terça-feira, 13 de setembro de 2011

VAIDADE E CORRUPÇÃO



         Enquanto me dirigia para mais uma atividade da greve (adoraria dizer que estava me dirigindo ao trabalho, mas o governador não quer.), ouvi pela CBN que existem 110 projetos de lei de combate à corrupção em tramitação no congresso. Fiquei impressionado com o número! Por que será que os deputados não aprovam pelo menos uma que realmente seja efetiva? Incógnita!
        Ao mesmo tempo em que ouvia esses números e refletia sobre a inépcia dos caros deputados, literalmente escrevendo, observava pela janela do carro alguns motoristas fazendo manobras, pelo menos hilárias se não fossem trágicas. A comicidade está no fato de os mesmos parecerem meninos burlando alguma lei verbal na escola primária. A tragédia explico mais adiante. O fato é que me encontrava próximo a um supermercado e de um sinal. Como o sinal (semáforo, farol, depende da região em o leitor esteja) se encontrava fechado, os espertinhos entravam no estacionamento do supermercado para saírem à frente do sinal sem que precisassem esperar o tempo necessário. Detalhe: eles entravam pela saída e saíam pela entrada.
         Há uns anos, na cidade de Independência, enquanto esperava na fila de um brinquedo em uma parquinho de diversão, fiquei chateado quando um cidadão, com o filho de mais ou menos 12 anos, postou-se à frente com claro intuito de cortar a fila. Chamei-lhe a atenção, mas o cretino simplesmente fazia de contas que não era com ele, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Me estressei deveras. Mesmo diante do apelo de meu filho para que deixasse para lá, fui ao encontro do cidadão, com o perdão da palavra, e lhe perguntei se ele não tinha vergonha do exemplo que estava dando ao seu filho. Sem nada responder o indivíduo, e bota indivíduo nisso, simplesmente virou as costas e saiu, tranquilamente, possivelmente para numa outra ocasião retornar e tentar o mesmo.
            Próximo onde moro, no cruzamento das avenidas Oliveira Paiva e Desembargador Gonzaga (ver imagem acima), o fluxo de veículos estava complicado. A empresa responsável pela sinalização resolveu mudar o tráfego nesse ponto. Em um trecho da Oliveira, temos que fazer um retorno à frente se quisermos pegar a Desembargador Gonzaga. Entretanto os “espertinhos” não o fazem. Apenas retornam pelo posto que ali se encontra, causando é óbvio descontentamento àqueles que fazem a conversão devida, e gerando estresse a esse cronista de ocasião, mesmo sob apelos do Dr. Dráuzio Varella.
        O trágico disso tudo é que esses indivíduos que praticam essas atitudes, e que não são em pequeno número, são pais, mães, tios e muitas vezes educadores. Dessa forma, como podemos querer que as autoridades, ministros, deputados, governadores, cumpram com seu dever e não transformem o país numa privada fétida de excrementos da corrupção, se nós simples cidadãos não cumprimos com nossa missão de orientar através da ética mais rasa àqueles que estão próximos a nós? Quando Machado de Assis disse que “a vaidade é um princípio de corrupção”, era desse comportamento que ele estava falando. É do vício de querer levar vantagem sobre o outro, mostrar que é mais esperto, mais “danado”. Quando o Governador Cid Gomes, assim como executivos de outros estados, numa atitude ditatorial, se nega a pagar o piso salarial aos professores e ainda manda-os governar por amor, está sendo vaidoso e consequentemente corrupto, pois degenera, perverte, corrompe, vaidosamente os princípios mais básico da convivência humana: a ética e a democracia.
(Professor Alves)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

NÃO TEMOS TEMPO


Nunca temos tempo pra nada. Não temos tempo pras coisas dos outros, só temos tempo pras nossas coisas (SE É QUE TEMOS ), só temos tempo pro nosso egoísmo, só temos tempo pro nosso tempo.
Nunca nos sobra tempo pra dizermos pra uma pessoa que ela é importante pra nós e que a amamos!
Muitos dizem que não tem tempo pra namorar, de sair como os amigos pra algum lugar ou simplismente de ir relachar solitariamente num bosque.
A sociedade atual está mais solitária que nunca, a tecnologia avança e nos conecta mas também nos torna cada vez mais distantes uns dos outros.
E assim o tempo corre sem nunca termos tempo pra nossa felicidade. O tempo come nossas carnes e leva nossos dias em suas asas...só temos tempo pro trabalho...pra dar nosso tempo pra alguém que só quer o lucro e pouco se importa se estamos sem tempo pra nós.
Alguém lhe pergunta: vamos viver o pouco dos dias que temos ?
Você, mais parecido a uma máquina do século 21, fala : NÃO TENHO TEMPO!

NÃO TENHO TEMPO PRA FAMÍLIA;
NÃO TENHO TEMPO PROS AMIGOS;
NÃO TENHO TEMPO PRA MINHA FELECIDADE;
NÃO TENHO TEMPO PRA TER TEMPO;

APENAS TENHO TEMPO PRA NÃO TER TEMPO E MORRER SEM TER TIDO O TEMPO QUE ME FOI DADO PRA SER FELIZ...

ENTÃO DIRÁS QUANDO O TEMPO TE DEIXAR SEM JUVENTUDE E NO FINAL DO EXISTIR:

" COMO QUERIA TER AMADO MINHA VIDA E TÊ-LA APROVEITADO MAIS, GOSTARIA DE TER ARRISCADO MAIS, TER ENCARADO OS MEUS CURTOS DIAS COMO UM RÁPIDO JOGO QUE DEVERIA SER FINALIZADO DA MELHOR FORMA POSSÍVEL, COM O MAIOR NÚMERO DE CONQUISTAS POSSÍVEIS E DA FORMA MAIS AVENTUROSA POSSÍVEL..."

APRENDA QUE O TEMPO SÓ LHE DOMINA SE VOCÊ ASSISTÍ-LO SENTADO !
NÃO PENSE QUE O TEMPO LHE DARÁ OUTRO TEMPO, POIS ELE CORRE EM ESCALA PROGRESSIVA E NÃO VOLTA ATRÁS !!!

