sábado, 8 de novembro de 2008

CAPÍTULO II

CAPÍTULO II

“Se lembra do jardim, ó maninha,
coberto de flor?
Pois hoje só da erva daninha,
depois que ele chegou.”
(Maninha, Chico Buarque)


Era julho de 1982, portanto quase um ano após a repetição de meu sonho. Nós estávamos de férias na praia de Canoa Quebrada, no Ceará. Nessa época a especulação turística ainda não havia modificado a beleza natural daquele paraíso. Eu jogava futebol com alguns garotos da minha idade, num esforço fenomenal para conter a bola em função da velocidade do vento, esforço esse só justificado pela realização da copa do mundo, evento que transforma um país inteiro em jogadores e técnicos de futebol.
Cansado, esbaforido pelo esforço inútil, sentei-me na areia, à espera de minha mãe, que deveria estar atrás de mim com uma água ou coisa que o valha, quando se aproximou de mim uma garotinha de mais ou menos quatro anos, sentou-se ao meu lado e disse com uma voz de falsete o mais natural possível:
─ Onde você esteve! Eu te procurei por toda parte.
Assustado eu perguntei:
─ Mas quem é você? Eu não conheço você.
─ Conhece sim, eu sou Aliel, sua irmã. Vamos, me leve até nossa mãe, ela deve estar preocupada.
Foi aí que eu percebi a semelhança física da menina com a moça que eu tentara salvar no sonho. Os olhos de um verde fascinante, envoltos por espessa sobrancelha, a boca pequena formando um M e um ar de desamparo que cativava, juntos com uma cabeleira negra contrastando com os olhos, completavam a imagem daquela moça. Como eu me demorei a responder, a menininha começou a choramingar dizendo que eu não queria voltar para casa com ela. Eu percebi então como aquela garotinha precisava de mim, tomei-a então pelo braço e, pela intuição, conduzi-a pela praia. Nesse momento vinha, como louca, correndo, uma mulher que, ao nos ver, abraçou a menina, que era sua filha.
─ Muito obrigada, garoto, por ter encontrado minha filha. – Disse segurando a menininha e fitando meu rosto – ela nunca se afastou da gente, mas hoje sumiu de repente. Ainda bem que apareceu você, meu anjo.
A menina olhou para a mãe e com a mesma naturalidade como se dirigira a mim falou:
─ Mas, Mamãe, eu não lhe disse que ia procurar meu irmão!
─ Desculpe – disse a mãe, voltando-se na minha direção – ela sempre fala nesse irmão que não tem.
Passou a mão no meu rosto, deu-me um beijo e se afastou arrastando com um pouco de violência, pelo braço, a pequena Aliel, que teimosamente andava com a cabeça voltada para mim. Fiquei só, pensando no que havia acontecido. Era realmente tudo muito singular, a familiaridade daquela criança me assustava. Eu tinha apenas dez anos e me deparava com um mistério que me poderia ser revelador ou se tornar por demais doloroso. À minha mente, para me salvar, veio a lembrança de que quando se é filho único, criam-se ilusões de amigos ou irmãos invisíveis. Minha mãe mesma me contara que, quando eu era bem pequeno, passava os dias todos brincando com um amigo, que ninguém via. Contra fatos não há argumentos. E isso me consolou.
Eu ando por uma rua de piçarra e ao longe ouço o marulho, o que me indica estar próximo à praia. Ao contrário das outras vezes, está anoitecendo. Para chegar à praia, é necessário saltar sobre muitas pedras, que formam os diques, vistos nas vezes anteriores. Só que eu não desço. Caminho ao longo do espigão deitado que ladeia toda a praia. Mais à frente sento-me e me ponho a admirar a lua, que surge no além. A praia não existe, a água do mar ocupa toda sua extensão e eu posso tocá-la e brincar com as algas que bóiam. Nesse momento aproxima-se de mim uma mulher, vestida com um roupão marrom e um véu escuro sobre a cabeça. Senta-se à minha frente, retira o véu. É a mesma moça dos outros sonhos. Eu a amo, ela é linda, de uma beleza que não se pode descrever porque ela só é perceptível à luz do coração. Eu miro o seu rosto e no fundo dos seus olhos eu vejo a impossibilidade de ficarmos juntos, algo conspira contra nós, e eu a amo, amo-a tanto que sinto dores, e as lágrimas me correm pelas faces. Ela abraça-me e ficamos assim por um tempo indefinido.
Quando minha mãe me chamou eu já estava acordado e chorava por não ter Aliel ao meu lado. Era ela. A moça do sonho era a mesma garotinha da praia. Eu não sabia explicar o que estava ocorrendo, mas eu sabia que tinha de encontrar aquela menina. A minha existência estava, de uma forma ou de outra, ligada à dela, e isso me parecia inexorável.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CAPÍTULO I

“ Mas onde se achará a sabedoria?
E onde está o lugar do entendimento?
O homem não conhece o valor dela,
Nem se acha ela na terra dos viventes.”
(Jó: 28, 12 e 13)



Não me lembro bem da primeira vez que tive aquele sonho. Mas sei que era muito pequeno. Talvez tivesse menos de oito anos. As marcas que ele me deixou na época, entretanto, me são lembradas até hoje. Até porque ele se repetiu indefinidamente, até que um dia sumiu; suas lembranças, porém, ficaram registradas, e eu, na rua, chegava a identificar pessoas as quais não conhecia, mas que estavam lá, povoando esses momentos oníricos.
Mas o que na verdade é o sonho, que magia é essa que nos acompanha durante nossa existência e para qual não temos explicação, enquanto seres materiais? É realmente uma incógnita esse estado de espírito. Para alguns é a realização de um desejo. Mas como se pode desejar a morte de um ente querido, como um filho ou os pais? Seria então uma projeção do futuro ou uma memória do passado? Ou será tudo isso, dependendo do estágio de nosso pensamento e de nossa alma? Vamos, pois, ao sonho que me impressionou a infância e que me abriria finalmente as portas da compreensão da existência.
Como havia afirmado anteriormente, à primeira vez que tive esse sonho deveria ter por volta dos oito anos. Até então nenhum sonho me havia chegado com tanta clareza, não que eu me lembre. Esse sim. Posso ainda sentir o cheiro da maresia e a cor do céu. Eu estou numa praia nunca vista antes por mim, a cor da terra é escura e há enormes diques de pedras, e há muitas pedras por toda parte, como se estivéssemos sempre esperando uma invasão do mar. Eu caminho pela praia catando conchas as quais deposito numa sacola feita de couro que trazia à tira colo. Próximo e um pouco além muitas pessoas caminham, pescam ou admiram o mar. De repente ouço um barulho semelhante ao rugido de um leão. Ao levantar a cabeça, vejo uma enorme onda, despontando no horizonte, vindo em direção à praia. Apesar do grande susto, olho em volta para ver se posso fazer algo pelas pessoas, e sem pensar corro na direção de umas crianças que brincam inocentemente e procuro afastá-las para o ponto mais alto possível. Com uma mão transporto algumas delas dali, enquanto com a outra escalo as pedras. Ajo rápido porque a onda se aproxima da praia com uma ira destruidora. Desesperado, vejo uma moça com os cabelos cobertos por um véu marrom tentando subir as pedras, entretanto sua roupa longa a impede de fazê-lo. Com pouco esforço, consigo alcançá-la. Mas é tarde! A onda com sua fúria indescritível nos arremessa contra o rochedo.
E eu acordei, mas não apavorado como quem tem um pesadelo, era como se eu apenas recordasse de um acontecimento de um passado remoto. Afinal, aquilo fora um sonho, não um pesadelo.
Durante os dias que se seguiram, eu não conseguia me livrar da imagem daquela moça. Seu rosto moreno e olhos assustados, no momento em que a peguei nos braços, fitaram meu rosto com um ar de gratidão e isso me abalou os nervos. Aquele rosto não me era estranho, por esse motivo eu o busquei em todas as pessoas adultas que cruzavam o meu caminho, até que cansei e voltei a ser criança. Passados alguns meses não me lembrava mais do sonho.
Não posso afirmar com precisão quanto tempo, mas um ano depois, aproximadamente, o sonho se repetiu. Era o mês de setembro. Depois eu me perguntaria se tinha algo a ver com o mês do meu aniversário, outubro. O certo é que nesse ano e nos outros que viriam o sonho me vinha sempre no mês de setembro. Não era o mesmo sonho ipse image, mas era parecido. Às vezes eu penso ser o mesmo sonho apenas com algumas alterações da minha imaginação, como se eu quisesse refazê-lo para adequá-lo a uma situação contemporânea.
Dessa feita eu não estou na praia, e sim no mar, no entanto o ambiente é o mesmo, a cor do céu, a tez escura das rochas e o verde da água. Eu estou insulado numa pedra, pescando. A minha fisionomia é a mesma da vez anterior. Minha pele escura, curtida pelo sol não contrasta com meus cabelos da mesma cor. Da vez anterior eu não lembrava de meus sentimentos, mas agora eu os tenho bem claros, meus sentidos estão alerta como se meu espírito captasse algo de anormal por acontecer, ou se estivesse ansioso por algo prestes a se realizar. Assim eu ouço o rugido do leão enfurecido, é a onda gigante que desponta no horizonte. Como da outra, vez viro-me para a praia e vejo pessoas correndo, dirijo-me com fortes braçadas até a areia e lá consigo salvar as três crianças, mas meu pensamento está na mulher que eu pretendo desesperadamente tirar do perigo. Desta vez salto para a praia numa busca quase insana daquela minha protegida, vejo-a correndo para mim de braços abertos, mas antes que a abrace a onda nos atinge novamente, sinto, então, uma dor profunda no peito, mas não sei se é dor física ou se é meu coração que dói por falhar novamente na minha missão.
E mais uma vez, como uma imagem de tevê é cortada quando há falta de energia, o sonho se apagou. Eu acordei.
Novamente minha curta existência se transformou numa busca daquele rosto, até que a infância e tudo que a compõem me chamaram novamente à vadiagem, as imagens daquele sonho tornaram-se latentes.






segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DE VIDAS, DE SONHOS, DE RENCONTROS

A partir dessa semana, será publicado um romance de nossa autoria. Toda segunda, será úblicado um capítulo desse romance, cujo título provisório é DE SONHOS, DE VIDAS, DE REENCONTROS. Abaixo segue a primeira postagem que é a introdução capítulo.


