quinta-feira, 11 de agosto de 2011

NÃO TE RENDAS



Não vem, que eu bato!
Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos,
largar o lastro,
retomar o voo.

Não te rendas que a vida é isso,
continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos,
destravar os tempos,
arrumar os escombros,
e destapar o céu.

Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida nos teus sonhos.

Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo,
porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.

Abrir as portas,
tirar os ferrolhos,
abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso,
ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas
e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.

Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma,
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, porque eu te amo.

(Mario Benedetti)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O TEMPO E O AMOR



        Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.
(Pe. Antônio Vieira)

domingo, 7 de agosto de 2011

FOLHA EM BRANCO

      
     Certa vez, estava aplicando uma prova de Redação, quando um aluno levantou a mão e me pediu uma folha em branco. Olhei para o relógio e vi que faltavam quinze minutos para o encerramento das atividades. Informei-lhe isso e perguntei a ele para que queria uma nova folha em branco. Ele me disse que até agora não tinha conseguido dar um rumo à sua redação, havia tido um monte de ideias, mas não havia conseguido desenvolver nenhuma. Ou seja, havia feito um monte de rascunho, e queria uma nova folha para reiniciar sua redação. Mudas de atitude e fazer algo melhor. Entreguei-lhe a folha em branco, comovido, e até pensei em dar-lhe um pouco mais de tempo para que ele fizesse algo melhor. 
       Assim é a vida. Deus nos deu uma vida em branco e muitas vezes fazemos nela apenas rascunho. Um monte de borrão. Mas tenho certeza de que se pedirmos a Deus uma nova chance, ele nos olhará com carinho e benevolência e não nos negará. Veja como está sua vida, veja o que tem feito e não se prive de pedir ao Todo Poderoso essa nova oportunidade. 

(Por Professor Alves)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIVERSÃO LIVRE



      Li na Galileu deste mês, julho de 2011, uma matéria super interessante (SEM TROCADILHO), cujo título é “Liberdade sem Fio”. Trata-se de uma matéria que busca chamar a atenção das autoridades mundiais de comunicação sobre a necessidade de se “socializar” o acesso à internet, disponibilizando-a para quem pode, para quem não está podendo e para quem não pode mesmo dispor de uma banda larga. A ONU já definiu como “direito fundamental do ser humano” o direito à grande rede, tal qual é a Educação e é a Saúde. Pelo que entendi, da leitura que fiz, há um grande contingente no mundo inteiro preocupado em tornar isso realidade. Aqui no estado do Ceará, até onde eu sei, as escolas públicas, que deveriam abrir seus laboratórios às pessoas que sequer têm um computador em casa, deixam seus equipamentos às baratas até que a maresia lhes dê cabo.
     Mas o que me trouxe às teclas foi um fato que presenciei. Um grupos de crianças brincando de futebol no asfalto. Sempre que vinha um carro, um garoto de plantão gritava, avisando para que os outros interrompessem a partida. Ao lado, porém, de onde acontecia isso, havia um condomínio, com uma grande quadra ociosa. Ao lado da quadra o condomínio dispõe de um campo de futebol gramado. Veio-me então a lembrança do texto que vi na Galileu. Refleti por que não se proliferar a “diversão sem fio”! Por que não socializar a existência, a felicidade? Por que não liberar a quadra desses condomínios que não estão sendo ocupadas por seus condôminos para crianças que fazem do asfalto seu gramado particular?

        É comum vermos campos “socytes” espalhados pela cidade de Fortaleza, numa profusão fenomenal. Onde há um terreno, dias depois nasce um campo “socyte”, em que são cobrados cem reais a hora para se “brincar de bola”. Assim como há pessoas interessadas em que se liberem as senhas e transformem as cidades num espaço cibernético livre, por que não fazer o mesmo com esses campos “socytes” e com os espaços dos condomínios fechados? Creio em que se esses garotos do asfalto não podem pagar para brincar nos gramados, como algumas pessoas não podem pagar para acessar à internet, não poderão jamais. Se liberássemos esses gramados em momentos ociosos a esses garotos, estaríamos, não só protegendo-os dos carros, mas dando-lhes lição de solidadriedade, que com certeza seria, por eles mesmos, ensinada, mais tarde, a outros.
(Por Professor Alves)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SALVADOR BONFIM - CARISMA DE UM PROVINCIANO