TENHA SEMPRE TEMPO PRA VOCÊ
PRAS PESSOAS
PRA APRENDER
PRA VIVER
E ATÉ PRA COMPREENDER O SEU FIM !



Mensagem enviada via orkut por RATINHO BRANCO

domingo, 11 de setembro de 2011

INIMIGOS INSEPARÁVEIS



          Chamavam-se Reinaldo e Juazeiro. Não, não formavam uma dupla sertaneja, bem sertaneja. Eram inimigos. Não se podiam ver. Eram intrigados de sangue a fôlego, como diria minha mãe se os conhecesse. Ninguém que tivesse o bom senso chamá-los-ia para a mesma mesa. Distantes, não se olhavam; próximos, impossível. Apesar de trabalharem no mesmo quarteirão. Quando e como surgiu aquela aversão, ninguém o sabia. Talvez a profissão explicasse. Ambos eram vendedores de autopeças, digo, empresários nesse ramo.
         A primeira vez que tomei conhecimento da existência deles foi quando precisei “fazer” o motor do meu Voyage, que havia "batido" depois que esqueci de por água no radiador. Quando cheguei à loja do Reinaldo, alguém pilheriando perguntou se eu já tinha ido no Juazeiro. Não entendi de pronto, mas depois das rizadas, compreendi que se tratava de uma rixa pessoal. Com efeito, no próximo conserto que precisei fazer, fui comprar as peças no Juazeiro. E ri quando alguém me fez aquela pergunta, pelo verso. Juazeiro, assim como Reinaldo, deitou um olhar de desprezo ao infeliz que havia testado sua ira para com o rival.
        Com o tempo, passei a apreciar aquela contenda. Se falavam de Reinaldo ao Juazeiro este escarrava e se dirigia ao banheiro, e vice-versa. Se alguém dizia que a filha de Juazeiro ia casar-se, Reinaldo ria e dizia, coitado do pobre genro e saía cantarolando uma bossa baixinho. Se alguém, de propósito, dissesse a Juazeiro que tal peça no Reinaldo estava mais em conta, este jogava o dinheiro do cliente aos seus pés e não lhe vendia mais a peça nem Cristo descendo à terra. Entretanto as duas casas estavam sempre cheias de clientes, digo, abarrotadas. E em ambas  o assunto era sempre o mesmo: a ira, o ódio, a contenda envolvendo aqueles dois.
        Certa vez, em um feriado prolongado, deixei a cidade, como sempre o faço nesses casos, e me dirigi a Majorlândia. Uma simpática praia que dista cento e cinquenta quilômetros de Fortaleza. Lá a presença de fortalezenses, fora do período de carnaval, praticamente não existe. E alguém encontrar ali moradores do seu bairro é mais difícil ainda. A maioria dos frequentantes são do vale do Jaguaribe ou do estado vizinho, Rio Grande do Norte. Já devidamente hospedado, resolvi almoçar em uma barraca, cujos preços expostos eram convidativos. Sentei-me à mesa com minha esposa e meu filho e, antes de chamar o garçom, dei uma olhada em volta para fazer o reconhecimento da área. De repente, tomei um susto. O que vi não está escrito em nenhuns anais aerolandense, ou seja, do bairro Aerolândia. Reinaldo e Juazeiro, sentados à mesma mesa, diante de dois copos de uísque caro e de uma bandeja contendo enormes lagostas, davam risadas de alguma piada lembrada e batiam nas costas um do outro. Ao lado de cada um deles duas senhoras, provavelmente esposas conversavam como grandes amigas, enquanto dois pequerruchos, de seis ou sete anos, jogavam trunfo ao lado. Puxei o boné para os olhos e pus os óculos escuros para melhor observara a cena sem ser reconhecido. Realmente eram amicíssimos os dois inimigos. Quando o garçom se aproximou, perguntei-lhe discretamente sobre eles, e o garçom me garantiu que sempre frequentaram aquele estabelecimento. E mais, que eram irmãos gêmeos, bivitelinos, mas gêmeos.
         Só aí é que percebi a semelhança!  
                  (Professor Alves)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