INTRODUÇÃO

“Beija-me com os beijos de tua boca;
porque melhor é o teu amor do que o vinho.
Suave é o aroma dos teus ungüentos;
como ungüento derramado
é o teu nome.”
(Cânticos: 1 – 2;3)

Como é Veneza? Em uma única palavra: apaixonante. Não existe outra cidade como ela. Não há melhor lugar para se passar uma lua-de-mel. E assim, eu casado com a solidão, de quem há muito havia me separado, resolvi ir até lá. É realmente embriagante andar pelas vielas de Veneza, sente-se o cheiro da Idade Média, pisando-se nas ruas de pedra. Mas a maior atração, com certeza, são os canais. Para minha sorte, cheguei a essa magnífica cidade no primeiro sábado de setembro, e no domingo, debruçado numa das cem janelas do Hotel Carlton e Grand Canal, que estão de frente para o Grande Canal, conforme o nome já sugere, já assisti à Regata Storica. Trata-se de uma competição de gôndolas de diferentes categorias. Nos dias que se seguiram fiz o que todo turista faz, ao lado de sua esposa: fui à praça San Marcos; visitei a Igreja de mesmo nome, depois de encarar uma fila quilométrica; passeei numa gôndola com almofadas em formato de coração, e... cansei. Era mais ou menos o décimo quinto dia em Veneza e minha esposa já me aborrecera. Uma impaciência me percorria as costas e me formigava o cérebro. Precisava urgentemente encontrar alguém para conversar ou pelo menos para observar.
Era uma tarde de sexta-feira quando um casal me chamou a atenção. Eu havia acabado de chegar de uma caminhada pelas verdadeiras ruas de Veneza, que são aquelas onde moram seus habitantes, dir-se-iam ruelas que deixam-nos ver um monte de pontezinhas sobre os inúmeros canais. Estava debruçado na janela do quarto admirando a beleza do Grande Canal, tentando descobrir os mistérios medievais submersos naquelas águas, quando esse casal passou numa gôndola. Era um casal como outro qualquer, entretanto algo, que não sei o quê, chamou-me a atenção, com certeza não foi o fato de ambos serem brasileiros, pois não dava para fazer essa identificação da distância que eu me encontrava deles.
À noite, estava em um restaurante observando as luzes da cidade refletida nas águas, quando os vi novamente. Ele deveria ter uns cinqüenta anos, enquanto ela era um pouco mais jovem. Os dois conversavam, enquanto a mulher com um brilho sapeca no olhar fazia trejeitos para diverti-lo, oferecendo-lhe os lábios umedecidos de vinho. Ele ria e beijava-lhe os lábios, beijava-os não, acarinhava-os com os seus. É esse o verbo que melhor define aquela atitude. Ela, então, molhava novamente os lábios no vinho e ofertava-os a ele, que sorvia o líquido e permanecia alguns segundos, embriagado na beleza do rosto da companheira. De súbito me veio uma idéia: aproximar-me deles e conhecer a magia daquele amor, afinal não é todo dia que vemos um casal com tamanha demonstração de carinho. “Devem ser recém-casados” – pensei. Por outro lado, indagava-me se tinha o direito de interrompê-los, pois se eles estavam ali, tão longe de casa, sozinhos, é porque não queriam companhia. Entretanto, para minha surpresa, foi ele que se aproximou de mim. Enquanto ela saiu, para ir ao toalete, ele levantou e veio até mim:
─ Boa noite! Você é brasileiro, não é? – perguntou-me, passando a mão pelos cabelos grisalhos que também brilhavam sob o reflexo das luzes.
─ Sim – respondi apertando-lhe a mão.
─ Aqui é tão difícil encontrar alguém de casa que, quando o vi, não pude controlar a vontade de falar português, com alguém que não seja lusitano. – justificou-se quase impaciente por eu não convidá-lo a sentar-se. Quando percebi essa minha gafe, prontifiquei-me a fazê-lo.
Logo estávamos familiarizados. Quando sua bela esposa chegou, ele ma apresentou e os três ficamos conversando sobre o Brasil e sobre Fortaleza. Coincidentemente eles também eram da capital alencarina. Por mais que eu me esforçasse, entretanto, não conseguia tirar os olhos de sua adorável senhora. Se os amigos leitores a vissem, com certeza saberiam o motivo. Quando voltei para o hotel levei deles a promessa de no dia seguinte almoçarmos juntos.
No dia seguinte, tínhamos acabado de almoçar, quando Daniel, era esse o nome do homem, virou-se para mim e disse:
─ Senhor Rodrigo, pode ser que o senhor não acredite em reencarnação, mas eu lembro do senhor de alguma vida anterior.
Eu estava estupefato. Afinal não é todo dia que alguém lembra de você de uma outra vida. O mais comum é alguém lembrar de você de algum lugar. Ele então repetiu a afirmação e virando-se para sua bela esposa, como quem casara há poucos dias, disse que a primeira vez que os dois se viram foi numa outra encarnação, há centenas de anos. Diante da minha surpresa ele contou rapidamente sobre seu dom de reconhecer as pessoas com quem vivera ou com quem apenas cruzara em outras vidas. Em seguida com poucas palavras me contou sua história. Eu estava entre surpreendido e impressionado. Aquela era, se não a mais bela, a mais surpreendente história de amor que alguém pode ter vivido. E ela estava ali ao alcance de meus ouvidos. No dia seguinte devolvi o favor. Fui almoçar com meus novos amigos. Levei comigo meu editor de texto portátil e o gravador. Pedi então para que Daniel me contasse sua história de sonhos e encontros. Ele assentiu, mas com uma condição: que, ao escrevê-la, eu o fizesse em primeira pessoa, pois queria que os leitores ouvissem sua voz e os ecos do passado recente e do passado remoto. É claro que eu aceitei essa condição, e, durante uma semana, em pontos diferentes de Veneza, ele me contou a história que vocês lerão a seguir.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

NÃO COMETA ESSE ERRO


A SINA DO ESCARAVELHO

Assim, como humanos seres há,
Que grande poder a si se arrosta,
Existe inseto que também se dá,
Falo do nojento rola-bosta.

Rola-bosta é apenas apelido,
Seu nome verdadeiro é escaravelho,
Como Narciso, o inútil é atrevido,
Coa caca, só descansa ante um espelho.

Vi-o enquanto olhava meu jardim,
Fiquei incrivificado com a criatura
Que desfilava bem perto de mim,
Cara fechada, preso em sua feiúra.

Ostentava tanta empáfia o infeliz,
Que chamou deveras minha atenção,
Resolvi logo ser dele aprendiz,
Para não repetir sua lição.

Duma lorica pesada era preso,
Erguia sua tromba como um falo,
Olhava os colegas com desprezo,
Como em sua cabeça houvesse um halo.

Os insetos menores tinham medo,
Pois não sabiam que, apesar de tudo,
Ele guardava um enorme segredo
Debaixo de seu focinho trombudo.

Por muitos dias perscrutei atento,
Aquele pesado fardo levar,
Aquele ser de penúria e lamento,
De viés aos outros seres olhar.

Eu juro que fiquei com muito dó,
Dele, vestido como um cavaleiro,
Porém levando a vida muito só,
Sem nunca ter momento alvissareiro.

Em surdina, dos insetos ouvi
Que ele tinha sido mais coitado,
Entanto era mais humilde ali,
E a ninguém ele tinha humilhado.

Um dia, deram para ele cuidar,
Porém, uma bosta bem grande e suja,
Que carrega então de lá para cá,
Vigiando como mamãe coruja.

Adora aos pequeninos indagar:
Sabem para que seve esta caca?
Respondem ingênuos: para brincar!
Dando um sorriso frio o babaca,

Mas não sabendo também responder
O que acabara de perguntar,
Sai trombudo a cumprir seu dever,
Sua grande bosta vai empurrar.

Entanto todo mundo tem alguém
Para consigo se preocupar.
Com ele aconteceu também,
Uma amiga havia pra consolar.

Disse-lhe ela: não seja tão sisudo,
Procure uma parceira para o ajudar,
Não seja assim, colega, tão cascudo
Há uma companheira para te amar.

Diante de grande demonstração,
O pobre resolveu pra ela se abrir
Não posso, amiga, dar meu coração,
Às fêmeas de lá tampouco daqui.

Só a você vou dizer a verdade,
Vou segredar o que sempre serei,
Que não se sabe na comunidade,
A verdade, colega, é que sou gay.

Estupefato ao ouvir-lo fiquei,
Diante de tamanha confissão,
Não sabia de nenhum inseto gay,
Sabia até de veado leão.

Mas sua amiga, do rola-bostas,
Era dessas amigas de verdade,
Disse-lhe passando a mão nas costas:
Todos precisam da felicidade.

Para tudo nesta vida tem jeito,
Não se importe meu amigo querido,
Ser boiola não é nenhum defeito,
Por que não arranja você um marido?

Arranje, amigo, um companheiro, então,
Que o ame de fato e ame-o também,
Formando de dois um só coração,
E que os anjos enfim digam amém.

Ele então seguindo esse conselho,
Logo passou com outro a desfilar,
Quando o via ficava vermelho,
E saíam os dois a namorar.

Mas não mudou nada o pobre coitado,
O motivo disso logo direi:
Não se pode amar inseto veado
Por um inseto que também é gay.

Juro sobre a bíblia e ante Deus,
Isso tudo aconteceu no meu jardim,
Passou-se assim perante os olhos meus
Descortinou-se bem perto de mim.
(Professor Alves, 03/08)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

DÊ UMA CHANCE A PAZ


IMPOSSÍVEL SONHAR
Professor Alves

“Minha mão não tem mais palma!
Dói em reverência! Violência calma!”

Hoje queria escrever um texto no qual fizesse transbordar minha admiração infinda pela humanidade, que levasse aos olhos do leitor lágrimas de felicidade e lhe desse uma vontade enorme de sair às ruas e cumprimentar seus semelhantes. Queria contar uma história, pequena que fosse, mas que narrasse uma atitude digna de uma espécie a qual se orgulha de ser racional, e que servisse de exemplo para toda humanidade, principalmente à que se diz cristã.

Não, hoje eu não queria falar em políticos e seu cinismo indecente, diante da população rota, transida pela falta de tudo que lhes dê uma condição minimamente humana. Hoje eu queria dormir tranqüilo, ter sonhos bons que elevassem meu astral para o dia seguinte.

Queria falar sobre o sorriso das crianças; do amor, verdadeiro, dos anciãos; da ingenuidade dos namorados; da puerícia das cartas de amor; do infinito mistério do beija-flor e da impossibilidade do besouro.

Mas não é possível, depois do que eu presenciei. Uma cena indigna da inteligência humana. Foi um sonho dantesco, porém indigno da Divina Comédia Humana. Numa avenida, há tão pouco tempo calma, porém, já hoje, tumultuada pelo ir e vir dos carros, ironicamente, próximo a uma escola. Após uma pequena colisão, dessas que se vêem a todo instante numa cidade que cresce, sem nenhuma estrutura para dar alicerce a esse crescimento. O proprietário do veículo colidido, de arma em punho humilhava o outro, o vilão daquele sinistro. Enquanto vociferava, ordenando que o outro entrasse no seu veículo e fosse embora, mudava o revólver de mão. Naquele momento, como os cabelos de Sansão, a arma empunhada lhe dava poder, e ele crescia perante o outro, que, humilhado, constrangido, diminuía, apequenava-se diante da superioridade da arma. Não sei quem era maior, se o revólver ou o homem que se escondia por trás dela. Não sei quem era menor, se o homem humilhado ou a sua dignidade. Súbito percebi que a humilhação não era privilégio dele, ela era coletiva Todos que por ali passavam, fechados nos seus escudos de aço, sentiam-se abatidos por aquele homem poderoso e sua arma. Em câmara lenta, (Essa era a velocidade do momento, uma vez que a cena tornava-se infinita como num filme de John Woo), o homem com a moral destroçada entrava em seu carro.

Não vi o desfecho da cena. Não precisava. O desfecho foi a morte do homem, suposto responsável pela colisão. Impossível alguém sair vivo, pelo menos moralmente, depois de passar por aquilo. Infelizmente hoje à noite terei pesadelos.