Sou o princípio da virtude,
Pecado capital venho a ser
Mas sem letra do alfabeto
Também podem me escrever.
    (Salvador Bonfim)

      Os versos acima bem que poderiam ser uma autodefinição, um enigma por trás de uma grande profecia, um versículo bíblico ou coisa que o valha. Mas não é. Trata-se de uma simples charada criada por Salvado Bonfim, cujo passatempo principal é fazer poesia. Um cidadão independenciano que até pouco tempo não se via poeta, apesar de sabê-lo. Humilde, como a natureza o fez, e o sol causticante dos Inhamuns moldou, não via (ou via, “O poeta é um fingidor...”) muita graça no que fazia. Até que alguém pôs os olhos em seus escritos e, como os gigantes emergem das profundezas abissais das imaginações, o poeta surgiu do anomimato, imponente, sábio, porém humílimo. 

     Por trás do balcão simples, de seu estabelecimento simples, situado no mercado de Independência, entre vidros de mel de abelha, sementes de girassol, réstias de alho e outras mercadorias que jazem nas prateleiras, encontramos o senhor Salvador, oitenta e quatro anos, de voz mansa, audição já um pouco prejudicada pela idade e pela lida, com seus inseparáveis cadernos, os quais, quando impelido, retira-os quase imperceptível de sob o balcão de madeira. Lá estão, em letra caprichadíssima, os poemas que emergem de todos os recantos da memória, recente ou remota. São poemas simples, mas que revelam a grandeza do punho que os talham. São lembranças da infância, da adolescência idílica e bucólica, como o primeiro encontro com aquela que viria ser sua única e grande paixão, e que até hoje está ao seu lado, Dona Ernestina, a quem  imortalizou no já famoso poema Laço de Chita, ou  uma sátira bem cuidada e desmaldada, como Mulher Ciumenta.

      Pois bem, esse cidadão octogenário descobriu uma forma simples porém perene de reinventar a existência, a poesia. Lembra-me o filme Diário de um adolescente, em que um jovem viciado não sucumbe às drogas devido ao seu envolvimento com a grande musa de Castro Alves, a poesia. Assim é Salvador Bonfim, que mesmo no momento mais triste (creio), a perda de um filho, soube buscar na poesia alento para si e (creio) para toda sua família enlutada. Se Graciliano Ramos publicou seu primeiro livro, Caetés, aos quarenta e um anos e Cora Coralina fez o mesmo aos setenta e seis anos, Salvador Bezerra Bonfim inaugura aos oitenta e quatro anos sua trajetória publico-literária, ao publicar Carisma de um Provinciano. E não se iludam. Essa trajetória está apenas começando, porque o que vai naqueles caderninhos secretos ainda não foi publicado.  
(Por Professor Alves)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

SANA CEARÁ

PARA ENTENDER O PROVÉRBIO: "NESTE MUNDO EXISTE GENTE PRA TUDO E AINDA SOBRA UM PRA MASCAR FUMO."
SANA(TÓRIO)

(IN) SANA (IDADE)




(IN)SANA


sexta-feira, 15 de julho de 2011

À MULHER TAURINA



(Soneto para Jose)

A primeira vez que te vi,
Vulcano foi quem falou primeiro
Estavas brava isso percebi,
Fiquei de longe qual um pegureiro.

Quando entre outras te reconheci,
Vênus tinha um ar alvissareiro,
Eras serena e a Zeus recorri,
Sorriste e isso notei verdadeiro.

Depois passei com eles a viver:
Um bate com força a razão
O outro tem amor e beleza

E os dois juntos te fazem conter
A graça, a ordem, a riqueza.
És, pois, digna de toda emoção.
(Professor Alves, 06/2003)