terça-feira, 10 de julho de 2018

CORDEL DA ASCENSÃO



(O poeta homenageia seu time de coração
Agradecendo pelo acesso à  3ª divisão)

BREVE HISTÓRIA

Já contei muitas histórias
De pessoa e de animal
Já falei de meus amores
De traição e coisa e tal
E hoje resolvi contar
A  história grandiosa
Do nosso time coral.

“Salve, salve EFE, A, CÊ”
O belo hino diz assim
Referindo-se as três letras
Do grandioso FERRIM
Fundado em trinta e três
Que possui estas três cores
O preto, o branco e o carmim.

Neste ano ele celebrou
Oitenta e cinco de idade
Carrega consigo as rugas
Da torcida irmandade,
Pra Seu Valdemar Caracas,
Zé Limeira inesquecível,
Preces com sinceridade.

Sua história é de luta,
De vitória e de tristeza,
De alegria e de tormento,
De acanho e de grandeza,
Mas nada no mundo tira,
Nunca em momento algum
Sua fulgurante beleza.

Fundado por funcionários
Da empresa ferroviária,
Ficou logo conhecido
Time da classe operária,
Logo logo ele já era,
Do futebol cearense,
Presença extraordinária.

Primeiramente ele esteve
Na segunda divisão
Dessa estrada o Ferrim
Foi logo campeão
Para então ele ascender
Com muito brilho e virtude
À primeira estação.

No ano de quarenta e cinco,
Foi então a primeira vez,
Que o Ferrim foi campeão.
Grande feito ele fez,
Desbancou tradicionais
Vovô, Stela e Maguary
Ficaram logo  freguês.

SÓ ACONTECE COM O FERRIM

Nove  títulos se seguiram,
Vinte vice campeonatos.
Uma história grandiosa
E muitos momentos latos.
Na sequência vou narrar
Que só ocorrem ao Ferrim
Muito interessantes fatos.

É sabido de todo mundo
Que coisa boa ou ruim
Acontece a todo mundo
A vida é mesmo assim,
Mas tem coisa, minha gente,
De chorar e de sorrir,
Que só acontece ao Ferrim.

No ano de sessenta e oito,
No almanaque eu aprendi,
O Ferrim foi vencedor,
Foi no rádio eu não ouvi,
Pela primeira vez gritar
O locutor triunfante
Disse “aí é Ferrim meu fi”.

Ele é o time das gafadas
Todo mundo quer seu fim
Árbitros, frios, desonestos
Querem o mal dele sim
Isso é coisa do diabo
Coisa pra se indignar
Pois só acontece ao Ferrim.

Time de grande torcida,
Mas que fica em casa sim,
Não comparece ao estádio.
Eita cabroeira ruim!
Isso não acontece com outro,
Isso é coisa muito feia
E só acontece ao Ferrim.

Em novecentos e oitenta,
Depois de vencer o vozim,
Era final de certame,
O jogo foi um a zerim,
Houve um terremoto
Aqui mesmo em Fortaleza!
E só acontece ao Ferrim.

No ano de dois mil e seis,
Chegou ele bem pertim
De ascender à série B,
Mas triste foi nosso fim.
Os times que a ele venceram
Foi tudo pra série A!
Só acontece com o Ferrim.

Foi lá em dois mil e treze,
Depois de grande festim
Pelo bom primeiro turno,
Era vitória sem fim,
Caímos então na tabela,
Quase fomos rebaixados!
Só acontece com o Ferrim.

E são muitas as histórias
Daria medo  em Caim
Mas não vamos contar tudo
O espaço aqui é curtim,
De uma coisa tenha certeza,
É coisa de se espantar
O que acontece ao Ferrim.

ASCENSÃO À SÉRIE C DO BRASILEIRO

Mas também há coisas boas,
Que dá alegria dizer,
Como o que este ano se deu,
Foi muito bom acontecer,
Que aqui falo com emoção
A ascensão à serie C.

Não fazia muito tempo,
Que nosso grande Ferrão,
Um time fora de série,
Fora do brasileirão,
Nem na A, B, C nem D,
Sem série nem divisão.

Mas o Deus do futebol,
Que é mui grande e universal,
Urdia grande momento
Para a torcida coral:
Uma grande atuação
No cenário nacional.

Começou então ganhando
Grande notoriedade,
Eliminando o Sport
Time grande de verdade.
Vila Nova e Confiança,
Bateu sem dó nem piedade.

E foi de igual para igual,
Jogou com galo mineiro,
Perdeu, isto é bem verdade,
Mas tava no seu terreiro.
Aqui, quase que ganhava,
Mas ganhou algum dinheiro.

