(Professor Alves, De Vida, de sonhos e de Encontros)
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
A CARTA DA TERRA
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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
SUPERAÇÃO I
(Professor Alves, fevereiro de 2011)
Corria o ano de 1965. O cidadão acercou-se do balcão às 6:30 da manhã e pediu uma cachaça ao homenzinho debaixo do boné, como diria Drumond. O homem, enquanto despejava o líquido no copo, fez o seguinte comentário:
̶ Seu Luís, ouvi dizer que nasceu mais um filho seu!
̶ É, foi, diz a mulher. Respondeu o outro com um ar entre sério e reflexivo, com os olhos no chão.
O que servia, então, emendou:
̶ Não tenho nada com sua vida, homem, mas acho que está na hora de você pensar em deixar a bebida. Conheço sua mulher e sei o sacrifício que a coitada faz para botar comida dentro de casa quando você está sem trabalho, lavando e engomando. Passa aqui todo dia com uma trouxa de roupa na cabeça... E você, homem, é um senhor pedreiro, mas num segura serviço, por causa do vício. Se largasse a cachaça, podia cuidar melhor da família... Já são quantos filhos, doze?
Seu Luís, cabisbaixo, examinando as alpargatas esbranquiçadas pela cal ou os pés inchados pelo efeito do álcool, meneou negativamente a cabeça e corrigiu o número para dez. Olhou o conteúdo do copo, a boca cheia d'água, engoliu a saliva, depositou o copo sobre o balcão e falou com a voz que era um misto de rancor e resignação:
̶ Pois pode guardar sua merda, que eu nunca mais bebo... ̶ e saiu, porém ainda ouviu quando o dono do bar disse:
̶ Mas num pode ser assim, cumpade, no seu estado é perigoso abandonar a bebida duma vez...
naquele dia, ao chegar ao canteiro de obras, Seu Luís era a própria imagem da desolação. Como não havia “matado o bicho”, seu corpo formigava e a irritação começava a tomar conta de sua cabeça. Tudo o incomodava: o cheiro do cimento, o sol escaldante, as pilhérias dos colegas. Às dez horas, olhou na direção do bar que ficava perto da obra... quase se rendia! Mas resistiu. Depois do almoço, não conseguia trabalhar. Sua cabeça estava fixa num único pensamento: não ia mais beber, entretanto o apelo do corpo lhe pedia o contrário, e nessa briga entre Deus e o diabo ele era a parte mais frágil. O desespero aumentava. Contou ao mestre o que estava acontecendo e comunicou que ia embora.
̶ Vá, Seu Luís, estamos do seu lado. E que Deus te proteja!
No caminho de casa, os bares se multiplicavam, pessoas riam nas portas virando copos cheios de aguardente, vinho, cerveja. Parecia que o mundo inteiro bebia e que a bebida era aúnica coisa que importava e para a qual todos viviam. Não havia casas, não havia igrejas; só bares, biroscas, botequins. Tentou evitar o bar do Quincas, onde estivera cedo, mas não dava. Ouviu quando uma voz o chamou:
̶ Luís, vem cá!
Passando as mãos pelos beiços, ele se aproximou e ouviu histórias dos colegas de infortúnio, mas não entendia nada, seus ouvidos eram todos olfato, seu olfato era todo visão e tudo convergia para o cérebro, que era só confusão. Despediu-se e foi para casa. Nem falou com a mulher, Dona Nazaré. Nem ouviu os filhos pedirem a bênção. Foi para o terreiro e tomou banho, mas quanto mais se molhava, mais o fogo esquentava-lhe o corpo. A mulher estranhou seu comportamento calado, não atinava que em seu âmago travava-se uma luta surda silenciosa entre o desejo do álcool e a vontade de abandonar para assim poder, como disse o Quincas, dar uma vida melhor à família.
Naquela noite mal tocou na comida, seus olhos estavam vidrados, parecia um bicho enjaulado. Quando pegou no sono, foi surpreendido por um homem que o perseguia numa moto, cujo barulho ensurdecedor, quase o leva à loucura. Seus gritos acordaram a companheira, que o viu todo contorcido sobre a cama. Quando ela o abraçou, ele chorava baixinho, e com sua clarividência feminina ela compreendeu o que estava se passando... Durante sete dias e sete noites, Seu Luís teve momentos de quase insanidade e delírios alucinantes.
Passado esse período de desintoxicação, ele foi recobrando a consciência. Tomou um caldo de galinha, concientemente, tomou banho e saiu de casa pela primeira vez. No dia seguinte foi ao trabalho. O mestre, por experiência própria, compreendeu o que ele passou e como se sentia. Seu lugar na construção estava aguardando por ele. Nunca mais encostou um copo de bebida nos lábios. Evitou os bares, mas não os amigos, que o viram, da noite para o dia, tornar-se outro homem, seguro no emprego e manteve-se próximo à família. Cinco anos depois era mestre de obras de uma grande empresa, Ortecal, comprou terreno, junto com uma irmã, construiu casa própria e nunca mais deixou nada faltar em casa.