(Fortaleza, 29/04/08)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O SAL DA TERRA


O SAL DA TERRA

“Vós sois o sal da terra. E se o sal é insípido, com que se há de salgar? Servirá apenas para ser jogado fora e ser pisado pelos homens.”

Voltando para casa, sete e meia da noite, mais ou menos, vejo um furdunço urbano. Uma turba jazia ante um cadáver, sobre o qual profissionalmente já se debruçava o fotógrafo da “perícia”. Ladeando a cena, dois carros do já famigerado “Ronda do quarteirão”. Passando lentamente, mais por curiosidade que por impedimento, pude vislumbrar o pé do ex-vivente. Era um pé pequeno, desses que ainda não trilharam muitos caminhos nem o farão por já não terem futuro. Era uma criança. Quantos anos? Não importa. Era uma criança. Causa mortis? Bala. Motivo: tentativa de assalto. Não, ele não foi assaltado. Tentou fazê-lo e o resultado foi esse.

Infelizmente, não se trata de um fato isolado. Acontecimentos como esse ocorrem todos os dias numa cidade como Fortaleza. O que me leva a narrá-lo aqui, a dedos frios e coração palpitante foi o fato de me virem à mente naquele momento as palavras do mestre: “Vós sois o sal da terra...” E se o sal não tem sabor? Na verdade, quando Jesus disse isso não estava pensando em salvar almas, mas estava dizendo para todos os jovens, que são o sal da terra, a luz da vida. Mas infelizmente cada vez mais o sal está perdendo o sabor, e a luz, o brilho. Sem educação, sem orientação, o sal já não serve para dar sabor à vida, somente para ser pisado, humilhado, manipulado pelos outros.

Minha ignorância diante de algumas coisas me constrange às vezes. Uma vez, ante uma prateleira de supermercado, ainda lembrando as palavras do sábio filho de José, fiquei impressionado com a variação de preço do sal. Ao que um senhor me acorreu explicando que o valor do sal oscilava de acordo com o grau de pureza, ou com a procedência. Quanto mais refinado, mais caro se torna. Pensei assim que mesmo aqueles jovens que ainda têm algum sabor precisam ser refinados, pois mesmo que não sejam jogados fora, serão mal aproveitados, serão discriminados na prateleira do mercado de trabalho. Não sei como um país quer alcançar o topo onde se encontram os países de primeiro mundo sem refinar seu sal, sem lhe tirar as impurezas, sem lhe acrescentar a quantidade de iodo necessária!

Infelizmente, enquanto não houver vergonha na cara das autoridades, nossa juventude será sal grosseiro, daquele manipulado por mãos rudes, molhado no sal das lágrimas e suor. A falta de iodo no refino levará ao bócio social. Um grande número, crescente a cada dia, sem gosto, será jogado fora, pisado pelos homens; alguns servirão para enrijecer a argamassa que se multiplicará em prédios país a fora; e só alguns poucos servirão para a mesa do “chef” francês.

(Professor Alves)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A FLOR E A DOR




A FLOR E A DOR
OU A ETERNA LUTA DO BEM CONTRA O MAL
(para Dra. Karol, uma flor vestida de anjo)

A dor surgiu sub-repticiamente,
De leve, cansada, espaçosa,
Logo foi tomando espaço na mente,
Em breve, era toda vitoriosa,
Impedindo os atos comumente.

Até que de triunfo deu seu grito,
Quedou-me com violência no chão.
O doutor mandou-me seguir o rito,
Ressonância era o exame padrão.
Saiu então o diagnóstico maldito.

“Exuberante protrusão discal
Póstero-mediana” – disse o médico
Descrevendo qual era o meu mal –
“Contraindo” – continuou sádico –
“A margem ventral do saco dural”.

Sentia-me como se fosse fuzilado,
Estava perplexo diante daquilo,
Ele ria por ter-me humilhado,
Recompus-me e perguntei tranqüilo:
– Há vida pra mim depois desse laudo?

Não é nada para desesperar,
Vamos fazer forte medicação,
Fisioterapia muita se fará,
Após dez meses de dedicação,
Bom de novo você estará.

Triste, macambúzio e desolado,
Voltei então dessa forma para casa,
Sem contar com a dor física do lado.
No tratamento, logo mandei brasa,
Pior, juro, nunca havia estado.

Em poucos dias estava arrasado.
Os comprimidos e as injeções
Deixaram-me o corpo debilitado,
Fui afastado, pois, das diversões
E do trabalho fui logo sacado.

A angústia e a má solidão
Tornaram-se assim minhas companheiras,
Fui presa fácil da televisão,
Nem em sonhos ia a brincadeiras,
Mas pensava: “dias melhores virão”.

Meu consolo era o computador,
Do orkut, os amigos e amigas,
Xadrez, música, e, como leitor,
Jornais e até revistas antigas,
Eram os lenitivos para a dor.

Bons dias vieram antes que eu pensava!
“Há malas as quais vem para o trem”
Há pouco um amigo, brincando, falava,
– Há males os quais vêm para o bem –
Esse provérbio ele parodiava.

E foi no momento em que adentrei
A sala de fisioterapia:
Um ente celeste encarnado encontrei!
A tal dor de repente não sentia,
De pronto, logo, logo melhorei.

Era um anjo meigo e lindo, Meu Deus!
Desses os quais pouco vêm à terra –
Que encanto para os olhos meus –
Quando vêm, numa redoma se encerram.
Inacessível a um coração ateu!

Era um ser feito de luz e harmonia,
Era um manto de pura perfeição,
O jaleco branco e o que dele fluía!
Tomou a minha dor em sua mão,
Senti-me conduzido à sacristia.

Mas passado o primeiro momento,
A dor voltou, plena, aguda, fria.
Era para mim deveras tormento
Quando vinha então a analgesia,
Só seus olhos me traziam lenimento.

Ela era assim como uma flor,
Cujos espinhos do conhecimento
Combatiam naquele vale de dor,
Impondo-nos severo tratamento,
Severamente, entanto com amor.

Era bastante um discreto sorriso,
Mostrando duas ebúrneas fileiras,
Para o mal se abater ante esse viso,
Pois sabia que não era brincadeira,
Recuava, mostrando ter bom siso.


Era a luta dos seres antitéticos:
Quando a dor sorria cinicamente,
Utilizando seus meios ecléticos;
A flor agia pacientemente,
Utilizando expedientes éticos!

Até que do bem começou a vitória.
A dor tentou, ainda em desespero,
Ostentar uma enganosa glória,
Mas a bela flor tinha o dom do esmero
E mudou por completo a história.

As noites, torturadas pela dor,
Ganharam agora uma nova feição,
São embaladas pela voz da flor,
Que, palpitante tal qual coração,
Abre os lábios, pétalas de olor.

O mal, vendo-se por fim derrotado,
Saiu deixando o campo da batalha.
Era o disco, que antes protrusado,
Pedia desculpas por sua falha;
Vitória do bem, em anjo encarnado.

Quando voltei então ao ortopedista,
Ele ficou assim sobressaltado,
Vendo-me andar como um nacionalista,
Senti-o um pouco decepcionado,
Pois, passou de leve a mão na vista.

O que vejo, amigo, um sério colosso!
Que fizeste, pois o que miro é raro,
Andas forte como se fosse um moço,
Encontraste algum santo, meu caro!?
Respondi-lhe – Uma, de carne e osso”

(Porofessor Alves)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O CIRCO DA MINHA INFÂNCIA


Muitas coisas da nossa infância nos assaltam de vez em quando. O interessante é que existem modelos, criam-se em nossas mentes paradigmas para o que acontece mais de uma vez. Os circos da minha infância foram inúmeros, de diversas cores e nomes, com artistas dos mais diferentes matizes. Entretanto aquele que meu inconsciente elegeu para repetir através das gerações foi um só.


      Em épocas determinadas do ano aparecia o circo. Estava brincando no quintal quando ouvia a algazarra, gritos da molecada a que eu deveria me juntar, se mamãe deixasse, é claro. Do quintal ainda ouvia os primeiros gritos: “Hoje tem espetáculo, tem sim, senhor... O palhaço o que é? É ladrão de mulher...” Corria para a calçada a fim de ver passar o cortejo liderado pelo palhaço da perna de pau, e sorriso largo, e roupa colorida. Depois de passada a parada, restava-nos saber onde estava sendo armada a enorme tenda. Que alegria! Desta feita era lá no campo, bem próximo à nossa casa.



       À tarde, depois de voltar da escola, fomos para lá, ver a armação do circo. E lá estavam todos os artistas uniformizados de operários. A gente os reconhecia porque eram diferentes de pele e cabelo. As moças eram todas loiras e brancas, os homens delgados ou fortes ao extremo. O mastro central subia e com ele o pano que obstruiria de nossas famintas mentes o mistério do circo, apesar da infinidade de buracos.

        No dia, seguinte já armado, o circo se preparava para a estréia. Minha cabeça era repleta daquele mistério. Ai que vontade de ser invisível para ir lá, saber o que estava se passando, sobre o que conversavam. O pior é que logo vinham as histórias, criadas pelas mentes ou vistas de fato, pelas frestas impenetráveis da estrutura circense: “Quem tiver gato que esconda porque o domador está comprando gato para dar de comer aos leões.” “Dizem que o filho de dona sicrana sumiu, que foi pisoteado pelo elefante e enterrado numa das barracas”...

      À noite estávamos lá, ávidos pela magia do circo, sentados nas arquibancadas de madeira, que tremiam e beliscavam nossas bundas, mas nem sentíamos. Sob a má iluminação, vinha o equilibrista, andando no arame, de vez em quando desequilibrava, tirando um “UUU” da garganta da plateia, cujos olhos não desgrudavam um décimo da cena. Em seguida era a vez do atirador de facas, que maestria, que segurança; a moça, pregada na tábua, ria desafiando as pontiagudas lâminas que cortavam o ar e se colavam a milímetros do seu corpo! Diante de uma salva de palmas, entrava o homem mais forte do mundo, que antes se apresentara como equilibrista e atirador de faca. Como era forte, segurava dois carros de motor ligado e acelerador pisado! O mágico e o palhaço encerravam a noite. E íamos dormir com as mentes repletas de sonhos. Embalado por Morfeu, ainda tinha tempo de sonhar com a bela loira das facas, que era também ajudante de mágico e a trapezista.

     Quando começava a perder a graça, quando os truques do mágico já eram abertamente desvendados nos balcões dos bares, quando já se punha em xeque a força do homem mais forte do mundo, o circo levantava pano, ia embora para bem longe. Ia despertar a imaginação, alimentar os sonhos de outras crianças. Apenas uma história era verdade: Depois da partida, uma mãe aparecia chorando, sua filha fora roubada pelo desalmado do palhaço. E a velha chorava até que alguns meses depois a filha pródiga voltava à casa materna, e trazia consigo uma criança, Talvez fosse o pagamento do palhaço à mãe entristecida.