PARA VICTOR HUGO, NO SEU ANIVERSÁRIO DE DEZ ANOS








          Muito bem, filho, chegaste aos dez anos de idade. De todos os momentos da minha vida o de que mais me lembro é quando tive essa idade. Não era criança, não era adolescente, não era rapaz (como se dizia à época), não era nada. Era um ser em ebulição, era menino de recado, era um recado para os outros: “olha eu estou crescendo!”. Via tudo da portinhola dos meus dez anos sem ter certeza de nada, a não ser das dúvidas: dúvidas do que eu era e do que viria a ser. Era o caçula de uma grande família, digo, de uma família grande, e talvez daí adviesse esse meu tormento. Ninguém ligava para mim, estavam muito ocupados para isso. Porque se aos  oito anos, estamos cônscios de nossa responsabilidade como criança, aos dez perdemos essa prerrogativa e devemos nos preparar para o futuro que está ali em frente.
        Por isso, filho,  quero desejar a você, além de feliz aniversário, muitas felicidades, muita sorte, pois todos precisamos, principalmente quando chegamos aonde você está agora. Mas para sua sorte, ser feliz é mais fácil do que podemos imaginar. É como chegarmos a um destino utilizando o caminho mais fácil em vez de buscarmos novas trilhas. Freud dizia que a felicidade é como uma borboleta. Se a perseguimos de forma atabalhoada, ela foge de nós. Mas se a esperamos, no cumprimento do dever, logo ela vem pousar em nossos ombros. É necessário que não percamos de vista a expressão no cumprimento do dever.  Pois não estamos falando em esperar que nos caia mel porque estamos com a boca escancarada.Assim talvez nos entre pela boca uma perversa abelha, E sei que você as detesta. Ou seja, a felicidade, que trará nosso sorriso sempre bailando, depende de pequenas atitudes constantes que realizamos em prol de nós mesmos.
         Mas aí vem uma pergunta: que atitudes são essas?  São atitudes que devem nos colocar em sintonia com nós mesmos e com os outros. Nunca podemos ser felizes sozinhos. O outro deve ter seu sorriso à fresca também para que o nosso saia ao seu encontro. Quem ri só ou é maluco ou está lembrando de uma piada muito interessante. O egoísmo é uma das piores qualidades de uma pessoa. E ser feliz sem se incomodar com o sofrimento do seu irmão, que padece ao seu lado, é a maior das atitudes egoístas.
         Não se esqueça das atitudes representadas por ações, sejam elas urgentes ou apenas necessárias. Explico-me. É que das nossas atitudes urgentes depende que as pessoas percebam que existimos ou que somos importantes. Tomar uma atitude necessária nos faz cônscios de que é preciso sempre estar alerta para as surpresas inesperadas.
       Outrossim, não somos uma ilha, portanto precisamos de pessoas boas, pessoas que estejam prontas para nos apoiar quando estivermos corretas ou para nos corrigir quando apenas pensamos que estamos na linha. A essas pessoas chamamos amigos. Não importa  nível de escolaridade, religião, cor ou condição física ou financeira. Amigo é um substantivo sobrecomum e bota sobrecomum nisso. Não confunda com colega. Colegas são aqueles que fazem as mesmas coisas com você, como estudar na mesma sala, brincar na mesma quadra, treinar no mesmo clube. Amigos são aqueles que sentem o mundo mais ou menos como você. Isso não quer dizer que precisam ter as mesmas ideias. As diferenças fazem parte de uma amizade duradoura. Mas que precisamos ter os mesmos sonhos, construirmos os mesmos castelos. E não se esqueça de que seus amigos mais importantes somos eu e sua mãe. Depois virão os outras e as outras.
        O respeito aos outros, assim como queremos e exigimos que nos respeitem! Eis mais uma forma de levar a vida de bem com ela. Às vezes nos deparamos com pessoas que nos levam a ter vontade de rir, ou apenas de corrigir. Mas, como dizia meu pai, cada qual com seu cada qual. Esse respeito de que falo tem a ver com amor. Pois “é preciso mar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Reflita sobre o seguinte: você vai viver a vida toda entre pessoas. De bicho você cuida, os filhos você educa e as pessoas você ama.
        Para finalizar, não se esqueça de trazer Deus sempre vivo em sua vida. Não o deus que as igrejas de um modo geral proclamam. Mas Deus de verdade, aquele que não anda nem na igreja católica nem nas evangélicas. Aquele sem o qual não haveria universo e que rege a nossa vida com sabedoria e amor, sempre pregando o bem àqueles que de fato O tem no coração e que se lembram dEle na amargura e na alegria, na saúde e na doença.
      Assim, filho, deixarás os dez anos e seguirás teu caminho forte e bondoso, tranquilo e infalível. Assim serás homem, cidadão, profissional, amigo, companheiro, esposo, pai.
(Professor Alves, 2011)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

OS MALES POR SI SE DESTROEM



Guarde-se do mal e defenda-se dele com a realização do bem operante. O mal não merece consideração.
Há muito que fazer, valorizando a oportunidade de serviço que surge inesperada.
A intriga não merece a atenção dos seus ouvidos.
A injúria não merece o respeito da sua preocupação.
A ingratidão não merece o zelo da sua aflição.
O ultraje não merece o seu revide verbalista.
A mentira não merece a interrupção das suas nobres tarefas.
A exasperação não merece o seu sofrimento.
A perseguição gratuita não merece a sua solicitude.
A maledicência não merece o alto-falante da sua garganta.
A inveja não merece o tempo de que você necessita para o trabalho nobre.
Os maus não merecem a sua inquietação.
Entregue-os ao tempo benfazejo.
(...)
Você sabe que em toda seara existem abelhas diligentes e marimbondos destruidores. Também, não ignora “que os maus por si mesmos se destroem”, como afirma a sabedoria popular.
Identifique no obstáculo o ensejo iluminativo e não se detenha.
Por essa razão, enquanto a ventania açoita, guarde a sua fé robusta e, sem dar atenção ao mal, esteja acautelado, porque, não descendo às ondas mentais dos maus, você paira inatingível nas vibrações superiores das Altas Potências da Vida. Doe amor e, assim, faça o bem, para que não venha “a responder por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem”.

Boa Semana!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A DIGNIDADE DOCENTE



“A DIGNIDADE DOCENTE: UM PRINCÍPIO DE JUSTIÇA SOCIAL E DE CIVILIZAÇÃO HUMANA”
Isorlanda Caracristi
Presidente do Sindicato dos Docentes da
                                 Universidade Estadual Vale do Acaraú – SINDIUVA (SS ANDES)

 
O governo do estado vem impondo sumariamente uma política de desvalorização docente de maneira desrespeitosamente escancarada.
Os baixos salários dos professores da rede estadual de ensino fundamental e médio; as destituições dos direitos adquiridos; o aumento da carga horária de trabalho; a morosidade no sistema oficial que delega sobre os direitos funcionais; a negligência em relação às necessidades básicas de funcionamento das universidades estaduais, contratando professores temporários (colaboradores e substitutos) e pessoal técnico-administrativo terceirizado em detrimento da formação de um quadro efetivo de professores e funcionários através de concurso público associados às más condições materiais de trabalho e a falta de assistência estudantil, não só denunciam o doloroso processo de precarização do magistério como, também, revela gritantemente o esforço da política estadual em inviabilizar um projeto de uma universidade/escola pública e gratuita de qualidade, com condições de cumprir plenamente com sua real função social.
A recente postura arrogante e despótica do “ame-o ou deixe-o” (mera coincidência?!) do representante maior do governo estadual diante do movimento reivindicatório dos professores, me faz evocar o pensamento de Nicholas Roerich, que em um momento de seu trabalho “O prazer de servir” diz o seguinte:
 “É uma vergonha, quando em um país os professores vivem na pobreza e na necessidade. É uma vergonha para aqueles que sabem que seus filhos estão sendo ensinados por alguém que passa pela dificuldade. E não é somente vergonhoso, quando a nação não cuida dos mestres de sua futura geração: é um sinal de ignorância. Pode-se confiar crianças e jovens a um professor que esteja em depressão? Pode-se esquecer que emanação se cria pelo sofrimento? Pode-se ignorar que o espírito deprimido não evocará o entusiasmo? Pode-se esperar das crianças e jovens a iluminação do espírito, se uma escola for lugar de humilhação e ofensa? As pessoas que esqueceram do professor esqueceram do seu próprio futuro. O professor deveria ser a pessoa mais valiosa nas instituições da nação”.
Faço das palavras de Roerich as minhas, e digo: que ignorância vergonhosa! Que soberba medíocre! Que insensatez vexatória? E acrescento mais, que estamos vivendo um momento em que a palavra “crise” tornou-se o mais “novo clichê” para a dissimulação dessa política globalizante neoliberal ditado pelos grandes especuladores financeiros. E os governantes e administradores institucionais, beneficiários que são e, portanto, eficazes porta-vozes executores dessa política, reproduzem com rigor essa cínica falácia.
Sempre haverá “crise” onde há injustiça social, e a destruição da dignidade docente é uma das piores injustiças, pois possui caráter amplificador de um perverso “efeito dominó”, indo desde a humilhação cotidiana individual da desvalorização profissional ecoando, incessantemente, até às relações históricas hodiernas e futuras de nossa nação que perde, cada vez mais, o respeito pelo professor e pela escola, e o apreço pelo conhecimento como emancipação social. É por isso que as reivindicações docentes não podem ser reduzidas à classificação de “corporativistas”. Toda reivindicação que alce a dignidade do professor é, antes de mais nada, uma luta pela cidadania das gerações atual e futura, um passo a mais na civilidade e na civilização humana.