Foi a copa do Brasil,
Democrática disputa,
Que permitiu ao Ferrão
Montar time para a luta,
Pra jogar a série D,
Série de muita labuta.

E foi, pois, assim jogando,
Ganha aqui ganha acolá,
Que ganhou de todo mundo,
Sem ninguém o derrotar,
Que chegou a Paraíba
E a ascensão conquistar.

Foi um jogo assaz nervoso
Pra cardíaco testar,
E o Ferrão foi para os pênaltis
Para a torcida assustar,
Não ficou dedo sem unha
Nem  cabelo pra arrancar.

Como tínhamos vencido,
Jogando aqui em Fortaleza,
Fomos pra Campina Grande,
Sítio de grande beleza,
Jogar contra o Campinense,
Time de grande destreza.

Foi na disputa de pênaltis,
Que houve a grande decisão.
Muitos corações parados,
Esperando a explosão
De alegria e contentamento
Esperando a ascensão.

Fo quando o goleador
Da grande competição,
Edson Carius chamado,
Pra grande confirmação,
Disparou a bola no ângulo
E transbordou de emoção.

Choro de muita alegria,
Sorriso e muito sarau.
Estamos na série C
Do futebol nacional
Vivas pro nosso Ferrão,
Salve a torcida coral!!!
(Alves Andrade, julho de 2018)

sábado, 16 de junho de 2018

OBJETIVOS E SONHOS



Me pego refletindo sobre sonhos e objetivos. Isso se deu durante a assistência a um vídeo de uma competição de patinação no gelo. O que me levou a pensar sobre o sonho não foi a graça da moça ao deslizar pela pista, com seu vestido branco e seu sorriso impune; não foi a beleza da música que a acompanhava, cuja sonoridade emudecia a plateia e fazia prender a respiração; não foram os movimentos precisos, ritmados e encantadores.
O que me levou a refletir sobre o sonho e o objetivo é a pobreza deste. Como são pequenos os objetivos! Passar num vestibular, tornar-se médico ou professor, fazer um bom casamento. Os objetivos não levam a nada, pelo contrário, são levados por planejamentos tão pequenos quanto eles. Planejar uma profissão, um casamento, uma viagem é tão banal quanto ir ao supermercado, ou concluir um curso de mestrado.
Mas o que me entristece e me chateia é que, hodiernamente, muitas pessoas sequer tem um objetivo. Então como ter, parir e alimentar um sonho!!! Pessoas que não têm um objetivo de vida não vivem, apenas existem. São como as baratas, que sobreviveram a todas as catástrofes que assolaram este infeliz planeta, mas cuja evolução não andou um centímetro.  A verdade triste é que nossos jovens atualmente não sabem sequer o que é isso, objetivo de vida. A preguiça mental em que os envolveram as redes sociais e, consequentemente, a falta de leitura determinou o surgimento de uma geração nada. Não fazem nada, não querem nada, não sabem nada e não leem nada. Não tem sequer um objetivo. O máximo que fazem é almejar, e isso é muito menos do que objetivar. Almejam tão pouco, uma notazinha acima de zero na escola, umas pancadas no violão e umas vozezinhas desafinadas. Seu apogeu é o sexo, banal, um orgasmozinho de nada, muitas vezes, quase moda,  com outro indivíduo do mesmo sexo, o que aumenta, creio, o vazio da imcompletude.
Sonhar é algo sublime, da esfera espiritual. É inerente aos seres superiores, que atingiram uma completude de alma e carne, atingiram o limite entre o ser mortal e o divinal, com um passo na eternidade. Quando vejo Cristiano Ronaldo jogando, não vejo em seu semblante a busca de um objetivo, vejo-o voando, volitando sobre os mortais, superando-se e ensinando a superação. Lindo, quase robô, sem emoções, só sonho. Perfeito, soberano, deste mundo, mas não da mediocridade deste mundo, superior, da essência superior. É o mesmo sentimento que sentia quando via Airton Sena desafiar os limites da velocidade, para superar os centímetros que permitiam a ultrapassagem. Ali, era sonho que transbordava em sua realização. Quando via Hortência respirando e eliminando, de seu corpo, tudo que era físico, para atingir a perfeição no arremessar a bola em direção a sexta. Foi este o sentimento que tive quando vi a patinadora voar, alçada pela melodia e externar toda a alegria que habitava seu belo ser num sorriso encantador.
Que Deus continue abençoando todas as pessoas deste pobre orbe. As que têm objetivos e as que ainda não se tornaram viventes. E que continue iluminando essa plêiade de sonhadores, para que possam edificar a poesia que ainda existe, para inspira os músicos que têm a mão na mão de Deus, que tem nos pés a luz divina e no riso a graça divina.
(Professor Alves; junho, de 2018)