(Professor Alves)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

EM BUSCA DA FELICIDADE


A BUSCA DA FELICIDADE

Quando era criança, não entendia direito por que as pessoas eram tão infelizes. Por que passavam mais tempo sisudas do que sorrindo. Depois compreendi que elas sorriam quando eram felizes, mas, como passavam a maior parte do tempo infelizes, passavam mais tempo casmurras. Só os loucos eram sempre felizes ou sempre resmungões.
Eu próprio me testava, e quando estava triste me perguntava por quê, na medida em que não havia acontecido nada de entristecedor. Quando era feliz sabia exatamente o motivo. Algo de bom havia ocorrido. Depois compreendi que não precisa haver motivos para a infelicidade, só o fato de não acontecer nada de novo e de bom já é motivo para sermos infelizes.
Depois li a célebre frase de Freud: “A felicidade é como uma borboleta. Se a perseguimos desenfreadamente, ela foge de nós, mas se a esperamos no cumprimento do dever, logo ela vem pousar em nosso ombro.” Mas compreendia também que borboletas voam, mudam de pouso a todo instante. Talvez por isso a felicidade é tão efêmera.
Mas foi depois de assistir ao filme À procura da Felicidade que compreendi mais ainda a estranha mania das pessoas de estarem ao lado da infelicidade. Nele a personagem Cris vive um casamento infeliz devido à falta de dinheiro. Logo a felicidade, isso ele compreende sempre, está onde se encontra a estabilidade financeira. Até que, passando em frente a uma corretora de seguros, ele vê que as pessoas saem de lá sorrindo. Ele descobre que lá reside a felicidade. E resolve trabalhar lá para também ser feliz. É de seu conhecimento também, devido ao conhecimento da Carta da Independência dos Estados Unidos, escrita por Tomas Jéferson, que a felicidade é efêmera. Jéferson diz na referida carta que, entre os direitos dos americanos, há o direito à busca da felicidade. Não o direito à Felicidade, mas à prerrogativa de procurá-la. Quando finalmente consegue entrar para o quadro efetivo da seguradora, Cris diz “essa parte da minha vida chama-se felicidade”. Ele sabia que não seria eternamente feliz a partir daquele momento. Estava feliz e isso é diferente.
O que quero dizer é que a nossa missão aqui na terra é buscar a felicidade e sabermos aproveitá-la sempre que ela surgir. Por isso é preciso entender que logo após o primeiro momento, o da euforia que se segue a uma conquista, precisamos ir em busca de novas realizações. Precisamos compreender que não podemos passar a vida toda “curtindo” um momento, pois logo o sabor irá saturar, e o gosto que nos ficará será um leve amargo. A angústia logo será nossa vizinha. É preciso comemorar sorrir, mas logo levantarmos a cabeça e seguirmos nossa eterna busca da FELICIDADE.
(Professor Alves)

terça-feira, 29 de julho de 2008

NÃO PRECISAMOS VOTAR




O VERDADEIRO ANALFABETO POLÍTICO

O verdadeiro analfabeto político
É entendido, segue os ditames de Bretch,
Abre o peito para dizer:
─ Eu voto, o voto é minha arma,
Sem ele as prostitutas se multiplicam,
A Saúde está morta,
A Educação não existe,
Meu povo não tem redenção.
Ou é ignaro para balbuciar:
─ Voto no candidato da mãe que vai me dar uma dentadura,
Um copo de cerveja e um prato de feijoada.

Desconhecem eles, míseros eleitores,
Que o verdadeiro analfabeto é o que vota,
É o que coloca a raposa no galinheiro.

A política é a resina que molda a volúpia por poder.
A política, unifica todo ser, mais que a morte.
Torna a todos escravos da ganância,
E lhes instala no peito o vírus da corrupção,
Que embota as mentes, antes honestas(?)
Individualiza interesses coletivos,
E como uma pandemia se espalha
Escolas, fábricas, sindicatos, bairros, cidades, países, galáxias.
Não há política nem politicalha, como queria Rui.
O que há é a ciência do descaso, da mentira, da usura.

E o povo?
Torna-se vítima desses interesses.
E aí sim surgem mais miseráveis
Que se multiplicam feito tapurus na carne podre,
Prostitutas desfilam suas almas enviesadas nas vielas da solidão,
Professores mal pagos destroem horizontes infantis,
Morre-se, é irônico, nas filas dos hospitais.
E quando vem a chuva arrasta consigo destinos
E se é tempo de seca, sinas são tragadas pela terra.

E os petistas, tucanos, pefelistas, bispos, verdes, comunistas
Estalam o açoite nos palacetes da devassidão
Entre risos, lagostas e uísques.
Enquanto a turba pede esmolas, educação, saúde.
A quem de seus votos se fartara,
Tudo graças ao verdadeiro analfabeto, político.
(Professor Alves)

PARA AUGUSTO CÉSAR




PARA AUGUSTO CÉSAR, COM UM POUCO DE ATRASO
(sacratíssimo imperador, filho do amigo Erasmo Belarmino)

           "Filhos! melhor não tê-los
                    Mas se não os temos
                    Como sabê-los!?"  (Vinícius)
Amigo Erasmo, há algum tempo ponho as roldanas da minha cabeça para funcionar com o objetivo de homenagear seu sacratíssimo filho com um texto. Desisti de buscar metáforas que não sejam clichês, antíteses e sinédoques. Não tendo talento para fazer um texto à altura do seu rebento, resolvi fazer apenas a homenagem. Afinal quem chega precisa de receber um bom-dia, um boa-tarde, ou um boa-noite. É falta de educação da parte de quem já está aqui não fazê-lo. Desenvolvi então as idéias que seguem, perdão se é apenas um texto medíocre.

Filhos são interessantes! Chegam e nem sequer nos cumprimentam. Pelo contrário, nos olham como se não nos estivessem vendo e nos olham com cara de “o que foi”. E a gente se derrama todo, fica feliz, ri à toa, bate foto e chama os vizinhos: “Não é a cara do pai?” Não. Filhos não se parecem com ninguém. Bebês então é que não se parecem mesmo. Parecem-se só uns com os outros, como se fossem todos gêmeos. E são todos lindos. Até os bebês dinossauros são belos como os nossos. Especialistas dizem que são artimanhas para se protegerem de nós. É, mas infelizmente alguns não conseguem.
Filhos são interessantes! E crescem sempre. Um dia você chega do trabalho, pensando em encontrar um bebezinho no berço, e toma um susto. Tem um menino, olhando para você com cara de “o que foi”? Do dia para a noite estão andando dentro de casa, ditando modas e modos. A casa passa a estar como eles querem, ou seja, desarrumada, brinquedo pra tudo quanto é lado, sofá rasgado, parede riscada. Para nós nos restam as saudades da arrumação.
Filhos são interessantes! De repente perdemos nossa identidade, e a casa! Passamos a ser apenas o pai e a mãe de fulano. Nossa casa, antes tão nossa, agora é a casa de fulano, nossos pertences agora não nos pertencem, para usar o computador, por exemplo, temos que pedir emprestado. E nossas férias já não são nossas. São eles que decidem o que vamos fazer. E haja escultura na beira da praia, correr atrás da bola que o vento teima em jogar para frente, enquanto a cerveja esquenta na mesa. E sentimos saudades do tempo em que aproveitávamos as férias para curtir uma gelada, enquanto mirávamos pernas com o canto do olhos! Lembra? São só lembranças.
Mas filhos são realmente interessantes! Principalmente quando começam a estudar. Perdemos a hora do almoço só para esperá-los na porta da escola todos os dias. E quando vêm (todo breado, a farda mais parece pano de chão) lembramos de nós, do futuro. Se somos professores, então, resolvemos que não vamos incorrer no mesmo erro. Ele vai ser astronauta, arqueólogo, no mínimo médico.
É, filhos são realmente interessantes! Além de nos deixar órfão de esposa, de pais (nossos pais agora são avós dele, esqueceram!) e objetos, tão pessoais, nós o amamos e damos a vida por eles. A vida não, todas ! Um amigo, quando o filho pegou uma pneumonia, fez uma promessa de que se ele ficasse bom, ele (o pai) não precisaria mais nascer. Sério. Pois é, amamos a ponto de fazermos coisas antes inimagináveis. E tudo para sermos pais, e em agosto comemorarmos o dia dos pais, e recebermos presentes, que nós mesmos pagamos.
Filhos são realmente muito interessantes.
(julho de 2008)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Amigo não é jogo de azar


AMIGO


“Como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.”
(Exupéry)

Amigos são assim! Não é prêmio de jogo de azar, mas também não são escolhidos. Vêm-nos como que atraídos por nós, por nossa esfera astral, ou pela química resultante do acúmulo de ansiedades, valores e realizações de cada um. Quando se vão, ou quando se-nos esquecem deixam um vazio que, para citar Djavan, nem que bebêssemos o mar encheria o temos de fundo.

E por que os amigos se vão ou nos viram as costas? Os motivos não sabemos, podem ser vários. Uma palavra mal dita, um gesto desavisado, um pedido, uma deprecação. Depois é que nos vem a lembrança de que amigos não gostam de exigências, de solicitações, apesar das palavras de Exupéry (“És eternamente responsável por aquilo que cativas.”).

Só nos resta então sofrer o abandono e buscar a razão da ausência, inimiga. E quanto mais buscamos o motivo, mais esquecemos os verdadeiros porquês. E o vazio continua aumentando a cada momento. Quem já teve um amigo para depois vê-lo apenas na distância da memória sabe do que estou falando.

Não importa quão cheia a nossa casa esteja. Ela está sempre carente da presença do amigo fujão, e quando todos se vão ou espontaneamente ou cortesmente convidados, o que nos fica rememorando não são os diálogos interessantes nem as gafes inexoráveis, são as lembranças do amigo “pródigo” que não estava presente.

Hoje senti saudades de você. Minha casa está cheia, porém falta você, falta sua palavra comum, porém imprescindível, seu sorriso meigo, seus olhos viajantes, sua voz silenciosa.
(Professor Alves, 04/07/2008)

domingo, 13 de julho de 2008

A AGONIA DO FUMANTE


A AGONIA DO FUMANTE - Prof. Alves 12/05/2007
Nada mais angustiante que a agonia do fumante quando quer se livrar do vício.
Entretanto essa agonia começa junto com o vício, quando os pais dizem “não, não pode ser”.
E o indivíduo os desafia achando que está fazendo a coisa mais certa, que enfim está se libertando. Sem saber de quê!
Não sabe o ainda projeto de imbecil que está armando os grilhões de que será eterno escravo.
Com a evolução do mal hábito, vêm os constrangimentos a que se exporá o adolescente, como não ter dinheiro para alimentar o “luxo”, pequenos furtos ao bolso do pai, as descobertas desse ato, tudo isso aliado à debilitação física da idade adulta iminente.
Aí vem o pior: a vontade de se livrar do cigarro.
O que fazer?
A resolução é peremptória: não quero mais, pronto!
Acompanhada dessa decisão vem a empolgação, a euforia, a satisfação, a alegria de encontrar a porta de saída da prisão.
propaga-se a decisão então aos quatro ventos e partilha-se essa vontade com os entes mais próximos.
Mas o tinhoso é capcioso, astuto e espera o momento certo para reagir.
Acabada aquela Euforia inicial, lá vem ele se insinuando de fininho, fazendo-se vítima. Não, ele não foi culpado por nada, pelo contrário, só queria ajudar, era o único companheiro e foi jogado fora.
Suas intenções são manifestas de várias formas:
Pra que me largar se precisamos um do outro, não é feio fumar.
“Desconfia dos que não fumam, eles não têm sentimento”
Aos poucos o coitado fumante começa a ver graça em estar com o dito entre os dedos e se esquece dos motivos que o levaram a buscar a liberdade.
Não vê prisão, as grades viraram fumaça, Cego novamente encontra-se com seu “amigo”, às escondidas, só um trago de vez em quando.
até que alguém o flagra sorvendo alegre a fumaça embotadora de sua mente.
passada a vergonha inicial ele volta à antiga prisão. Sem pejo de desfilar com seu destruidor e só vai se dar conta da besteira que fez quando os motivos que o levaram a buscar a liberdade estiverem-no atormentando novamente.
E a angústia parece sua única aliada, companheira.
Essa angústia, esse sofrimento vai-se repetir até o dia em que finalmente o tabaco cumprir sua missão: a ruína total daquele que não teve força o tsuficiente para se livrar dele.
***
a mesma angústia que acomete ao fumante, ocorre àqueles que de certa forma possuem grilhões dos quais não conseguem se livrar.
qual é a sua prisão, a sua angústia?
livre-se dele o mais urgente, antes que a ruína seja a única visão que se deslumbrará no caminho já embotado.

