No pequeno espaço de três dias fui sacudido por duas notícias no mínimo terríveis: dois latrocínios, assalto seguido de homicídio.
No primeiro, próximo de onde moro, houve um assalto a uma van de passageiros. Dois indivíduos, armados, anunciaram o assalto e passaram a recolher os pertences das vítimas. Quando já iam descer, dois jovens, 22 e 27 respectivamente, de comum acordo ou não, resolveram segurar os bandidos, que atiraram quatro vezes, deixando, dois mortos, duas mães desesperadas, amigos angustiados, namoradas em desalento e a população inteira aflita.
O segundo caso chocou mais porque ocorreu a uma pessoas conhecida da família. Jesus Bonfim, natural de Independência, homem pacato como o pai, residente no Montese, próximo ao Extra, vinha com o filho de uma padaria ou de um supermercado, não importa, quando foi abordado por três bandidos que anunciaram o assalto. Segundo consta, os energúmenos já haviam assaltado algumas mulheres no ponto de ônibus. Ao colocar a mão no bolso traseiro da calça para retirar a carteira, Jesus foi fuzilado pelos facínoras, na frente do filho de seis anos.
O que me incomoda não é a morte, mas o medo de viver sem saber até quando vou ter o direito de continuar respirando sobre esse chão. Em que momento vou ser abordado por bandidos, que se multiplicam nesta fortaleza de insegurança onde moramos, para entrar num estranho jogo de roleta russa. O que fazer? Falar com os elementos, para informar-lhes que vou tirar minha carteira do bolso? Levantar as mãos para cima e esperar que eles esvaziem os bolsos, arranquem o relógio do braço e levem o celular? Entregar, sem olhar para eles, a pochete com os pertences e pedir desculpas por não ter o suficiente para satisfazê-los? Entrar em desespero, começar a chorar, enquanto me desfaço dos pertences, entregando-lhos? Nenhuma das formas como nós agirmos, nos dará a certeza de salvar a nossa vida, pois estaremos a mercê do humor desses indivíduos, que agem a qualquer hora do dia e da noite sem serem molestados pela polícia.
É angustiante sair de casa e não saber se estaremos vivos quando formos vistos novamente por nossos familiares. Já cheguei ao desespero de dizer para meu filho que esteja preparado, caso uma desgraça como a citada acima venha a me acontecer. Disse a ele que onde estiver, amá-lo-ei como se estivesse ao seu lado e para ele crescer e ser um cidadão de bem, solidário, amigo, responsável. Ele, na sua tenra idade, não me entendeu direito, mas para me ver tranquilo disse que “tudo bem, nada vai acontecer, pai!”. E eu fico imaginando o desespero daquela criança de seis anos ao ver o pai morto daquela forma, que trauma!
Tenho certeza que como eu há uma legião de desesperados, cuja vontade é aquartelar-se em casa, sem nenhuma vontade de sair para o espaço sem lei que são as ruas dessa cidade cruel. Enquanto isso, soltos por aí estão os assaltantes, desfilando, frequentando restaurantes, padarias, supermercados, passeando livremente armados, só esperando o momento de agir e, se for preciso, ceifar mais uma vida inocente.
(Professor Alves, 11/02/2011)
Um comentário:
A impotência é tanta que nos leva a agir de forma a inverter os valores, ou seja, antecipar e informar aos filhos as possibilidades do mundo cruel preparando-os para o pior, ao invés de mostrar para eles os possíveis caminhos de sucesso e de uma vida normal preparando-os para o melhor.
O mais agravante, ainda, é ter que dar satisfação dos nossos atos aos facínoras e implorar pela vida:
_vou meter a mão no bolso...
_vou desligar o carro...
_leve meu celular por favor.
_É f...
abraços Professor
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