terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A CARTA DA TERRA



PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, 
numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. 
À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente
e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e 
grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer
que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas 
e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade 
terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar 
para gerar uma sociedade sustentável global fundada 
no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, 
na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a 
este propósito, é imperativo que nós, os povos da 
Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com 
os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.

TERRA, NOSSO LAR

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva 
como uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência 
uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais 
para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade de vida e 
o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável 
com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, 
águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma 
preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza 
da Terra é um dever sagrado.

A SITUAÇÃO GLOBAL

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, 
esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo 
arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente 
e a diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância 
e os conflitos violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento 
sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. 
As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não 
inevitáveis.

DESAFIOS FUTUROS

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da 
Terra e  uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a 
da diversidade  da vida. São necessárias mudanças fundamentais
em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos 
entender que, quando as necessidades básicas forem supridas,
o desenvolvimento  humano será primariamente voltado a 
ser mais e não a ter mais.  Temos o conhecimento e a tecnologia 
necessários para abastecer  a todos e reduzir nossos impactos 
no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil 
global está criando novas oportunidades para construir 
um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, 
políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar 
soluções inclusivas.

RESPONSABILIDADE UNIVERSAL

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de 
responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como 
um todo, bem como com 
nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e 
de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um 
compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família 
humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de 
parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério 
da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar 
que o ser humano ocupa na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para 
proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, 
juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes, visando a um 
modo de vida sustentável como padrão comum, através dos quais a conduta de todos 
os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnacionais será dirigida
e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a) Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida tem valor,
 independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

b) Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial 
intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
    2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

    a) Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais, 
    vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.


    b) Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder, vem a
    maior responsabilidade de promover o bem comum.
      3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, 
      sustentáveis e pacíficas.


      a) Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos humanos e 
      as liberdades fundamentais e proporcionem a cada pessoa a oportunidade de realizar seu 
      pleno potencial.

      b) Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a obtenção de uma 
      condição de vida significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
        4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e às futuras 
        gerações.


        a) Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades 
        das gerações futuras.

        b) Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem 
        a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra a longo prazo.
          II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

          5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas 
          ecológicos da Terra, com especial atenção à 
          diversidade biológica e aos processos naturais que 
          sustentam a vida.


          a) Adotar, em todos os níveis, planos e
          regulamentações de desenvolvimento 
          sustentável que façam com que a 
          conservação e a reabilitação ambiental sejam parte 
          integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

          b) Estabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viáveis, incluindo terras 
          selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, 
          manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

          c) Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados.

          d) Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que
          causem dano às espécies nativas e ao meio ambiente e impedir a introdução desses
          organismos prejudiciais.


          f) Administrar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida 
          marinha de forma que não excedam às taxas de regeneração e que protejam a saúde 
          dos ecossistemas.

          g) Administrar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e 
          combustíveis fósseis de forma que minimizem o esgotamento e não causem dano
          ambiental grave.
            6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção 
            ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura 
            de precaução.


            a) Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais sérios ou irreversíveis, 
            mesmo quando o conhecimento científico for incompleto ou não-conclusivo.

            b) Impor o ônus da prova naqueles que afirmarem que a atividade proposta não 
            causará dano significativo e fazer com que as partes interessadas sejam responsabilizadas 
            pelo dano ambiental.
            c) Assegurar que as tomadas de decisão considerem as consequências cumulativas, 
            a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais das atividades humanas.

            d) Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento 
            de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

            e) Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente.
              7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam 
              as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar 
              comunitário.


              a) Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e 
              consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

              b) Atuar com moderação e eficiência no uso de energia e contar cada vez mais 
              com fontes energéticas renováveis, como a energia solar e do vento.


              c) Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência equitativa de tecnologias
              ambientais seguras.


              d) Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços 
              no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que 
              satisfaçam às mais altas normas sociais e ambientais.

              e) Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde 
              reprodutiva e a reprodução responsável.

              f) Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência 
              material num mundo finito.
                8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o 

                intercâmbio aberto e aplicação ampla do conhecimento adquirido.

                a) Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à 
                sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.


                b) Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria 
                espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o 
                bem-estar humano.

                c) Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para 
                a proteção ambiental, incluindo informação genética, permaneçam disponíveis 
                ao domínio público.
                  III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

                  9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.