(Professor alves)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

SONETO DA BELEZA

SONETO DA BELEZA
(Para Vanessa, uma beleza ainda arisca )


A beleza não está no que defronta,
Mas na alma plena que se manifesta.
Não está na roupa com que se apronta,
Mas no sorriso que se abre em festa.

É um esplendor que o dedo não aponta,
É um detalhe que um muxoxo empresta.
Todos dizem: linda! Demais da conta!
Se faceira, o mundo todo a requesta.

Porém se o belo não se faz notar,
Não se mostra em linhas sinuosas,
Se fica assim a formosura latente,

Não se vai desta forma realçar,
Não serão as graças então formosas,
A alma fria não estará contente.
(Professor Alves, junho de 2008)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

APOLOGIA À CANÇÃO DO MUNDO


(para Vanessa no seu aniversário de doze anos)

Desconfia do silêncio
Sorri, bate palmas, faze barulho
O silêncio é tão insuportável que deu origem ao som
Como à luz a escuridão
O silêncio está sempre carregado de mistério, de sombra
(Mas sempre não é todo dia)

Não te iludas
Quando a cidade dorme, não dorme
É nesse silêncio profundo que amantes se dão
Revira-se pelas camas, e redes, e chãos, em busca de se achar
Não te iludas com o silêncio
Foi silenciosamente com três beijos que Judas cumpriu sua sina
Foi no silêncio de Ouro Preto que se confidenciou e se coseu uma nova bandeira
(ainda que tarde)
Foi nesse mesmo silêncio que um tal Joaquim a traiu
Foi também em silêncio, que os vermes roeram as frias carnes de Machado, Augusto...
E foi no silêncio da asfixia química que o holocausto se consumou

Não te iludas.

Cultua um só tipo de silêncio: o benéfico
O silêncio do ler:
É nos mínimos intervalos entre as palavras que se descobre o mundo
Que se vislumbra a fantasia, e a realidade...
O silêncio do escrever:
É no correr da caneta ou das teclas que damos asas ao silêncio da imaginação
Que se recria o pensamento.

Mesmo quando amares, não o faças em silêncio.

Desconfia do silêncio
Sorri, bate palmas, faze barulho
Deixa o silêncio aos mortos e as gargalhadas aos bobos.
Alves (julho de 2005)

AMOR E POESIA

AMOR E POESIA



Fazer versos é como fazer amor.

Em atos ambos, a pressa tem que ser desprezada,
O cuidado, inexoravelmente, enaltecido.

O ser amado como o papel cuidadosamente
Sonhado
Festejado
Mirado.

Ela te dá o prazer do gozo dia após dia
Ele a alegria de não te repetires.

Cada palavra é um beijo,
Cada verso uma carícia,
E paulatinamente o poema se vai construindo,
E calmamente os corpos se constringindo.
Até o momento máximo da poesia realizada (o poema),
Até o sublime êxtase do líquido jorrado (e recebido).

Examina teu poema...
Contempla tua amada...
E,
Sem te preocupares com a resposta de Pessoa,
Pergunta-te se vale a pena amar qualquer uma,
Indaga-te se o poema não tem hora.

Fazer verso é como fazer amor.
Alves ( 11/03 /2003)

sábado, 21 de junho de 2008

AMOR, UMA QUESTÃO DE DOAÇÃO

AMOR, UMA QUESTÃO DE DOAÇÃO
(Professor Alves)
“Ah! que delicioso é dar!Ser generoso que bela tentação!Uma boa palavra brota suavementecomo um suspiro de felicidade!”
(Brecht)
O amor é sem dúvidas o que há de mais interessantes quando se pensa em sentimento. Deve ser concebido assim quando espontâneo, mas não o é quando se quer sentir. Porque se eu resolvo sentir Amor ou preciso que sintam Amor por mim, então o Amor deixa de ser sentimento e passa a ser querer. Não querer no sentido de escolha, mas no sentido de ser capricho. É impossível simplesmente se dizer: “Me ama, vai, estou esperando. Eu te amo então tens de me amar também.”
Essa intimação é mais corriqueira, por incrível que pareça, do que se possa pensar. Quantas pessoas nesse momento (talvez na cabeça do leitor esteja latente essa idéia) estão planejando algo para se fazer amar. Tipo “Se não me amares, eu te mato” ou “Se não me amares, eu me mato”. E o pior é que tanto uma como outra estão sendo executadas. Quem não ama, e quem quer ser amado/a.
E assim o Amor segue, moeda de troca, pois é preciso ser amado para amar. Ou o eterno vilão da humanidade. Vidas são destruídas a todos instante por Amor. É o alcoólatra, que carrega sua cabeça inchada, sua mente embotada por memórias das quais nem mais se lembra; é o esfarrapado que, sem mendigar, conduz pelas ruas a amargura de sua miséria da falta de amor próprio; é o suicida mal-sucedido, cujos pulsos abertos em sulcos profundos lembram-no a todo instante do que já não pode esquecer; é o presidiário, que, no cumprimento de sua pena, perambula pelos corredores estreitos de seu passado, vigiado de perto pelo sangue fétido, jorrado do amor que nunca teve.
É preciso entender que o amor, antes de ser sentimento, é doação. Faz-se mister que entendamos ser mais feliz, do que quem recebe, quem dá, quem empresta, quem doa algo, sem pensar na recompensa que virá depois. Porque talvez ela não venha pelas mãos daquele a quem se doou. A vida é uma corrente do bem, se fizermos o bem, ou uma corrente do mal, se praticarmos o mal. É preciso que amemos “as pessoas como se não houvesse amanhã”, para que as pessoas nos amem com a mesma intensidade, mas sem que nos preocupemos com esse retorno. Livre, espontâneo. Como uma borboleta, que não escolhe onde pousar, pousa porque precisa, chegou a hora, não para deixar outro pouso enciumado, assim são as pessoas. Amam porque precisam amar, chegou o momento de amar. E cabe a qualquer um agradecer a pessoa amada por existir e se permitir ser amada. É o mínimo que de fato podemos fazer

PARA SERMOS FELIZES!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A INDIFERENÇA QUE FALTA

A INDIFERENÇA QUE FALTA

Quem passar hoje pela avenida Duque de Caxias, no trecho entre Barão do Rio Branco e praça Coração de Jesus, aqui em Fortaleza, e não for desapercebido vai perceber que algo está faltando.




Às vezes transitamos pelas ruas e não nos damos conta do que está ao nosso redor. Há uma fachada de bomboniere, há uma moça bonita, há um velho que esmola, há uma prostituta que se vende. Mas na nossa pressa simulada, não vemos o flagelo alheio nem queremos dar conta disso. É o nosso egoísmo que fala mais alto. Ou o nosso medo de nos depararmos com nós mesmos na nossa desgraça interior.


Mas era impossível não vê-lo. Ele estava lá. Indiferente a tudo e a todos. Se alguém tentasse fita-lo enquanto “catava comida entre os detritos”, para tentar entender seus porquês, ele certamente olharia com um desprezo tão grande que lhe enregelaria a espinha. Como quem dissesse “você não é menos miserável do que eu”. Ele era alto, negro e sujo. Sua sujidez (não quero usar sujidade porque esse termo não condiz com a sua verdade) o empretecia ainda mais. Os cabelos, à Bob Marley, armados de sua sujidez, caídos sobre os olhos amarelecidos, sua bermuda que antes foram umas calças jeans, rasgada atrás, a mostrar-lhe as nádegas, desafiadoras, impudentes, transformavam-no em um relicário de indiferença consigo mesmo e para com os transeuntes.


Mas hoje ele não está mais lá. Apareceu-lhe seu anjo da guarda e o levou de lá. Não, ele não foi para o céu, ele não está morto. Seu anjo da guarda não tem asas, não é feito de nuvens, não é aquele de que fala o livro santo. É um arcanjo de carne e osso. Ele não teve medo de que ali estivesse seu ego maldito, seu eu inescrupuloso. Aproximou-se dele, é certo, depois de muito relutar. Entendeu subitamente que por trás daquela massa humana disforme havia um cidadão. Compreendeu o óbvio: que todos temos família. E o levou de lá para junto da mãe, da irmã, da sua tia solteirona.


Qual seu verdadeiro nome? Não importa. Qual o nome de seu anjo? Também pouco interessa. Este tornou-se celebridade. Não porque roubou o dinheiro do povo, não porque desfila seminu de segunda a segunda em um programa imoral chamado BBB. Não é nosso interesse aqui falar em nomes, citar datas, idades, estados mentais. Mas simplesmente lembrar que há pessoas pelas ruas, e nós nada fazemos para melhorar sua condição. É preciso que entendamos que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, mesmo que alguma delas não tenha um nome, um lar, um cargo.
(Professor Alves, 20/02/2008)

A COMPREENSÃO DA BELEZA

COMPREENSÃO DA BELEZA
(Professor Alves)

Certa vez, meu filho chegou-me e disse que queria criar uma lagarta. Lembrei-me da frase que diz que não basta ser pai, tem que participar, e fomos atrás. Depois de muito procurarmos, um rapaz que trabalha na estação de tratamento aqui do condomínio disse que havia uma em um limoeiro. Nossa! Era um bicho asqueroso e feio. Pequeno, acinzentado, com uma carinha de coruja, parecia um pedaço de pau, desses que a gente fortuitamente quebra enquanto divaga sobre as incertezas da vida, para depois lançar fora. Mas fazer o quê, já que só tem tu, vai tu mesmo. Colocamo-la dentro de uma lata de leite devidamente furada, com bastantes folhas, para não ter de alimentá-la mais, era esse meu pensamento.

Dias depois, não me lembram quantos, resolvemos dar uma olhada. Todas as folhas tinham sido devoradas, a terra cheia de “bolinhas” escuras, e ela não existia mais. Em seu lugar jazia um casulo, que pela feição, estado e odor denotava ser a sepultura de um ente que, já em vida, parecia morto. Deixamo-lo lá às expensas do tempo.

Noutro dia (era um domingo), estávamos brincando de algo, quando o Victor deu um grito:

─ Pai, a lata está se mexendo!