           Lembro que no II Fórum Social Mundial – FSM, realizado em fevereiro de 2002, na cidade de Porto Alegre, o tema da Educação foi amplamente debatido, deliberando-se várias propostas, dentre elas a do professor e, então, presidente do Sindicato Nacional de Ensino Superior da França, Jean-Paul Lainé, que propôs a criação de uma frente internacional de professores para resistir à intervenção do Fundo Monetário Internacional – FMI, nas políticas educacionais dos países, pois esse fenômeno vem acontecendo não apenas na América Latina e nos países pobres, mas também em nações ricas com tradição em educação pública de qualidade. E o saudoso romancista português, José Saramago (Prêmio Nobel de literatura de 1998), encerrou o referido Fórum afirmando que “Hoje, os movimentos de resistência e a ação social são os sinos que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça”. Afirmação essa, há tempos atrás antecipada por Dom Pedro Casaldáliga, que disse: “É o momento de dar valor ao sindicato, aos movimentos populares, às ações associativas. São essas as instâncias capazes de superar não apenas a crise, mas todo um modo de vida que não corresponde às expectativas reais dos seres humanos de verdade”.
         Nós professores, trabalhadores da educação, que fazemos por meio do ensino a construção-transformação da sociedade em que vivemos, apesar das dificuldades institucionais e organizativas, estamos lutando contra essa crescente desqualificação do magistério. Um Ensino Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade é a vontade maior que aciona a nossa força de resistência e legitima a imprescindibilidade das nossas demandas trabalhistas.
Toda vontade consciente é a crença assimilada em si mesmo, não é à toa que comumente falamos “a força de vontade”, pois dela emana capacidade de transformação ...
“O homem que emancipa completamente a sua vontade consegue daí por diante criar a si mesmo, dominando as suas faculdades e seu futuro, apesar das limitações históricas de sua época. Já o homem que não consegue realizar essa grande obra dentro de si nunca conhecerá o espírito da vida ... a crise atual é política e individual, não dá para solucioná-la só de um dos lados da balança ... A capacidade renovadora desse duplo esforço da vontade, no plano individual e no plano coletivo, para mim é uma verdade não dogmática, e eu creio plenamente nela.” (historiador Victor Leonardi, em seu livro “Jazz em Jerusalém”).
O SINDIUVA (SS ANDES) se solidariza e coparticipa ativamente das lutas travadas pelos(as) companheiros(as)/colegas professores(as) da rede estadual de ensino fundamental e médio, professores(as) e funcionários(as) dos institutos federais e da UFC (Campus de Sobral), pois fazem parte do mesmo contexto político de lutas empreendidas pelos(as) professores(as) e estudantes da UVA e, por isso, compartilhamos da mesma força de vontade consciente e organizada que batalha por INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO, DEMOCRÁTICAS, GRATUITAS E DE QUALIDADE!
 
Isorlanda Caracristi
Presidente do Sindicato dos Docentes da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – SINDIUVA (SS ANDES)

domingo, 28 de agosto de 2011

RECEITA DE VIDA FELIZ



 Ingredientes:

DEUS :sem ele nada vai adiantar;
FAMÍLIA: é aqui que tudo começa;
AMIGOS: nunca deixe faltar;
RAIVA: se acontecer que seja pouca;
DESESPERO: pra quê?
PACIÊNCIA: o máximo possível;
LÁGRIMAS: enxugue todas;
SORRISOS: os mais variados;
PAZ: em grande quantidade;
PERDÃO: à vontade;
ESPERANÇA: não perca jamais;
CORAÇÃO: quanto maior melhor;
AMOR: pode abusar;
CARINHO: essencial; 


Modo de Preparo:
Reúna sua FAMÍLIA e seus AMIGOS.
Esqueça os momentos de RAIVA e DESESPERO.
Use toda sua PACIÊNCIA; substitua as LÁGRIMAS por SORRISOS.
Junte a PAZ e o PERDÃO, depois ofereça aos seus desafetos.
Deixe a ESPERANÇA crescer em seu CORAÇÃO.
Viva sempre com muito AMOR e CARINHO!