                  a) Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à 
                  segurança alimentar, a os solos não contaminados, 
                  ao abrigo e saneamento seguro, alocando 
                  os recursos nacionais e internacionais demandados.

                  b) Prover cada ser humano de educação e recursos 
                  para assegurar uma condição de vida sustentável 
                  e proporcionar seguro social e
                  segurança coletiva aos que não são capazes de 
                  se manter por conta 
                  própria.

                  c) Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir 
                  àqueles que sofrem e 
                  habilitá-los a desenvolverem suas capacidades e alcançarem suas aspirações.
                    10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em 
                    todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa 
                    e sustentável.


                    a) Promover a distribuição equitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

                    b) Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações 
                    em desenvolvimento e liberá-las de dívidas internacionais onerosas.

                    c) Assegurar que todas as transações comerciais apoiem o uso de recursos 
                    sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

                    d) Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais 
                    atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas 
                    consequências de suas atividades.


                    11. Afirmar a igualdade e a equidade dos gêneros como pré-requisitos 
                    para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à 
                    educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.


                    a) Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda 
                    violência contra elas.

                    b) Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida 
                    econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, 
                    tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.


                    c) Fortalecer as famílias e garantir a segurança e o carinho de todos os 
                    membros da família.
                      12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas 
                      a um ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, 
                      a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial atenção aos 
                      direitos dos povos indígenas e minorias.
                      a) Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como as baseadas em raça, cor, 
                      gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
                      b) Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos,
                      terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas com condições de vida 
                      sustentáveis.

                      c) Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu

                      d) papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

                      e) Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.
                        IV. DEMOCRACIA, NÃO-VIOLÊNCIA E PAZ

                        13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover 
                        transparência e responsabilização no exercício do governo, participação 
                        inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça.

                        a) Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e oportuna 
                        sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades 
                        que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse.

                        b) Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação 
                        significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões.

                        c) Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião 
                        pacífica, de associação e de oposição.

                        d)Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos e 
                        independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela 
                        ameaça de tais danos.

                        e) Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

                        f) Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios 
                        ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais 
                        onde possam ser cumpridas mais efetivamente.
                          14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os
                           conhecimentos,  valores e habilidades necessárias para um modo de 
                          vida sustentável.

                          a) Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que
                          lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

                          b) Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, 
                          na educação para sustentabilidade.

                          c) Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no aumento da 
                          conscientização sobre os desafios ecológicos e sociais.

                          d) Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição 
                          de vida sustentável.
                            15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

                            a) Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los 
                            de sofrimento.

                            b)Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem 
                            sofrimento extremo,  prolongado ou evitável.

                            c) Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.
                              16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.

                              a) Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação 
                              entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

                              b) Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar
                              a  colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver conflitos 
                              ambientais e outras disputas.

                              c) Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até o nível de uma postura 
                              defensiva não-provocativa e converter os recursos militares para propósitos 
                              pacíficos, incluindo restauração ecológica.  

                              d) Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.

                              e) Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajude a proteção ambiental e a paz.

                              f) Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, 
                              com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade 
                              maior da qual somos parte.
                                O CAMINHO ADIANTE

                                Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. 
                                Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta 
                                promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.
                                Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
                                interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver 
                                e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, 
                                nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança 
                                preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de 
                                realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que 
                                gerou a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a 
                                partir da busca conjunta em andamento por verdade e sabedoria.
                                A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode 
                                significar escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para 
                                harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem 
                                comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, 
                                família, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, 
                                as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, 
                                as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos 
                                chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade 
                                civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.
                                Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem 
                                renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas 
                                obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação 
                                dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacionalmente 
                                legalizado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.
                                Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face 
                                à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação 
                                dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida. 

                                Do site: http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html (com a grafia atualizada) 

                                sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

                                SUPERAÇÃO I

                                     (Professor Alves, fevereiro de 2011)  
                                     
                                Quando ouvimos falar de histórias de superação, lembramos sempre de atletas, jogadores de futebol, músicos e afins que  conseguiram superar limitações, de um modo geral, de ordem física, deficiência auditiva ou visual, ou mesmo retardamento mental. Todavia, cada um de nós conhece histórias de superação que têm como protagonistas pessoas comuns.  Precisamos, pois, repassá-las adiante para que pessoas também comuns as quais têm alguma limitação possa também nelas se espelhar e vencerem seus obstáculos. Contaremos a seguir algumas histórias reais, de pessoas comuns que em busca da Felicidade ou apenas para viver em paz tiveram que superar barreiras de ordens diversas e que, por isso, são exemplos de superação.