Caraca, era verdade. A tampa, que havia sido posta sobre a lata, mas sem ser vedada, estava pululando. Quando a erguemos, vimos o verdadeiro milagre da vida: uma borboleta linda, amarelo-queimado, com detalhes pretos espanejava tentando sair de sua prisão. O Victor estava exultante, dentro de seus olhos havia toda a compreensão sobre a beleza das coisas e onde elas se encontram.
Daquele dia em diante, passei a refletir sobre esse tema. Percebi que o belo só existe quando se manifesta. Não há formosura naquilo que está enclausurado, fechado; no que teima em se mostrar insalubre, inodoro, incolor. É preciso que a maravilha desperte para ser notada. Quantas coisas pulcras não o são por estarem escondidas em si mesmas! Imagine onde está a beleza da chuva! Só a vemos depois que ela se abre em verdes campos e em coloridas flores! A beleza da noite! Só é vista quando as estrelas em todo seu esplendor se abrem em luzes pictóricas! A beleza da vida! Só a vemos e sentimos quando os corações se abrem em sorrisos e atitudes! Assim também são as mulheres.

A beleza feminina, precisa ser exercitada, e não há melhor exercício para desabrochá-la do que a vaidade de um sorriso, a elegância de gestos e as palavras pronunciadas com clareza e ternura. É preciso, pois, que as moças manifestem seu encanto, para que ele se torne visível aos olhos de todos. Obnubilar as graças e as formosuras, escondê-las, negá-las, impedindo que os outros as vejam e se regalem com elas, é um crime contra a humanidade. E toda avareza será castigada.
Por isso sejam belas e...

FELIZES!
(06/06/2008)

terça-feira, 17 de junho de 2008

AS TRÊS PENEIRAS

AS TRÊS PENEIRAS

Um rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava contar algo sobre alguém. Sócrates ergueu os olhos do livro que estava lendo e perguntou:
─ O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?
─ Três peneiras? – indagou o rapaz.
─ Sim! A primeira peneira é a VERDADE. O Que você vai me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, a coisa deve morrer aqui mesmo. Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou a destruir o caminho, a fama do próximo. Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade? pode melhorar o planeta? arrematou Sócrates:

─ Se passou pelas três peneiras, conte!!! Tanto eu como você e seus irmãos iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do planeta.
(Sócrates)

DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

DIÁLOGO DA VIDA INTEIRA

A existência inteira é um diálogo,
Nesse, entre pares, por demais franco!
Um jovem animado a discutir
Com um velho já de cabelo branco.

O jovem, elétrico, agita os braços,
Assim, não pára um minuto sentado.
O velho, a cismar, com um sorriso brando,
Fita o chão, antes, por ele riscado.

O jovem, rebelde, é uma fogueira,
De chama, sensação e atitude.
O ancião, observando, logo pensa:
“Assim já fui na minha juventude”

O jovem diz, entre riso nervoso:
─ Para mim, tudo tem que ser agora!
O velho ouve para depois falar:
─ O abraço o beijo, tudo tem sua hora.

Para o jovem, o gozo dessa vida
Precisa rápido se realizar.
O ancião, fitando a teia do tempo,
Diz: ─ Até isso, filho, pode esperar.

─ Por que tu és tão tranqüilo, sereno,
Se daqui a pouco tempo irás morrer,
Se em terra não te resta muito tempo?
Por que logo não te pões a correr?

Sorrindo, insoberbo, diz-lhe o velho:
─ Eu sou, ó criança, a eternidade.
Em breve deixarás então de ser jovem,
E, quiçá, chegues à minha idade.

­─ Se isso acontecer, continua o velho,
Transformar-te-á em sabedoria,
Aquilo que te atormenta agora
Será paz, não será mais correria.

─ O fogo que te queima as entranhas
E te leva a delírios passageiros,
Em breve, se transpuseres esse estágio,
Será água, terra e ar alvissareiros.

─ Tua paciência para te realizares –
Diz nosso jovem – deixa-me nervoso,
Preciso do fogo alimentador,
Sussurros, beijos abraço ardoroso.

─ Pensas que também não me aprazem?
– Indagou o homem sem idade –
Em minhas veias corre muita energia,
Pronta para enfim ser realidade.

─ É que sou como um arqueiro experiente,
Que espera o tempo certo para atirar,
Minha seta vai direto ao alvo,
Nunca atiro sem antes muito mirar.

─ És, jovem, como os arqueiros insanos,
Tens em mãos o melhor arco do mundo,
Mas, não tendo paciência nem tino,
Torna o projétil mero vagabundo.

─ Sou a águia do tempo, meu jovem,
Vôo alto, para o ser admirar,
Habito a amplidão do ego humano,
Também sou puma pronto para amar.

─ És angustiado como as galinhas,
Freneticamente ciscando o chão,
Esporeando pra tudo quanto é lado,
Gozo verdadeiro não encontras não.

─ Sou o aqui e o agora, ó moribundo,
Não sei o que será no amanhã!
És carne fraca já quase sem vida,
Ser fora do tempo, fruta temporã.

─ Sou água de março, tempo fértil,
Auspicioso, irrigando o sertão.
És outono, penúria, és o fim,
Folha podre decaída no chão.

─ Te enganas, minha pobre criatura,
Sou Gabriel, anjo da anunciação,
Em mim reside toda sabedoria
Sei, do mundo, a chave da criação.

Os dois, cansados dessa brigaria,
Abraçam-se, e para casa se vão,
Porque a casa deles dois é a mesma,
É um prédio chamado coração

Amor é o nome do sábio, paciente,
quieto e tranqüilo ancião.
O outro, que atiça os sentimentos,
Atende por este nome: Paixão.
(professor Alves, 05/08)

VERSO, REVERSO E VERSO

VERSO, REVERSO E VERSO

Esse trecho faz parte de um romance ainda inédito. Para entendê-lo: Daniel está em busca de respostas sobre suas encarnações anteriores e dirigiu-se até um casarão abandonado referido por sua amiga Aliel. Segundo a moça, eles teriam morado ali numa outra vida. Ao chegar ao local, ele desmaiou e teve visões de sua existência anterior, em seguida foi despertado pelo atual morador do velho prédio.

─ Nossa, faz tempo que eu tô aqui. – assustei-me, pensando que aquelas curtas cenas demoraram tanto para se passarem – Que horas são?
─ Vão dar oito horas – disse ele tirando um relógio, ou melhor, uma cabeça de relógio do bolso traseiro da calça.
─ Pois eu já vou, desculpe, tá.
─ Espere pra tomar um café. A gente aproveita e conversa, eu não converso muito. – Disse isso e apontou para a solidão dos aposentos em ruína. Aceitei. E enquanto tomávamos café ele me contou parte de sua vida.
Narrou que era filho de pessoas pobres e que cresceu sonhando em enricar. Começara a trabalhar desde cedo e quando já estava desistindo de ter uma vida de talões de cheque e carros importados, a vida lhe aprontou uma surpresa. Através de uma sociedade escusa com algumas pessoas ligadas a sindicatos, apossou-se de uma bolada e viu aí a oportunidade de abrir uma empresa. Logo era empresário no ramo de calçados e a vida tornou-se um entrar de dinheiro em sua conta bancária que não tinha fim. Era paparicado por muitos e desprezava a todos. “Tinha a impressão de que todos queriam o meu dinheiro, achava que as pessoas só se aproximavam de mim pela minha riqueza, pela minha opulência. E tratei de me afastar deles, principalmente dos amigos da infância e da adolescência, pois via neles o atraso, o passado de privações, as dificuldades em conseguir dinheiro para tomar uma cerveja, o aperto dos coletivos e a angústia de se não ter trabalho. Cheguei até a esnobar aqueles que me eram outrora os mais próximos, exibindo a eles, sem lhes oferecer, copos cheios de uísque caro. Com o tempo passei a esnobar também meus familiares e me isolei na minha fábrica e na minha mansão, com mulheres e falsos amigos. Ainda bem que não casei, não tive filhos, por isso, como diria Machado de Assis, não transmiti a ninguém o legado de minha miséria. Tudo o que a vida dá ela toma. Não importa o que seja. Se ela vir que você não merece, ela vem e leva. Pode ser não só riqueza material, mas também a miséria moral, a pobreza, ou uma doença. Ela te dá e ela vem buscar. Se você é bom, solidário ela tira de você essa bondade e te dá riqueza. Mas a sua bondade é inata, ela te deixa a opulência e devolve tua bondade, tua solidariedade em dobro. Mas se tua bondade é só fachada, ela te leva a opulência e te devolve não a bondade, mas a angústia e o orgulho para viver sem ninguém. Comigo foi assim. Quando dei por mim estava sem nada e sem ninguém. A ruína me veio rápido, como a opulência, confiei em pessoas às quais não devia dar crédito, aplicaram-me um golpe sujo e mero, zerei, até a casa a justiça confiscou. Os falsos amigos e as mulheres viraram gas, evaporaram, sumiram, não me queriam, como nunca me quiseram. O meu orgulho não me deixou sequer voltar para a casa de meus pais. Um dia, desesperado, tendo gasto os últimos centavos numa refeição, subi no alto de um prédio para me jogar, mas ouvi a conversa entre dois funcionários de serviços gerais do edifício. Um falava para o outro do filho que ia nascer, era o terceiro. Quando o outro perguntou se dava para alimentar três filhos mais a mulher, ele respondeu que sim, que cada filho que nasce é a resposta de Deus de que devemos continuar lutando pela sobrevivência, é a resposta de Deus de que o mundo deve continuar. Ele falava do filho que ia chegar com tanto carinho, com tanto amor que sua voz embargava. E eu ali querendo me matar. Naquele momento eu tomei uma decisão. Decidi que ia voltar a trabalhar para depois conquistar as amizades que jogara fora, principalmente a de meus pais e meus irmãos. Mas algo me incomodava, eu não podia continuar ali no Maranhão eu precisava purgar meus erros longe dali. Foi aí que resolvi vir aqui para Fortaleza. Cheguei faz duas semanas. Como não tinha onde morar, vim para cá. Coloquei minhas roupas que sobraram no chão e elas me servem de cama, enquanto eu as engomo com a quentura e o peso do corpo, numa relação de cooperação. Uso somente duas mudas de roupas. Quando estou usando uma, a outra está enxugando e assim vai. No começo desta semana, consegui um emprego, amanhã talvez eu alugue uma quitinete...”
Ao dizer essas últimas palavras, com a voz pausada, ele se virou simulando remexer o fogo para esquentar o café. Aproveitei o silêncio para me despedir. Já na rua, após saltar as grades, ainda o ouvi chamar:
─ Ei, não se esqueça do que lhe contei, não faça jamais como eu fiz.
Acenei para ele, num gesto afirmativo e saí.
[...]