terça-feira, 17 de abril de 2018

CAPRICHO DE SAGUÍ



                No silêncio do quarto jazia eu. Morto. Apático à vida. Minha mãe, católica, chamara a rezadeira. Dona Terezinha vinha. Com ramo na mão, fazia o que sabia e podia. Sua reza era infalível. Mas nem os olhos eu mexia. Grudados nas telhas. Também não fechavam. Talvez por isso ainda houvesse esperança. Meu pai retornava do trabalho à noite, dava uma olhada pra cama de palha, espantava uma mosca que teimava em me beijar os lábios. Pegava nos pés, frios e fazia um gesto de cabeça que queria dizer “um filho a menos, um anjo a mais”. Eu seria o oitavo anjo que meus pais mandavam pro céu.
                No dia seguinte, a rezadeira voltava. Mais reza, mais erva. O cachimbo, semiapagado, era reanimado pelo puxão que lhe vinha dos pulmões, e a fumaça me nublava o rosto e se evaporava pelo quarto. No canto, um sapo coaxava uma única vez, antes de ser expulso a ponta pés. E como tudo que ocorria nesses dias de angústia, ele retornava para o canto úmido, onde ficava o pote coberto por um pano alvo, tendo o copo de alumínio ao pé. Minha mãe transitava de lá para cá. Ora olhando o filho encomado, ora mexendo a panela onde o minguado feijão fervia. Ela devia se perguntar se eu sentia o cheiro da comida, se eu ouvia a batida no tabuleiro de carne que seu Batista carniceiro batia com força para chamar os clientes, se eu sentia o caldo que sabia a quase nada...
                Anoitecia. Meu pai chegava, e olhava, e balançava a cabeça. As estrelas tornavam a brilhar e metiam-se intrometidas pelas frestas das telhas e também se diziam “não tem jeito”. As redes ao lado da cama, onde dormiam minhas irmãs, gemiam embaladas pelos pés que tocavam na parede, num vai e vem incessante. Sob as sombras tremulantes da luz da lamparina, elas olhavam o doentinho, para ver se Deus já viera buscá-lo. Era teimoso.
                No vigésimo dia, minhas irmãs saíram cedo com algumas amigas da mesma idade. Tinham Catorze anos e precisavam de diversão. E não era grande diversão preparar a partida de quem já aqui não estava? E foram de porta em porta pedindo ajuda “para o caixão do anjinho”. “Já morreu?” Perguntavam. “Não. Mas de hoje não passa”. Não havia dinheiro. Davam o que podia. Um pouco de café, um pacote de bolacha, umas ervas para o chá, duas colheres de açúcar. “Quando acontecer, a gente vem chamar para o velório”. E saíam esperançosas de que muita gente acorreria à casa e compareceria também ao enterro.
                No vigésimo primeiro dia, ele apareceu. Era pequeno. Da cabeça ao começo da calda devia ter uns quinze centímetros. Pôs-se entre a fresta de uma telha que estava quebrada. O danado afastou um pouco mais e ali se pôs a me observar, sentado em um caibro, mudando para outro de quando em vez, pondo-se frente ao meu rosto, de modo que seus olhos verticalizavam com os meus. Quem primeiro o viu foi meu pai, que o olhou e percebeu que ele tentava me imitar. Mas ele não conseguia ficar por muito tempo estático. Minha mãe exortou a meu pai que o expulsasse, porque tinha ouvido dizer que uma criança havia morrido depois de ser mordido por um “bicho desses”. Ele, paciente, mexeu a cabeça como a dizer “e quem está vivo”!
                Pela manhã, as amigas de minhas irmãs chegaram para saber se a diversão estava garantida, quem sabe até se naquele velório não aparecia um moço bonito”! Minha irmã mais velha, balançou a cabeça desanimada. Minha mãe entrou esfregando as mãos num pano e deu um grito: Ele acordou!” Era verdade eu estava mexendo os olhos, procurando o saguí que andava de um caibro para outro, balaçando a cabeça e emitindo gritinhos. Cansado de tentar me imitar, o danadinho resolveu me despertar das profundezas escuras daquele transe, para que eu o imitasse.
                Minha mãe, quando me contava essa história, destacava bem o sorriso que eu emitia, quando ouvia os gritinhos do soim, era assim que chamávamos. Ela dizia que naqueles dias a vida voltou para mim como se nunca houvesse saído. Voltei a comer, a chorar e a... Deixa pra lá. O certo é que eu tive a vida de volta por capricho de um soim. Quanto às minhas irmãs, essas tiveram de arranjar outras atrações para se divertirem.
(Alves Andrade)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...