                                Corria o ano de 1965. O cidadão acercou-se do balcão às 6:30 da manhã e pediu uma cachaça ao homenzinho debaixo do boné, como diria Drumond. O homem, enquanto despejava o líquido no copo, fez o seguinte comentário:
                                ̶  Seu Luís, ouvi dizer que  nasceu mais um filho seu!
                                ̶  É, foi, diz a mulher. Respondeu o outro com um ar entre sério e reflexivo, com os olhos no chão.
                                O que servia, então, emendou:
                                ̶  Não tenho nada com sua vida, homem, mas acho que está na hora de você pensar em deixar a bebida. Conheço sua mulher e sei o sacrifício que a coitada faz para botar comida dentro de casa quando você está sem trabalho, lavando e engomando. Passa aqui todo dia com uma trouxa de roupa na cabeça... E você, homem, é um senhor pedreiro, mas num segura serviço, por causa do vício. Se  largasse a cachaça, podia cuidar melhor da família... Já são quantos filhos, doze? 
                                Seu Luís, cabisbaixo, examinando as alpargatas esbranquiçadas pela cal ou os pés inchados pelo efeito do álcool, meneou negativamente a cabeça e corrigiu o número para dez. Olhou o conteúdo do copo, a boca cheia d'água, engoliu a saliva, depositou o copo sobre o balcão e falou com a voz que era um misto de rancor e resignação:
                                ̶  Pois pode guardar sua merda, que eu nunca mais bebo...  ̶  e saiu, porém ainda ouviu quando o dono do bar disse:
                                ̶  Mas num pode ser assim, cumpade, no seu estado é perigoso abandonar a bebida duma vez...
                                naquele dia, ao chegar ao canteiro de obras, Seu Luís era a própria imagem da desolação. Como não havia “matado o bicho”, seu corpo formigava e a irritação começava a tomar conta de sua cabeça. Tudo o incomodava: o cheiro do cimento, o sol escaldante, as pilhérias dos colegas. Às dez horas, olhou na direção do bar que ficava perto da obra... quase se rendia! Mas resistiu. Depois do almoço, não conseguia trabalhar. Sua cabeça estava fixa num único pensamento: não ia mais beber, entretanto o apelo do corpo lhe pedia o contrário, e nessa briga entre Deus e o diabo ele era a parte mais frágil. O desespero aumentava. Contou ao mestre o que estava acontecendo e comunicou que ia embora.
                                ̶  Vá, Seu Luís, estamos do seu lado. E que Deus te proteja!
                                No caminho de casa, os bares se multiplicavam, pessoas riam nas portas virando copos cheios de aguardente, vinho, cerveja. Parecia que o mundo inteiro bebia e que a bebida era aúnica coisa que importava e para a qual todos viviam. Não havia casas, não havia igrejas; só bares, biroscas, botequins. Tentou evitar o bar do Quincas, onde estivera cedo, mas não dava. Ouviu quando uma voz o chamou:
                                ̶  Luís, vem cá!
                                Passando as mãos pelos beiços, ele se aproximou e ouviu histórias dos colegas de infortúnio, mas não entendia nada, seus ouvidos eram todos olfato, seu olfato era todo visão e tudo convergia para o cérebro, que era só confusão. Despediu-se e foi para casa. Nem falou com a mulher, Dona Nazaré. Nem ouviu os filhos pedirem a bênção. Foi para o terreiro e tomou banho, mas quanto mais se molhava, mais o fogo esquentava-lhe o corpo. A mulher estranhou seu comportamento calado, não atinava que em seu âmago travava-se uma luta surda silenciosa entre o desejo do álcool e a vontade de abandonar para assim poder, como disse o Quincas, dar uma vida melhor à família. 
                                Naquela noite mal tocou na comida, seus olhos estavam vidrados, parecia um bicho enjaulado. Quando pegou no sono, foi surpreendido por um homem que o perseguia numa moto, cujo barulho ensurdecedor, quase o leva à loucura. Seus gritos acordaram a companheira, que o viu   todo contorcido sobre a cama. Quando ela o abraçou, ele chorava baixinho, e com sua clarividência feminina ela compreendeu o que estava se passando... Durante sete dias e sete noites, Seu Luís teve momentos de quase insanidade e delírios alucinantes.
                                Passado esse período de desintoxicação, ele foi recobrando a consciência. Tomou um caldo  de galinha, concientemente, tomou banho e saiu de casa pela primeira vez. No dia seguinte foi ao trabalho. O mestre, por experiência própria, compreendeu o que ele passou e como se sentia. Seu lugar na construção estava aguardando por ele. Nunca mais encostou um copo de bebida nos lábios. Evitou os bares, mas não os amigos, que o viram, da noite para o dia, tornar-se outro homem, seguro no emprego e manteve-se próximo à família. Cinco anos depois era mestre de obras de uma grande empresa, Ortecal, comprou terreno, junto com uma irmã, construiu casa própria e nunca mais deixou nada faltar em casa. 
                                Faleceu em agosto de 2009, aos 85 anos. Seu corpo foi sepultado sob uma salva de palmas dos filhos, filhas, netos, bisnetos, genros, noras e amigos. Posso dizer, sem medo de estar errado:

                                MEU PAI É UM EXEMPLO DE SUPERAÇÃO!

                                O VELHO POTE RACHADO

                                f
                                http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8911057507813363548&postID=3727408489791143262
                                          Houve na Índia, um carregador de água que levava dois potes grandes, cada um deles pendurado em uma ponta da vara  que ele levava apoiada nos ombros. Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio ao fim da longa jornada, entre o poço e a casa do senhor para quem o homem trabalhava. Toda vez o pote rachado chegava com água só até a metade.    
                                          Foi assim por dois anos. Todos os dias o carregador entregava pote e meio  de água na casa do seu senhor. É claro que o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. O pote rachado, porém, estava envergonhado de sua imperfeição. Sentia-se miserável por realizar somente a metade do que lhe havia sido determinado fazer.
                                          Após perceber que durante dois anos não havia cumprido sua função a contento, o pote rachado, um dia, disse para o carregador, à beira do poço:
                                           - Estou envergonhado! Quero-lhe pedir desculpas.
                                           - Por quê? - perguntou o homem - De que você está envergonhado?
                                           - Nesses dois anos, - disse o pote - fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, pois essa rachadura faz com que a água vaze por todo o caminho que leva à casa do seu senhor. Por causa da minha falha você não é recompensado inteiramente.       
                                          O carregador ficou triste pela situação do pote e, com compaixão, disse:
                                        - Quando retornarmos à casa do meu senhor, quero que observe as flores crescidas ao longo do caminho.
                                          De fato, à medida que eles subiam a montanha, o pote rachado observou muitas e belas flores selvagens à beira do caminho, o que o encheu de entusiasmo. Mas no fim da estrada, ele voltou a ficar abatido porque mais uma vez metade da água se perdera, e de novo pediu desculpas ao carregador. 
                                          O carregador, então, disse ao pote:
                                          - Você notou que no caminho havia flores só do seu lado? Não percebeu que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, era você que as regava? Por dois anos colhi flores que lá nasceram para adornar a mesa do meu senhor. Se você não fosse do jeito que é, ele não teria belas flores para embelezar a casa dele.
                                              (Texto do domínio público)

                                quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

                                AMAR É PRECISO

                                        Todo ser humano precisa de carinho. Se Cristo dizia para que amássemos uns aos outros, era porque sabia dessa necessidade humana. Sempre que conhecemos alguém, com um pouco de sensibilidade, notamos essa ansiedade por ser amado. Esse amor a que Cristo aludia é um sentimento simples, como a atenção dispensada a alguém, uma palavra de conforto, um aperto de mão, um “tudo bem!”, um elogio, uma validação.