Era uma sexta-feira e Ernani havia me pedido para acompanhar Aliel à inauguração de uma instituição beneficente, que ocorreria no Centro Espírita Paula e Estevão. Eu fora, é claro, com todo prazer. Tratava-se de uma organização irlandesa que estava fundando sua sede aqui no Ceará. Seu objetivo era trabalhar junto às escolas públicas de periferia, para fomentar a consciência política e criar pessoas politicamente alfabetizadas para inibir a compra de votos e ações análogas, por parte de políticos inescrupulosos. Ao sair por volta de dez da noite, um fato me chamou a atenção: um carro estava parado numa esquina e um homem servia sopa em diversos pratos descartáveis a uma porção de gente faminta. Eram jovens, crianças, velhos e envelhecidos. O fato em si não me era totalmente estranho, pois existem muitos registros de pessoas que praticam essa atividade de compaixão ao próximo necessitado. O que me despertou o interesse pela cena era seu protagonista: Pedro César. Era exatamente ele, o homem que, rico, menoscabara os amigos e até familiares; pobre, fora desprezado por todos e se arrependera. Peguei Aliel pelo braço e me aproximei do grupo. O homem, reconhecendo-me, falou em tom jocoso:
─ Vai dois pratos de sopa aí, meu?
─ Por que não? Se é dado com amor!
Ele riu e me estendeu, sob os olhares ciumentos dos famintos, dois pratos, um para mim outro para Aliel, que lutava por entender o que estava acontecendo. Depois de todos os “clientes” com os pratos nas mãos se afastarem para saborear a refeição, a qual para muitos era a única do dia, ele me apertou a mão e disse:
─ Pois é parceiro, a vida me deu uma nova chance.
E em poucas palavras me contou sobre os últimos acontecimentos de sua vida. Falou-me do emprego que havia conseguido, sua rápida ascensão, as economias que fizera, as privações pelas quais passara e a aposta ao montar uma pequena lanchonete, que logo se transformara numa rede de restaurantes. Agora estava bem, não apenas porque recuperara seu padrão financeiro de antes, mas porque recupera o carinho e a amizade daqueles que desdenhara. Contou-me com ar compungido que não tivera, ao visitar a terra natal, pudor de ir ter com os eis amigos, apertar-lhes a mão e lhes pedir desculpas. Falou-me também, sem grande alarde, sobre o que estava fazendo ali e de como isso o alegrava. Contou-me ainda que casara e tivera um filho agora com um ano de idade, a quem ensinaria todas as lições que aprendera a custo. Eu fiquei muito feliz e saí satisfeito em saber que a humanidade tem jeito. Naquela noite dormi tranqüilo e imaginando um mundo melhor em que todos tenham direito a ser felizes, um mundo em que as pessoas, numa imensa corrente, não permitam que ninguém passe privações tão básicas quanto o direito à alimentação. E que enfim a humanidade..

...Seja feliz!

O MILHO MUDA COM O FOGO. E VOCÊ?

O MILHO MUDA COM O FOGO. E VOCÊ?


O título original desse texto que me chegou às mãos era “A pipoca muda com o fogo”. Percebendo nisso certa incoerência, resolvemos fazer a mudança que se vê no novo título. Tomamos ainda a iniciativa de fazer algumas alterações, como colocar sempre o pronome ela/elas assim como o substantivo mulher/mulheres, para evitar o sexismo de linguagem verificado no original. Entretanto todos os méritos do texto cabem ao seu autor. Em nenhum momento nos passou pela cabeça que alguém venha a atribuir a nós sua autoria, tampouco seu ensinamento filosófico.


A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens e as mulheres para que eles e elas venham a ser quem devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
O milho da pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas de repente vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: DOR.
Pode ser fogo de fora: a perda do emprego, do grande amor, de um filho, do pai; uma doença, súbito estado de pobreza. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo ansiedade, depressão ou sofrimento cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui e com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou, vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma. Ela não pode imaginar destino diferente. Não imagina a transformação que está sendo preparada. Ela não imagina aquilo de que é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: PUM! E ela aparece como uma outra coisa totalmente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom mais ainda temos o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. Sua presunção e o medo são a dura casca de milho que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os milhos duros que não servem para nada. Seu destino é o lixo.



Que lição estupenda podemos aprender com o fenômeno da transformação do milho duro em pipoca! Para sermos felizes é preciso que deixemos que essas transformações nos ocorram, desde que sejam necessárias, pois há pessoas que já nascem macias como se sua transformação tivesse ocorrido antes de elas nascerem nesse plano terreno. É preciso que olhemos para nós, para as nossas atitudes diante da vida, para com os outros. Como está a nossa face: carregada, pesarosa? O que destilamos: tristeza, ódio, sofrimento? Para podermos mudar.

Entretanto não é preciso passar pelo fogo para que haja essa transformação. Não precisamos ficar desempregados, perdermos o pai ou ficarmos sem o grande amor para nos transformarmos em pipoca macia. Toda transformação passa por um período de clausura, como o que ocorre com as desajeitadas lagartas, que se metamorfoseiam em belas e elegantes borboletas. Há um provérbio do domínio público que diz “O homem inteligente aprende com os próprios erros, mas os sábios aprendem com os erros alheios.”, por isso não precisamos penar no vale de lágrimas do nosso inferno inconsciente para melhorarmos. Paremos um pouco, numa clausura momentânea. E façamos nosso casulo individual. Depois dessa meditação nós vamos nos avaliar e imaginarmos a avaliação que as outras pessoas fazem de nós e... ESTOUREMOS! como o milho de pipoca, com pouco treinamento seremos pessoas melhores mais felizes e que farão as outras também felizes. O mundo está cheio de energia quântica, que é aquela que não vemos, não tocamos. E essa energia existe de duas formas: negativa e positiva. Se somos negativos/as o mundo nos verá assim e nós só vamos contribuir para aumentar sua negatividade; se positivos contribuímos para que o mundo inteiro também o seja.
Enfim estouremos, sem fogo mesmo, desfaçamo-nos dessa casca dura que nos envolve e sejamos a macia pipoca que fará o bem às outras pessoas e, conseqüentemente, a nós mesmos e assim...


SEJAMOS FELIZES!

VIVER É MELHOR QUE SONHAR?

       Enquanto corrigia umas redações que haviam sido feitas baseadas na temática do viver e do sonhar, uma aluna se aproximou, pediu desculpas por interromper e disse:
     ─ Professor, durante o debate o senhor deixou transparecer que viver é melhor que sonhar. Faça também um texto, argumentando sobre essa sua visão do tema e nos apresente na próxima aula.
Eu não tinha escolha a não ser justificar o ponto de vista denotado. Ficou mais ou menos assim:
http://www.poeticamentefalando.com.br/wp-content/uploads/2010/05/viver.jpg

     Viver é provar, é tocar, é sentir, é utilizar-se dos sentidos. É vivenciar os acontecimentos sob suas duas faces: o bem e o mal. Viver é, portanto, aprender a se dar bem e a se dar mal. É aprender a ganhar, a jogar e a perder. Porque a derrota também é um aprendizado.
     Sonhar é imaginar, é achar que se está vivendo. É como se trancar no quarto e ficar assistindo ao mundo através da janela. Ver o calor do sol e não senti-lo; ver o brilho do orvalho e não se umedecer nele; ouvir a melodia da natureza e não dançar essa música da vida.
      Entretanto o sonho é o alimento, é o combustível das ações. Sonhar com algo hoje e empreender sua realização amanhã é o que impele o vencedor e a vencedora à vida, é o que os torna diferentes dos demais. O sonhar deve ser o recheio das frestas da existência, é com que devemos preencher os momentos vãos que se intercalam às sólidas ações.
    Na edição de novembro de 2006 da Superinteressante, há uma matéria intitulada “E se... não sonhássemos”. Vejamos o primeiro parágrafo dessa matéria:

    "Caso o homem não tivesse a capacidade de sonhar, você não estaria lendo esta revista, pois provavelmente ainda estaríamos na pré-história – na melhor das hipóteses. O sonho, que surgiu há mais ou menos 140 milhões de anos, quando os mamíferos se desenvolveram a partir dos répteis, é importantíssimo no processo de aprendizado."
(Superinteressante, novembro de 2006, pág. 64)

     Nessa interessante matéria, os cientistas discorrem a respeito do sonho definido como fenômeno que ocorre enquanto dormimos, não o sonho de que estamos aqui tratando. Entretanto é fácil perceber a relação entre esses dois sonhares. Para os cientistas o fenômeno, que ocorre na fase REM do sono, foi crucial para o desenvolvimento intelectual da humanidade. Segundos esses estudiosos, sem a capacidade de sonhar, os homens primitivos, por exemplo, não teriam aprendido a enfrentar seus inimigos, como os tigres-dente-de-sabre entre outros.
     Assim também ocorre com a nossa necessidade de sonhar com o sentido de querer, almejar, planejar nossas ações. Entretanto é preciso agir para que nos sintamos realizados. O mundo está cheio de pessoas-quase, que são aquelas que vão dizer para os seus netos: “eu quase isso... eu quase aquilo...” Tudo porque passaram a vida sonhando e, de tanto sonhar, esqueceram-se de realizar, de viver.
    Assim é preferível viver a sonhar. Viver é a própria realização da existência; sonhar, o plano, a pedra que se lança, os marcos de cada ação.

Sonhe, VIVA e...

SEJA FELIZ!

ONDE É O SEU LUGAR

ONDE É O SEU LUGAR

UM JOVEM, NEM TÃO JOVEM, SE APROXIMOU DO PROFESSOR E LHE DISSE, COM AR CANSADO E ENTRISTECIDO:
─ MEU AMIGO, EU ESTOU PENSANDO EM IR PARA SÃO PAULO. AQUI EM FORTALEZA A VIDA NÃO TÁ LEGAL. NÃO TENHO EMPREGO, NÃO TENHO NAMORADA, NÃO TENHO AMIGOS. NEM A MINHA FAMÍLIA GOSTA DE MIM. SERÁ QUE LÁ EM SÃO PAULO EU VOU ME DAR BEM?
O MESTRE OLHOU, ATIROU UMA PEDRA, QUE FOI ESTACIONAR LENTAMENTE PRÓXIMO A UMA OUTRA, E LHE RESPONDEU:
─ APESAR DE TUDO DE QUE VOCÊ RECLAMA, MEU JOVEM, AQUI AINDA É O MELHOR LUGAR PARA VOCÊ ESTAR. SÃO PAULO É UMA CIDADE MUITO GRANDE, LÁ VOCÊ SE PERDERÁ NO TURBILHÃO DE PESSOAS E PRÉDIOS, AS DIFICULDADES SE REDOBRARÃO E VOCÊ SERÁ MUITO MAIS INFELIZ. SENTE-SE AÍ E REFLITA.
O RAPAZ SENTOU-SE, POIS A MÃO NO QUEIXO E FICOU REFLETINDO SOBRE O QUE O MESTRE HAVIA FALADO. NESSE MOMENTO CHEGOU UM OUTRO HOMEM, COM AR EXALTADO E UM SEMBLANTE, DIGAMOS, BRILANTE DE SATISFAÇÃO. SENTOU-SE E FOI LOGO DIZENDO:
─ MESTRE, MESTRE, EU ESTOU PENSANDO EM IR PARA SÃO PAULO. AQUI EU TENHO TUDO, TRABALHO, NAMORADA, AMIGOS. MAS EU QUERIA CONHECER OUTRA CIDADE, MAIOR, BUSCAR OUTRA POSSIBILIDADE DE SUCESSO. O QUR O VOCÊ ACHA?
O PROFESSOR, SEM DESVIAR OS OLHOS DO LIVRO QUE LIA, RESPONDEU:
─ VÁ. SÃO PAULO É A CIDADE DAS OPORTUNIDADES. LÁ SUAS CHANCES DE SER FELIZ SERÃO MUITO MAIORES. COMO DIRIA CAETANO: SÃO PAULO É O MUNDO TODO. NÃO ESQUECENDO OS QUE ESTÃO AQUI TORCENDO POR VOCÊ, VÁ E SEJA FELIZ.
ENQUANTO O MESTRE ENCERRAVA SEU DISCURSO, O OUTRO JOVEM O OLHAVA ATURDIDO, COMO A SE PERGUNTAR “E POR QUE EU NÃO SERIA FELIZ EM SÃO PAULO?”