Prof.Túlio Holanda.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

ROSÁLIA


          Dia desses escrevi sobre o ciúme, que me assolou na adolescência, e prometi falar sobre o primeiro amor. Promessas são dívidas, e aí vai como se deu minha primeira história.
           Ela chegava em minha casa sempre pela noitinha. Tinha atividades na escola e só podia chegar por aí. Era linda! Assim dizia minha infantil criatura de apenas dez anos de idade. E foi aí que me apaixonei. Ela tinha quatorze anos e fumava. Era época em que o o hábito de fumar era “glamour”. Atrizes e atores nas novelas ostentavam grandes piteiras e baforavam pelas milhares de telas Brasil a fora. Era apenas mais um motivo para admirar a minha deusa e seu sorriso que me deixava sempre feliz.
         Chegou ao bairro por volta de 1973. A família vinda de Monsenhor Tabosa se instalara a um quarteirão onde morávamos. Para nós era novidade, pois havia poucas casas por perto. Havia um monte de gente nessa casa, marido, mulher, filhas (umas quatro), filhos (uns três). Mas eu só vira a ela, Rosália. Enquanto os trabalhadores do caminhão desbastavam os móveis, depois de quase duas horas de atoleiro no areal, ela apareceu. Sorriso franco, mascando um chiclete eterno, cujo cheiro me habituei a sentir misturado ao do cigarro.
         Logo, estavam minhas irmãs de amizade com a família recém-chegada. E eu a tiracolo, vendo-a, sorrindo, como se seu sorriso fosse eteno, pregado aos lábios. Todos falavam de tudo, principalmente da vida alheia, ela falava de nada, mascava e, às escondidas, fumava. E eu, sempre que possível, ao seu lado. Acho que foi numa quinta feira, era 7 de setembro, numa época em que a comemoração da semana da pátria era obrigatória, quando ela disse que “gosto de ti, Quim”. Apesar da sonoridade, foi a frase mais bela que já ouvi. Mas o gostar dela era gostar fraterno. Eu desconfiara, mas preferia não. Ela me levou à escola, pagava meu lanche, comprava revistinhas e às vezes me levava à Samasa, onde tomávamos “milkshake”.
         Era feliz, eu, até aquele dia negro, ruim, lúgubre em que a vi beijando outro garoto, da mesma idade dela. Foi quando percebi a tal fraternidade. Mas não sem antes subir num pé de árvore e ficar triste, com vontade de virar éter, abandonar o frasco físico e me mandar céu a fora. Não fiz nada compreendi e continuei a amá-la. Já um amor meio frouxo, esgaçado pelo vexame...
        Quando me formei em 1994, ela já não estava entre nós. Fora vítima, aos trinta e quatro anos, do seu amigo inseparável, o cigarro. Na formatura não compareci, pois havia decidido muito antes que ela seria minha madrinha de formatura. Mesmo casada, eu sempre soube onde ela estava. Um de seus irmão é meu amigo até hoje, os demais não sei do paradeiro. Quanto à formatura, só dias depois, ao pé do reitor recebi o canudo tão almejado, cujo maior responsável foi ela.        
(Professor Alves)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

BLACKOUT


        Sexta-feira, chego em casa a fim de descansar, assistir televisão, tomando uma cervejinha, já no congelador desde a tarde. Depois do banho, quando já me dirigia à deusa dos raios iluminados, como bem definiu Ignácio de loiola Brandão, puf! Faltou energia. Sempre que isso acontece, a luz volta quase de imediato. Ledo engano. Desta vez o furdunço que provocou a falta de energia foi maior. Como A bendita não tornava, fui para a cozinha acompanhado do meu filho que sentou-se e perguntou:
         ─ E aí, pai?
       Essa perguntinha, quase sem significado, está plena de questionamentos. Significa “e agora, o que eu vou fazer, sem energia? Como vou brincar no ps2? Como vamos assistir ao bate bola da ESPN? Como vou viver, sem a bendita eletricidade?” Tive uma ideia, acendi uma vela sobre a mesa, liguei o fogão para fritar umas asinhas de frango, que ele adora, abri uma cerveja e passei a lhe contar sobre como era quando não tínhamos energia elétrica. Os olhos dele se esbugalharam, como a indagar “você alcançou essa época?”. Ao que afirmei: “Sim, filho, quando era pequeno, da sua idade, não havia energia elétrica em nosso bairro, não tínhamos televisão nem geladeira, tampouco brinquedos eletrônicos. Assim nossas brincadeiras eram no quintal ou na rua. Fazíamos, por exemplo, um balançador numa goiabeira e nos embalávamos às alturas. De vez em quando o balançador quebrava e o brincante se espatifava no chão. Brincávamos de bandido e mocinho. Fabricávamos revólveres de madeira (à época não havia tanta maldade), virávamos bandido ou herói e saíamos por aí, “pei, pei”, só na boca. Difícil era convencer o outro que ele já estava morto de tanto tiro(risos).
          As asinha estavam já estalando, o cheiro invadira de vez a cozinha, a cerveja ainda estava fria e a atenção do Victor Hugo era o combustível para as minhas lembranças. “Continua, pai, tá legal! Continuei, falando e admirando o bruxulear da chama da vela. A noitinha, filho, íamos esperar por papai lá na calçada. Enquanto ansiava por vê-lo a distância com seu caminhar pausado e decidido, mamãe contava histórias, geralmente de assombrações, que à noite grande iam me torturar. Eram estórias e histórias... “Conta uma, pai!” Contei:
        “Era uma vez um homem, que tendo perdido a esposa, resolveu casar-se com sua cunhada, uma vez que precisava de alguém para cuidar da filha, uma linda menina cujos cabelos eram penteados pela mãe e cresceram lindos e brilhantes. Mas sua madrasta era má. Judiava muito da coitadinha. À noite quando o pobre homem chegava, encontrava sua filha triste, mas creditava esse sentimento à perda da mãe. Quando percebia algum machucado, causado pelo excesso de brutalidade, a esposa acudia a dizer que eram travessuras da pequena. Certa vez, porém, o excesso foi absurdo a ponto de a pequena morrer. A madrasta má enterrou-a no quintal. Quando o marido chegou, encontrou-a chorando, dizendo que a menina havia sumido. Muito triste o pobre homem , danou-se a procurar pela filha, até cansar. O tempo passou e da filha restavam apenas as lembranças em forma de brinquedos e atitudes. Certo dia, precisando de uma espaço para fazer uma horta, o homem percebeu que lá no fundo do quintal, onde pretendia construir a benfeitoria, havia uma enorme touceira de capim. Muito bonita por sinal. Tanto que ele não quis mexer ali. Mas não havendo outra saída, chamou um capineiro para o trabalho. Quando o homem ergueu o foice, uma voz se fez ouvir:
Capineiro de meu pai
Não cortes o meu cabelo
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Perto da figueira
Que o passarinho beliscou”
O homem chamou o pai da garota, que entendeu tudo. Quando a madrasta viu que sua maldade fora descoberta, saiu correndo sertão a dentro e nunca mais foi vista. O pai desenterrou a filha e lhe deu um enterro decente.
         Enquanto, mastigava uma asinha, meu filho me olhava como a dizer “legal, conta outra”. E assim o tempo foi passando sem eletricidade. Víamos que não é tão ruim viver sem ela, que existia vida antes dela... de repente, Alice, minha esposa, que estava ao nosso lado desde o início, lembrou-nos que era o dia do último capítulo da novela (Insensato Coração) e que precisávamos saber quem havia matado Norma. Nos vestimos e procuramos um restaurante em que houvesse uma televisão. Mas foi bom ter lembrado do bom tempo em que não precisávamos da “deusa dos raios iluminados”.
(Professor Alves, 19/2011)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