                                Há alguns dias, enquanto acompanhava meu filho ao treino da escolinha de futebol, fiquei observando um cidadão conversando com outro, um amigo particular, a respeito de seu cãozinho, na verdade uma cadela,  que desaparecera. Ele falava da tristeza do filho e da filha, e em seu semblante eu percebi que lhe fazia bem ser ouvido, pois além de servir de lenitivo para a sua angústia de não poder resolver esse problema  familiar, lhe dava o amparo de que precisava para seguir sua rotina habitual e forças para continuar essa busca.
                                Acompanhei sempre esses diálogos à distância. Até que um dia o amigo não veio. Percebi que o homem procurava por ele, imaginando que estava demorando, mas que logo chegaria. De súbito, percebi que o amigo daquele homem não viria e que nele ficaria o vácuo daquela ausência. Resolvi substituí-lo. Aproximei-me do homem e abordei-lhe sobre se havia encontrado o animal de estimação da família. Informei-lhe que havia escutado seu diálogo de alguns dias a respeito do sumiço do animal, sobre como estavam seus filhos... O semblante do homem desconhecido se iluminou, seus olhos brilhavam de tal forma que me senti feliz. Ele estava enormemente agradecido pelo fato de eu me incomodar com seu sofrimento. Em poucas palavras me pôs a par do que estava acontecendo, e no final, antes de ir embora, me agradeceu com um efusivo aperto de mão.
                                Assim todos os dias que nos encontrávamos, ele me chamavas para perto de si e do amigo e  nos punha a par de como estavam as buscas. Até que um dia acabou. Ele chegou, cumprimentou o amigo, chamou-me para perto de si, abraçou primeiro o amigo, depois a mim e, enxugando uma lágrima teimosa, contou que havia encontrado a cadelinha e que a família estava novamente completa.
                                Depois desse dia, o homem sempre me tratou como amigo, me cumprimenta, pergunta como está minha família, conta sobre suas coisas. Se me encontra no supermercado, vai até mim, mantém um rápido diálogo e me convida para ir a sua casa. Infelizmente adio esse momento por motivos vários, mas um dia o farei, pois aquele homem é meu amigo.  
                                        (Professor Alves, 03/02/2011)

                                sábado, 29 de janeiro de 2011

                                LUCÍOLA


                                (Soneto incidental)

                                Essa moça que vemos no ataúde
                                Atendia pelo nome de Lúcia
                                Virou-se na vida com garra e astúcia
                                'Té que uma paixão lhe levou a saúde.

                                Em vida, do alcouce foi rainha
                                E nenhuma disputou-lhe a coroa;
                                Molhada da cidade na garoa,
                                Despedaçou orgulho como fuinha.

                                Que demônio levou esse anjo à vida,
                                Pois habita em seus olhos pudicícia
                                E o sorriso lhe é meigo, divinal?

                                Foram aflições em que se viu metida
                                Dos tigres indecentes a malícia,
                                Mas o amor a livrou de todo o mal.

                                (Professor Alves, Setembro de 2003)

                                segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

                                REFLEXÃO SOBRE O QUE DIZ, O QUE PENSA, OU NÃO PENSA NEM DIZ, OU NÃO SABE O QUE DIZ NEM PENSA ESSA EXTRANHA HUMANIDADE.


                                Às vezes eu penso que burro sou,
                                que deste mundo não entendo nada,
                                pois pen(s)ando sobre a terra vou
                                enquanto toda a gente dá risada.

                                Não entendo o que por aí se diz,
                                por que se propaga tanta besteira,
                                bb, Xuxa, soletrando, aprendiz,
                                vivemos no mundo a ouvir asneira.

                                Mas de tudo, o que mais me incomoda,
                                é a ilusão em que nosso povo vive,
                                mentir está e sempre esteve na moda.
                                Preocupação como essa nunca tive.

                                Neste país todo embusteiro mente,
                                mente o prefeito e o governador
                                e descaradamente o presidente,
                                deputado, síndico e vereador.

                                Mas é tanta mentira que se conta
                                Por este imenso Brasil afora
                                que a população, coitada, anda tonta
                                ontem, hoje, pela manhã, agora.

                                O tal presidente é pura mentira,
                                dizia que já foi trabalhador
                                eleito, o calhorda ainda delira
                                dizendo a um certo governo se opor.

                                Pensa que ainda está no palanque                                       
                                mentindo e enganando continua,
                                mas assiste a tudo isso, estanque,
                                a população rota, seminua.

                                O hipócrita fala em educação
                                com projetos sempre mirabolantes,
                                mas como tudo é só embromação
                                a situação vai ficar como antes.

                                Como dissera certo americano,
                                Educação aqui é só projeto,
                                e nós vamos viver sempre de plano.
                                Também com um líder analfabeto!

                                Aqui no Ceará, a coisa tá feia,
                                de educação é bom nem falar,
                                a população estudo não anseia,
                                o governo não cogita mudar.

                                Havia direitos anos atrás,
                                tidos pela classe de professores,
                                disse: vocês isso não terão mais,
                                um governo feito por opressores.

                                À época, Ciro era governador,
                                a mãe do troço fora professora,
                                ou queria vingar alguma dor,
                                ou detestava sua genitora,

                                Veio agora seu irmão pra mandar.
                                Durante o período de eleição,
                                Diziam: vamos no rapaz votar!
                                professores, oh classe frustração.