O problema não está no lugar em que estamos, mas nas nossas atitudes com que conduzimos nossa vida. Conheci muitos alunos que mudaram de escola na tentativa de formar grupos de amizade, ou até melhorar as notas. Entretanto depois de algum tempo retornaram às suas escolas de origem, pois perceberam que não era a mudança de escola que iria mudar sua condição. E poucos são os que têm essa humildade de reconhecer onde está o verdadeiro erro: em si. Outros viram as costas para si mesmo e vão levando a vida aos tombos, sem olhar paras trás nem de lado. Esses são os piores que há, não reconhecem as próprias dificuldades e se as reconhecem se fazem de durões. Pra quê? Para não dar o braço a torcer.
Muitas gentes outras conheci que utilizam a mudança dos dígitos anuais como tábua de salvação. Pensam: “Ano que vem vai ser diferente, vou concluir meus estudos, vou parar de fumar, vou deixar de maltratar minha/meu namorada/o. Vou enfim ser feliz.”
Em ambos os casos, na se dão conta de que a mudança está dentro de cada um. É preciso reflexão. Por que a mudança estaria no lugar ou no dígito? Estamos nos aproximando de mais um final de ano e já tem um monte de gente planejando mudanças mágicas para as suas vidas. Mas poucos, muito poucos estão buscando o seu íntimo para saber o que lhes está dando errado. Poucos estão se perguntando “como eu estou na escola, por que eu não tenho minha “tribo”, por que fulano é feliz e eu não, ONDE EU ESTOU FALHANDO? No meu trabalho, como estou realizando minhas atividades, como trato os meus colegas, como gasto o meu dinheiro?...”
É preciso que mantenhamos um diálogo amiúde com nós mesmos. É preciso que tenhamos humildade para descermos até o nosso infinito e de lá tirarmos as verdadeiras respostas para a nossa busca da felicidade. Reflitamos, façamos uma viagem interior, sejamos os desbravadores de nosso próprio sertão, como diria Guimarães Rosa, e...




...SEJAMOS FELIZES!

TEMPO DE AMAR

TEMPO DE MARTEMPO DE AMAR

“Se a natureza me oferecesse duas coisas e dissesse:
Que era para eu escolher
Eu não me importaria com a segunda se a primeira fosse você”

“Se você me vir calada
Não me pergunte o porquê
Não penso em nada na vida
A não ser em você.”
(frases escritas pelas alunas do 1° ano da EEFM Gonzaga Mota, em Fortaleza)

O homem e a mulher necessariamente nascem do amor e vivem para ele. O jovem e a jovem, como estão se preparando para a procriação, para a reprodução, para o casamento, convergem para esse sentimento universal toda sua expectativa de vida. É nele que residem as esperanças, é por ele que o menino e a menina vão ao colégio, à praia ao shopping, à igreja. Eles e elas estão sempre à procura de sua cara metade, de sua alma gêmea. Em seus semblantes transborda a necessidade da felicidade a dois.


Entretanto há um perigo!!!

Por que será que há tanto adulto infeliz com seus companheiros e companheiras?
Por que também há tantos jovens casados e casadas precocemente e que muitas vezes acham que suas vidas acabaram ali?
A resposta é bem simples. A ansiedade. Cuidado com a ansiedade. Na ânsia de se resolverem afetivamente buscam pares quaisquer. Para mostrar aos colegas: “vejam, eu tenho um namorado/uma namorada”.
Todos nós nascemos para o amor e, como alguém me disse há muito tempo: “existe sempre alguém para alguém”. Mas esse alguém precisa acontecer, precisa ser-nos apresentado. Mas por quem? Pelo tempo, pelo momento. Vejamos o texto abaixo de um autor desconhecido, pelo menos para mim, e reflitamos acerca desse grande mestre, que é o tempo:

O TEMPO CERTO

De uma coisa podemos ter certeza: de nada adianta querer apressar as coisas.
Tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto. Mas a natureza humana não é muito paciente.
Temos pressa em tudo! Aí acontecem os atropelos do destino, aquela situação que você mesmo provoca, por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo.
Mas alguém pode perguntar:
─ Mas qual é esse tempo certo?
Bom basta observar os sinais. Geralmente quando alguma coisa está para acontecer ou chegar até sua vida, pequenas manifestações do cotidiano enviarão sinais indicando o caminho certo.
Pode ser a palavra de um amigo, um texto lido, uma observação qualquer.
Mas com certeza o sincronismo se encarregará de colocar você no lugar certo, na hora certa, no momento certo, diante da situação e da pessoa certa!
Basta você acreditar que nada acontece por acaso!
E talvez seja por isso que você esteja agora lendo essas linhas.
Tente observar melhor o que está à sua volta. Com certeza alguns desses sinais já estão por perto, e você nem os notou ainda.
Lembre-se de que o universo sempre conspira a seu favor, quando você possui um objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento.
Caetano Veloso diz em uma de suas composições:
“É INCRÍVEL A FORÇA QUE AS COISAS PARECEM TER QUANDO PRECISAM ACONTECER!”
Pronto eis a resposta pela qual você esperava. Quando as coisas vão acontecer ela nos enviam sinais. No amor também é assim. Devemos, portanto esperar que as pessoas nos sejam apresentadas pelo momento. Os jovens e as jovens, como são mais impacientes que o restante da humanidade, precisam refletir mais que o restante da humanidade. Precisam se divertir, sem essa ansiedade de encontrar alguém, precisam, principalmente, se permitirem conhecer pessoas de diversos matizes e esperar o sinal. Quando isso acontecer, jovens,

SEJAM FELIZES!

VIVER PARA SER FELIZ

UMA ALUNA ME PERGUNTOU:

─ Professor, o que uma pessoa faz quando não quer mais viver?
Fitei-a. O semblante meio crispado e os lábios levissimamente trementes me davam à medida da resposta que ela não queria ouvir. Falei-lhe então:
─ Próximo daqui há uma mercearia que vende cordas. Dois metros talvez sejam suficientes para você armar um laço e colocar o pescoço...
A garota, corroborando com a minha expectativa, sussurrou para a colega ao lado:
─ Olha o que ele diz...
Continuei, fingindo não ouvir o comentário:
─ Caso você queira uma outra alternativa, o famoso raticida conhecido como chumbinho também é uma boa saída...
Enquanto falava, observava o rosto da menina e seu olhar de espanto. Continuei impassível , como se realmente estivesse falando de coração. Queria causar impacto, mobilizar sua alma para as palavras que diria em seguida, queria criar certo pavor daquelas idéias terríveis que a atormentavam, para reforçar nela o gosto pela vida, o amor à sua juventude...
─ Tudo nessa vida é uma questão de escolha. Viver é uma escolha, ser feliz também é outra escolha. Fernando Pessoa nos indaga:

“Se queres te matar, por que não queres te matar?”

O direito à vida assim como direito à morte deve ser uma questão de escolha. Olhe para você, veja sua tez, seus olhos lindos e pergunte a si se vale a pena calá-los pra sempre. Não existe motivo algum no mundo que justifique um jovem, uma jovem, um homem ou uma mulher colocar fim à sua trajetória sobre a terra. Mesmo que uma pessoa saiba que está no fim da existência, com uma doença incurável, com alguns dias de vida, mesmo assim ele deverá respirar com alegria até os últimos segundos que lhe restam. Porque nascer já é a mais gratificante vitória que uma pessoa já alcançou.
Não faz muito tempo eu conheci um rapaz que tinha AIDS. Chamava-se Wellington e era hemofílico. Uma semana antes de seu passamento eu o ouvi cantar a música de Gonzaguinha que é uma apologia à vida:

“Viver, e não ter a vergonha de ser feliz Cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendizeu sei que a vida devia ser bem melhor e serámas isso não impede que eu repitaé bonita, é bonita e é bonita.”

Na semana em que se hospitalizou, soube que sua grande preocupação foi cuidar daqueles que se encontravam no mesmo estado que o seu. Fiquei sabendo também que ele expirou lúcido, sorrindo, que de seus olhos não caíram uma única lágrima, que estava feliz, não por morrer, mas por ter vivido. Eu passei, a partir desse acontecimento, a encarar de forma mais positiva a existência, por isso passei a aproveitar melhor cada minuto de minha vida.
Lembrei para a jovem uns versos de Gregório de Matos, os quais haviam sido motivos de umas aulas anteriores:

“Goza, goza da flor da mocidade
Que o tempo troca a toda ligeireza
E imprime a toda flor sua pisada!

Ó, não aguardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza
Em terra, em pó, em cinza, em sombra, em nada!”

─ Portanto – disse-lhe – esqueça essa história de morrer. Por pior que seja o que lhe está acontecendo, e não interessa a mim sabê-lo, em breve será motivo de riso, pois o tempo tudo cura, tudo digere.




VÁ E SEJA FELIZ!

OS CINCO MANDAMENTOS

“SE FICARMOS OLHANDO PARA O QUE AS OUTRAS PESSOAS PENSAM OU DIZEM, JAMAIS FAREMOS ALGO QUE SATISFAÇA O NOSSO CORAÇÃO.”

Na verdade, não há nada que façamos ou que digamos que satisfaça a todos. É necessário, urge que aprendamos a viver de acordo com algumas leis:

1ª Somos o que somos, e se o que somos não atrapalhar a vida dos outros, não prejudica ninguém, então estamos certos como somos. Porque nossa identidade, assim como a nossa liberdade, termina onde começa a identidade e a liberdade do outro.

2ª Devemos aprender a SER, para termos consciência de que aquilo que fazemos ou dizemos é bom para nós e para o meio no qual estamos inseridos. É impossível, portanto, sermos felizes isoladamente. Queiramos ou não nós precisamos do outro para nos sentirmos inteiros. Caso contrário seremos apenas um lado de uma moeda.

3ª As pessoas não nos aceitam como somos apenas porque somos, ou porque queremos, mas porque convencemos a elas de que o que somos é bom tanto para nós como para elas, para o coletivo. A aceitação de poucos requer a aquiescência de muitos.

4ª Não há nada mais cruel e desumano do que você se impor a alguém pela força, na marra. É preciso que nos imponhamos pela gentileza dos nossos atos e das nossas palavras, que necessariamente devem ser úteis, pois atos e palavras vãs vão-se com o primeiro vento.

5ª Aceitar as pessoas como elas são é um bom caminho para a nossa própria aceitação. Admirá-las e mesmo tolerá-las representa para o mundo o que somos, como vivemos e indica a procedência de nossas idéias e atitudes.

Portanto, para sermos felizes, é necessário que sejamos nós mesmos, para que as pessoas nos respeitem e nos admirem e, principalmente, aprendam conosco, porque não há realização maior do que o ato de ensinar. Cristo morreu por toda a humanidade, mas os seus ensinamentos jamais morrerão, Por isso sua obra maior foram os ensinamentos, por isso ele se imortalizou. Sejamos o que somos, acreditemos em nossas próprias opiniões, em nossas potencialidades em nossos sonhos. Lembremos as palavras de Renato Russo: “Se queres alguém em quem confiar, confia em ti mesmo”.



SEJAMOS FELIZES

Por Professor Alves

NA ESCURIDÃO MISERÁVEL

FERNANDO SABINO  “Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o m...