EU TE AMO!


Eu te amo, não porque és mulher de carne e osso
mas porque tens alma
és feita da mesma essência do amor!

Eu te amo, não porque és branca
como a lua nas madrugadas
mas porque tens os olhos do arrebol e do ocaso!

Eu te amo, não porque és negra
mas porque como todos nós
tens o sangue das argênteas gerações!

Eu te amo, não porque és linda
mas porque navegas como as mentes raras
num mar manso  rumo ao infinito!

Eu te amo porque sou eu que refletes
quando me olhas, e te reflito
quando te vejo!
(Porfessor Alves, agosto de 2011. Poema inspirado em um sonho)

domingo, 14 de agosto de 2011

FELIZ DIA DOS PAIS!

.


Em 1950, o publicitário Sílvio Bhering criou no Brasil
o dia de lembrar - e, claro - homenagear o pai. Porém,
a ideia de homenagear o pai tem suas origens há muito
mais tempo. Há quatro mil anos, o jovem Elmeseu
esculpiu em argila o primeiro "cartão" desejando
ao pai boa sorte, saúde e vida longa.

"Às vezes, presentes e incentivadores, por vezes,
distantes, provedores da nossa sobrevivência ou,
até, completamente ausentes. a verdade é que
pai presente é muito importante na formação
dos filhos."

MENSAGEM ENVIADA PELO ORKUT POR EUNICE LANDY

sábado, 13 de agosto de 2011

A MALDADE É HUMANA OU DIABÓLICA?



        Qual o limite da maldade humana? O mal existe por se só? Ou só existe no coração de um ser que chamamos de HOMEM? Muitos incriminam um ser espiritual chamado SATANÁS! Será que todos os erros da espécie humana são decorrentes da famosa TENTAÇÃO do "Ser das Trevas", o DIABO?...Às vezes me questiono isso.
           Tudo é esse tal de DIABO..."ELE ENTRA NO CORAÇÃO DO HOMEM E O CONTROLA COMO SUA MARIONETE"...? Muitas vezes me pergunto quem pode ser pior que o homem...BICHO RACIONAL...e ao mesmo tempo frio e horripilante em suas atitudes para com o seu semelhante...! Tudo será o Diabo por detrás de tudo ou simplesmente o homem é o próprio diabo que se deixa revelar...esquecendo que também tem uma parte divina? Trocando essa parte divina por seu lado diabólico e incompreensível ao afeto do bem. ESSA É UMA PERGUNTA QUE NÃO CONSIGO RESPONDER! ÀS VEZES PARECE MAIS SIMPLES E ÓBVIL QUE "O GRANDE AGENTE DA MALDADE" É O HOMEM E NÃO UM SER ESPIRITUAL CONHECIDO COMO SATANÁS... QUE NUNCA FOI VISTO ESTUPRANDO UMA CRIANÇA OU TIRANDO DO POBRE ATÉ O QUE ELE NÃO TEM E POR FIM MASSACRAR UM INDEFESO SEM LHE DAR DIREITO DE SEQUER PEDIR UMA SÚPLICA!


Esse vídeo mostra mais ou menos o que eu estou querendo falar !!!



Essa mensagem foi enviada por um amigo do orkut cujo perfil é: DEUS! me ajude ! sozinho...ñ consigo !!!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

NÃO TE RENDAS



Não vem, que eu bato!
Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos,
largar o lastro,
retomar o voo.

Não te rendas que a vida é isso,
continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos,
destravar os tempos,
arrumar os escombros,
e destapar o céu.

Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida nos teus sonhos.

Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo,
porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.

Abrir as portas,
tirar os ferrolhos,
abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso,
ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas
e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.

Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma,
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, porque eu te amo.

(Mario Benedetti)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O TEMPO E O AMOR



        Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.
(Pe. Antônio Vieira)

domingo, 7 de agosto de 2011

FOLHA EM BRANCO

      
     Certa vez, estava aplicando uma prova de Redação, quando um aluno levantou a mão e me pediu uma folha em branco. Olhei para o relógio e vi que faltavam quinze minutos para o encerramento das atividades. Informei-lhe isso e perguntei a ele para que queria uma nova folha em branco. Ele me disse que até agora não tinha conseguido dar um rumo à sua redação, havia tido um monte de ideias, mas não havia conseguido desenvolver nenhuma. Ou seja, havia feito um monte de rascunho, e queria uma nova folha para reiniciar sua redação. Mudas de atitude e fazer algo melhor. Entreguei-lhe a folha em branco, comovido, e até pensei em dar-lhe um pouco mais de tempo para que ele fizesse algo melhor. 
       Assim é a vida. Deus nos deu uma vida em branco e muitas vezes fazemos nela apenas rascunho. Um monte de borrão. Mas tenho certeza de que se pedirmos a Deus uma nova chance, ele nos olhará com carinho e benevolência e não nos negará. Veja como está sua vida, veja o que tem feito e não se prive de pedir ao Todo Poderoso essa nova oportunidade. 