                                Eu dizia, quase babando, indignado:
                                Você esqueceram o que o Ciro fez?
                                "Vamos é todos ficar estribado –
                                diziam – pois esse é bom sobralês".

                                No seu primeiro dia de mandar
                                desculpem-me, mas eu achei foi bom –
                                mandou aos funcionários não pagar,
                                ordenou com voz grossa, em bom som.

                                Depois cortou verba da educação
                                fechou escola, humilhou professor,
                                sem pudor, vergonha; sem compaixão,
                                mudou o governo lá pro interior.

                                Mas o povo é besta e merece apanhar,
                                pois não é que um colega que encontrei,
                                O coitado deu logo de falar,
                                defendendo o cujo, como lhes direi:

                                O governo sabe o que tá fazendo,
                                deixa, por Deus, o homem trabalhar,
                                só desemprega quem tá merecendo
                                pois de algum lugar precisa tirar.

                                Vão ver como a vida vai melhorar,
                                a polícia vai vigiar quarteirão,
                                o nosso salário vai muito aumentar
                                e o povo enfim vai ter educação.

                                Ledo engano, muito triste ilusão,
                                nosso povo vai ter menos saúde,
                                quem precisa, menos educação,
                                sem segurança, se é morto amiúde.

                                O amigo leitor, se é que algum há,
                                com seu semblante todo franzido
                                a mim cismado assim perguntará,
                                com o olhar baixo, humilde, entristecido:

                                "E se tivéssemos em outros votado,
                                teríamos nós melhor escolhido?
                                Se ao poder, outros fossem levados,
                                essa escolha melhor teria sido?"

                                "Teríamos nós melhor presidente,
                                um governador macho, despachudo,
                                que fosse governante competente,
                                ou outro prefeito, honesto, sisudo?"

                                Responder-lhe-ei à frase popular:
                                ora pois, creia em Deus que é grande o santo,
                                eles só querem nos sacanear,
                                a político algum não importa o pranto.

                                Precisamos é deixar de ser bobos,
                                dizer não a todos esses ladrões
                                virar as costas a essa corja de lobos
                                e nunca mais votar nem por milhões.

                                Mas o meu dissabor não para aqui,
                                transcende muito os portões da Fortaleza,
                                passa além das terras de Guarani,
                                não pára nas terras da realeza.

                                Seu paradeiro é o primeiro mundo,
                                onde reina o cinismo e a hipocrisia,
                                que alarga o imenso fosso profundo
                                que me deixa em imensa melancolia.

                                São asiáticos, gringos, europeus
                                os quais se tornam cada vez mais ricos
                                para humilhar os outros irmãos seus,
                                porém é de burros que os qualifico.

                                Senão vejamos se tenho razão,
                                pois é muito grande este universo,
                                tem vida em tudo quanto é rincão,
                                de todo jeito e modo mais diverso.

                                Temos inseto manso e brigador,
                                mamíferos de muita sapiência,
                                tem leão, onça e tigre predador,
                                assim nos ensina o olho e a ciência.

                                Existe também no imenso oceano
                                peixe de todo tamanho e tipo,
                                dos tais que não vivem sequer um ano
                                e dos que não enxergam nem um tico.

                                Há vivendo entre nós até gente,
                                porém parece que não querem ver,
                                pessoas sem ente nem aderente,
                                tudo padecem na vida sem ter.

                                Existem sistemas agonizando,
                                espécies múltiplas em extinção,
                                florestas inteiras se acabando
                                pelo processo da desmatação.

                                Entretanto os donos do planeta
                                gastam milhões e bilhões em dinheiro
                                para fazerem aéreas carretas
                                para vasculharem o cosmo inteiro.

                                Já mandaram um robô até marte,
                                gastaram uma verba impressionante,
                                mas ele sumiu em alguma parte
                                foi embora o módulo itinerante.

                                Agora, juro que não entendi,
                                dizem que acharam um planeta novo
                                longe, muitíssimo longe daqui
                                onde jamais imaginaria o povo.

                                Só pra se ter disso uma ideia,
                                para até lá poder chegar alguém,
                                mesmo com a tecnologia europeia,
                                com a asiática e americana também

                                Indo-se à velocidade da luz,
                                Que é velocidade descomunal,
                                a viagem há pouco não se reduz,
                                chega-se vinte anos depois, afinal.