Faleceu em agosto de 2009, aos 85 anos. Seu corpo foi sepultado sob uma salva de palmas dos filhos, filhas, netos, bisnetos, genros, noras e amigos. Posso dizer, sem medo de estar errado:
MEU PAI É UM EXEMPLO DE SUPERAÇÃO!
O VELHO POTE RACHADO
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http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8911057507813363548&postID=3727408489791143262 |
Foi assim por dois anos. Todos os dias o carregador entregava pote e meio de água na casa do seu senhor. É claro que o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. O pote rachado, porém, estava envergonhado de sua imperfeição. Sentia-se miserável por realizar somente a metade do que lhe havia sido determinado fazer.
Após perceber que durante dois anos não havia cumprido sua função a contento, o pote rachado, um dia, disse para o carregador, à beira do poço:
- Estou envergonhado! Quero-lhe pedir desculpas.
- Por quê? - perguntou o homem - De que você está envergonhado?
- Nesses dois anos, - disse o pote - fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, pois essa rachadura faz com que a água vaze por todo o caminho que leva à casa do seu senhor. Por causa da minha falha você não é recompensado inteiramente.
O carregador ficou triste pela situação do pote e, com compaixão, disse:
- Quando retornarmos à casa do meu senhor, quero que observe as flores crescidas ao longo do caminho.
De fato, à medida que eles subiam a montanha, o pote rachado observou muitas e belas flores selvagens à beira do caminho, o que o encheu de entusiasmo. Mas no fim da estrada, ele voltou a ficar abatido porque mais uma vez metade da água se perdera, e de novo pediu desculpas ao carregador.
O carregador, então, disse ao pote:
- Você notou que no caminho havia flores só do seu lado? Não percebeu que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, era você que as regava? Por dois anos colhi flores que lá nasceram para adornar a mesa do meu senhor. Se você não fosse do jeito que é, ele não teria belas flores para embelezar a casa dele.
(Texto do domínio público)
(Texto do domínio público)
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
AMAR É PRECISO
Todo ser humano precisa de carinho. Se Cristo dizia para que amássemos uns aos outros, era porque sabia dessa necessidade humana. Sempre que conhecemos alguém, com um pouco de sensibilidade, notamos essa ansiedade por ser amado. Esse amor a que Cristo aludia é um sentimento simples, como a atenção dispensada a alguém, uma palavra de conforto, um aperto de mão, um “tudo bem!”, um elogio, uma validação.
Há alguns dias, enquanto acompanhava meu filho ao treino da escolinha de futebol, fiquei observando um cidadão conversando com outro, um amigo particular, a respeito de seu cãozinho, na verdade uma cadela, que desaparecera. Ele falava da tristeza do filho e da filha, e em seu semblante eu percebi que lhe fazia bem ser ouvido, pois além de servir de lenitivo para a sua angústia de não poder resolver esse problema familiar, lhe dava o amparo de que precisava para seguir sua rotina habitual e forças para continuar essa busca.
Acompanhei sempre esses diálogos à distância. Até que um dia o amigo não veio. Percebi que o homem procurava por ele, imaginando que estava demorando, mas que logo chegaria. De súbito, percebi que o amigo daquele homem não viria e que nele ficaria o vácuo daquela ausência. Resolvi substituí-lo. Aproximei-me do homem e abordei-lhe sobre se havia encontrado o animal de estimação da família. Informei-lhe que havia escutado seu diálogo de alguns dias a respeito do sumiço do animal, sobre como estavam seus filhos... O semblante do homem desconhecido se iluminou, seus olhos brilhavam de tal forma que me senti feliz. Ele estava enormemente agradecido pelo fato de eu me incomodar com seu sofrimento. Em poucas palavras me pôs a par do que estava acontecendo, e no final, antes de ir embora, me agradeceu com um efusivo aperto de mão.
Assim todos os dias que nos encontrávamos, ele me chamavas para perto de si e do amigo e nos punha a par de como estavam as buscas. Até que um dia acabou. Ele chegou, cumprimentou o amigo, chamou-me para perto de si, abraçou primeiro o amigo, depois a mim e, enxugando uma lágrima teimosa, contou que havia encontrado a cadelinha e que a família estava novamente completa.
Depois desse dia, o homem sempre me tratou como amigo, me cumprimenta, pergunta como está minha família, conta sobre suas coisas. Se me encontra no supermercado, vai até mim, mantém um rápido diálogo e me convida para ir a sua casa. Infelizmente adio esse momento por motivos vários, mas um dia o farei, pois aquele homem é meu amigo.
(Professor Alves, 03/02/2011)
(Professor Alves, 03/02/2011)
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