(Por Professor Alves)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIVERSÃO LIVRE



      Li na Galileu deste mês, julho de 2011, uma matéria super interessante (SEM TROCADILHO), cujo título é “Liberdade sem Fio”. Trata-se de uma matéria que busca chamar a atenção das autoridades mundiais de comunicação sobre a necessidade de se “socializar” o acesso à internet, disponibilizando-a para quem pode, para quem não está podendo e para quem não pode mesmo dispor de uma banda larga. A ONU já definiu como “direito fundamental do ser humano” o direito à grande rede, tal qual é a Educação e é a Saúde. Pelo que entendi, da leitura que fiz, há um grande contingente no mundo inteiro preocupado em tornar isso realidade. Aqui no estado do Ceará, até onde eu sei, as escolas públicas, que deveriam abrir seus laboratórios às pessoas que sequer têm um computador em casa, deixam seus equipamentos às baratas até que a maresia lhes dê cabo.
     Mas o que me trouxe às teclas foi um fato que presenciei. Um grupos de crianças brincando de futebol no asfalto. Sempre que vinha um carro, um garoto de plantão gritava, avisando para que os outros interrompessem a partida. Ao lado, porém, de onde acontecia isso, havia um condomínio, com uma grande quadra ociosa. Ao lado da quadra o condomínio dispõe de um campo de futebol gramado. Veio-me então a lembrança do texto que vi na Galileu. Refleti por que não se proliferar a “diversão sem fio”! Por que não socializar a existência, a felicidade? Por que não liberar a quadra desses condomínios que não estão sendo ocupadas por seus condôminos para crianças que fazem do asfalto seu gramado particular?

        É comum vermos campos “socytes” espalhados pela cidade de Fortaleza, numa profusão fenomenal. Onde há um terreno, dias depois nasce um campo “socyte”, em que são cobrados cem reais a hora para se “brincar de bola”. Assim como há pessoas interessadas em que se liberem as senhas e transformem as cidades num espaço cibernético livre, por que não fazer o mesmo com esses campos “socytes” e com os espaços dos condomínios fechados? Creio em que se esses garotos do asfalto não podem pagar para brincar nos gramados, como algumas pessoas não podem pagar para acessar à internet, não poderão jamais. Se liberássemos esses gramados em momentos ociosos a esses garotos, estaríamos, não só protegendo-os dos carros, mas dando-lhes lição de solidadriedade, que com certeza seria, por eles mesmos, ensinada, mais tarde, a outros.
(Por Professor Alves)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SALVADOR BONFIM - CARISMA DE UM PROVINCIANO


Sou o princípio da virtude,
Pecado capital venho a ser
Mas sem letra do alfabeto
Também podem me escrever.
    (Salvador Bonfim)

      Os versos acima bem que poderiam ser uma autodefinição, um enigma por trás de uma grande profecia, um versículo bíblico ou coisa que o valha. Mas não é. Trata-se de uma simples charada criada por Salvado Bonfim, cujo passatempo principal é fazer poesia. Um cidadão independenciano que até pouco tempo não se via poeta, apesar de sabê-lo. Humilde, como a natureza o fez, e o sol causticante dos Inhamuns moldou, não via (ou via, “O poeta é um fingidor...”) muita graça no que fazia. Até que alguém pôs os olhos em seus escritos e, como os gigantes emergem das profundezas abissais das imaginações, o poeta surgiu do anomimato, imponente, sábio, porém humílimo. 

     Por trás do balcão simples, de seu estabelecimento simples, situado no mercado de Independência, entre vidros de mel de abelha, sementes de girassol, réstias de alho e outras mercadorias que jazem nas prateleiras, encontramos o senhor Salvador, oitenta e quatro anos, de voz mansa, audição já um pouco prejudicada pela idade e pela lida, com seus inseparáveis cadernos, os quais, quando impelido, retira-os quase imperceptível de sob o balcão de madeira. Lá estão, em letra caprichadíssima, os poemas que emergem de todos os recantos da memória, recente ou remota. São poemas simples, mas que revelam a grandeza do punho que os talham. São lembranças da infância, da adolescência idílica e bucólica, como o primeiro encontro com aquela que viria ser sua única e grande paixão, e que até hoje está ao seu lado, Dona Ernestina, a quem  imortalizou no já famoso poema Laço de Chita, ou  uma sátira bem cuidada e desmaldada, como Mulher Ciumenta.

      Pois bem, esse cidadão octogenário descobriu uma forma simples porém perene de reinventar a existência, a poesia. Lembra-me o filme Diário de um adolescente, em que um jovem viciado não sucumbe às drogas devido ao seu envolvimento com a grande musa de Castro Alves, a poesia. Assim é Salvador Bonfim, que mesmo no momento mais triste (creio), a perda de um filho, soube buscar na poesia alento para si e (creio) para toda sua família enlutada. Se Graciliano Ramos publicou seu primeiro livro, Caetés, aos quarenta e um anos e Cora Coralina fez o mesmo aos setenta e seis anos, Salvador Bezerra Bonfim inaugura aos oitenta e quatro anos sua trajetória publico-literária, ao publicar Carisma de um Provinciano. E não se iludam. Essa trajetória está apenas começando, porque o que vai naqueles caderninhos secretos ainda não foi publicado.  
(Por Professor Alves)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

SANA CEARÁ

PARA ENTENDER O PROVÉRBIO: "NESTE MUNDO EXISTE GENTE PRA TUDO E AINDA SOBRA UM PRA MASCAR FUMO."
SANA(TÓRIO)

(IN) SANA (IDADE)




(IN)SANA


sexta-feira, 15 de julho de 2011

À MULHER TAURINA



(Soneto para Jose)

A primeira vez que te vi,
Vulcano foi quem falou primeiro
Estavas brava isso percebi,
Fiquei de longe qual um pegureiro.

Quando entre outras te reconheci,
Vênus tinha um ar alvissareiro,
Eras serena e a Zeus recorri,
Sorriste e isso notei verdadeiro.