                                Dizem a nós os burros esquipáticos
                                que vão lá pra riba procurar vida,
                                é ou não é pra ficarmos estáticos
                                e surpresos ante tamanha lida!

                                E aqui nesta imensa espaçonave,
                                a vida certa corre imenso perigo
                                morre-se aos poucos de doença grave,
                                e não é de Deus que vem o castigo.

                                Por que não aplicar esse dinheiro
                                pra sanear os males que há por aqui,         
                                acabar com a fome do mundo inteiro
                                fazendo a Terra no final sorrir?

                                Por essas e outras cismando vou,
                                gastando minha já pobre mente
                                e certo de que muito burro sou
                                por não entender o que diz essa gente..

                                (Professor Alves, maio de 2007)

                                terça-feira, 18 de janeiro de 2011

                                A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA

                                      A genialidade da cinematografia resgata o cinema em preto-e-branco e o coloca ao lado do cinema colorido. Assim é possível contar duas histórias: a história americana e a “outra” história.
                                    A história americana diz respeito ao que Derek Viniyard e seu irmão conheciam a partir da vida burguesa que lhe era proporcionada pelo pai. Quando este foi morto por um negro, enquanto apagava um incêndio num bairro pobre, todo preconceito apregoado por ele aflora em Derek Vinyard, que, cooptado por Cameron, se torna skinhead e passa a perseguir qualquer coisa que não representasse a supremacia da raça branca, apregoada por Hitler e sua filosofia nazista. Essa história culmina com o brutal assassinato cometido por Derek Vinyard, levando-o à prisão.
                                     A outra história diz respeito às mudanças ocorridas em Derek durante seu encarceramento. Aos poucos ele percebe que seus parceiros neonazistas não fazem parte de sua guerra dentro da prisão. Após ser violentado por eles, com ajuda do Dr. Bob Sweeney, diretor da escola em que estudou e onde estuda seu irmão, Daniel, ele compreende que todo seu ódio não valera a pena, que aquilo em que acreditava e pelo que lutara até então não fazia o menor sentido. Lá na prisão ele percebe que as minorias, em que estão inclusos negros e hispânicos, não são a ameaça para a hegemonia americana, como sempre pensara. Seu contato de perto com um negro, fê-lo crer em que a perseguição que infligira aos negros, hispânicos, coreanos, judeus fora na verdade uma grande perda de tempo, que afundara sua família numa terrível tempestade social.
                                    Ao ser libertado, ele luta para tentar livrar sua família da tortura em que a metera. Mas o ódio que alimentara durante tempos e do qual o irmão tornou-se herdeiro foi cruel a Derek. Seu irmão foi assassinado no banheiro da escola, por um desafeto produzido pelo ódio racial.
                                (Por Professor alves)

                                domingo, 16 de janeiro de 2011

                                Filhos de políticos na Escola Publica

                                           Há alguns dias, recebi de meu amigo Roberval um e_mail muito simpático a respeito de um projeto de lei de autoria do nobilíssimo senador Cristóvão Buarque. Este projeto de lei auspicia a obrigatoriedade por parte dos políticos brasileiros de matricularem seus filhos na Escola Pública. Eis abaixo a resposta que lhe dei:             
                                         
                                            Boa tarde, amigo,
                                        Acho que não seria uma boa ideia. É corrente o pensamento de que um dia a escola pública funcionou neste país. Entretanto há aí um grande equívoco. A escola "pública" que um dia funcionou de fato não era pública, era privada bancada pelo poder público. Naquela escola estudaram, aqui no Ceará, Cid Carvalho, Lúcio Alcântara, Cid ferreira Gomes, A mãe do citado antes, Belchior(se não me engano), governadores, prefeitos, empresários...
                                         Creio em que se os políticos fossem obrigados a matricular seus filhos em escolas públicas (não sei como se faria isso), ou eles transformariam a escola pública, escola democrática, em uma escola "pública", restrita ou dariam um jeito de matricularem seus filhos na escola pública e arrajariam outro jeito de os manterem na PRIVADA. Cuidariam com certeza para que seus filhos não estivessem juntos da gentalha, criando até escolas próprias para seus filhos. Não podemos ajeitar o país e suas falhas instituições com medidas autoritárias. E essa não seria uma medida autoritária? Além do mais sabemos que o IFCE (onde vossa senhoria estudou), o Colégio Militar, O Colégio Pedro II são exemplos de Escolas públicas cuja qualidade é incontestável. E, se por uma questão de não sei o quê, essa lei fosse aprovada, seria lá que os filhos dos ditos cujos iriam parar. 
                                       Não vislumbro em nenhum momento o filho ou a filha do Sr. Fernando Hugo, deputado estadual que troca votos por feijoada e cerveja, adentrando os portões da EEFM Professor Paulo Ayrton Araújo. Ou será que estou enganado? 

                                sábado, 15 de janeiro de 2011

                                ANTROPOFAGIA


                                Nascemos para comer as outras pessoas,
                                Comermos enquanto somos devorados.
                                Tudo que fazemos, aprendemos
                                demos graças a quem comemos,
                                Cada um é aquele que come!
                                O nosso amor, o nosso ódio;
                                A nossa alegria, a nossa angústia;
                                Os nossos augustos e demônios
                                São o que comemos de outrem.

                                Antropofagia: é isso que realizamos na vida.
                                Somos como cobras que se pegam pela calda,
                                Devoramo-nos até a exaustão completa,
                                A morte de cada um é aquilo e aquele que se come.

                                Os discentes comem os docentes,
                                Estes devora-os conscientemente
                                E ambos são canibalizados pela sociedade.
                                A criança ao velho, este àquele;
                                Os filhos à mãe...

                                O resultado dessa fagia
                                É o conhecimento ou a ausência disto:
                                Nascemos para comer as outras pessoas.
                                ...
                                (Professor Alves, o antropófago)

                                SINA


                                Um homem e uma mulher a que se destinam?
                                Para o entrelaçamento amoroso
                                Para o riso farto depois do gozo
                                Para a união que cheira à fresca resina.

                                Antes no varandim, as mãos unidas,
                                A lua fitando mesmo sem vê-la,
                                Ou no barzinho, ouvindo estrela,
                                Só este pensamento une duas vidas:

                                Na favela, caatinga ou mansão
                                Sem pejo, enigma nem mistério
                                Homem e mulher, lúbricos, se olham.

                                O amor, o sexo movem uma nação
                                Que digo, galáxias inteiras se amam!
                                E nisso não há nenhum despautério.
                                             (Professor Alves; 2005)

                                domingo, 9 de janeiro de 2011

                                ADEUS


                                I

                                Assim te vejo
                                De novo posso aos teus pés
                                Dizer-te o quanto te vejo
                                E por que te vejo.

                                Porque és assim
                                Encantadora como as coisas
                                Em que acredito
                                Porque és para mim um mito
                                Algo desprovido de tez
                                Como se só houvesse
                                Teu riso, carmim.

                                Porque és bela
                                Como a luz que
                                Me vem pela janela
                                Jogar luz na estrada intranquila
                                E trazer alento a uma alma abrasada
                                Torta e enviesada
                                De temores longínquos.

                                Porque és labirinto
                                Como um filme de Mia Farrow
                                Profunda como uma dissertação
                                Distante como a solidão
                                Estouvada ao dizer: ¨minto!¨
                                Ou ao explodir louca
                                Como um vulcão.

                                II

                                Parece que nunca te vi
                                E talvez eu nunca te tenha visto
                                Quiçá, me és um livro que li
                                Há muito em um passeio
                                E por motivo desconhecido
                                Parei da leitura no meio.

                                Há uns dias tive um sonho
                                E nele em dobro me vieste
                                Eras como as águas de um rio
                                Caudaloso que a galope
                                E desespero foge do estio
                                Em busca do vento leste.

                                E naquele espaço onírico
                                Doido e sem termo eu corria
                                E te afastavas lentamente
                                Rindo, exercendo a tirania
                                E eu tremendo em ânsias
                                Acenava, os dedos molemente.

                                Na parede do quarto
                                Havia uma tosca janela
                                Lívida a refletir sobre mim
                                Uma cinza aquarela
                                Em que se via em arco
                                Um rosto da alvura de marfim.

                                Era uma deusa que eivada
                                De graça e beleza surgia
                                De uma fonte encantada
                                Para com profunda alegria
                                Dizer-me com voz embargada
                                Te adoro, te adoro, te adoro.

                                Sobressaltado e persuadido
                                Surpreso e ainda aturdido
                                Supus haver entendido
                                Ser um ser amado e correspondido
                                Se não tivesse me iludido
                                Seria teu sem te ter perdido.

                                26/04/2002

                                NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

                                FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...