Depois passei com eles a viver:
Um bate com força a razão
O outro tem amor e beleza

E os dois juntos te fazem conter
A graça, a ordem, a riqueza.
És, pois, digna de toda emoção.
(Professor Alves, 06/2003)

terça-feira, 5 de julho de 2011

A MORTE


"Ó Morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato, o homem,
Vista-se com a tua melhor roupa
Quando vieres me buscar." (Raul Seixas)


        Quando criança, vivia sob o mistério maior, eu até tinha apego a Ele, pois me dava a incerteza do futuro, enchia-me de uma magia que jamais encontraria em nenhuma outra instituição abstrata. Era portador do maior de todos os enigmas, era tudo, era o nada, era o meio, objetivo maior da Vida, era a Morte.
        Até que morri. Foi muito rápido e eu não sei mais. Não foi uma morte glamorosa, como sempre sonhei. A Morte é cruel! Sempre a imaginei soberana, de corte fiel; soberana, de porte altaneiro; soberana, de olhar sobranceiro. 
      Não, Ela não era nada assim. Também não vestia acetinado, como queria Raul. Aliás, não vestia nada! Estava desnuda e me olhou com tamanho dó que me entristeceu. Sempre imaginei que Ela viria e me abraçaria, me beijaria nos lábios, e eu morreria. Ou pelo menos como aconteceu com Randy Pauch, que Ela viesse travestida num diagnóstico, para que eu pudesse me preparar, dizer adeus à família, aos amigos, às amantes... Não assim! Como! Mulher idiota, imbecil, sem cor, sem sombra, sem luz, sem cheiro, sem nada!
      Era mera contra face, obscura, enganchada na goela, de súbito. Enquanto todos conversavam e riam, Eu apenas me assustava. Seria ridículo se eu gesticulasse no meio de todos. Não, seria pobre, paupérrimo. Seria nojento. Seria humilhante. Quantos segundos? Não sei, não sei mais. Talvez vinte, dez. Senti de repenter o estorvo a me impedir a passagem do ar, angustiante. Tentava o movimento para dentro, nada. Para fora. Ela ria de mim. "Fique aqui e sucumba. Ou gesticule para que alguém entenda e venha socorrê-lo. Talvez ainda dê tempo." Disse Ela, sinistra, envolta naquele pequeno pedaço de carne. Corri para o banheiro, pus água na mão, tentei bebê-la, Empurrar a morte, goela abaixo, mas Ela estava decidida. Senti o ar faltando, os olhos esbugalhados. Não dava mais para gesticular. Tentei, em vão, me agarrar à pia, que veio, desabou comigo. Ouvi passos na sala a porta abrir-se e alguém dizer "meu Deus, o que foi isso!"
      O mundo escureceu. Não vi a luz mágica que leva os espíritos para lugares cheios de flores, caminhos iluminados; não via a porta celestial ou infernal abrindo-se para me receber. Só a negritude infinda, nefanda; o frio a me escaldar o ser, a cortar o que jazia de um homem, que talvez nunca tenha sido.
(Professor Alves)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

EGOÍSMO


Eu estava caminhando pela praia quando ouvi o seguinte diálogo entre pai e filho:
─ Oh, pai, que graça tem ficar sentado? Se num é pra tomar banho, melhor ficar em casa.
─ Não, filho, você não pode ver o mundo a partir de você. Existem muitas formas de se aproveitar um dia de sol na praia...
Não precisa dizer que o filho deveria ter uns oito anos, idade em que se começa a pensar que sabe tudo, que pode tudo. Como diria meu pai, idade em que o pescoço está engrossando.
Afastei-me e fui caminhando pela praia, com a água molhando meus pé e a areia açoitando de leve minhas pernas. Meus pensamentos não conseguiam sair daquele diálogo. E eu me indagava: “como somos egoístas, quando pensamos que tudo tem de ser do jeito que queremos, como somos pobres quando achamos que a única forma de viver é a nossa”. Fiquei imaginando em quantas formas de se divertir na praia há. Admirar a grandeza do mar é uma delas. Tomar banho o dia todo, como queria o garoto, é, outra.
Mas assim são as pessoas e por isso precisamos mudar. As pessoas que bebem acham que só existe graça no seu modo de vida. Onde estão acham que deve haver bebida, têm absoluta certeza de que as pessoas que não bebem são infelizes, não conseguem se divertir por não beberem. “Como pode um aniversário sem bebida, uma partidinha de biriba, um jantar fora!” Acabam assim sendo intransigentes chegando a chamar de careta àquelas pessoas que não bebem. Quem fuma acha sempre que seus momentos só estão completos se acenderem um cigarro. Assim fumam ao sair de casa e ao descer do carro ou do ônibus; antes, durante e depois de uma reunião ou do sexo, do banho e por aí vão, impregnando o mundo com o mau cheiro e com sua arrogância.

Precisamos assim criar um mundo em que as liberdades individuais sejam realmente respeitadas. Como diria meu pai, cada qual com seu cada qual, ou como diz a música, “ado, ado, cada qual no seu quadrado”.
Mas é preciso sermos intransigentes quando o momento pedir. Não podemos aceitar, por exemplo, o uso de drogas, a indiferença, a discriminação, o preconceito, o desamor.
(Professor Alves)

PLENITUDE


Um homem que vive de acordo com o passado certamente irá encontrar tédio, falta de sentido e uma espécie de angústia:
"O que estou fazendo aqui? Por que continuo a viver? O que há no amanhã? Outra repetição do dia de hoje?
Mas tudo que houve hoje foi uma repetição de ontem! Então qual é o sentido? Por que ficar me arrastando do berço até a sepultura, cumprindo a mesma rotina?Jesus disse "Deixe que os mortos enterrem os mortos, você vem comigo."

O que ele quis dizer? "Toda a cidade está repleta de pessoas mortas. Elas irão lidar com o corpo de seu pai. Você não é necessário, você vem comigo."
A cada momento algo está morrendo. Não seja um colecionador de antiguidades: deixe para trás tudo aquilo que está morto. Continue com sua vida, com sua plenitude e intensidade, e nunca irá se defrontar com nenhum dilema, nenhum problema.

Tenha Uma Ótima Noite e Uma Excelente Semana.
Grande e Fraterno Abraço deste Educador e Amigo..
Marco Túlio Holanda.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

EU SEI, MAS NÃO DEVIA



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.


A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
                                                                                   
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
  

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina Colasanti, 1972)

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...